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Como era o sexo nos tempos das nossas avós? Elas contaram-nos

O seu avô e a sua avó fizeram sexo. E, por vezes, não apenas como pode pensar. No Dia da Terceira Idade, 11 mulheres contam na primeira pessoa como era o sexo no seu tempo. Sem papas na língua.

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“A menina tem que idade? E com essa idade ainda não sabe estas coisas? Tenho de ser eu a ensinar?”, questiona-se Felisberta Marques agarrada ao saco de plástico onde transporta o lanche por petiscar no autocarro a caminho de Coimbra. Com esta idade, 23 anos, Felisberta já estava casada, já tinha “pinado” muito e estava prestes a ser mãe pela primeira vez. Tem muito para ensinar: diz-nos para não acreditar em todas as mulheres que juram a pés juntos terem ido virgens para o casamento, porque havia muita gente que, como ela, só ia “conservada no buraco que interessava”. Pergunta-me se eu entendo onde ela quer chegar e eu digo que agora as coisas são diferentes, que agora a violência doméstica é um crime e que se faz sexo sem ser com o marido. Dei-lhe muitas novidades: Felisberta ficou tão espantada com aquelas notícias como eu quando ela contou que só conheceu o prazer quando fez um exame Papanicolau e quando descobriu as maravilhas que um chuveiro podia fazer em prol da “mastrubação”.

Quando Felisberta descobriu a sexualidade, o artigo 1636 — “Erro que vicia a vontade” — do Código Civil português dizia que “a falta de virgindade da mulher ao tempo do casamento” era suficiente para anular o matrimónio. A ditadura tinha tirado das bancas um livro que, entre 1901 e 1933, havia esgotado 19 edições: “A Vida Sexual” de Egas Moniz guardava-se na mesma mesinha de cabeceira onde permanecia a Bíblia, mas quando Salazar assumiu o controlo do país passou a ser vendido apenas em farmácias e só perante apresentação de uma receita médica. Certo é que, esperando pela vinda na noite de núpcias, trepando as janelas do quarto ou arregaçando as saias no meio do mato, se está a ler este artigo é porque o seu avô e a sua avó fizeram sexo. Fizeram amor. “Coisaram”, como nos contou uma das seis mulheres com quem conversámos no Centro de Bem-Estar de Bairro. E agora, no Dia da Terceira Idade, elas e outras cinco avós contam-nos como se usava “a dita cuja” ou “a grila” no antigamente. Na primeira pessoa e sem papas na língua.

Délia Cadete, 67 anos, uma das mulheres com quem conversámos.

Sobre o namoro

Rosa Sousa
Rosa Sousa
87 anos
"Íamos às festas. Vínhamos para casa a pé e os rapazes vinham com a gente. Tínhamos de pedir autorização aos pais para ir às festas e se eu estivesse com algum rapaz, assim que se fizesse de noite a minha mãe ia chamar-me. Havia um rapaz muito jeitoso, falava muito bem e era muito sério. Mas a minha mãe não ia com a cara dele porque a mãe dele já tinha vendido as fazendas todas, já tinha vendido tudo quanto ele tinha. Olhe que isto que vou dizer é verdade! Eu era a mais cachopa dos irmãos. E a minha mãe mandava-me sempre ir fazer recados a casa das amigas. E ele, que eu não desgostava dele, estava sempre no caminho. Que raio! Ainda penso muita vez: ele havia de perder muito tempo à minha espera. Mas nunca tivemos nada. Nem um beijinho, não não não não. Ele anda aqui no lar também, mas Deus me livre de ter alguma coisa com ele agora. É que naquele tempo não era como agora, agora não respeitam ninguém: eles vão lá se elas lhes derem ancas…"
Luísa Francisco
Luísa Francisco
94 anos
"Namorei muito pouco. Falei com dois rapazes: o meu marido e outro antes. Eu era filha de gente pobre e quando era a azeitonada juntavam-se rapazes e raparigas. O meu primeiro namorado conheci nesse tempo. Comecei a gostar dele e acho que ele também gostava que chegue de mim, então ele começou a visitar-me aos domingos. Mas depois o meu namorado foi para a tropa em Castelo Branco. Escrevia-me cartas, mas eu não as sabia ler e então ia mandá-las ler a um cunhado meu, que o meu pai já me andava a desviar desse meu namorado. Quando chegou o 13 de maio, fui à Cova da Iria e disse ao meu namorado para vir para baixo namorar. Mas nesse dia passou por mim um tio meu que tinha uma carroça e andava também a tentar fazer um casamento com o filho dele. E deu-me boleia. Eu estava combinada com o outro, mas para me fazer de forte, fui. Ele levou-me a casa dos meus pais e o meu namorado ficou muito zangado comigo porque lhe fiz a partida. Então mandou-me uma carta que tinha palha dentro, a fazer pouco de mim. O meu pai, que foi sempre muito bom e protetor, abria sempre as cartas primeiro. Quando viu aquela carta, disse-me logo: “Esse rapaz nunca mais quero ver à nossa porta”. Esse meu namorado disse-me que ainda tentou ir aos correios ver se a carta ainda lá estava para não ser enviada, mas já não foi a tempo. Mas o meu pai não me deixava falar com ele, apesar de eu gostar dele. Terminou. Já tinha o casamento tratado com o meu marido e ele ainda foi ter comigo a uma festa e confessei-lhe o meu pecado: “Olha, não tenho ninguém no mundo que goste mai que de ti, mas não posso casar contigo porque já tenho tudo combinado e as coisas muito chegadas”. Eu casei primeiro, depois ele. Mas antes disso, o meu marido teve de batalhar para entrar em minha casa, que antes só se entrava em casa quando era a sério. A mãe dele tinha sido madrinha de um casamento e fez bolos para a noiva e um bolo a mais para ele. Ele foi ter comigo e quis dividi-lo. Então a minha mãe disse: “Entra cá em casa e comemos todos o bolo”. E pronto, estava conquistado".
Leonor Nogueira
Leonor Nogueira
69 anos
“Só tive um namorado e foi quem se tornou meu marido. Andámos cinco anos. Éramos vizinhos, brincávamos juntos no recreio e batíamos um ao outro pelo caminho [ri-se]. Pelas cinco horas, quando era Sol posto, a minha mãe dizia que ele podia ir namorar outra. Ela ia à porta e dizia: “São horas”. Tinha 20 anos. Ele depois foi para a tropa e esteve em Moçambique uns 27 meses. Quando ele regressou tratámos do casamento. E casei no dia em que fiz 25 anos. Mas ele andava sempre entre Portugal e França e ficávamos grandes temporadas sem nos vermos. E era assim a vida”.
Délia Cadete
Délia Cadete
67 anos
“Todos tinham respeito pelo 125 rés-do-chão da António José Almeida. Toda a gente namorava meia dúzia de fulanos, eu é que nunca aproveitei nada, nem podia, nem me atrevia e acomodava-me porque queria era vestidos e sapatos. Havia umas fulanas que, no período de Carnaval gozavam à fartazana. Eu não, claro. E no dia seguinte só cantavam que a banana é boa porque não tem osso. Eram danadonas. Eram festas, bailes em garagens, discotecas ainda mal amanhadas, iam a todas e eu a ver. Era muito tímida, aliado ao facto da educação que tive ser de super proteção dos pais e dos meus seis irmãos.Quando comecei a namorar o meu marido, que foi o único namorado que tive, ele contou que colegas dele o avisaram: “Pá, se é para passar o tempo esquece. Com aquilo não se brinca”. A família tinha fama: não era para brincarem. Uma vez as minhas irmãs mais velhas tinham ido a um baile com os meus irmãos. Eu tinha 9 anos e ainda não ia com eles. Então a certa altura um rapaz chamou uma delas para dançar. Claro que o rapazinho começou a conversar. O meu pai a presenciar, vai por trás, toca-lhe no ombro e diz: “Oh cavalheiro, pouca léria na roda!” Quanto a mim, também nunca imaginava ter tantos apaixonados. Tive muito mais liberdade que as minhas irmãs: chegava a sair à noite até às 22h30! Mas não soube aproveitar isso, porque era comedida, apesar de no meu tempo já haver minissaias e calções. Aliás, já a namorar, detestava que ele me beijasse na boca na rua porque achava que não precisava de espectadores. Era nosso, só dos dois”.
Rita de Jesus
Rita de Jesus
79 anos
“A minha mãe ficava no alpendre quando algum rapaz me visitava a mim ou à minha irmã. Namorávamos à noite porque eles trabalhavam, mas a porta ficava sempre encostada para ela espreitar. Ela ficava sempre preocupada quando algum nos dava uma flor: dizia que, quando um rapaz nos dá uma flor a cheirar, era para ao baixar as mãos nos passar os dedos pelas maminhas”.

