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Pedro Nuno Santos surgiu na RTP a colocar-se à margem das críticas ao Presidente com quem quer "manter a boa relação".
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Pedro Nuno Santos surgiu na RTP a colocar-se à margem das críticas ao Presidente com quem quer "manter a boa relação".

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pedro Nuno Santos surgiu na RTP a colocar-se à margem das críticas ao Presidente com quem quer "manter a boa relação".

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Como o PS faz de Marcelo um alvo: a culpa pela crise e a pressão para o pós-eleições

Socialistas não só atacam a decisão de Marcelo em dissolver a Assembleia da República, como também o pressionam sobre a decisão a 11 de março e avisam que lá estarão para o responsabilizar.

O Presidente Marcelo é um dos alvos preferidos do PS e isso ficou confirmado neste segundo dia de Congresso, com vários socialistas a atacarem o chefe de Estado. E em três frentes. Atacam-no pela decisão de ter dissolvido a Assembleia da República, pressionam sobre decisões futuras e tentam desde já responsabilizá-lo pelo que vier a revelar-se nestas eleições. Se o país ficar ingovernável, a culpa é de Marcelo.

António Costa foi o primeiro a deixar esse perfume no ar, no seu discurso de despedida logo na sexta-feira, ao dizer que “podem ter derrubado o Governo, mas não derrotaram o PS”. Os verbos usados foram variando, mas a ideia foi muito repetida nos discursos e entrevistas deste Congresso. Desde o “interromperam” ao mais direto “dissolveram”, tudo serviu para apontar o dedo ao Presidente na decisão de antecipar eleições, quando o PS tinha uma solução alternativa em cima da mesa para manter a situação de estabilidade política.

O primeiro a falar no sábado foi o presidente do partido que partiu logo para esse ataque, ao considerar que “o país devia ter sido poupado a esta interrupção gerada pela decisão do Presidente da República”. Para Carlos César, “o primeiro-ministro fez o que lhe era institucionalmente requerido, mas o Presidente da República, em resposta, não fez o que politicamente era devido“. Até porque, acrescentaria Eurico Brilhante Dias mais adiante,  “o Presidente da República dissolveu o Parlamento tendo o PS uma maioria absoluta que continua coesa e correspondendo ao principal sublinhado: estabilidade política”.

Também Pedro Silva Pereira foi ao palco sugerir que “precipitaram a mudança na liderança do PS e dissolveram a maioria que os portugueses elegeram há menos de dois anos e puseram em causa a estabilidade que queriam para Portugal”. Tudo sem referências ao sujeito das ações que só estão nas mãos de um único ator político: o Presidente.

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Pedro Nuno evita entrar nesse despique com Marcelo

A acusação multiplica-se nas vozes socialistas, ainda que, pelo meio, Pedro Nuno Santos tenha vindo tentar refrear esses ânimos. “Tenho uma boa opinião do Presidente da República e quero manter a boa relação que sempre tive com ele”, disse em entrevista à RTP. O novo líder quer sacudir esse peso dos ombros e repete que “não há nenhum drama sobre isso, foram marcadas eleições e aqui estamos”, que foi “a interpretação da realidade política” do Presidente. Uma legitimidade que Eurico Brilhante Dias também reconhece a Marcelo, embora não poupe na pressão sobre o Presidente.

Em entrevista ao Observador o ainda líder parlamentar do PS disse que o Presidente “determinou a própria natureza da campanha eleitoral, o que influenciará a decisão dos eleitores”. E esta é a nova linha de raciocínio socialista nesta fase: Marcelo pode ter entrado em campo para condicionar estas eleições. Como? Edite Estrela foi uma das socialistas que levantou essa tese, ao lembrar que “um jornal de referência diz que Marcelo está a ponderar uma terceira dissolução” — uma referência à notícia do Expresso que diz que em Belém se fazem cenários e um deles passa por Luís Montenegro em segundo lugar a 10 de março e indisponível para encabeçar uma maioria à direita. Nesse caso, Marcelo pode passar à terceira dissolução.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Nem o Presidente da República, nem a comunicação social, nem os procuradores têm o direito de condicionar as escolhas dos portugueses”, concluiu a socialista. Depois de Edite Estrela Manuel Alegre também avisou que “ninguém dissolverá o PS”, depois de referir a mesma notícia, e ainda usar uma frase do Presidente na mensagem de Ano Novo para avisar que os eleitores são livres na escolha: “Não basta dizer que é o povo quem mais ordena, mas o conteúdo da expressão. Para os populistas, para os racistas, para a extrema direita não é com toda a certeza o sentido que lhe deram José Afonso e todos os que fizeram o 25 de abril”, avisou.

E os socialistas também vão já avisando que, no dia 1o de março, quando olharem para o quadro parlamentar que sair dessas eleições, não deixarão de responsabilizar Marcelo, lembrando que existia uma alternativa estável. João Torres, diretor de campanha de Pedro Nuno, disse isso mesmo ao Observador. “O Presidente da República não pode deixar de fazer uma leitura dos resultados das eleições em face dos instrumentos de que dispunha para tomar decisões políticas”, considerou, recordando que o PS lhe ofereceu a possibilidade de manter a maioria sem António Costa, mas que Marcelo recusou.

No dia a seguir à eleições, “numa situação de ingovernabilidade, devemos recordar Presidente da República de que dispunha de alternativas”, avisou Torres. E Brilhante Dias vai no mesmo sentido, ao dizer que “inevitavelmente, o Presidente marcou as eleições sabendo o cenário pré-eleitoral. Portanto é evidente que de alguma forma é corresponsável pelo resultado”.

Nas entrelinhas dos socialistas passa também a possibilidade de esta decisão presidencial ter como efeito o crescimento da extrema-direita e enfraquecer os partidos do centro. Uma preocupação a que Marcelo tem aludido em algumas das suas intervenções públicas e que os socialistas agora apontam como consequência possível da dissolução.

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No partido são muitos os que, nesta altura, acreditam num futuro próximo de mini-ciclos políticos, ou seja, mandatos sempre mais curtos do que o previsto e muita instabilidade à mistura. Ascenso Simões avisou nesse mesmo sentido quando subiu ao palco do Congresso, afirmando que a instabilidade “pode não ter fim ou, a ter um fim, será um fim longo”. O socialista não teve qualquer dúvidas sobre o responsável por esta mesma situação ao dizer que “o Presidente da República é o maior fator de instabilidade política. Não consegue conter a palavra, a sua ação, diariamente intervém na atividade governativa”. E assumiu em palco que “foi um erro o PS ter apoiado indiretamente o Presidente da República”, numa crítica aberta a António Costa que, tanto em 2016 como em 2021, decidiu que o partido não apoiasse oficialmente nenhum candidato à Presidência da República.

Pedro Nuno Santos não tinha sido tão direto nesta mesma crítica, apesar de ela ter estado nas entrelinhas da sua intervenção deste sábado. Quando afirmou que “o PS apoiará um candidato como há muito tempo não o faz”, o novo líder evidenciou que não concordava com a estratégia de Costa sobre Belém — o que também já tinha ficado claro quando nas últimas Presidenciais saltou das fileiras do partido para expressar o seu apoio a Ana Gomes. No decorrer deste segundo mandato de Marcelo, tem sido hábito ouvir a frente pedronunista atirar nos corredores um “bem avisei”. O mesmo que o PS conta dizer a Marcelo a 11 de março.

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