Artigo atualizado a 29 de novembro de 2021 depois da conquista da sétima Bola de Ouro
Lionel Messi tinha acabado de conquistar a quarta Bola de Ouro quando Johan Cruyff, um dos nomes de maior relevo de sempre na forma de jogar e pensar futebol, deu uma entrevista ao jornal argentino Olé. “Vai ser o jogador com mais Bolas de Ouro da história. Provavelmente, vai ganhar cinco, seis, sete Bolas de Ouro. Ele é incomparável, joga numa outra liga”, destacou o holandês, dizendo ainda que o número 10 merecia sentar-se na mesa dos melhores ao seu lado, de Alfredo Di Stéfano, de Diego Maradona e de Pelé como os melhores de sempre. Cristiano Ronaldo, que então tinha apenas um troféu, chegou aos cinco. Mas a profecia de Cruyff cumpriu-se.
Na antecâmara da entrega da Bola de Ouro da revista France Football, depois de um ano em que a distinção não foi entregue devido à pandemia de Covid-19, ainda havia dúvidas em torno do vencedor por culpa de uma espécie de “efeito de compensação”: Robert Lewandowski, que fez 55 golos em 2019/20 e conquistou praticamente tudo o que tinha para conquistar com o Bayern Munique, surgia no topo da lista de previsões por não ter recebido a distinção no ano correto. Por outro lado, Jorginho também era um dos principais favoritos depois de ter sido campeão europeu com o Chelsea e ter vencido o Euro 2020 com a seleção italiana. No entanto, o esquerdino que conseguiu alcançar o primeiro título com a Argentina ao ganhar a Copa América, levou a melhor e garantiu a sétima Bola de Ouro, cimentando o lugar enquanto jogador com mais troféus conquistados. E há sete números que descrevem bem aquilo que começa a não ter palavras para ser descrito pelo argentino.
O caso raro (quase único) de até este ano ter jogado apenas num clube como sénior
Depois de ter começado nos argentinos do Newell’s Old Boys, Lionel Messi esteve perto de deixar o futebol quando lhe foi detetado um problema hormonal que prejudicava o normal crescimento e desenvolvimento ósseo. A única forma de debelar a questão passava por ano e meio de injeções em pernas alternadas com um custo de 900 dólares mensais – um custo que o clube não quis cobrir e que só apoiou em parte quando soube que o esquerdino tinha sido oferecido pelo pai ao River Plate. Assim, e aproveitando a família que vivia em Lérida, a família mudou-se para a Catalunha. Em 30 segundos, Carles Rexach não teve dúvidas de que estava ali um fora de série e daí à história do primeiro “contrato” assinado num guardanapo de restaurante, foi um ápice. Até hoje: o número 10 está no restrito lote de jogadores que ganharam a Bola de Ouro jogando apenas numa equipa como seniores, algo que só tinha acontecido com Lev Yashin (Dínamo de Moscovo, 1963) e Florián Albert (Ferencvaros, 1967).
Os 73 golos numa só temporada (que só Jimmy Jones evita que seja recorde)
Os 67 golos marcados por Gerd Müller em 1972/73, no período mais hegemónico do Bayern não só na Alemanha mas também na Europa, constituíam uma espécie de referência máxima entre goleadores até 2011/12, altura em que o argentino pulverizou todas as marcas ao apontar um total de 73 golos: 50 no Campeonato (em apenas 37 jogos disputados, com mais 16 assistências), três na Taça do Rei, 14 na Liga dos Campeões (em 11 encontros, mais cinco passes decisivos), três na Supertaça de Espanha, um na Supertaça Europeia e mais dois no Mundial de Clubes. Melhor só mesmo Jimmy Jones, um avançado norte-irlandês nascido em Keady e com três jogos pela seleção do seu país que na longínqua época de 1956/57 marcou 74 golos pelo Glenavon FC.
