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Haverá quem creia que as árvores de fruto foram postas no mundo para satisfazer as necessidades e a gulodice da coroa de glória da Criação que é o Homo sapiens. Para os restantes, há uma explicação mais prosaica: o fruto é uma estratégia de propagação de sementes que envolve a colaboração dos animais: estes recebem um “pacote” altamente nutritivo e, em troca, transportam, no seu tracto digestivo, as sementes para locais distantes, já que gozam de uma capacidade que está vedada às plantas: a mobilidade.
Os frutos resultaram, até certo ponto na história da Terra, de uma co-evolução entre plantas e animais, mas, a partir da entrada em cena do Homo sapiens, tudo mudou. Este percebeu que havia diferenças entre os frutos produzidos por plantas de uma mesma espécie e passou a favorecer a reprodução daquelas que davam frutos com características mais agradáveis ao seu palato, mais suaves para a sua digestão e mais convenientes aos seus interesses. A selecção artificial logrou, em poucos séculos, produzir mudanças mais dramáticas do que as operadas durante centenas de milhares de anos pela selecção natural, gerando, por vezes, variedades “domesticadas” radicalmente diferentes das variedades “selvagens”.
Passou-se isto, muito antes de a ciência ter desenvolvido a manipulação genética, que permite evitar o laborioso e demorado processo de “tentativa e erro” e acrescentar/suprimir/activar/inactivar os genes que afectam as exactas características pretendidas. Mas como esta intervenção directa no DNA surge, aos olhos de muitos, como uma interferência sacrílega nos mecanismos da vida, o conceito de “organismo geneticamente modificado” (OGM) gerou uma aura de receio e suspeição e uma reacção de rejeição em bloco, que costuma ser tanto mais intensa quanto menores são os conhecimentos de biologia dos “activistas” – que estão convencidos de que os morangos “de antigamente” são organismos 100% naturais.
Os inimigos dos OGMs também costumam ser defensores “do que é nosso” contra as “novas modas importadas” – porém, em Portugal, como no resto da Europa, muito pobres seriam os mercados e mesas se esta postura de gastro-nacionalismo intransigente se tivesse implantado há uns milénios, pois são pouquíssimos os frutos que fazem hoje parte da nossa dieta que tiveram origem nesta parte do mundo. E nas voltas que deram por bocas e geografias alheias até ganharem lugar nas nossas mesas, os frutos receberam nomes cuja origem e evolução vale a pena conhecer.
Nota: em prol da fluidez da prosa, far-se-ão algumas simplificações terminológicas, chamando “frutos” a partes da planta que não o são do ponto de vista da nomenclatura botânica, arrolando nos legumes partes da planta que são, tecnicamente, frutos, ou intercambiando o nome do fruto e da planta que o produz.
Abacate
O abacate – o fruto da Persea americana – é originário do Sul do México e os mais antigos indícios do seu consumo por humanos datam de 10.000-8000 a.C.; a sua domesticação terá começado c.5000 a.C. e o seu cultivo foi sendo difundido para sul, de forma que por volta de 2000 a.C. já o fruto chegara no Peru. Com a chegada dos europeus ao Novo Mundo, o abacate foi introduzido em Espanha (1601), ilhas das Caraíbas (1696), Indonésia (1750) e Brasil (1809).
O seu nome é semelhante em quase todas as línguas europeias correntes e provém do nahuatl “ahucatl”: assim, temos “aguacate” (espanhol), “avocat” (francês) e “avocado” (inglês e alemão). Na Florida, o fruto foi, até ao início do século XX, conhecido como “alligator pear” (“pêra jacaré”), o que resultou, provavelmente, de uma corrupção de “ahucatl pear”.
Entre os foodies do mundo desenvolvido e cosmopolita, grassa hoje uma paixão assolapada pelo abacate, cujos benefícios para a saúde não se cansam de exaltar; espera-se que o apreço por este “super-fruto” não seja mitigado pela revelação de que, em nahuatl, “ahucatl” também significa “testículo” (por afinidades tão evidentes que não carecem de explicação).
Se a origem do fruto e do nome não oferecem dúvidas, a sua própria existência tem algo de paradoxal. A semente do abacate tem dimensões enormes, o que, se representa uma vantagem adaptativa, ao providenciar importante reserva de nutrientes no início da vida do jovem abacateiro, põe uma questão incómoda: qual é o animal que tem um tracto digestivo capaz de albergar tal colosso? Na presente fauna do Sul do México não há candidatos a fazer a sua propagação, mas há 12.000 abundavam os “veículos pesados”: preguiças-gigantes de quatro toneladas e gonfoterídeos, uma família de proboscídeos aparentados com o elefante.
