894kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
i

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Das férias na Crimeia para as dúvidas sobre a guerra. O debate entre mãe e filha no "Avante!"

Maria de Lourdes já era militante na clandestinidade, Sónia esteve em colónias na URSS. Quanto à guerra, não concordam. Na festa do PCP, fica claro quem o partido considera culpado (e não é a Rússia).

Quando Sónia tinha 13 anos, ainda o império soviético estava de pé e o Muro de Berlim também, foi passar férias e conhecer as “águas espetaculares” do sul da Crimeia. Férias, mais ou menos: estava numa “colónia de férias”, sim, mas que juntava milhares de jovens na União Soviética, filhos de pais comunistas, primeiro em Moscovo e depois na Crimeia, para trocarem “experiências” e ganharem formação política. Num “país cheio de regras”, Sónia, filha de militantes comunistas, aprendeu a não mergulhar sem supervisão: “Eles avisavam para não pormos a cabeça debaixo de água muito tempo. Se acontecesse alguma coisa a um miúdo dos Estados Unidos, está a ver o filme…”, graceja.

Passaram 38 anos desde a estada na Crimeia e Sónia Maria Santinho Cachapa, agora com 51 anos, recorda esta história sentada numa das mesas do espaço internacional da Festa do “Avante!”, concentrada na taça de arroz frito e no prato de pequenos crepes vietnamitas à sua frente.

À frente tem também uma mulher mais velha que, à primeira vista, é a sua fotocópia: os mesmos olhos muito azuis, o mesmo nariz inclinado, ambas bronzeadas. Não é difícil perceber que são mãe e filha — ou não fosse a mãe, Maria de Lourdes, que se fez militante comunista ainda o partido era clandestino, quem se vai lembrando dos pormenores da “colónia de férias” na Crimeia.

Apesar de estarem interessadas em explorar a cozinha vietnamita (o partido comunista daquele país é um dos 14 que vendem especialidades estrangeiras no espaço internacional do “Avante!”), Sónia e Maria de Lourdes estão sentadas na esplanada da Associação Iuri Gagarin, que vende iguarias e artesanato russo. Mas, questionadas sobre a posição do partido sobre a guerra na Ucrânia — é por isso que se lembram de falar sobre as “férias” na Crimeia, região hoje ucraniana mas anexada pela Rússia desde 2014 — hesitam.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“É que temos opiniões diferentes“, esclarece Sónia, que é simpatizante do PCP e costuma vir à festa. E passa a explicar a sua: “Acho que o partido devia ter apoiado [a condenação à Rússia], não da maneira como outros estão a fazer, mas devia ser mais explícito na condenação a [Vladimir] Putin. Ele nem sequer é comunista, a Rússia não é comunista…”.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Do outro lado do debate está Maria de Lourdes, que diz estar “de acordo” com a posição do PCP, que tem sido de forte crítica aos Estados Unidos, União Europeia e NATO, para o partido responsáveis pela “escalada de tensão” na região de há anos para cá, e de poucas ou nenhumas críticas à Rússia.

Não é que apoie “a guerra nem a morte”, apressa-se a esclarecer, até porque se lembra do que “aquele povo” — e aqui fala da União Soviética — ergueu com o seu “trabalho manual, sem pedinchar”. Mas alinha com o partido: “Estou de acordo em que não fechem os olhos ao que aconteceu antes e a outras responsabilidades”.

De repente, a conversa com o Observador transforma-se num diálogo entre mãe e filha. São de gerações diferentes e veem a situação de maneiras diferentes.

— “Eu sou simpatizante do partido, mas há coisas com que não concordo…”, explica Sónia.

— “Se calhar também há coisas que desconheces… que se desconhece quando não se tem militância, tarefas para o partido…”, contrapõe a mãe.

Maria de Lourdes justifica a presença constante na festa — antes sempre como voluntária a ajudar, desde que fez uma operação ao coração apenas como visitante — e na vida do partido com as experiências na clandestinidade, desfia histórias sem parar, aquela vez em que estava a distribuir materiais do PCP pelos correios e viu um polícia e gritou que vinha aí o “chui” e não sabe como “não foi dentro”, a outra em que foi marcada pela polícia com tinta azul numa manifestação.

A filha vai abanando a cabeça, compreende tudo isso. Quanto à guerra, no entanto, não há acordo. Maria de Lourdes, no limbo entre a crítica à guerra e o apoio ao partido, tenta ensaiar síntese que o PCP se tem esforçado por vender: “Sou apologista da construção, não da destruição”, remata.