Sobre como conheceram os maridos

Maria do Rosário Ferreira
Maria do Rosário Ferreira
77 anos
“Eu e o meu marido éramos muito desprotegidos. O pai dele só olhava para a filha, a única que tinha, porque o resto eram rapazes. Então eu e ele fizémos tudo por tudo para nos casarmos o mais depressa possível. Mas sabe como foi o meu casamento? Ele estava a trabalhar em Lisboa, de maneira que escrevi-lhe porque tive um atraso e não queria de modo nenhum aparecer grávida e solteira. Disse-lhe: “Onde tu dormires eu também durmo”. Ele calou-se muito bem caladinho e disse a um colega: “Vais à terra mas não digas à Rosário que eu vou lá este fim de semana”. Eu fiquei muito triste, mas o colega acabou por me contar: “Ele não vem hoje, mas vem no domingo de manhã e é com esta intenção assim assim, portanto põe tudo a jeito”. Foi o que fiz. Passa uma camioneta às 6 da manhã e, naquele dia, disse: “Oh mãe, eu vou com ele”. A minha mãe ficou preocupada com a opinião do meu pai sobre eu casar assim. Eu respondi: “Não me interessa. Se não aproveito esta oportunidade posso não a ter tão depressa e não estou para isso”. Assim foi. O meu pai era retrógrado mesmo a 100%: quando a minha mãe lhe disse e me quis despedir dele, nas festas da vindima, ele estava virado para a parede e assim ficou. Depois, quando fiquei grávida mesmo, viemos de Lisboa para casar na terra. E foi assim”.
Délia Cadete
Délia Cadete
67 anos
“Fui a primeira vez dançar, já quando namorava com o meu marido, a um fim de ano na Figueira da Foz, patrulhada por dois irmãos e as mulheres deles. Tinha 23 anos. Conheci-o no colégio. Pensava que ele andava a gostar de uma amiga, que não era para mim, e fiquei sem fôlego quando ele me convidou para ir ao cinema num domingo. Convidou-me à frente dela! E ela até já namorava um rapaz em Lisboa e já dizia que, se o meu marido lhe pedisse namoro, mandava o outro aos míscaros. Sabes o que aconteceu? Não fui ao cinema e fugia dele para não lhe contar. É que um dos meus irmãos começou a dizer aos meus pais que se ele me convidava para o cinema era para empernar [risos]! Ele convidou-me novamente para sair a um sábado e então fui, mas foi uma seca porque eu tinha vergonha. Voltou a convidar-me e eu dizia que tinha que pedir aos meus pais. Estava farta e tentava não o encontrar. Tinha emprestado um caderno a um colega e, na contra-capa, tinha o meu nome completo. Então ele andou na lista telefónica a ver se havia nomes com o meu apelido de solteira. Até que chegou ao número lá de casa. Quem atendeu foi a minha mãe e ele disse que queria falar comigo, que era um amigo! Fiquei de novo sem fôlego. Ao chegar ao telefone perguntei como ele tinha sabido o número. Ele respondeu: “Quando se tem interesse tudo se consegue!”. Não dormi a noite toda. Depois não demorou muito até me apaixonar por ele. Comecei a ver que ele era giro ao final de um mês. Na época do Natal desse ano, estava no quarto com as minhas irmãs e o carteiro trouxe uma carta para mim. Dentro tinha um cartão de boas festas e dizia apenas: “I Love You”. Saltou o coração e as minhas irmãs só me gozavam e riam e contaram a Deus e a todo o mundo lá em casa. Passado uns 15 dias queria oferecer-me um anel de comprometida. Entrei em casa a esconder a mão, mas a minha mãe quis ver a mão e levou-e à sala para eu mostrar. Eu morri nesse dia. Que vergonha. Ó santa ignorância.”
Rosa Sousa
Rosa Sousa
87 anos
“O meu marido era meu primo. Mas não era por ele que eu estava apaixonada, desse gostava a minha mãe. Nem sei quanto tempo namorámos antes de casarmos. Ela gostava dele, pois, era sobrinho dela. E tinha fazendas e uma loja e uma taberna. Agora se fui apaixonada por ele, eit… Mas pronto, casámos e não nos demos mal. Acho que nunca fui apaixonada por ninguém”.
Teresa Matias
Teresa Matias
86 anos
“Eu casei com 22 anos. Conheci-o nas festas e ele estava sentado num muro com outros gajos. E as minhas amigas, a certa altura disseram: “Dou-te 500 escudos para ires ter com aquele rapaz”. Pensei: “Raios, que ainda não namorei nada, vou mesmo ter com aquele gajo”. Ainda por cima 500 escudos já era dinheiro! Então fui lá ter com ele, já o conhecia porque já tínhamos brincado juntos quando éramos cachopos pequenitos. Até já o conhecia de outra história. Quando já éramos mais crescidos, tinha ido buscar dois baldes de água, ele passou por mim e fez-me assim [passa a mão na mama direita]. Sacudiu-me o pó. Larguei um dos baldes no chão e atirei-lhe o outro à tromba. Ficou todo molhado! Aparei-lhe os calores. Depois, na história dos 500 escudos: quando cheguei ao pé dele perguntei-lhe se queria ir passear mais eu. E ele foi, logo de caminho.”
Alzira Sousa
Alzira Sousa
92 anos
"O meu marido foi o meu primeiro e único namorado. Conheci-o nos bailes por onde nós andávamos, mas quando namorávamos ele não era nada assim. Enganou-me bem enganada. Antes de termos casado não sabia que ele bebia muito."
Luísa Francisco
Luísa Francisco
94 anos
“O meu marido andou sempre desde criança atrás de mim. De criança! Andámos na catequese e ele entrou de propósito para o coro porque ficava num balcão da igreja e assim podia ver-me sempre lá em baixo. Eu não lhe ligava muito e dava-lhe sempre para trás. Mas o meu pai desviava-me para ele e foi acontecendo. Para o fim do namoro já gostava muito do meu marido, mas a verdade é esta: nunca gostei tanto dele em namoro como gostei de outro rapaz. Mas fui muito feliz com o meu marido. Muito, muito, muito feliz. O meu marido era muito bom. Foi muito bom e não há de haver marido nenhum melhor [vêem-lhe as lágrimas aos olhos]. Mas nunca me esqueci do outro, que já morreu. Quando andava à pergunta de um lar, fui a um onde afinal ele também andava. E havia lá um senhor que o tinha conhecido e que me disse que ele nunca me tinha esquecido. Mas também me disse que ele tinha sido mau marido para a mulher dele”.
Maria do Carmo Costa
Maria do Carmo Costa
70 anos
“Qual deles? O primeiro foi um disparate. Eu era muito nova e queria livrar-me dos meus pais, que eram muito conservadores. Um dia fui ao cinema com as minhas amigas e o rapaz que se tinha sentado ao meu lado pôs a mão na minha perna. Já o tinha visto de outras andanças porque ele costumava ir ao mesmo supermercado que eu, mas naquele dia estava tão chateada com a minha família que lhe dei confiança. Sabia que ele ia para a tropa, por isso agarrei-o logo. Na altura havia o medo de eles nos marcarem para não podermos ser usadas nunca mais. Umas duas semanas depois, fiz com que ele me levasse para o pinhal, levantei a saia já sem cuecas e ele marcou-me. Pronto. Mas depois ele morreu cedo. Casei mais duas vezes”.

