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Artigo em atualização ao longo do dia
O que podia correr mal, correu mal. Assunção Cristas não podia ter pior tarde esta quarta-feira no Porto: teve uma espécie de apoio (de Rui Moreira) que antes de o ser já não era e na arruada pela Baixa do Porto uma mulher tentou agredi-la. Os momentos foram de tensão, quando a comitiva passava a rua Sá da Bandeira. Uma mulher aproximou-se de Assunção Cristas a insultá-la (“ladrões” foi a mais leve das ofensas) e houve mesmo contacto físico começando a dar pequenos empurrões com as mãos no peito da líder centrista. Nesse momento a mulher é empurrada pelo presidente da distrital e número três da lista, Fernando Barbosa. E queixa-se: “Não me empurre. Que eu dou-lhe um estalo.”
De seguida, a mesma mulher agrediu dois jovens da “jota” que iam a passar e não se tinham apercebido da situação, dando-lhes chapadas na cabeça quando eles já iam de costas. Uma apoiante do CDS também tentou serenar os ânimos: “Minha senhora, é preciso chamar a polícia?” Cristas ficou visivelmente perturbada com a situação. Questionada pelo Observador sobre o porquê de ter empurrado a líder, a mulher tentou justificar a ação: “São todos uns ladrões”. E confirmou o empurrão: “Empurrei-a porque ela só sabe roubar, ela e eles todos. Estamos num país que há gente a morrer à fome”, disse, antes de insultar a líder do CDS.
Antes desta situação difícil, houve outro momento que a campanha dispensava. Os jornalistas foram informados ao meio da tarde que a líder — ao contrário do que estava previsto na agenda — ia assistir a um espetáculo de jazz com o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, independente eleito com o apoio do CDS. Minutos depois, Rui Moreira apressou-se a escrever no Facebook: “Para que fique claro: nunca fui filiado em qualquer partido; nunca apoiei candidaturas às legislativas; não vou declarar qualquer apoio nestas legislativas.”
Rui Moreira confirmou depois ao Público, que tinha dado a informação em primeira mão que já não estaria ao lado de Assunção Cristas. Uma hora depois seria a própria assessoria de Cristas a confirmar: “A Assunção vai na mesma à Casa da Música mas com o marido, a Cecília Meireles e algumas pessoas da campanha do Porto.” Rui Moreira desmarcou-se de um apoio que garante nunca ter dado.
Cristas acusa Ferro de ser “parcial” e proteger Costa
Ferro e “geringonça” boicotaram a estratégia do CDS no caso Tancos e a líder centrista, em plena campanha eleitoral, não perdoou. Assunção Cristas acusou logo na manhã deste quarta-feira Ferro Rodrigues de ser “parcial” e de estar “mais preocupado em proteger o PS e o Governo” do que o Parlamento no caso de Tancos. Duas das armas do CDS eram a reunião da comissão permanente (antes de 6 de outubro) e o pedido, ao presidente da Assembleia da República, que enviasse para o Ministério Público as declarações de António Costas. A “geringonça” — segundo Cristas com a “cobertura” do presidente da AR — travou a reunião antes das eleições e Ferro Rodrigues recusou-se a enviar as declarações dos governantes para o Ministério Público.
Ferro Rodrigues respondeu por escrito ao CDS numa nota que divulgou à Conferência de Líderes — e à qual o Observador teve acesso — o presidente da Assembleia da República diz que foi “interpelado pela presidente do CDS e deputada” de forma “inapropriada, incorreta e injustificada“. Ferro alega que não tem de enviar nada ao Ministério Público porque as mesmas encontram-se “disponíveis na página do Parlamento na Internet, sendo do conhecimento público e acessíveis sem quaisquer restrições ou condicionalismos”. Além disso, na mesma nota, Ferro informa que “todos os elementos e informações requeridos pelo Ministério Público” à comissão de inquérito a Tancos “foram pronta e diretamente enviados por esta (em concreto, os resultantes de depoimentos feitos em reuniões à porta fechada, uma vez que o mais é, nos termos da lei, público.”
Ora para Cristas este ato de Ferro Rodrigues demonstra que o presidente da AR fico “muito incomodado com o pedido do CDS”, mas destaca que também “o CDS fica muito incomodado com o presidente da AR que durante quatro anos e mesmo no final da legislatura mostra e mostrou por várias que está mais preocupado em proteger o PS, em proteger o governo e em proteger esta solução das esquerdas, do que proteger o Parlamento”.
A líder do CDS — que respondia após uma visita a uma fábrica de carpintaria J.J.Teixeira — lembra que “há bem pouco tempo, perante declarações que se entenderam que não correspondiam à verdade foram enviadas para o MP e neste caso não querem enviá-las para o MP”. E acrescenta: “Sabemos que são públicas. Mas uma coisa é o Parlamento é sentir que foi posto em causa com eventuais declarações falsas, e portanto tem que ter proatividade e tem de ter a ação a enviar para o MP.”