Estes animais, bem como boa parte da megafauna americana extinguiu-se entre 12.000 e 6.000 anos atrás, datas que coincidem com a expansão para sul, ao longo do continente americano, dos Homo sapiens que tinham atravessado o Estreito de Bering. O desaparecimento dos seus “propagadores” especializados teria condenado o abacateiro à extinção, mas o carrasco das preguiças-gigantes e dos gonfoterídeos terá achado o fruto saboroso e tratou de o disseminar, de maneira que quando os europeus chegaram à América, o abacateiro estava espalhado pela América Central e Norte da América do Sul.
Algumas destas regiões continuam hoje a ser os seus maiores produtores: à cabeça, destacado, surge o México, seguido por República Dominicana, Peru, Indonésia, Colômbia e Brasil.
Ananás
O antepassado selvagem do Ananas comosus poderá ter tido origem no Sul do Brasil, mas quando os europeus chegaram ao Novo Mundo já as variedades domesticadas eram cultivadas pelos Aztecas e Maias, milhares de quilómetros a norte. Colombo descreveu assim os primeiros ananases que viu, ofertados pelos indígenas da ilha de Guadalupe, em 1493: “Tem a forma de uma pinha, mas é duas vezes maior e o seu gosto é excelente”. Os tupi pensavam o mesmo quanto ao gosto e deram-lhe o nome de “nanas”, que significará algo como “fruto excelente” (segundo outras fontes, a designação tupi seria “naná naná”, ou “perfume dos perfumes”).
Boa parte dos nomes do fruto nas línguas do mundo vieram do tupi, por via do português ou do espanhol, embora outras línguas apostem antes em realçar a semelhança com a pinha: “piña” (em espanhol), “pinya” (em waray, uma das línguas das Filipinas), “pineapple” (em inglês), “pynappel” (em africânder). No japonês moderno implantou-se a designação “painappuru”, que provém do inglês “pineapple”, mas, no processo de apropriação, a relação com pinhas ou pinheiros perdeu-se.
No Brasil, o fruto é conhecido como “abacaxi”, que também vem do tupi – “i’bá” (fruto) + “ká’ti” (perfumado) –, mas alguns portugueses têm dificuldade em compreender que se trata do mesmo fruto, pelo que é possível encontrar snobs que proclamam que o ananás é superior ao abacaxi – um equívoco que o famigerado Acordo Ortográfico não será capaz de elucidar.
Embora sendo um fruto tropical, o ananás é facilmente cultivado em estufa em climas frios, mas os maiores produtores mundiais são, como é natural, países tropicais, como a Costa Rica, as Filipinas e o Brasil.
Banana
A bananeira (Musa sp.) tem origem numa faixa do Sudeste Asiático que se estende da Índia à Nova Guiné – nesta última, os indícios do cultivo de Musa acuminata remontam 8000-5000 a.C. Quando, no século IV, povos austronésios atravessaram o Índico e colonizaram Madagáscar levaram a banana para esta ilha, a partir da qual se espalhou pela África meridional e central; posteriormente, os árabes encarregaram-se de a difundir pela Palestina, Egipto e al-Andalus (em particular em Granada). O nome do fruto que prevalece na maior parte das línguas do mundo provirá possivelmente da sua designação em wolof (língua da África Ocidental): “banaana”, através do português (embora haja quem sugira que por trás de “banaana” está a palavra árabe para “dedo”: “banana”).
[Não é um anúncio megalómano pago pela Chiquita, é um excerto do musical de Hollywood The gang’s all here (1943), de Busby Berkeley, em que Carmen Miranda canta “The lady in the tutti frutti hat” – apesar da menção a “tutti frutti”, o que se vê são sobretudo bananas]
Os franceses começaram por chamar-lhe “figue du paradis” mas acabaram por alinhar com as outras línguas europeias, mas os espanhóis tomaram um caminho diverso, chamando-lhe “plátano” e persistiram nele até hoje. É difícil perceber o que terá levado a confundir o plátano com a bananeira (que nem sequer é uma árvore, mas uma planta herbácea), mas esta designação emergiu na América do Sul espanhola e infiltrou-se depois no francês e inglês (“plantain”), mas com uma distinção importante: nestas línguas, “plantain” designa apenas as variedades de banana com elevado teor de amido, baixo teor de açúcares e consistência mais dura, que são usualmente cozinhadas, em vez de serem consumidas cruas.