Sobre a perda da virgindade

Maria do Rosário Ferreira
Maria do Rosário Ferreira
77 anos
“Foi normal num certo sentido, porque era um bocado bota de elástico. Ao fim de um ano de namoro comecei a ter relações com o meu marido, mas pronto… como é que hei-de explicar? Não foi na rua, foi dentro de casa. Mas foi aos poucochinhos. Porque era muito fechada, então mal me tocavam, traçava a perna e não queria mais! De maneira que não foi assim nem à primeira, nem à segunda. Pronto. Cai na ratoeira de dizer à minha mãe: “Deixe lá, no dia em que tiver relações com ele, digo-lhe”. Só que, por obra e graça do divino Espírito Santo, o meu pai fez-me uma grande partida. É que eu namorava e o meu pai não queria. Um dia, eu e umas amigas íamos num grupo todas juntas com rapazes. O meu pai olhou para trás, viu-me e mandou-me ir para casa, percebe? Eu, muito danada, sabe o que fiz? Vinguei-me. Quer dizer, pensava que me vingava do meu pai mas vinguei-me foi em mim. Então chamei o meu namorado e disse-lhe: “Logo à noite vais ter comigo”. Naquela noite, olhe, foi o resto! Mas a minha mãe sabia disto tudo. Abri-lhe a janela do meu quarto e nesse dia, sabe o que ele fez? Ferrou-me com os cotovelos nos ombros e eu, nem que quisesse fugir para cima, podia! Tudo sempre às escuras. No dia seguinte levantei-me, não fui ver a cama e fui trabalhar. A minha mãe, quando me foi fazer a cama, viu aquela grande enxurrada na cama. E foi tudo descoberto.”
Rosa Sousa
Rosa Sousa
87 anos
“Dava-se muito valor a isso, mas às vezes… não chegamos lá. Não fui nada virgem para o casamento, nada! Mas foi com o meu marido que perdi a virgindade! Então não havia de ser? Gaita! Isso é que era bonito, ser com outros… Não! Antes os homens eram muito exigentes. Ele é que queria, andava sempre a martelar no mesmo. Não se calava. Mas vá, também fui por vontade, que nós já andávamos a arranjar a casa e já tínhamos tudo pensado. Oh, o que eu senti, ai Jesus… Não era muito… para essas coisas."
Rita de Jesus
Rita de Jesus
79 anos
“Fui virgem para o casamento, mas já tinha 27 anos e como era enfermeira toda a gente sabia que era mais esclarecida que muitas das outras. Mas não fui nada com o véu a cobrir o rosto, que era um sinal de virgindade naquele tempo. Aliás, o primeiro arrufo que tive com o meu marido foi ali mesmo no altar porque ele entendia que assim toda a gente ia ficar na dúvida sobre se era virgem ou não. Apesar de ele ser sete anos mais novo que eu, era bem mais conservador. Eu não me importava nada com aquilo. E tinha a consciência mais tranquila se não fosse com o véu a cobrir o rosto porque se não era tão virgem assim: já havia umas palermices e umas brincadeirazecas. A minha mãe não me preparou para a noite de núpcias porque era muito púdica. Só uma amiga minha é que me disse que ia haver um abraço muito forte e que depois caíamos nas mãos deles. Mas não houve abraço nenhum e aquilo não prestou para nada. Tenho até a impressão que perdi a virgindade aos poucos porque tive relações com o meu marido muitas vezes na lua de mel, mas só sangrei na primeira noite que passámos na casa dos meus pais. Acho que aí é que foi.”
Teresa Matias
Teresa Matias
86 anos
“Casei livre dele. Fui virgem para o casamento. Ele bem que podia pedir, que eu não lhe dava e ele sabia disso. Nem percebo como é que há quem não vá virgem para o casamento: então não se envergonham de dar o cu aos outros? E se não for o cu é alguma coisa ao pé, por isso é tudo o mesmo. No dia do meu casamento, o padre da vila é que me confessou. Disse assim: “Teresinha! Teresinha, anda cá. Tens alguma coisa com o teu marido?”. E disse: “Oh senhor prior, estou solteira, ainda não estou casada”. Depois chamou-me à sacristia e deu-me mais 500 escudos. Disse que não eram todas que faziam o que eu fiz. Mas naquele noite sabia ao que ia. Chegámos depois do casamento, dei-lhe um beijinho e fomos para a cama. Não me doeu nada. E gostei tanto que, pelo fim, comi mais! E fui continuando a comer. Mas não deitei sangue nenhum. Fui virgem para o casamento, mas não tinha sangue para deitar. Agora pense lá! [Ri-se à gargalhada]”
Délia Cadete
Délia Cadete
67 anos
