818kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-1566792745
i

O dia em que Lisa Halaby se tornou rainha Noor da Jordânia ao casar com o Rei Hussein, a 15 de junho de 1978

Getty Images

O dia em que Lisa Halaby se tornou rainha Noor da Jordânia ao casar com o Rei Hussein, a 15 de junho de 1978

Getty Images

De Paris para a Jordânia e para o Mónaco. Os vestidos de Noor e Carolina, as noivas reais do verão de 1978

Há 46 anos a rainha Noor da Jordânia usou um vestido de noiva Christian Dior. 14 dias depois foi a vez de Carolina do Mónaco. As peças criadas por Marc Bohan ficaram na história e recontamos porquê.

Certo dia, na primavera de 1978, o telefone tocou nos escritórios da casa Christian Dior em Londres com uma chamada que tinha viajado quilómetros. Diretamente de um palácio na Jordânia, a secretária do Rei Hussein estava a ligar para encomendar o vestido de noiva da futura rainha. A peça viria a ser criada por Marc Bohan, o designer ao leme da marca. Mas não foi a única encomenda real e nupcial que recebeu nesse verão. A princesa Carolina do Mónaco também pediu um vestido de noiva para o seu casamento com Philippe Junot. No dia em que passam 46 do casamento da Jordânia apanhamos boleia das memórias da rainha Noor sobre o seu look de noiva, do vestido que queria simples, aos sapatos que cheiravam a cola e a opção de não usar maquilhagem. E, já agora, recordamos também o casamento recheado de estrelas no Mónaco que aconteceu apenas 14 dias depois.

O Rei Hussein queria que o casamento com Lisa Halaby se concretizasse rapidamente. Perante uma questão tão importante como o vestido da noiva, a secretária do soberano teve a instintiva atitude de pegar no telefone e entrar em contacto com a casa Dior em Londres. “Dois designers voaram para Amã com desenhos de requintados vestidos que eu jamais usaria. Eu queria que o vestido fosse muito simples, não extravagante”, conta a própria noiva nas suas memórias, Rainha Noor – Memórias de uma vida inesperada (Manuscrito). Optou por mostrar um vestido da coleção prêt-à-porter de Yves Saint Laurent “algo boémio”, em que confessou ter gasto grande parte do seu salário, como fonte de inspiração. “O resultado foi um vestido branco de seda perfeitamente simples.”

Lisa Najeeb Halaby nasceu em Washington e era uma jovem licenciada em arquitetura quando, em 1975, viajou para Amã para se encontrar com o pai, recentemente nomeado responsável para criar uma companhia de aviação civil e internacional sediada na Jordânia, por ordem do próprio Rei. Foi nesse dia que conheceu Hussein II. Primeiro foram amigos e depois viriam a ficar noivos. Lisa passou a chamar-se Noor al-Hussein, o nome que o futuro marido escolheu para ela e que significa “Luz” de Hussein. O Rei tinha sido casado três vezes antes. Às duas primeiras mulheres deu o título de princesa e viria a divorciar-se. A terceira foi rainha, mas morreu num acidente de helicóptero em 1977. Noor também recebeu o título de rainha, mas ficou a sabê-lo pela televisão já depois do casamento.

O casamento aconteceu a 15 de junho de 1978 sob um “calor sufocante”. A noiva era uma jovem norte-americana de 26 anos que se mudava para a corte do respeitado Rei Hussein da Jordânia, em pleno Médio Oriente, por isso a atenção mediática internacional sobre este casamento real foi intensa. A noiva tinha combinado encontrar-se com a mãe em Paris nessa primavera, para tratarem do vestido para a cerimónia e formarem um guarda-roupa para a futura rainha, mas o noivo não terá conseguido conter a boa notícia e o anúncio do noivado aconteceu antes do previsto, tornando impossível para Noor manter os planos que tinha, por isso novos se desenharam.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois de tratada a questão do vestido, havia que resolver também os acessórios. A noiva era alguns centímetros mais alta do que o noivo e isso preocupava-a. “A moda da altura era sapatos altíssimos que eu achava simultaneamente horrendos e pouco práticos.” Além das tendências da época não colaborarem, havia ainda a falta de oferta. “Aparentemente não havia sapatos de salto baixo em lado algum na Jordânia e eu não queria parecer uma torre ao lado do meu marido. Usava muitas vezes sandálias Dr. Scholl, mas isso era impossível”, recorda a rainha no livro, mas haveria de chegar a uma solução. Uma amiga ajudou-a a encomendar um par de sapatos em Beirute, mas com a incerteza de chegarem a tempo. “Os sapatos chegaram na manhã do casamento e ainda cheiravam a cola quando os desempacotámos.”