A verdade é que a designação genérica “banana” abrange cerca de mil variedades, com diferentes tamanhos, cores, formas, texturas e sabores, resultantes do cruzamento e cultivo de duas espécies “originais”, a Musa acuminata e a Musa balbisiana. Porém, esta imensa diversidade não é perceptível nos hipermercados do Ocidente, onde a variedade Cavendish é hegemónica. A Cavendish, que representa hoje cerca de metade da produção mundial (e uma fracção ainda maior do comércio internacional, por ter características favoráveis ao transporte de longa distância), deve o seu nome a William Cavendish, 6.º Duque do Devonshire, um par do reino que tinha a jardinagem e a horticultura como hobby e que, a partir de 1834, com o seu jardineiro-chefe, Joseph Paxton, cultivou nas suas estufas, em Chatsworth House, bananeiras que lhe foram enviadas da Ilha Maurícia.
Embora tenha entrado em produção em massa a partir de 1903 e se tenha espalhado pelo mundo, a banana Cavendish manteve-se em segundo plano, até que, na década de 1950, o “mal-do-Panamá” (causada pelo fungo Fusarium oxysporum) devastou as plantações da variedade então dominante, a Gros Michel, abrindo caminho à sua ascensão. Mas como as bananas Cavendish espalhadas pelo mundo são, essencialmente, clones de uma única planta criada nas estufas do Duque do Devonshire, a sua escassa variabilidade genética torna-as susceptíveis a uma enfermidade como a que fez desaparecer a Gros Michel.
Os maiores produtores de bananas são a Índia, a China e as Filipinas, mas a maior parte desta produção destina-se a consumo local; os maiores exportadores são o Equador, a Costa Rica e a Colômbia.
Laranja
A laranja tem duas histórias, uma azeda e outra doce, que geraram duas vias etimológicas distintas, sobre as quais se escreveu em A geografia que se esconde sob a língua.
Durante muitos séculos, a única laranja que a bacia mediterrânica e o Próximo Oriente conheceram foi a Citrus aurantium ou laranja azeda, originária do Sudeste Asiático, como a maior parte das espécies de citrinos. Esta terá resultado, alvitram alguns botânicos, do cruzamento da Citrus maxima (pomelo) com a Citrus reticulata (tangerina), e terá ocorrido possivelmente no sopé dos Himalaias.
A árvore era conhecida na Mesopotâmia na fase final do Império Romano, mas só conheceu difusão activa pela mão dos árabes, que a introduziram na Síria, na Sicília e, sobretudo, no al-Andalus. É pois preciso ter em conta que eram azedos os frutos dos famosos laranjais recorrentemente evocados quando se fala da Andaluzia e do Algarve mouriscos – a Citrus aurantium era cultivada não tanto para ser consumida crua, mas pelo seu valor ornamental, pelo seu perfume, pelos óleos que se extraiam do fruto e pelas aplicações cosméticas, medicinais e culinárias deste.
A designação deste fruto azedo em sânscrito, “naranga”, converteu-se no persa “narang” e no árabe “naranj”, dando origem à “laranja” portuguesa, à “naranja” espanhola, ao “arancio” italiano e à “orange” francesa, inglesa, holandesa e alemã.
No século XVI, os portugueses chegaram à China e encontraram lá outra laranjeira, a Citrus sinensis, também ela um híbrido resultante do cruzamento da Citrus maxima com a Citrus reticulata, mas com maior sucesso, já que o seu fruto era doce.
Os portugueses divulgaram esta nova laranja na Europa e cada língua reagiu à sua maneira à convivência de duas laranjas diferentes: a Europa germânica e eslava, que, por razões históricas e climáticas, nunca tivera grande intimidade com a laranja azeda, escolheu realçar a origem chinesa da laranja doce e assim surgiu a “sinaasappel” (maçã chinesa) em holandês, “appelsin” em dinamarquês e norueguês, “apelsin” em sueco, “appelsiini” em finlandês, “apelsinipuu” em estónio, “apelsinas” em lituano, “apelsins” em letão, “apelsin” em russo e ucraniano, “apluzina” em silesiano.