Matrioskas, sopas borsch e uma associação polémica

Se a dupla mãe e filha analisa à vontade a questão da guerra na Ucrânia, na banca da associação, logo uns metros atrás, a conversa é mais discreta. Atrás da mesa em que se distribuem matrioskas e outras peças de artesanato vindas diretamente da Rússia, mas também pins comemorativos dos 60 anos da viagem do astronauta russo Iuri Gagarin ao espaço, está António Silva, que pertence à associação. Ao Observador, garante que as vendas este ano “estão melhores“.

Com manifestações de apoio de militantes e simpatizantes sobre a invasão da Ucrânia? Sobre isso não quer alongar-se. Mas lá acaba por confirmar que já recebeu neste dia, o segundo do maior evento do calendário anual do PCP, “manifestações a falar da paz, de compreensão da situação”. Quem ali está não parece estar a pensar em assuntos de guerra e paz: os visitantes dividem-se entre a compra de artesanato e uma moldura onde podem tirar uma fotografia como se vestissem o fato de astronauta de Gagarin.

É ali ao lado que se vende a tradicional sopa russa de beterraba, a borsch, as misturas de bebidas (gelatiodka, larajodka e limonodka), mas também cervejas russas e ucranianas. Tudo trazido e vendido pela Associação Iuri Gagarin, única representante da Rússia (quando foi fundada, logo a seguir ao 25 de Abril, era a associação Amizade Portugal-URSS) na festa, uma vez que o partido comunista russo não está presente.

A associação sempre se apresentou como um grupo para promover o intercâmbio cultural entre os dois países (diz representar também os “povos que faziam parte da URSS“) organizando visitas turísticas e oferecendo aulas de russo; mas as ligações ao Kremlin são alvo de críticas recorrentes. Ainda em maio o site foi abaixo, alvo de ataques informáticos de hackers pró-Ucrânia que não perdoam o alinhamento com os “padrinhos” de Moscovo.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

As pombas pela paz e os culpados pela guerra

É ali que se encontram, numa edição da Festa do “Avante!” marcada pela polémica à volta da posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia e as críticas que o partido arruma como “preconceitos”, os restantes espaços internacionais — polvilhados por inúmeras referências vagas à “paz” e à necessidade de parar “a guerra”, sem especificar qual.

A entrada do espaço internacional é, de resto, adornada com pinturas de pombas brancas que trazem ramos de oliveira no bico. Ali misturam-se bancas que onde se vendem posters que garantem que “o povo quer Lula de novo” como Presidente do Brasil; um espaço de comes e bebes batizado como o oficial “Espaço da Paz” que vende lasanhas, mojitos, mas também umas sugestivas “Cubas Livres“; fotografias a preto e branco de Che Guevara e Salvador Allende por entre ragú cozinhado pela delegação do Partido Comunista Italiano e as “caipirinhas revolucionárias” anunciadas pelo PT brasileiro.

E por todo o lado, pombas, murais onde se desenha um labirinto, a pomba da paz de um lado, os tanques de guerra com a bandeira da União Europeia espetada do outro. Mesmo no centro do espaço internacional, uma série de cartazes pedem, mais uma vez, a “paz” — desta feita, concretizam mais especificamente quem são os culpados por não se conseguir alcançar essa paz: os Estados Unidos, a NATO, a União Europeia. Em resumo: o capitalismo.

Num dos cartazes, uma imagem de Bagdade em chamas, durante a guerra no Iraque, lê-se a explicação: “Contrariamente ao que alguns querem fazer crer, são os Estados Unidos, a NATO, a União Europeia e outras grandes potências capitalistas os grandes promotores do imperialismo e da guerra”. O cartaz do lado assegura que a guerra na Ucrânia é uma “guerra por procuração do Estados Unidos e da NATO contra a Federação Russa”, tudo porque Rússia e China são “os principais alvos a abater pelo imperialismo”. Mais outro: “São imensos os perigos da escalada de confrontação promovida pelos Estados Unidos contra a Rússia e a China”.

Em poucas palavras, fica claro quem é que o PCP considera culpado pela guerra e quem é, afinal, o atacado. A posição poderá não ser totalmente consensual entre simpatizantes e militantes — mas ficará mais próxima da de Maria de Lourdes do que da de Sónia, já longe dos tempos em que fazia férias na Crimeia.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.