As 34 vítimas na Champions, onde o Benfica é um de apenas cinco resistentes
34 de 39. Dos 39 adversários que já defrontou na Liga dos Campeões, Lionel Messi marcou a 34, registo que alcançou em 2019/20 quando apontou o segundo golo do Barcelona frente ao Borussia Dortmund e acrescentou o clube alemão à já longa lista de vítimas – superando o recorde paritário de Raúl e Cristiano Ronaldo, ambos com 33 adversários nessa mesma lista. Quer isto dizer que o jogador argentino só não marcou a cinco adversários que encontrou na Champions: Udinese, Rubin Kazan, Inter Milão, Atl. Madrid e… Benfica. Messi cruzou-se com a equipa portuguesa em 2012/13, ainda durante a fase de grupos, e não conseguiu bater Artur nem na Luz nem em Camp Nou (os catalães permitiram um nulo em casa mas venceram em Lisboa com golos de Alexis Sánchez e Fàbregas). Este número pode alterar-se ainda antes do final da atual fase de grupos da Liga dos Campeões, já que o Barcelona ainda vai jogar a Milão na última jornada antes dos oitavos de final.
O primeiro a marcar na Liga dos Campeões durante 15 anos consecutivos
Messi só precisou de estar em campo três minutos contra o Slavia Praga, na terceira jornada da atual fase de grupos da Liga dos Campeões, para reclamar mais um recorde e escrever (novamente) o próprio nome na história do futebol europeu e internacional. Com o golo que marcou aos checos e que abriu caminho a uma vitória do Barcelona por 1-2 em Praga, o argentino tornou-se o primeiro jogador da história a marcar pelo menos um golo em 15 edições consecutivas da Liga dos Campeões. Desde a temporada 2005/06, quando se estreou a marcar na Champions com um golo frente ao Panathinaikos, que Messi apontou pelo menos um golo nas campanhas do Barcelona na Champions. Cristiano Ronaldo pode igualar este registo já na próxima temporada – estreou-se a marcar na Liga dos Campeões no ano seguinte, em 2006/07, ao serviço do Manchester United – mas já não conseguirá ser o primeiro a alcançar o feito histórico.
O recorde com cinco anos que o torna rei e senhor da Liga espanhola
Este é um recorde que completou recentemente cinco anos mas que é ainda uma das grandes bandeiras de Lionel Messi. A 22 de novembro de 2014, com um hat-trick marcado ao Sevilha, o jogador do Barcelona tornou-se o melhor marcador da história da liga espanhola: chegou aos 253 golos, ultrapassando os 251 que Telmo Zarra marcou nas décadas de 40 e 50 ao serviço do Athl. Bilbao e que eram, desde então, um número interpretado como praticamente inatingível. De lá para cá, Messi já ultrapassou a barreira dos 400 e leva nesta altura 428 golos ao longo de 269 jogos (já a contar com o deste domingo, ao Atl. Madrid), registando mesmo uma média de golos por jogo superior desde 2014. Cristiano Ronaldo, que esteve no Real Madrid de 2009 a 2018, deixou Espanha com 311 golos marcados, superando também Telmo Zarra e tornando-se o segundo melhor marcador da liga espanhola.
343 jogos em Camp Nou e uma média superior a um golo
O jogo já era comemorativo no início e ainda mais se tornou no final: na noite em que Lionel Messi realizou o encontro número 700 com a camisola do Barcelona, na receção dos catalães ao B. Dortmund, o argentino passou a ser o jogador que marcou a mais adversários na principal prova europeia, num total de 34. As estatísticas do capitão blaugrana contam o resto, com 672 golos e 301 assistências em 778 jogos disputados pela única equipa que representou como sénior até este ano, tendo ainda a incrível média de mais de um golo por jogo em Camp Nou.
O fim de 21 anos no Barcelona, o dia 1 no PSG e o primeiro título com a Argentina
2021 acabou por ser um ano capital para Lionel Messi. Depois de quase sair do Barcelona no verão anterior, o argentino não resistiu à crise financeira e institucional que os catalães atravessam e deixou mesmo Camp Nou — ao fim de 21 anos, tendo chegado a Espanha em 2000 e enquanto pré-adolescente. Seguiu para o PSG para se juntar ao projeto milionário que também tem Mbappé e Neymar e que pretende ganhar tudo, com uma especial predileção pela inédita Liga dos Campeões. Antes, num pormaior que acabou por ser crucial para a Bola de Ouro, Messi levou a seleção da Argentina até à conquista da Copa América com a vitória na final frente ao Brasil, alcançando finalmente o primeiro título internacional: algo que, até esse momento, ainda o separava de Cristiano Ronaldo.