27 anos depois de ter fundado a Amazon a partir da sua garagem, Jeff Bezos decidiu abandonar a liderança executiva da gigante multinacional de vendas online. O empresário multimilionário, o homem mais rico do mundo mesmo já tendo dividido quase metade da fortuna com a ex-mulher, deixa de ser CEO aos 57 anos, mas não abandona por completo a empresa, transitando para presidente não executivo e prometendo interferir sempre que for necessário.
Bezos, que acumula uma fortuna pessoal de 196 mil milhões de dólares (cerca de 163 mil milhões de euros), começou cedo o seu caminho para o sucesso. Quando ainda andava no ensino secundário, o seu espírito empreendedor levou-o a criar o seu primeiro negócio: uma colónia de férias educacional para crianças chamada Dream Institute. De acordo com a Business Insider, Bezos cobrou na altura 600 dólares (cerca de 500 euros) a cada um dos seis participantes inscritos. Antes disso, já tinha trabalhado no McDonald’s, onde teve o seu primeiro contacto com as dinâmicas automáticas no processo de atendimento ao cliente.
Mais tarde, após formar-se em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Universidade de Princeton, passou ainda pelo ramo financeiro, trabalhando para diferentes empresas do setor, nomeadamente no fundo de investimento D.E. Shaw, tornando-se vice-presidente em apenas quatro anos. Foi também aí que conheceu MacKenzie Scott, com quem casou em 1993.
A sua pegada revolucionária no mundo do comércio online só teria início efetivamente no ano seguinte. Em 1994, depois de ter ficado surpreendido ao ler que a internet tinha crescido 2.300% num só ano, Bezos decidiu encontrar uma forma de tirar proveito deste rápido crescimento. Foi então que elaborou uma lista de 20 categorias de produtos possíveis para vender de forma digital e acabou por decidir que os livros eram a melhor opção.
A 5 de julho desse ano nasceu a Amazon a partir da garagem da sua casa na sempre chuvosa cidade de Seattle. No seu primeiro mês, a pequena empresa já vendia livros online não só para todos os 50 estados norte-americanos como em 45 países diferentes. Passados três anos, gerando na altura vendas anuais de 148 milhões de dólares, entrou no mercado, a 18 dólares por ação.
No entanto, Jeff Bezos não tencionava que a empresa se ficasse pelo título de “a maior livraria do mundo”. E, a partir de 1998, a Amazon começou a expandir a sua oferta para incluir todo o tipo de objetos, como CDs, DVDs, roupas, brinquedos, produtos de escritório e até eletrodomésticos. No final da década de 90, abriu ainda caminho para que outros vendedores começassem a listar os seus produtos no seu Marketplace, competindo diretamente com os seus próprios produtos. Esses vendedores (essencialmente pequenas e médias empresas) formam agora o grande alicerce da gigante do e-commerce, gerando atualmente cerca de 60% das vendas totais.
Contudo, como o caminho para o sucesso também costuma ter alguns obstáculos, a Amazon enfrentaria o primeiro grande problema em março de 2000, com o rebentar da bolha especulativa do domínio de topo “.com”. Embora tenha sobrevivido ao colapso financeiro da bolsa de valores, a Amazon não lhe ficou imune. O valor das suas ações, que tinha atingido um pico nominal de quase 106 dólares no final de 1999, caiu em cerca de 90 pontos percentuais. A empresa teve que dispensar 15% dos seus trabalhadores.
Mas dias melhores estariam para vir. Em 2003, Bezos lançou a Amazon Web Services, uma plataforma de serviços de computação em nuvem. A famosa cloud. A tecnologia imaginada para o próprio site da Amazon foi depois disponibilizada a outras empresas, atraindo clientes como a NASA e a Netflix. De acordo com a Forbes, esta fonte de rendimentos arrecadou 35 mil milhões de dólares em vendas em 2019.
Dois anos depois, em 2005, seria lançada a subscrição Amazon Prime com uma vantagem: por apenas 79 dólares (65 euros) ao ano, os clientes podiam receber as suas encomendas num prazo de dois dias, sem custos de entrega. Isto viria a moldar rapidamente as expectativas dos clientes em relação às compras online, abafando por completo a concorrência. Apesar da subscrição já ter sofrido algumas atualizações de preço — neste momento são cobrados 119 dólares/ano—, a Amazon tem investido em melhorar o seu serviço e, num futuro próximo, poderá mesmo começar a entregar encomendas nos Estados Unidos via drone. O projeto já foi aprovado pelas autoridades norte-americanas e deverá ser agora testado pela empresa.
E porque riqueza constrói riqueza, ao longo dos anos Jeff Bezos foi aumentando o seu portfólio, adquirindo empresas como a Audible, que detém 41% do mercado de audiolivros, o Twitch, uma plataforma de streaming para jogos online, bem como a cadeia de supermercados Whole Foods.
Em 2017, Bezos ultrapassaria pela primeira vez Bill Gates na lista dos mais ricos do mundo. O seu património também foi avaliado em 100 mil milhões nesse ano. Neste momento, ainda é o mais rico do mundo, com uma fortuna de quase 200 mil milhões, mesmo depois de se ter divorciado de MacKenzie Scott, que ficou com um quarto da sua quota na Amazon e uma boa parte da fortuna.
Já em setembro de 2018, alimentada pelo entusiasmo dos investidores, a Amazon viu o preço das ações subir o suficiente para fazer a empresa valer 1 bilhão de dólares por um breve período de tempo. Foi a segunda empresa a ultrapassar esse marco, depois da Apple o ter atingido no início desse ano.
Bezos foi-se afastando ao longo dos anos de grande parte do negócio, delegando as suas responsabilidades a outros diretores da empresa e procurando investir a sua fortuna noutros setores, como a exploração espacial com a empresa Blue Origin, que fundou em 2000.
Mas a pandemia obrigou-o a tomar as rédeas da empresa na primavera passada, à medida que acelerou a transição das compras offline para o online. Numa altura em que a economia global continua em derrapagem, a Amazon tem apresentado resultados históricos, com um crescimento de 44% no volume de negócios no quarto trimestre do ano passado (para um recorde de 125 mil milhões de dólares) e um lucro de 7,2 mil milhões de dólares nesse período, mais do dobro do que tinha conseguido nos mesmos três meses do ano anterior (3,3 mil milhões de dólares).
Apesar disso, Bezos pretende deixar a liderança da empresa nas mãos de Andy Jassy a partir deste verão. O gestor, de 53 anos, que está na Amazon há mais de duas décadas, assume agora o cargo de CEO. Jassy, considerado um discípulo de Bezos, estava à frente do Amazon Web Services, serviço que gerou vendas líquidas de 12,7 mil milhões de dólares entre outubro e dezembro de 2020 e um lucro de 3,6 mil milhões, o equivalente a mais de metade do lucro operacional de todo o grupo Amazon.