“Não era uma coisa que me ocupasse o espírito. Um dia estava na sala com o meu pai e um irmão e ele começou a contar-me uma anedota mais malandra. O meu pai começou a ralhar porque aquilo não era anedota para uma menina, ao que ele respondeu: “Prefiro uma mulher que não é virgem porque assim sei que não anda a dar outras coisas. Significa que não é porca”. Perdi a virgindade depois da minha mãe morrer. Vivia com o meu pai e os meus irmãos já estavam todos casados e a viver nas próprias casas. Só tinha alguns que viviam perto de mim. O meu marido tornou-se mais do que um namorado: era um confidente e um amigo. As coisas foram-se desenvolvendo naturalmente, não houve pressões para nada. Mas foi um bocado acidentado! Estávamos sozinhos em casa, porque o meu pai tinha saído, e houve um beijo e depois um abraço e as coisas foram evoluindo. Mas foi um pouco “vai ser tão bom, não foi?”. Quando estávamos juntos alguém bateu à porta e fui abri-la muito atrapalhada. Era um dos meus irmãos, que a seguir foi rua abaixo contar a uma irmã minha: “Olha, a Delita já foi! Fiquei tão envergonhada”.
Alzira Sousa
Alzira Sousa
92 anos
“Eu fui virgem para o casamento, nunca tive nada com ele. Estava sempre a chatear-me para isso, nem sei para quê. Quando ele pedia eu respondia: “Vai pedir ao meu pai”. Ele nunca pediu. Na noite de núpcias, a minha mãe disse para eu não responder, para o deixar falar. Explicaram-me o que ia acontecer: “Ele agora vai-te experimentar e tu não vais protestar! Vais fazer o que ele manda!”. E foi o que fiz. Pegou logo à primeira, que fiquei logo grávida. Estava cheia de medo! Estava a tremer. E ele começou a ficar agressivo, como o meu pai era para a minha mãe: “Então estás a tremer para quê?”. Eu não sabia, só queria tremer com a dor. Ai… a primeira vez custou-me tanto. Deitei tanto sangue, tanto sangue… Chorei a noite toda porque estava tão arrependida de ter casado, tão arrependida. Foi uma vez por não saber. Nem é bom pensar”.
Luísa Francisco
Luísa Francisco
94 anos
“Nunca tive com o outro rapaz sexualmente. Com o meu marido, sim, estive com ele antes de casar. Foi uma entravadela grande. Ele era matreiro. Fazia-me as coisas quando estavam os meus pais perto para eu não poder dizer nada! Ele tirou-me os três em casa do meu pai. E o meu pai e a minha mãe estavam em casa! Isto são coisas que nem se deviam contar… Mas vá, vá! Nós namorávamos em casa. Em minha casa, a sala e a cozinha eram pegadas uma à outra e só havia um caixote a separar. Ele começou a tocar-me e eu não dizia nada porque os meus pais estavam ali ao lado e podiam ouvir. Ele pegou em mim e, olha, foi em pé! Assustei-me e foi, pronto, foi, encostou-me à parede e foi. Foi rápido, aquilo foi num instante! Eu limpei-me e aquilo ficou tudo ensanguentado. Então pus o pano com sangue no cesto da roupa suja. No fim, a minha mãe perguntou de quem era aquele sangue. E eu disse: “Ah, isso é o mano que anda constipado e sangrou no nariz”. Ela não se acreditou, mas ficou toda contente e disse: “Pronto, agora assim estás fixe!”. Eu não me admirava nada que tivesse sido combinado entre eles”.
Leonor Nogueira
Leonor Nogueira
69 anos
“Fui virgem para o casamento e fui de olhos fechados. E doeu-me, pois não?! Olhe, a pouca sorte que foi é que na véspera do casamento veio-me o período. Não aconteceu nada na noite de núpcias e ele teve de esperar, teve! Já antes era respeitador: namorámos cinco anos e mesmo assim ele nunca tentou nada comigo. Tinha muito respeito aos meus pais porque éramos vizinhos e conhecíamo-nos desde pequeninos”.
Piedade Neves
Piedade Neves
84 anos
“Os namoros de antigamente eram bons. Nada a ver com os de agora. Só tive um namorado porque não gostava de ser muito namoradeira. O meu primeiro namorado, que se tornou meu marido, era da mesma terra que eu. A questão é que quando fui ao altar já ia… já ia altinha [grávida]. Ele era malandro, era. Mas a iniciativa foi dos dois, que eu também queria! Ele quis e eu aceitei. Combinámos tudo: onde era, quando era, como era. Teve de ser fazer a combinação, pois está claro! Combinávamos tudo tendo em conta se estava alguém em casa ou não. Aconteceu em minha casa: o meu pai foi trabalhar e a minha mãe foi para o mercado. Nós tínhamos era lá uma vizinha que andava sempre a espreitar, mas não deu por nada. Eu nunca fechava as portas para não dar nas vistas. E ela achava que, se eu deixava as portas abertas, era porque não tinha nada a esconder”.
Felisberta Marques
Felisberta Marques
79 anos
“Pois, isso depende. Porque, é assim… acho que posso dizer que fui virgem para o casamento. Pelo menos no buraco que interessa, está a ver onde quero chegar? A gente quando queria mas não podia, usava outros métodos. Eu tinha medo que a minha mãe me mandasse ao médico para ver se eu estava intacta. Mas uma amiga minha, uma vizinha que andou comigo na escola e que era um pouco mais velha, disse-me que havia formas de fazer as coisas sem ser pela dita cuja. Então ia à vizinhança da dita cuja, está a ver? A primeira vez foi uma grande nojeira. Até chorei. Não gostei. Mas repeti, pois, até ser casada porque quando se dá uma coisa dessas a um homem não se pode deixar de dar. Só fiz isso com o meu marido, claro! Era o que mais faltava”.

