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O primeiro-ministro, em entrevista esta quarta-feira à revista Visão, dá números mais otimistas do cenário macroeconómico do que as previsões que existiam: o défice deste ano vai ser inferior ao previsto (passará de 1,9% para 1,5% ou menos) e o crescimento vai ser superior (passa de 6,5 para 6,7%). O primeiro-ministro é duro com a oposição e refere-se à Iniciativa Liberal como “queques” que “guincham”. E reduz a tentativa de existir um referendo à eutanásia a um “número do dr.Montenegro”.
Sobre o seu próprio futuro, Costa garante que fica até 2026 no Governo, descarta de forma muito veemente que seja candidato a Belém e diz que um cargo europeu não depende dele. Desvaloriza os “casos e casinhos” no Governo, bem como a existência de dois irmãos no Conselho de Ministros. Eis os destaques da entrevista à revista Visão.
Costa descarta candidatura a Belém: “Jamais. Não não é jamé. É mesmo nunca!”
O primeiro-ministro descarta embarcar em qualquer candidatura presidencial: “Esqueçam! Nunca, jamais, em tempo algum. E não é jamais [à francesa, pronunciando “jamé”], é mesmo nunca!” António Costa destaca que “cada um tem a vocação que tem, e quem gosta de ser primeiro-ministro e tem vocação para isso dificilmente se adaptará a uma função que é muito distinta.”
Costa diz ainda que “quem gostou de ser primeiro-ministro” provavelmente criaria “em Belém, sobretudo problemas a quem fosse primeiro-ministro na altura.” E, acrescenta, essa não é a sua visão do cargo: “Os Presidentes não existem para criar problemas, mas para criar unidade nacional.”
Sobre um cargo europeu, António Costa não o rejeita à partida, mas lembra que tem “um mandato, aqui, até outubro de 2026.” O primeiro-ministro diz, no entanto, que não são os políticos que escolhem esses cargos executivos: “Existem ou não existem, e estamos ou não disponíveis, sentimo-nos ou não com vocação.” E acrescenta: “Na minha vida, nunca andei a pensar no que ia fazer a seguir.”
Quanto a sair do Governo em 2024, dois anos antes do fim do mandato, garante que não o fará, a menos que a saúde o exija: “Nenhum médico me disse que tinha de sair em 2024, e, como sou otimista, espero estar de ótima saúde, nessa altura, para continuar.”
As metas ‘macro’: Défice nos 1,5%, crescimento de 6,7%
António Costa revê também as metas em termos de cenário ‘macro’. O défice — que de acordo com a previsão do ministério das Finanças seria de 1,9% — afinal “não ultrapassará seguramente os 1,5%.” O primeiro-ministro também tem boas notícias quanto ao crescimento: o previsto era de 6,5% mas será, afinal, de 6,7%. Previmos um défice de 1,9%, mas ele não ultrapassará seguramente 1,5%.
Sobre a ultrapassagem da Roménia no PIB per capita relativamente a Portugal, António Costa diz que este não é um exemplo com o qual o país se deve comparar, já que os romenos perderam “15% da sua população desde o princípio do século”, têm “menos oito anos de esperança de vida e mais do dobro da taxa de mortalidade infantil”. Costa diz que só se “preocupava” caso lhe dissessem que Portugal está a atrasar-se “relativamente à Alemanha, à França ou à Italia”.
Costa diz que já assistiu à saída de três líderes de partidos
Questionado pelos jornalistas da Visão sobre se estaria cansado, António Costa responde confiante: “Cansado? Desde as eleições, quem se cansou foi um líder do PSD, um líder da Iniciativa Liberal (IL) e um líder do PCP. Eu ainda cá estou… E por mais quatro anos, até ao final do mandato.” Mais à frente, na entrevista, volta a insistir com uma confiança absoluta e recorrendo a uma expressão popularizada no PS por António Vitorino e António José Seguro: “Habituem-se! Vão ser quatro anos e habituem-se a viver com a escolha dos portugueses.”
Dureza com a IL: “Os “queques”, quando tentam guinchar, ficam ridículos”
António Costa desvaloriza o resultado do líder do Chega nas Presidenciais de 2021, dizendo que “o ruído do André Ventura só tem um efeito: abafar os poucos sons que o PSD procura produzir.” Questionado sobre se o PS tinha uma aliança de puxar pelo Chega para prejudicar o PSD, o primeiro-ministro nega: “Ora, essa! Se houve alguém que disse, na campanha eleitoral, que connosco o Chega não passará, foi o PS. E não tenho a menor das dúvidas de que uma das razões pelas quais o PS teve uma maioria absoluta foi porque os portugueses da direita democrática compreenderam bem o risco de se repetir, na República, o que acontece nos Açores.”