Já os povos da bacia mediterrânica e do Médio Oriente, que estavam familiarizados com a laranja azeda, baptizaram a laranja doce com o nome do povo que a trouxe do Oriente: é o que acontece com vários dialectos italianos (“partugal” em emiliano-romagnol, “partuàllu” em siciliano, “purtuallo” em napolitano, “përtugal” em piemontês), com o romeno “portocala”, o búlgaro “portokál”, o ladino “portokal”, o albanês “portokalli”, o grego “portokáli”, o turco “portakal”, o farsi “porthegal” e o azeri “portagal”.
Nas línguas portuguesa, espanhola, italiana, francesa, inglesa, holandesa e alemã transferiu-se a designação laranja/naranja/orange/etc. para a laranja doce e passou a designar-se a Citrus arancia como “laranja azeda” ou “laranja de Sevilha”, uma vez que fora na Andaluzia que ela tivera maior expressão na Europa. Assim acontece em espanhol – “naranja agria”, “naranja andaluza” ou “naranja de Sevilla” –, inglês – “bitter orange”, “Seville orange” ou “marmalade orange”, por ter passado a ser usada sobretudo para a confecção de “marmalade” (ver Como o português anda (ou não) nas bocas do mundo) –, alemão – “bitterorange” – e francês – “orange amer”, “orange de Séville” ou “bigaradier” (a partir do provençal “arunji bigarrat”, com o significado de “laranja variegada”, por algumas variedades não terem a coloração da casca uniforme).
Tangerina
A tangerina é o fruto da Citrus tangerina, um híbrido da Citrus reticulata, que é conhecida na maior parte da Europa por “mandarina” (espanhol) “mandarine” (francês, inglês) ou nomes muito similares – numa alusão à sua origem geográfica, que é, como a maior parte dos citrinos, a China.
“Tangerina” (e as suas equivalentes noutras línguas) como designação de uma variedade de citrino surgiu apenas em meados do século XIX, embora já existisse antes como adjectivo, designando os habitantes da cidade marroquina de Tânger ou algo que a esta cidade dissesse respeito. A designação inicial do citrino era “laranja tangerina”, por os pomares de Citrus tangerina em Tânger terem renome, embora não seja claro quem a terá introduzido (a cidade foi portuguesa entre 1471 e 1661 e inglesa entre 1661 e 1684, só passando a fazer parte do reino de Marrocos em 1648). Apesar de a fama das suas Citrus tangerina ter justificado a identificação com a cidade, no século XIX a produção local de tangerinas não só não era exportada, como nem sequer supria o consumo local.
Clementina
A origem da clementina não fica muito distante, geograficamente, de Tânger: vem do padre Marie-Clément Rodier, que se ocupava da componente agrícola de um orfanato em Misserghin, perto de Oran, na Argélia. Foi no pomar do orfanato que o botânico Louis Charles Trabut descobriu, em 1892, um nova variedade resultante do cruzamento da Citrus deliciosa (um híbrido da Citrus reticulata) com a Citrus sinensis (laranja); quando Trabut publicou os resultados da descoberta, em 1902, homenageou o padre Marie-Clément dando o seu nome ao fruto.
A clementina tem, portanto, pouco mais de um século, o que poderá levar a que seja encarada com suspeição pelos defensores da fruta “de antigamente”. Em caso de dúvida, talvez seja aconselhável que os inimigos dos OGMs rejeitem qualquer fruto surgido após o início da Revolução Industrial. Ou, para ter uma baliza precisa, após a publicação do romance Frankenstein, de Mary Shelley, em 1818.
Pomelo
O pomelo, o fruto do Citrus maxima, é o campeão de tamanho entre os citrinos – atinge 1-2 Kg – e é originário da Indonésia.
Na língua tamil o pomelo designava-se “pampa limasu” (grande limão), o que levou os portugueses a chamar-lhe “pomposos limões” e os holandeses “pompelmoes” – o que originou em francês “pamplemousse” e em espanhol “pamplemusa” (também “limonzón” ou “pomelo chino”). Em língua inglesa, foi conhecido como “shaddock”, por ter sido introduzido na colónia britânica de Barbados, nas Caraíbas, por um certo capitão Shaddock, da Companhia das Índias Orientais, o que levou a que nas Antilhas francesas se tornasse conhecido como “chadèque”. A designação inglesa “shaddock” coexiste com “pomelo”, que pode derivar do holandês “pompelmoes” ou de “pome” (maçã) + “melon” (melão).