GettyImages-1566792722
Noor e Hussein, no dia do casamento na festa no exterior do palácio
Getty Images
GettyImages-1566792190
A cerimónia religiosa do casamento de Hussein e Noor
Getty Images

Foi através das joias que a noiva conta que levou consigo algumas tradições ocidentais. No presente de casamento do pai, uma pregadeira Tiffany tinha safiras azuis, descreve a rainha nas suas memórias, contudo, como nas imagens não se vê uma pregadeira, pode na verdade referir-se a uma pulseira que também usou nesse dia. Como algo novo, usou um par de brincos de um conjunto que contava também com um colar com uma fotografia do noivo numa moldura de diamantes, que chegou na manhã do casamento e era o presente do príncipe herdeiro Fahd da Arábia Saudita. “Um cabeleireiro penteou-me o cabelo o mais simplesmente que consegui convencê-lo a fazer. Não usei maquilhagem.”

A rainha conta que a organização do casamento ficou entregue ao protocolo real, a quem os noivos deram apenas a indicação de que “o casamento fosse o mais simples possível”, deixando-os livres da azáfama dos preparativos. “No Médio Oriente, os casamentos podiam durar três dias com banquetes, músicos e bailarinos. Mas, como tantas outras mulheres da minha geração, sempre pensei que me casaria descalça no cimo de uma montanha ou num campo de margaridas. Nunca quis um casamento complicado”, confessa Noor no livro. Lembra ainda “as críticas à extravagância que caracterizou o boom do petróleo nos anos setenta em muitos países árabes” e diz que ambicionava por algum equilíbrio na celebração do seu casamento.

O casamento aconteceu no Palácio Zahran, a casa da mãe do Rei Hussein, a rainha Zein. Foi também lá que a noiva se preparou, respondendo ao convite que a futura sogra lhe fez quando se conheceram, apenas na véspera do casamento. A cerimónia dura cerca de cinco minutos, porque trata-se de assinar um contrato e dizer os votos. Noor recorda que era a única mulher presente na sala e que foi a primeira noiva hachemita a representar-se a si própria na cerimónia religiosa. Depois os noivos eram esperados por uma série de membros da comunicação social (internacional e árabe) que queria registar o momento. De seguida houve uma celebração para algumas centenas de pessoas. “É provável que tenha sido o casamento real mais simples de sempre.”

O dia tinha começado com a conversão da noiva à religião muçulmana. A rainha explica que a Constituição não obriga a esposa do Rei a ser muçulmana. Mas os pais não a tinham educado em nenhuma religião para que escolhesse a sua própria espiritualidade, por isso, a religião do marido viria a ser a primeira em que se “empenhara verdadeiramente”. O Rei Hussein viria a ser diagnosticado com o linfoma. Morreu em 1999. Tinha subido ao trono em 1952 ainda menor. Foi sucedido pelo filho e atual Rei Abdulah.

O casamento onde a realeza do mundo se cruzou com a do cinema

Não é fácil saber hoje quão agitados terão andado os ateliers da maison Dior naquele verão. Afinal criar vestidos de noiva e para a realeza é desafiante. As peças vão ser altamente escrutinadas e para sempre recordadas. Ambas as encomendas foram parar às mãos de Marc Bohan, o designer que na altura liderava as criações Dior. E foi ele quem assinou os dois vestidos, podemos até conseguir ver algumas semelhanças no que toca à silhueta e a um estilo boémio, preocupado com a silhueta feminina mas sem a espartilhar. Reflexos da libertação da década de 1970.

Quando Christian Dior morreu em 1957 sucedeu-lhe o jovem prodígio na linha de sucessão Yves Saint Laurent. E quando este foi afastado da casa para cumprir serviço militar foi Marc Bohan quem assumiu o cargo de designer principal de uma das maiores marcas de moda da altura. O designer francês foi chamado a sentar-se num grande trono e talvez a história ainda não lhe tenha feito a devida justiça. Bohan morreu em 2023 aos 97 anos e moda prestou-lhe as homenagens, mas o seu nome é pouco conhecido quando comparado com a importância que teve. Marc Bohan foi contratado para a Dior em 1958 e o seu trabalho era gerir a marca em Londres. Dois anos mais tarde foi chamado para Paris e por lá esteve a liderar a maison até 1988, durante uma época de especial crescimento para a marca em muitas frentes.

Das relações que manteve com celebridades destacar-se-á certamente a família real do Mónaco. A princesa Grace sempre teve uma ligação à casa e Marc Bohan desenhou-lhe inúmeros looks. A  princesa do Mónaco iria mesmo cortar a fita na inauguração da primeira loja de roupa Dior para crianças, em Paris. E já na década de 1980, Bohan contrataria a princesa Stephanie para trabalhar. Não foi por isso uma surpresa que tenha sido este designer o responsável pelos looks do primeiro casamento de Carolina do Mónaco, em 1978.