O primeiro-ministro, como é habitual nos debates no Parlamento, acaba por ser mais duro para a Iniciativa Liberal. Para Costa o que “explica a mudança da liderança da IL” é o “facto de Cotrim de Figueiredo não se conseguir adaptar a este novo estilo histriónico que a IL quer ter, de guinchar um bocadinho mais alto do que o Chega. Fica é ridículo.” E acrescenta: “Porque os ‘queques’, quando tentam guinchar, ficam ridículos perante o vozeirão popular que o Ventura consegue fazer. Ficam só ridículos, mas não vão ganhar nada.”
Eutanásia: “Referendo é número político que o dr. Montenegro inventou”
Sobre o porquê do PS ter aceitado dois referendos à Interrupção Voluntária da Gravidez e agora não aceitar na eutanásia, Costa diz que a “diferença é toda a história deste processo legislativo”, que “já devidamente maturado, já foi objeto de avaliação pelo Presidente da República e pelo Tribunal Constitucional, já regressou à AR.”
Sobre a proposta de referendo do maior partido da oposição, António Costa diz que este “é um número político que o dr. Montenegro inventou, para tentar resolver uma dificuldade interna da direita portuguesa.” O PSD, diz Costa, perde “muito tempo a falar uns com os outros sobre problemas que não dizem nada aos portugueses” e que é por isso que “em poucos meses, falharam em tudo.” E acrescenta: “Quando foi Rangel contra Rio, falharam em tudo. Rangel era um génio e Rio era um traste; Rangel levou um banho e Rio ganhou. Como ganhou, passou a ser um génio e António Costa, o traste.”
Casos e casinhos: Todos ridículos menos o de Pedro Nuno
Sobre os casos e casinhos, António Costa desvaloriza quase todos. “São assuntos que não interessam aos portugueses”, diz. Sobre o caso da incompatibilidade de Manuel Pizarro, o primeiro-ministro chega mesmo a classificá-lo de “ridículo”: “O ministro da Saúde toma posse num dia, e abre-se um escândalo extraordinário, porque não fez, no primeiro minuto, um despacho a delegar as competências da relação tutelar com a ordem dos nutricionistas. É só ridículo”.
Sobre se estes casos não criam distrações no Governo, António Costa mantém a confiança nos píncaros: “Sim, dá duas horas de trabalho aos assessores de imprensa, que podiam concentrar-se noutros trabalhos e são ocupados a distrair-se com esses assuntos. Quanto a mim, não perco um segundo“.
Quanto a casos com ministros, António Costa disse que o caso do Aeroporto — em que Pedro Nuno Santos fechou uma localização sem o seu consentimento — o primeiro-ministro diz que “esse é o único caso verdadeiramente grave que aconteceu, mas felizmente foi resolvido em 24 horas e ultrapassado.”
Relação com Marcelo é “mais calorosa” do que com Cavaco
Quanto às relações com Belém, António Costa diz que teve “oportunidade de trabalhar com dois Presidentes da República” e que com ambos manteve uma “relação normal”. Apesar disso, com Marcelo Rebelo de Sousa tem uma relação “mais longa e mais calorosa, devido à sua personalidade” e de se conhecerem “pessoalmente há muitos anos”.
Quanto ao trabalho do Presidente, Costa diz que não lhe “compete avaliar”, mas destaca que “os portugueses que o avaliaram fizeram-no de forma clara e inequívoca, apreciaram muito a forma como exerceu o primeiro mandato e desejam que o segundo mandato seja igual ao primeiro.”
Irmãos Mendes no Governo? “O meu irmão é quem é…”
António Costa comentou ainda o facto de voltar a ter uma relação familiar direta no Governo, com o seu secretário de Estado Adjunto, António Mendonça Mendes, e a irmã, a ministra Adjunta Ana Catarina Mendes. Sobre esta matéria — depois de ter cortado com a própria regra sobre familiares no Executivo — António Costa desvaloriza e dá exemplo do próprio caso: “Tenho uma grande vantagem: vejo, pela minha própria família, que não é pelo facto de eu ser o primeiro-ministro e de o meu irmão ser quem é [Ricardo Costa, diretor de Informação da SIC] que deixo de cumprir as minhas funções, e ele também.”
O ataque a Moedas
A pergunta era sobre atrasos do PRR, mas António Costa não resistiu a atacar o presidente da câmara de Lisboa. Para o primeiro-ministro, “estabelecer esses mecanismos de controlo e de transparência implica consumo de tempo”. O chefed de Governo adeverte que “antes de começar a gastar um cêntimo que seja na construção de uma linha de metro, tenho de abrir um concurso para fazer o projeto; tenho de ir ao Tribunal de Contas, para obter o visto e fazer o contrato; depois, os projetistas têm de fazer o projeto, e uma nova linha de metro não se projeta em seis meses.” É então que surge o ataque ao autarca de Lisboa, que esta semana enfrentou fortes cheias na capital: “Só o engenheiro Carlos Moedas é que quer convencer os portugueses de que em menos de um ano consegue fazer o projeto do plano de drenagem de Lisboa“.