Maria do Rosário Ferreira, 77 anos

Sobre o sexo e o prazer

Maria do Rosário Ferreira
Maria do Rosário Ferreira
77 anos
“Tive três filhos e o meu marido nunca me viu nua. Sempre ouvi a minha mãe dizer que o meu pai nunca a tinha visto nua e que uma senhora decente não mostra o corpo ao marido. Namorei quatro anos e fui sempre muito recatada. Quando casei vestia-me no quarto de banho e ia para a cama já de camisa de dormir. De manhã levantava-me, ia buscar as cuecas lavadas, ia à casa de banho lavar-me, vestia-as lá. Depois, para vestir o resto, sentava-me na borda da cama com as costas viradas para ele. Vestia o soutien e o resto da roupa e já estava. Mas ele dizer assim: “Vi a minha esposa toda nua como a mãe a pariu”, não! Isso nunca aconteceu. E agora que temos esta idade cada um vira para um lado e vestimo-nos. Agora, quando preciso que ele me lave as costas chamo-o mas fecho as pernas muito fechadinhas — que eu sou muito forte de pernas –, enrolo-me toda muito enroladinha e ele assim não vê nem as maminhas nem vê mais nada. Ele tentou ver-me nua quando éramos mais novos! Depois de ter perdido a virgindade, ele continuava a lá ir ter comigo à noite. Então, saltava um portãozinho, batia à janela — e a minha mãe sabia de tudo! Um dia tentou com um focozinho de luz que levava para ver onde punha os pés. Uma vez deitou as mãos ao foco, levantou a roupa da cama e tentou ver o que estava debaixo dela. Mas eu puxei-a, encostei os braços aos meus peitos, tracei as pernas e não viu nada de ninguém. Também não havia grande preocupação sobre métodos contraceptivos. Quando queríamos evitar ter filhos usávamos — como é que as senhoras dizem? — o coito interrompido. Quando era na altura dele, está a perceber, tirava fora. Uma vez apanhei um sustozinho, mas foi só um atraso. Sempre que acabávamos eu lavava-me com água fria para evitar engravidar. Só quando a minha filha começou a ser mulher é que comecei a estar mais atenta a essas coisas. Uma vez a minha filha disse que queria ir ao planeamento familiar e eu fiquei muito envergonhada porque no nosso tempo tudo era um tabu. Mas ela explicou-me que o planeamento familiar não tinha só a ver com namorados, que também tinha a ver com a proteção do nosso corpo. Então foi, com uma amiga, e depois disse-me que via lá senhoras da minha idade que são vistas e havia a pílula. Eu desconhecia isso tudo, mas depois começou a ser vendida nas farmácias e usei uns anos. Mas aquela pílula era muito forte: havia alturas do mês que só me apetecia chorar desalmadamente. Então parei de a tomar e desde então nunca mais usei nada.”
Délia Cadete
Délia Cadete
67 anos
“Era um diamante em bruto e não sabia o valor que tinha enquanto mulher no que toca ao aspeto físico. Um dia um fulano num descapotável vermelho parou ao meu lado e disse: “500 paus, queres?” e eu nem parei porque na altura nem entendi o que era. De outra vez, estava a passar ao lado de um café com uma amiga e outro fulano disse-me: “Ai, que tesão”. Também nem percebi o que aquilo significava — nem sabia se ele tinha dito “tissão” ou “ticão” — e a minha amiga só se ria e não me explicava. Como já namorava fui perguntar ao meu namorado e ele só disse: “Daqui por um tempo digo-te”. Percebi que não havia de ser coisa boa, mas só entendi o que era quando perguntei a uma das minhas irmãs. Posso afirmar que o que de “maldade” existe ou existia foi o meu marido que me ensinou. Não se falava de sexo em minha casa. Era tão tímida que não deixava que ninguém, nem a minha mãe ou as minhas irmãs, lavassem os meus soutiens ou cuecas. Lavava-as, estendia-as e punha uma toalha por cima da roupa interior para ninguém ver. Era tão menininha, tão bonequinha na minha família, que era comedida a este nível. Um dos meus irmãos sabia que ficava tão envergonhada com a roupa interior que não havia Natal que não me desse um soutien à frente de toda a gente só para me embaraçar. Quando me veio a primeira menstruação eu comecei a gritar e a chamar pela minha mãe e um dos meus irmãos, que estava à janela, percebeu o que seria e começou a rir às gargalhadas.”
Rosa Sousa
Rosa Sousa
87 anos