Para a cerimónia religiosa a noiva usou uma criação de Marc Bohan que consistiu num vestido bordado, com renda francesa, saia rodada e mangas de balão compridas transparentes. Na saia, até ao chão, a renda criou um efeito de três camadas em ondas. A princesa não usou joias, além de um simples e discreto colar e o acessório mais surpreendente foram certamente as mini coroas de flores de seda que usou de ambos os lado da cabeça. Qualquer semelhança com o icónico penteado da princesa Leia de Star Wars pode não ser pura coincidência, uma vez que o primeiro filme da saga tinha estreado no ano anterior. Importa dizer que a mãe da noiva, a princesa Grace, ela própria o primeiro ícone de estilo e bom gosto da família, também usou uma criação Dior, um vestido amarelo com chapéu de abas largas a condizer.

GettyImages-3370836
Os príncipes Rainier e Grace com os noivos, Carolina e Philippe Junot
WireImage
GettyImages-954070236
Os noivos caminharam pelas ruas do principado depois da cerimónia religiosa.
Gamma-Rapho via Getty Images

A princesa Carolina tinha 21 anos, mas era uma das celebridades internacionais do momento e tinha acabado os estudos em Filosofia na Sorbonne, em Paris, no mês do casamento. A família real do Mónaco era seguida de perto pela imprensa e a primogénita dos príncipes Grace e Rainier sempre despertou o interesse do público. Philippe Junot era um empresário francês com 38 anos com fama de playboy e gosto por festas. O namoro foi mediático e a imprensa acompanhava o casal sempre que podia. Nos dia do casamento estavam dezenas de jornalistas e fotógrafos acampados no Mónaco. Os festejos de 28 e 29 de junho chegaram a ser considerado o evento social da década.

As celebrações começaram, de facto, no dia 28 com o casamento civil que teve lugar na sala do trono e a noiva usou um vestido azul claro com um chapéu estilo pillbox. À noite houve um baile programado para durar pela noite dentro, segundo descreve o New York Times daquele dia. Tanto a noiva como a mãe usaram vestidos de baile criados por Marc Bohan para Dior. Enquanto Grace terá usado uma tiara Van Cleef & Arpels com diamantes. Carolina usou uma tiara com diamantes da mãe a coroar o seu look de vestido e xaile em renda e luvas brancas compridas. Rainier adornou o seu fato para a noite com medalhas militares, segundo conta a Tatler.

A festa teve tudo a que uma princesa pode ter direito, até um bolo com seis camadas e uma gaiola com pombas que esvoaçaram em liberdade na altura de dividir o bolo. Apesar de todo o brilho que a família tinha sempre à sua volta, muito se escreveu na época sobre como os pais da noiva não queriam que o casamento tivesse acontecido. Depois da cerimónia no palácio, os noivos caminharam pelas ruas do principado até uma capela onde a princesa cumpriu a tradição e deixou o seu ramo de flores junto a uma imagem da Virgem. De seguida, continuaram a pé até à câmara municipal onde assinaram o registo. Pelo caminho foram aplaudidos pelas pessoas que se juntaram para os ver passar, tanto locais como turistas.

GettyImages-956724570

O casamento civil da princesa Carolina e de Philippe Junot na sala do trono do Palácio do Príncipe

Gamma-Rapho via Getty Images

O regresso ao Palácio foi feito de limousine. Foram montadas mesas para a festa na praça em frente à fachada e a organização dos convidados foi pessoalmente supervisionada por Grace até às 4h00 da madrugada no dia do casamento. A lista de convidados estaria inicialmente pensada para 40 a 50 pessoas, mas cresceu consideravelmente para incluir realeza internacional e realeza de Hollywood e chegou aos 600 convidados. Foram também convidados 43 monegascos que nasceram no mesmo ano da princesa Carolina.

Tudo foi planeado ao pormenor e, para desespero dos jornalistas, não houve furos, nem imprevistos nem escândalos. Segundo descreve Jeffrey Robinson na sua biografia de Grace do Mónaco, durante toda a semana o único furo que deu para primeira página de jornais foi uma colisão entre os carros de Gregory Peck e Cary Grant em frente à casa de David Niven em Cap Ferrat, embora não tenha havido, estragos, nem feridos, nem sequer uma zanga.

Carolina viria a confessar numa entrevista televisiva em 1985 que se arrependia de ter casado tão cedo, mas achou que era a solução para sair de casa naquela altura, já que nunca a deixariam ir arrendar uma casa com uma amiga. A jovem princesa terá começado a ver que o casamento não tinha futuro logo na lua de mel, que foi no Taiti. Apesar de a terem tentado dissuadir, teve sempre o apoio dos pais na decisão de se casar e na de regressar a casa. “Além do divórcio civil foi também concedida a Carolina a anulação do casamento, embora 12 anos mais tarde.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos