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Quando hoje chegam ao estádio do Bonfim, sempre à tardinha, sempre com os pais pela mão, para o primeiro treino nas escolinhas de futebol do Vitória de Setúbal, os miúdos sonham vir a ser um Cristiano Ronaldo ou um Leonel Messi. Antes queriam ser Ronaldinho Gaúcho. E antes ainda, Figo ou Zidane.
A razão da escolha está na geração em que se cresce. Mudam-se os tempos, mudam-se os ídolos. Avançados todos queriam ser. Sempre. Médios, só alguns, e defesas poucos, muito poucos. Guarda-redes são raros naquela idade. Ninguém tem um guarda-redes por ídolo na infância. O guarda-redes não ziguezagueia como os extremos, nem faz golos em barda como os pontas-de-lança.
Para João Valido nunca foi assim. O ídolo dele sempre foi Buffon. Mas, com 16 anos, João nunca o viu jogar no Parma vencedor da Taça das Taças, quando Gianluigi tinha pouco mais do que a idade dele e vestia as camisolas mais garridas do Calcio. João Valido chegou às escolinhas do Vitória de Setúbal, do seu Vitória de sempre, com sete anos e palmo e meio de altura.
“É verdade que nessa idade ainda não há posições muito certas em campo. Mas o meu treinador da altura diz-me que sempre que havia marcação de livres ou de penáltis, eu saltava logo para a baliza e queria defender tudo. Não sei porquê. Gostava. Um dia, o Vitória entrou num torneio, que era de um escalão acima do meu, e precisava de um guarda-redes. Como gostava de ir à baliza, fui eu. E nunca mais de lá saí”, recorda João.
Ir a jogo com atletas mais velhos do que ele, sempre foi o pão nosso de cada dia para João. Sendo um “matulão” como é — hoje com quase um metro e noventa de altura —, e ombros largos e mãos enormes, nunca se notou a diferença de idade. O que ele não esperava é que, com somente 16 anos, o chamassem no Vitória para ir treinar com Raeder, Diego ou Ricardo, os guarda-redes do plantel principal. Mas chamaram. E treinou com eles uma semana inteira, no final de março. A doer.
“O meu primeiro treinador de guarda-redes no Vitória, ainda nas escolinhas, é hoje o atual treinador de guarda-redes dos seniores. É o Carlos Ribeiro. E ele já no ano passado me tinha dito que se calhar me levaria a um treino, nem que fosse para eu ver como era a experiência. Não liguei. Entretanto, este ano ele telefonou ao meu treinador dos juvenis, o Mário Moço, e disse-lhe que queriam que eu fosse lá treinar. Nem acreditei. Quando comecei a treinar com os guarda-redes do Vitória, no estádio, dei por mim a olhar para eles e a pensar: é aqui que eu quero estar. O meu sonho é estar no lugar deles. Eles aconselharam-me muito, diziam-me o que fazia bem, o que fazia mal. E foi uma experiência extraordinária, que quero repetir mais vezes”, garante.
João está entre os melhores guarda-redes da sua geração. Ainda recentemente foi convocado para a Seleção Nacional de Sub-16 – e não estranharia a ninguém que estivesse presente no Europeu de Sub-17 do próximo mês. Os convites para que dispa a camisola do Vitória e vista a dos melhores clubes nacionais surgem todos os anos. Mas João não a trocou (nem trocará, jura a pés juntos) por uma encarnada ou verde, no Seixal ou em Alcochete. É um setubalense, de cidade e de clube.
“Eu conheci o João ainda nas escolinhas do Vitória. Há quatro ou cinco anos que o treino. E acompanhei o desenvolvimento dele. E o João é, antes de mais, um excelente ser humano. É humilde. Quer aprender. É solidário. Mas também é um líder natural. Quando tive que eleger um capitão, no balneário todos votaram nele. Em termos físicos, é um atleta de eleição. Não é normal um miúdo da idade dele ter a altura que ele tem. A impulsão que ele tem. E hoje querem-se guarda-redes altos, não é verdade? Mentalmente, o João é fortíssimo. Por isso é que sempre jogou com atletas mais velhos que ele. Ele pode vir a ser o que quiser. Tem tudo”, descreve-o assim Mário Moço, o atual treinador de João.
O guarda-redes promissor que é o melhor… no pentatlo
Mas deixemos o futebol de lado. É que mesmo antes de João ter o italiano Buffon por ídolo, antes de ir treinar ao Vitória com sete anos e tomar para si as redes das escolinhas, João idolatrava o irmão mais velho, atleta de pentatlo moderno, e com cinco anos começou a praticá-lo também, na Escola Municipal de Desporto, em Setúbal.
“A verdade é que eu com cinco anos não sabia o que era o pentatlo e o que queria era ser futebolista. Mas o Vitória só aceitava crianças nas escolinhas a partir dos seis, sete anos. Então, como o meu irmão já praticava o pentatlo, quando ele ia treinar, eu também ia. Quando ele não ia, eu não ia. E mesmo depois de entrar para o Vitória, nunca abandonei o pentatlo. E assim tem sido até hoje”, recorda João.
Mas João Valido não é um atleta de pentatlo como os outros. É campeão. O primeiro título conquistou-o com somente oito anos. As estantes lá de casa são já pequenas para tantos troféus. Foi campeão nacional por oito vezes até hoje. Duas vezes campeão europeu, também. Mas o título mais importante que João conquistou foi o de campeão mundial de biatlo (uma modalidade em tudo idêntica ao pentatlo, mas onde só se praticam as provas de corrida e natação).
Tinha 12 anos quando se tornou o melhor entre os melhores. Nunca um atleta português tinha sido campeão mundial nesta modalidade.
“A prova foi no Dubai. Fui para lá sozinho, só com o meu pai, mas sem treinador, sem fisioterapeuta, sem ninguém. Nós viajámos para lá numa quarta-feira e a prova foi no sábado seguinte. A meia-final foi às dez da manhã no Dubai [cinco da manhã em Portugal continental]. Ainda me lembro de a minha família se levantar toda a essa hora para me ver competir pela televisão. E lá passei à final. Mas nunca esperei vencer. Nunca mesmo. Cheguei ao último percurso da prova e as pernas não aguentavam mais. Virei-me, olhei para trás, vi que estava em primeiro lugar, e aí quem comandou foi a cabeça e não o cansaço”, lembra João.
O pai de João, Aníbal Valido, nunca viu nele um atleta diferente dos demais. Não no começo. “Naquela idade em que ele começou no pentatlo, com cinco anos, era impossível ver se o João era bom ou não. Mas também não era isso que a mim me interessava no pentatlo. Nós lá em casa sempre gostámos de desporto. E sempre foi isso que eu quis transmitir aos meus filhos: o desporto não é só futebol. Eles tinham que ser atletas. Se venciam títulos ou não venciam, não me interessava nada. Até porque primeiro estava a escola, depois a escola e depois a escola. Mas a verdade é que rapidamente o pentatlo se começou a tornar numa coisa séria. O João era diferente dos outros miúdos. Tinha aptidões naturais, sobretudo para a corrida, que os outros não tinham”, recorda.
E foi por isso que Aníbal resolveu pegar no filho e levá-lo, por sua conta e risco, ao Dubai e ao campeonato mundial de biatlo. Sabia que João podia ser campeão. Mas a história da ida ao Dubai mudou mais do que a vida de João.
“É uma história que tem muito que se lhe diga. Em Portugal não tínhamos o hábito de ir aos campeonatos mundiais de biatlo. Curiosamente, pouco antes de o João ser campeão, houve uma demonstração de biatlo em Portugal e os melhores seriam selecionados para participar numa prova em Espanha. O João foi selecionado. E quem vencesse em Espanha, seguiria para o campeonato mundial — que se realizava todos os anos no Mónaco. O João venceu. Mas não foi. E não foi porque a Federação Portuguesa do Pentatlo Moderno optou por não suportar a ida a ninguém. O João ficou tão triste que lhe prometi que no ano seguinte eu próprio o levaria ao campeonato mundial.”
E levou. O problema é que o campeonato, que era no Mónaco, passou a ser itinerante: “E calhou no Dubai nesse ano, veja você. Mas lá conseguimos ir. O que aquela vitória do João no mundial teve de bom é que a partir daí a federação passou a ter um circuito nacional [de biatlo] e a financiar mais as idas de miúdos às provas internacionais”, recorda o pai de João.
O que é o pentatlo moderno?
Ricardo Arrifano é o treinador pentatlo de João Valido na Escola Municipal de Desporto de Setúbal. Acompanha-o desde os cinco anos até hoje. “Sempre vi no João um atleta diferente dos outros. Mesmo do próprio irmão. É verdade que, quando eles têm cinco, seis, sete anos, não praticam o mesmo pentatlo que os adultos. Até aos 16 anos fazem três provas: corrida, tiro e natação. Aos 18 anos começam a praticar esgrima. E aos 19 a equitação. Mas o João sempre foi muito bom. Antes de mais, nunca vira a cara à luta. Supera-se sempre. E depois, fisicamente, é um atleta acima da média. Na natação, por exemplo, pela altura que tem, ele consegue abarcar com a braçada e a pernada uma quantidade de água maior do que a da maioria dos miúdos da idade dele. Na corrida também é do melhor que há pela resistência que tem”, explica.
Voltaremos mais tarde a João e ao pentatlo em Portugal. Antes, é preciso compreender que modalidade é esta.
Tomemos o exemplo do pentatlo que é praticado por adultos. A primeira prova a disputar é sempre o tiro, que se faz com pistola de ar comprimido (entre crianças e adolescentes o tiro é feito com pistola laser) de 4,5 milímetros de calibre, a 10 metros e para um alvo estático.
Os atletas efetuam 20 disparos em 20 alvos diferentes, tendo cada disparo 40 segundos de tempo limite. Um disparo pode valer um máximo de 10 pontos – no caso de ser no centro do alvo. A uma pontuação no alvo de 172 pontos (em 200 possíveis) atribuem-se 1000 pontos de pentatlo. Por cada ponto acima ou abaixo de 172, soma-se ou subtrai-se 12 pontos de pentatlo. Por exemplo, 173 pontos no alvo equivalem a 1012 pontos de pentatlo.
O hipismo é a prova do pentatlo em que a sorte contará mais do que o treino ou a valia do atleta. Isto porque os cavalos são fornecidos pela organização do evento e são sorteados a cada atleta em competição. Deste modo, o atleta terá apenas um período de aquecimento de 20 metros logo após o sorteio.
Terminado o aquecimento, inicia-se a prova com 1200 pontos de pentatlo, existindo uma série de penalizações em termos de pontuação: 28 pontos por cada derrube de obstáculos; 40 pontos por cada recusa ou desobediência do cavalo em saltar; 60 pontos por cada queda e três pontos por cada segundo acima do tempo normal (um minuto e 17 segundos) da prova. Se o percurso não for finalizado dentro do dobro do tempo normal, o atleta não pode efetuar mais saltos, terminando a prova com a pontuação até então obtida.
A natação está normalmente entre as provas mais equilibradas do pentatlo, disputando os atletas uma distância de 200 metros em estilo livre. A um tempo de dois minutos e 30 segundos são atribuídos 1000 pontos de pentatlo. Por cada décimo de segundo a mais ou a menos, é adicionado ou subtraído um ponto de pentatlo. Por exemplo, a um tempo de 2’20’’00 correspondem 1100 pontos de pentatlo.
Segue-se a esgrima, que é a única prova no pentatlo que permite aos atletas o confronto direto entre si. A competição desenvolve-se numa pista de alumínio de 18 metros de comprimento por dois metros de largura, onde a arma utilizada é a espada, em detrimento do florete e do sabre. A opção por este tipo de arma permite que a zona válida para se efetuar o toque seja o corpo inteiro, não se verificando o mesmo no florete e no sabre.
O assalto é disputado para a obtenção de um único toque, podendo averbar um de três resultados possíveis: vitória, derrota ou derrota para ambos — no caso de nenhum conseguir tocar dentro do tempo limite de um minuto. O objetivo é conseguir o máximo número de vitórias após os assaltos com todos os adversários. Quem atingir 70 por cento das vitórias recebe 1000 pontos de pentatlo.
A corrida é sempre a última prova a ser disputada e, como tal, a que permite aos atletas a última oportunidade de subir na classificação geral.
Tal se deve à utilização do sistema “handicap” — que corresponde a um intervalo em segundos, na largada entre cada atleta, definido pela diferença de pontos de pentatlo entra os mesmos. A prova desenvolve-se num percurso de três quilómetros e em “cross-country”. A um tempo de 10 minutos certos, são atribuídos 1000 pontos de pentatlo. Cada segundo efetuado a mais ou a menos, soma-se ou subtrai-se quatro pontos. Por exemplo, para um tempo de nove minutos e 50 segundos, são atribuídos 1040 pontos de pentatlo.
Fazer piscinas e quilómetros para treinar
Esta não é, portanto, uma modalidade fácil. E mais difícil se torna quando, para praticá-la, é necessário calcorrear muitos quilómetros. É assim o dia-a-dia de João. Os treinos de pentatlo são diários (só aos domingos não há treino) e dividem-se entre Setúbal, Azeitão e Lisboa.
“Não é fácil. Eu pratico duas modalidades, o pentatlo e o futebol, mas acabo por treinar mais o pentatlo do que o futebol, porque são mais provas. E nem treino hoje a quantidade de vezes que devia o pentatlo. Os treinos de futebol são diários, entre as sete e meia da noite e as nove. Os treinos de pentatlo também são a essa hora, das seis e meia às dez da noite. O que faço para compensar algum treino de pentatlo a que falto por causa do futebol é ir treinar nos intervalos entre as aulas. Vou à piscina e nado. Venho para o Parque do Bonfim e corro. O tiro, como é a laser, também o posso fazer na garagem de casa. O problema é a esgrima, que tem que ser em Azeitão, e o hipismo, que é em Lisboa”, lamenta João Valido.
O treinador Ricardo Arrifano concorda com João. Mas vê outros problemas no pentatlo em Portugal.
“Nem todos os clubes podem ter pentatlo. É preciso, antes de mais, que tenham uma piscina. O tiro e a corrida podem fazer-se em qualquer lado. E a esgrima também. O hipismo é outro problema. Mas como só surge aos 19 anos, temos tempo para pensar nisso. O problema maior são os treinadores. Não há em Portugal treinadores aptos a ensinar todas as modalidades do pentatlo. E contratar um treinador para a natação, outro para o tiro, outro para a esgrima, é uma despesa incomportável para os clubes”, explica.
Agora escolha: pentatlo ou futebol?
João Valido chega ao treino do Vitória à hora certa, no velhinho campo da Várzea. O de pentatlo ficou para outro dia. A escolha de a qual dos treinos ir ou não ir é feita dia-a-dia.
O pai deixa-o à entrada do centro de treino (onde nenhum pai entra, diga-se), João passa em ritmo apressado pelo portão, cumprimenta mão por mão todos os que com ele se cruzam, lança-se mecanicamente ao saco com a vestimenta de treino e as chuteiras que repousam na carrinha do roupeiro, entra no balneário emadeirado, suarento e exíguo — onde mal o treinador se consegue mover e fazer ouvir –, e segue logo para o relvado, aos pulos, que a noite é de enregelar a alma sadina. É o primeiro a sair.
– É isso! É isso, Valido! – incentiva o treinador de guarda-redes Jorge Baptista, vendo João a impulsionar-se lá no alto, mais alto que os restantes quatro guarda-redes dos juvenis, vendo-o segurar a bola entre luvas quando os outros a deixam ao Deus-dará; quando João Valido grita “minhaaaaa”, é mesmo dele.
Até quando vai João aguentar este ritmo diário de treinos, treinando mais do que uma modalidade por dia? Não sabe. “Se vou optar pelo pentatlo ou pela futebol? Isso é uma pergunta que muita gente me faz. Eu próprio me coloco muitas vezes essa pergunta. Até agora, tentei sempre ao máximo conciliar as duas modalidades e fazer o melhor que consigo em qualquer delas. Fui adiando, adiando. Eu e o meu pai, quando eu ainda jogava futebol de sete no Vitória, decidimos que quando eu transitasse para o futebol de onze deixava o pentatlo. Mudei-me para o futebol de onze e pensámos: se calhar aguenta-se mais um ano. Depois, no segundo ano, aguentei mais um. E agora já vou no terceiro ano de futebol de onze…”, graceja João, encolhendo os ombros.
A verdade é que o pentatlo tem levado a pior: “Sim, já abdiquei de ir a provas de pentatlo, provas importantes, porque se eu não for a uma prova de pentatlo, só me prejudico a mim. Mas se eu não for a um jogo de futebol, prejudico-me a mim e à equipa toda. E nessas situações eu não posso pensar só em mim, tenho que pensar na equipa. Por isso, também por isso, o pentatlo tem ficado, infelizmente, um bocadinho de parte nos últimos tempos.”
O seu treinador de futebol, Mário Moço, não tem dúvidas sobre por qual modalidade deve João optar. “Nem todos os clubes dão a oportunidade aos atletas de treinarem outras modalidades. São muito rigorosos. Mas aqui no Vitória o João sempre conseguiu conciliar as duas modalidades sem problema nenhum. É um clube exigente, sim, mas que lhe deu essa oportunidade. Mas vai chegar o dia em que ele vai ter que optar. Enquanto conseguir fazer as duas coisas, ótimo. Só lhe faz é bem. Mas ele próprio vai percebendo onde pode chegar numa modalidade e noutra, onde pode fazer a diferença. Eu não sou só treinador do João; eu sou um amigo do João. Eu quero que ele escolha o que é melhor para ele. Sinceramente, não sei do que ele gosta mais, se do futebol se do pentatlo. Mas sei que, sendo profissional no futebol – e ele pode sê-lo –, o João pode vir a ser um dos melhores na posição dele. E no pentatlo pode começar a estagnar nos próximos anos”, explica.
Não só pode começar a estagnar, como estagnou. Ainda que recentemente tenha sido vice-campeão nacional num escalão acima do dele. O problema está no treino. Ou na ausência dele. “Quando tinha 12 anos e fui campeão do mundo, o que mais contava era o talento, não o treino. Agora, com 16 anos, o treino tem muita influência nas provas. Agora vou a provas com atletas a quem eu com 12 anos ganhava facilmente e vejo-os a ganharem-me com uma margem muito grande. Porquê? Porque não consigo treinar tão bem quanto eles. E não consigo porque tenho as duas modalidades, o futebol e o pentatlo. Tenho que começar a tomar opções. Por muito que me custe, tenho que começar a tomá-las”, atira João.
O pai Aníbal apoia-o seja qual for a decisão que tomar. Mas avisa: nada de frustrações por perder. “A decisão há-de ser sempre dele. O João ficou em segundo lugar nesta última prova. Foi vice-campeão nacional. E é a primeira vez que ele fica em segundo em não-sei-quantos anos. Ele tem que perceber uma coisa na escolha dele: é que não pode ser guarda-redes o tempo todo e só se preparar para as provas de pentatlo quando a época no futebol acaba. Se ele fizer isso, pode ir aos campeonatos do mundo e da Europa que quiser; não vai ganhar nada. Não se pode ser campeão no pentatlo se não houver dedicação a tempo inteiro. Se ele quiser participar de forma lúdica, tudo bem, eu apoio-o. E vou com ele às provas e tudo. O que ele não pode é ficar desconsolado porque não venceu”, explica.
Ricardo Arrifano não quer perder o seu melhor atleta para o futebol. Até porque sabe onde João pode chegar nacional e internacionalmente. Mas para chegar ao topo do pentatlo há que treinar. E muito. “A minha opinião será sempre tendenciosa, porque eu sou treinador dele. Mas olhando às características que o João tem, e olhando aos anos que já leva disto, eu sei que ele pode ter sucesso no pentatlo. No futebol também dizem que ele tem imenso talento, sim. Os grandes clubes já o tentaram contratar – e ele só não foi porque é do Vitória dos pés à cabeça. No pentatlo ele só depende dele e de treinar mais e melhor. Se ele optar pelo futebol e um dia o futebol lhe cortar as pernas, vai ficar sempre aquele amargo de boca, nele e em mim. Porque nunca saberemos onde ele chegaria se tivesse treinado como eu lhe peço”, lamenta.
As provas mais importantes do pentatlo são no final do verão. Os campeonatos do mundo, os campeonatos europeus. Mas a preparação de João está atrasada.
“Ainda faltam três jogos para acabar o campeonato de juvenis. E convém focar-me nesta reta final. Mas quero ver se começo a minha preparação o mais depressa possível para ir ao campeonato europeu do meu escalão. E também queria ir ao campeonato mundial do escalão acima. E ao da Europa. Mas esse campeonato vai ser um problema para mim. É que o campeonato da Europa do meu escalão, que só acontece uma vez por ano, obrigar-me-ia a faltar a um jogo no Vitória, em setembro, logo no começo da época. Vou ficar indeciso na altura, já sei. O campeonato do mundo não é um problema, porque é em julho. Ainda não há jogos nem nada. Tenho é que me preparar a sério. Depois logo se vê”, atira.
Até ver, está 1-0 para o futebol. Mas o pentatlo é que ergue as taças no final.