Tudo isto, acusa Cristas, mostra que o presidente da AR “não se sentiu incomodado, não acha que uma hipótese de falsas declarações do governo” é suficientemente grave para agir. A líder do CDS lamenta mesmo: “Não estávamos habituados a um presidente da AR tão parcial, que protegesse tanto a maioria da sua cor política, de esquerda, que protegesse tanto o governo, em vez de pôr o seu lugar”.
Cristas também se atirou aos parceiros do PS na “geringonça”, que decidiram boicotar a hipótese da reunião da comissão permanente sobre Tancos se realizar antes das eleições. A decisão de PCP, Bloco e Verdes ao lado do PS demonstra, segundo a líder do CDS que “os vários partidos à esquerda vão oscilando na sua posição, mas no momento-chave estão a apoiar o PS. Perante um tema incómodo para o PS, acabam por apoiar o PS. Eles querem ser oposição, mas são situação e são apoio do PS. Mais uma vez, perante um caso incómodo vêm salvar o governo“. A geringonça, avisa Cristas, vai continuar a funcionar se no dia 6 de outubro não se retirar “esta maioria à esquerda”. Foi isso também que foi dizendo na manhã desta quarta-feira aos eleitores na feira dos Carvalhos.
Cristas ‘super star’: “O meu marido também era PSD e agora vota em mim”
Há um novo nível de estrelato para Assunção Cristas em visitas a feiras. Se antes lhe pediam beijinhos e para tirar fotos, na feira dos Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, distribuiu vários autógrafos. E segue o caminho para conquistar voto a voto, nem que para isso tenha de atacar o anterior parceiro de coligação. Uma eleitora confessava: “Eu sou PSD, gostava muito que o CDS fossem em coligação, para também votar na senhora”. Ao que Cristas respondeu que o voto do CDS é “o voto seguro de alternativa aos socialistas” e não resistiu a uma farpa a Rio: “Os outros votos nunca se sabe onde vão parar. É melhor votar no CDS“.
A mulher, embora desejasse que “o CDS ficasse em segundo, para ir para o governo com o PSD”, continuava a repetir, lamentando não dar o voto ao CDS: “Mas eu sou PSD”. Mas nem assim Cristas desistiu, embora mudasse no argumento: “Olhe, o meu marido também era [PSD] e agora vota em mim“.
Logo no início da feira, Cristas foi abordada por seis lesados do BES, mas mais no sentido de apoio do que de contestação. Jorge Novo, um dos lesados do BES/Novo Banco, pediu que o CDS “colabore com a causa dos lesados”. O lesado queixava-se do partido de António Costa: “O PS tem-nos ignorado por completo, rejeita-nos. É inadmissível um partido de governo do país rejeitar a causa dos lesados. Pedimos à dona Cristas que colabore com a nossa causa. Agradecemos muito.” E foi-se embora. Nos tempos da coligação PàF (PSD/CDS em 2015), as abordagens dos lesados eram muito mais agressivas para a direita.
Nas bancas havia de tudo, como os feirantes faziam questão de ir pregando: “Fruta portuguesa”, “bons marmelos” e até “morcela viagra“. Muitas pessoas abordaram Cristas com problemas, lamentaram ter pagar muitos impostos e de ter reformas muito baixas. Ao passar por uma banca, Assunção Cristas provocou uma discussão de forma involuntária. A líder nem se apercebeu, pois a caravana seguiu, mas para trás ficou um diálogo, no mínimo, aceso entre dois eleitores:
– “Já se esqueceram dos submarinos?”
– “E o outro, o Costa, que pôs lá o primo, o tio, o sobrinho, o irmão? ”
– “Ó mulher, se não fosse a geringonça ainda estávamos pior. Para o Coelho é que eu não volto. E a Cristas é Portas, é o Coelho.”
A transcrição é literal, mas retirada de vernáculo pelo meio. A caravana do CDS seguiu e Assunção Cristas foi abordada por uma reformada, que foi obrigada a deixar de trabalhar porque o marido era um deficiente da Guerra do Ultramar. A líder tentou falar, mas a mulher queria dizer tudo primeiro: “Deixe-me falar”. Assunção Cristas assentiu: “Então fale, que eu depois tenho de lhe dizer duas coisas”. A líder centrista explicou depois que foi o CDS, com Paulo Portas, que deu um complemento de reforma aos deficientes das Forças Armadas, que foi cortado pelo PS. Cristas defendeu ainda que o programa do CDS é o que mais defende os deficientes das Forças Armadas. No fim, acabaram abraçadas e a reformada comentou: “Pronto, já fizemos aqui um comício“.