“Ele era muito chato, eu não tinha sossego. Era uma chatice, não me dava prazer nenhum. Só tinha de abrir as pernas e pronto. Só não estava sempre em cima de mim porque eu não deixava. Eu nem queria tantos filhos, mas na altura não havia televisão e tínhamos de passar o tempo de outra maneira, pois era! O meu marido chegava bêbado e eu não podia dizer que não. Dizer que não, ‘tá bónita! Sofri muito. Não sei se era por sermos primos ou o que era, a gravidez nunca ia para a frente. Tive muitos abortos. Engravidei oito vezes, mas seis não escaparam. Tinha de andar sempre em tratamento. Não bateu assim muito certo. Não era assim muito feliz, mas andava-se. Ele tinha jeito para essas coisas do sexo, tinha tinha. Só que só tinha jeito era para ele. Mas que remédio tinha eu em continuar a aceitar aquilo. Eu bem dizia que não, que aquilo fazia doer, mas ele não se importava e ia lá à mesma. Vocês agora apresentam queixa à polícia se eles tentarem à mesma? Não me diga… Naquela altura, não, senão ele fazia alguma coisa ruim. Então eu tinha acabado de abortar e ele já queria festa logo a seguir.”
Rita de Jesus
Rita de Jesus
79 anos
“O sexo é uma descoberta do corpo. Não me apercebia como tudo acontecia porque me sentia invadida e isso era uma sensação estranha porque nós as mulheres somos muito ligada aos afetos. Nessas coisas, não somos só fêmeas e eles são só machos.Quando uma mulher cai nos braços de alguém, fá-lo por amor e pela entrega. O homem não, é pelo sexo. Fui educada num colégio de freiras e elas diziam que eu tinha vocação para ser freira também. Então fui falar com o padre para saber o que ele achava. Ele respondeu: “Tu tens é vocação para o matrimónio, para casar e ter filhos. Ou só as vacas é que se hão de casar?”. As vacas são aquelas que já têm muita experiência e é dessas que os homens gostam porque só valorizam a sensualidade de quem já passou por tudo o que eram mãos e outras coisas. Fiquei casada durante 20 anos e raramente senti prazer, mas o amor sobrevive sem ele porque às vezes bastam os beijos e os toques. Nós queremos é carinho, embora isso mude quando chegamos aos 40, 45 anos. Por essa altura divorciei-me porque ele me traía, mas também me comecei a sentir mais sensual. Antes de o deixar, tomei uma determinada iniciativa e ele só me dizia: “Não sei onde é que aprendeste isso”. Os homens nessas coisas são uns ignorantes! Só nos dão prazer se tiverem um cunho especial para a coisa ou se nós lhes ensinarmos. Eles deitam-nos as mãos à vagina e nem sabem o que estão a fazer, nem sei se eles sabem o que é um clítoris. Não sabem que é precisa delicadeza e que os dedos às vezes não bastam”.
Teresa Matias
Teresa Matias
86 anos
“Gostava, gostava! Cada vez que comia, queria comer mais! Agora quer saber como era o amor e o ‘séxoglo’… Antigamente era às escuras, era sempre às escuras. Nunca vi o meu homem nu nem ela me via a mim nua. E mesmo que houvesse luzes, nós faziamos ‘séxoglo’ comigo vestida e calçada com meias e sapatos. Os meus filhos, pois, fi-los de dia vestida e calçada no meio do mato. Deitávamo-nos lá no mato e pumba. Aquilo acontecia sempre que dava jeito à minha Maria, que eu gostava daquilo e não era nada rabugenta com a grila do meu homem. Eu também andava sempre sem cuecas, que ele ia lá mesmo que eu as tivesse. E se as tinha, quando estávamos no trabalho ou ele com a ‘pinguica’, era só arredar.”
Alzira Sousa
Alzira Sousa
92 anos
“Era vestido! Como é que havia de ser? Nus? Usávamos uma saia grande que escondia isto [aponta para o meio das pernas], mas depois tinha um buraco. Não usava cuecas e depois, quando estava a ir para a cama, punha a saia entre as pernas e fazia de cueca. Nunca fiz sexo por gosto. Detestava aquilo, nossa senhora. Não gostava do meu marido porque ele me dava muita porrada. Uma vez partiu-me a cabeça com a bebedeira. Levei sete pontos. Quando ele chegava com os copos obrigava-me a entregar-me a ele. E batia-me. Quando dizia que não, ele obrigava-me e dava-me uma cachaporra até eu nem conseguir protestar. Não era paródia nenhuma. Ai, credo…”
Luísa Francisco
Luísa Francisco
94 anos
“Não tínhamos vergonha de nos vermos um ao outro: às vezes fazíamos amor às escuras, outras vezes com luz acesa. Mas nunca gostei de estar nua e usava sempre uma camisa de dormir. As cuecas tirava-as, mas no fim também as vestia logo. Não me sentia bem sem cuecas. É, o meu marido para essas coisas era matreiro. Agora, gostava tanto de fazer amor com ele. Não era nada um esforço. Ele também não precisava de ser desafiado, que estava sempre pronto e desejoso. Estava sempre pronto para…. Sempre! Nunca precisei de fazer uma força para ele fazer. Ele é que me procurava, eu nunca o procurei. E eu fazia-lhe a vontade sempre. Ele queria sempre agora, agora e logo, logo. E eu fazia-lhe a vontade porque, olhe, já ficava despachada para esse dia pelo menos. Ai, o que eu vou dizer… Então houve uma noite que foi sete vezes! Estavam a ser