Toranja
O pomelo não tem grande aceitação no mundo ocidental mas as suas dimensões generosas tornam tentadora a ideia de cruzá-lo com a laranja (Citrus sinensis): o resultado da hibridação (que parece ter sido acidental) não foi uma laranja de dois quilogramas mas a toranja (Citrus paradisi), que terá primeiro surgido na ilha de Barbados, no século XVIII.
A designação do fruto do Citrus paradisi é um verdadeiro saco de gatos: a “toranja” portuguesa e o “toranjo” espanhol vêm (através do árabe) do persa “turunj”, que designa a Citrus medica ou cidra (ver abaixo).
Em espanhol, a toranja é também designada por “pomelo”, o que cria confusão com o fruto da (Citrus maxima), e o mesmo se passa no francês, que lhe chama “pamplemousse”. Os ingleses começaram por alimentar este equívoco, ao designar a toranja por “shaddock” (ou por “forbidden fruit”, por associação ao fruto proibido do Jardim do Paraíso). Quando, no início do século XIX, os ingleses concluíram que o “shaddock” (pomelo) e a toranja eram frutos diferentes, passaram a chamar à toranja “grapefruit”, embora seja difícil perceber a sua semelhança com a uva (“grape”).
Cidra
A cidra, o fruto da (Citrus medica), é um parente encorpado do limão, de casca espessa e verrugosa (não deve ser confundida com “sidra”). É originária da Ásia, possivelmente, do Norte da Índia ou da China, e é na China que há os mais antigos vestígios do seu cultivo, c.1300 a.C. Foi o primeiro citrino a ter difusão generalizada na Ásia e Europa, onde terá chegado no século III a.C.
A palavra portuguesa, tal como a espanhola “cidro” (ou “citrón”), a italiana “cedrato”, a francesa “cédrat”, a inglesa “citron”, a alemã “zitronazitrone” (ou “cedrat”) ou a dinamarquesa “cedrat” provêm da designação que lhe era dada pelos romanos, “citrus”, que se converteu na designação genérica dos citrinos.
O fruto da variedade sarcodactylis da cidra assume uma forma bizarra, que faz lembrar dedos e, em particular, a representação dos dedos de Buda na arte asiática, o que leva a que seja conhecida por “Buddha’s hand” em inglês, por “main de Bouddha” em francês e por designações equivalentes em chinês, japonês e coreano.
O fruto da variedade sarcodactylis praticamente não tem polpa ou sumo, pelo que é usado sobretudo como aromatizador ambiente (exala um perfume intenso) e para fins ornamentais.
Limão
Quem abomine misturas genéticas ficará talvez desconsolado ao saber que também o insuspeito limoeiro (Citrus limon) é um híbrido, provavelmente resultante do cruzamento da Citrus medica (cidra) com a Citrus aurantium (laranja azeda).
O limoeiro é, possivelmente, originário do Assam, no Norte da Índia, e chegou ao sul de Itália por volta do século II, mas não ganhou grande aceitação e foi pela mão dos árabes que, a partir da Pérsia, acabou por se disseminar na bacia mediterrânica – daí que o seu nome na maior parte das línguas europeias ocidentais venha do árabe “limun”, a partir do persa “limu”. Entre as excepções estão o francês “citron”, a partir do latim “citrus”.
A Índia é hoje o maior produtor mundial de limões.
Lima
“Lima” é a designação genérica dos frutos de várias espécies de citrinos (bem como dos seus híbridos), que têm em comum a pequena dimensão, a casca verde e a polpa verde e um aroma intenso. Tal como o limão, a sua designação na maior parte das línguas europeias ocidentais provém do árabe “limun”, a partir do persa “limu”.
Bergamota
Para encerrar o assunto dos citrinos, há que mencionar a bergamota, ainda que esta não tenha uso alimentar – é cultivada para extracção de óleos aromáticos usados em perfumaria. A bergamota é o fruto da Citrus bergami, que talvez tenha resultado do cruzamento da laranjeira azeda (Citrus aurantium) com o limoeiro (Citrus limon). A sua origem é, possivelmente, o Sudeste Asiático (a hipótese de Cristóvão Colombo a ter trazido das Canárias parece pouco provável), mas, hoje em dia, o seu cultivo só tem expressão na costa da Calábria, em Itália, representando esta região 80% da produção mundial.
O nome do fruto é semelhante na maioria das línguas europeias e provém do italiano “bergamotto”, que provirá, por sua vez, do turco “bey armut”, ou seja, “pêra do príncipe”. Uma etimologia alternativa aponta para a cidade catalã de Berga, onde terá sido cultivada pela primeira vez na Europa.