tantas que comecei a contar as vezes. Olhe, sete! Eu nem me cansava, já ia embalada. Claro que às vezes tinha prazer, outras vezes não, a menina sabe como é que estas coisas funcionam. Nem sempre se atinge o prazer, enquanto eles têm sempre. Antes eles não se importavam muito se a gente gostava ou não. Se fosse como é hoje, que eles são mais preocupados, coitadinho do meu homem. Tinha de trabalhar muito. Durante o meu casamento, não houve noite nenhuma em que não fizéssemos sexo. Só não acontecia quando eu estava com a regra. Era todos os dias. Mas olhe que isso não é bom, que às vezes queremos é paz e sossego. Nunca deixámos de fazer amor: foi até ao último dia da vida dele! Então, ele aqui no lar se pudesse pedia-me e fazíamos! Nem que ele às vezes não coisasse, mas tinha prazer. Gostava de estar agarrado a mim e aos beijos, de estar dentro de mim. E não precisava de ser sexo, se fosse só carinho chegava. Ele nunca me negava um beijo. E nunca se aborrecia com os beijos”.
Leonor Nogueira
Leonor Nogueira
69 anos
“Gostava de estar com ele, então! Ele nunca me obrigava a nada e também não se chateava se eu dissesse que não me apetecia. Não era muito resmungona. De manhã é que não! Gosto muito de dormir de manhã e ele que não me acordasse por causa disso. Estava sempre cheia de sono. Mas a verdade é que me faltava prática: estava muito poucas vezes com ele e o sexo era tão espaçado que de todas as vezes me doía como se fosse a primeira vez. Eu ficava muito intrigada com isso e perguntei-lhe se ele fazia ideia do porquê de doer tanto. E ele disse: “Olha, tu, quando começas a escavar aí com uma enxada as mãos doem-te, não é? Isto é igual”".
Piedade Neves
Piedade Neves
84 anos
“Gostava de estar com ele, mas depois de ter a minha filha as coisas não voltaram a ser as mesmas. O parto foi difícil e a miúda teve de ser arrancada a ferros. Só que depois os médicos não me coseram e eu fiquei toda aberta. Agora noto cada vez mais, mas na altura deixei de ter prazer e acredito que ele também tivesse menos, mas não sei porque nunca falámos disso. E dava-me muita vergonha mostrar, sentia que estava aberta até ao rabo e ficava muito envergonhada na nossa intimidade. Mas nunca tratei do assunto porque havia muita timidez.”
Felisberta Marques
Felisberta Marques
79 anos
“Gostava de fazer sexo porque via que ele gostava. Dava-me prazer ver que lhe estava a dar prazer. Mas nunca sentia o êxtase. O orgasmo, não sabia o que era. Uma vez perguntei às minhas irmãs, que eram muito mais velhas do que eu e já eram casadas, como é que era. Elas disseram-me que pareciam umas cócegas, como se alguém me coçasse uma comichão muito forte. Até ao meu marido morrer não soube o que era isso. Quando fiquei viúva fiquei uns 12 ou 13 anos sem sentir nada na dita cuja, mas depois a minha filha aconselhou-me a ir ao hospital fazer um Papanicolau para ver se estava tudo bem cá dentro. Eu fui. O médico era assim novinho, bem educado, uma pessoa séria. Explicou-me tudo o que ia acontecer com um molde que ele tinha no escritório e mostrou-me o aparelho que ia enfiar. Olhe, quando ele começou o exame, a menina nem queira saber. Até mordi o lábio. Assim estava bem, assim estava bem! Nunca mais quis outra coisa”.
Maria do Carmo Costa
Maria do Carmo Costa
70 anos
“Quando o meu primeiro marido morreu, a minha família não me acolheu de volta. Eu não me importava porque não precisava deles: ele era rico e fiquei com um bom dinheiro com a morte dele. Mas estava chateada com a vida e queria vingar-me daquele machismo todo à minha volta, daquele ideal de que o nosso coração, a nossa cabeça e o nosso sexo lhes pertence. Também sabia que era bonita e que fazia parar o trânsito. Por isso usei esse meu poder de mulher. Ia para a cama com tudo o que mexia. E não os deixava saírem da cama enquanto não me dessem prazer. Houve uma vez que o meu namorado na altura já não se conseguia por de pé. E eu, chateadíssima, fui buscar um vibrador que tinha comprado numa viagem que tinha feito, e masturbei-me ali mesmo à frente dele. Ele ficou tão ofendido — porque entendeu que eu estava a dizer que um objeto me dava mais prazer que ele (e estava!) — que terminou comigo logo a seguir. Saiu da cama e só o voltei a ver já casado, mas nem trocámos palavras. Até hoje não sei se não tive uma fase ninfomaníaca, porque aquilo nem era saudável. Fiz do meu corpo um boneco. Mas já está. Agora voltei a assentar, tenho um companheiro fantástico que não me julga pelo meu passado. Somos felizes em todos os aspetos do casamento”.

Sobre a falta do sexo e do prazer

Maria do Rosário Ferreira
Maria do Rosário Ferreira
77 anos
“O meu marido foi operado à próstata há 12 anos e essa operação, olhe, desde o momento em que aquilo seja cortado não há nada para ninguém. Não sinto falta. Eu sinto falta sabe do quê? É porque a gente, quando tem relações com o nosso marido, há o contacto corpo a corpo. O abracinho, a meiguice, o beijinho. Aquela coisa assim assim. É só disso que sinto falta. Agora o resto… é meu marido e tenho a obrigação de o respeitar com muita honra. Eu quero-o é vivo ao pé de mim. O médico que o operou disse-lhe: “Então, como é que vai isso?”. E ele respondeu: “Está a dormir”. O médico disse que tinha de se ver isso, que não pode ser assim porque nós éramos muito novos. E disse que lhe ia dar qualquer coisinha para tomar. E eu nessa altura disse: “Oh doutor, quantos anos lhe dá?”. Ele olhou muito sério para mim. E eu continuei: “Porque eu não quero nada artificial. Acabou. O meu marido está bem, não está? Então deixe-o estar porque a gente vive bem um para o outro assim”. O meu marido estava de acordo, então pronto. Há 12 anos que não há nada. Há beijinhos e basta. E isso não quer dizer que, nas noites mais de inverno, a gente não se encoste mais um ao outro para estarmos juntos.”
Teresa Matias
Teresa Matias
86 anos
“Sinto falta do quê? Eu já estou capada. E fiquei bem capada! Tu não sabes o que é estar capada? Então, olha lá: não costuma vir um homem a subir-te pelo decote e a cantar o tiro-liro-liro? Esse é o homem que nos capa, acautela-te. Ele vem sempre com uma faca afiada. Eu gostava do meu marido e ele gostava de mim. E tanto gostávamos um do outro que casámos. Agora ele morreu e deixou-me. Não quero falar sobre sentir falta disso. Já vieram aqui outros cães tentar fazer-me dessas maldades, mas deram-se mal porque nunca deixei. Mas tu não sabias nada disto? Oh cachopa, o que tu andas a perder…”
Alzira Sousa
Alzira Sousa
92 anos
“Nada, nada, nada de vontades. Depois do meu marido morrer andou a sondar-me um homem. E eu disse-lhe: “Não me caso mais nenhuma vez. Foi uma vez para nunca mais”. No meu casamento era só copos, só copos, só copos, só copos. Era só copo e vela. Tinha os filhos pequenitos quando ele morreu. Ainda houve um homem que queria casar comigo, mas eu mandei-o embora. Andou mais que tempos atrás de mim e despejei-lhe com urina em cima. Então, mandava-o embora e ele não ia! Um dia estava tão farta de ele estar à minha porta que a minha filha pequena mijou no penico e depois despejei pela janela. Ralhou-me muito, o homem! Sacudia as calças e dizia: “Filha de uma puta! Filha de uma puta! Molhou-me os tomates todos!” Nunca mais. Foi uma limpeza”.
Rita de Jesus
Rita de Jesus
79 anos
“Voltei a casar há uns anos. Já não podia casar pela igreja, por isso fomos trocar alianças ao Vaticano. Continuo ativa, mas sabe que as coisas às vezes alteram-se. Passamos a encontrar prazer noutras coisas”.
Luísa Francisco
Luísa Francisco
94 anos
“A verdade é que a gente, as mulheres, perde a vontade com o tempo. Quando era mais nova gostava mais, agora mais velha a vontade é menor. Agora que ele morreu, não sinto falta do sexo. Não me lembro disso sequer, só mesmo do carinho e da companhia”.
Leonor Nogueira
Leonor Nogueira
69 anos
“Não sinto falta nenhuma de sexo. Só se pode sentir falta daquilo que se teve e eu praticamente não soube que fui casada. Ele morreu cedo e andava sempre fora. Quando tínhamos alguma intimidade era nos curtos espaços de tempo em que ele cá estava. Não tive tempo de explorar essa parte e agora também já não sinto curiosidade”.
Felisberta Marques
Felisberta Marques
79 anos
“Não disse nada a ninguém sobre o que senti no exame. Nem à minha filha! Mas agora não sinto falta de sexo com outro homem porque aprendi a “mastrubar-me”. Um dia estava a tomar banho num hotel onde fiquei para ir ao casamento de uma sobrinha e o jato de água da mangueira era mais forte que em minha casa. Então, na minha inocência, a lavar a dita cuja levei o jato de água a tocar num ponto qualquer, olhe, nem precisei de fazer mais nada. Nem sabia se os calores eram da água estar demasiado quente ou de outra coisa que a menina já deve estar a adivinhar o que é. Olhe que até troquei a mangueira do meu banho para repetir aquilo! Disse à minha filha e ao meu genro que a minha já estava fraquinha. E não deixa de ser verdade [gargalhadas]”.

Algumas das 11 mulheres com quem conversámos não quiseram fornecer fotografias atuais ou da juventude. Mas os nomes são reais.

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