Em 1927, José Dias Oliveira instalou dois teares num moinho de água, na margem esquerda do rio Pelhe, em Pousada de Saramagos, concelho de Vila Nova de Famalicão, quando o verde dos campos e a atividade agrícola ainda eram suficientes para fazer o retrato da região do Vale do Ave. A pouco e pouco, a paisagem rural deu lugar às grandes fábricas, dedicadas à produção de fio, à tecelagem e à confeção de vestuário. Noventa anos depois, a histórica têxtil Riopele chega aos cinco continentes e vê novos projetos a despontarem mesmo ali ao lado. Já não é só por linhas de algodão que se tece a história deste concelho, que é o terceiro mais exportador do país (e tem o segundo melhor saldo positivo da balança comercial). Hoje, está de portas abertas à tecnologia. À da Kortex, por exemplo, que quer modernizar e “dar respostas ao novo paradigma da Indústria 4.0 e ajudar na digitalização dos processos”, conta ao Observador Rui Abreu, 42 anos, que lidera a empresa.
A Kortex nasceu há dois anos e foi uma das primeiras empresas que foi bater à porta do primeiro polo da incubadora Famalicão Made In, um programa de apoio ao tecido empresarial que a autarquia começou a desenhar há quatro anos, quando o concelho se tentava reerguer da crise e do desemprego. O objetivo era fazer o concelho “crescer do ponto de vista empresarial, conseguir que as empresas instaladas pudessem desenvolver novas áreas de negócio e cativar empresas para que criassem os seus projetos em Famalicão”, explica ao Observador o autarca Paulo Cunha.
Começou por ser um roteiro pelas empresas dos empreendedores que já o tinham sido há décadas. Mas também para os que o queriam ser. Assim nasceu o Gabinete de Apoio ao Empreendedor em outubro de 2014, para apoiar quem tivesse novas ideias de negócio. Pela via do empreendedorismo, juntam-se à Kortex 64 startups, que, em quase três anos, criaram 88 postos de trabalhos e captaram cerca de 666 mil euros. São projetos que vão do têxtil e vestuário, como a Art Sartorial e a Westmister, aos serviços, como a Bag4Days, ou à informática e redes sociais, como a Swonkie.
A startup que quer “vender tempo e produtividade”
Na Riopele, estão incubadas cinco startups. Uma delas é a Swonkie, a plataforma de gestão de redes sociais que quer “vender tempo e produtividade” às empresas. Entrou na incubadora há um ano (têm também um espaço na Startup Braga e no UPTEC). O que faz? Ajuda a que o conteúdo seja melhor indexado nos motores de busca. Como? Dando aos utilizadores ferramentas para que percebam se o conteúdo que estão a escrever tem imagens ou texto a mais, por exemplo”, explica João Cortinhas. A maioria dos utilizadores, além de portugueses, estão no Brasil, Estados Unidos e Reino Unido.
A história da Swonkie começa quando João foi morar para Inglaterra com a mulher, que é lá enfermeira, em agosto de 2014. Quis fazer uma “espécie de gap year” e começou a fazer trading, ou seja, fazia apostas durante jogos de futebol. Tinha um blog onde ia partilhando apostas, mas demorava “tempo demais” a escrever conteúdo e a partilhar nas redes sociais. João foi à procura de uma plataforma que fosse capaz de gerir redes sociais. Acabou a criar uma. Hoje trabalha com o grupo Impresa e com o Observador.
Em janeiro do ano passado, a Swonkie começou a trabalhar de uma “forma mais séria”. Em abril, os dois fundadores (entretanto Daniel Fernandes, 19 anos, juntou-se ao projeto) foram ao Shark Tank e as coisas correram bem. Trouxeram 50 mil euros e um sócio, Miguel Ribeiro Ferreira, da Fonte Viva, que ainda hoje tem participação na empresa.
A Kortex e a Swonkie são exemplos da “grande heterogeneidade de projetos”, diz ao Observador Augusto Lima, coordenador do Famalicão Made In. “Quando nasceu a ideia de criar o gabinete em 2013, a situação económica do país e da região era diferente da de hoje”, explica. Com a “evolução da situação económica”, começaram a aparecer projetos mais tecnológicos e “alguns a pensar na base exportadora”, diz. Hoje trabalham quatro pessoas na startup, que tem um objetivo claro: chegar ao Brasil e Espanha até ao final do ano, entrar no Reino Unido em 2018, e, depois, seguir para os Estados Unidos.
As startups e a digitalização da indústria
A incubadora, que fez na semana passada dois anos, é apenas uma das vertentes do projeto Famalicão Made In, que visa também a atração de investimento para o concelho. Entre outubro de 2014 e junho deste ano, instalaram-se no ecossistema famalicense 22 empresas que investiram cerca de 113 milhões de euros e criaram mais de mil postos de trabalho.
No total, no mesmo período, o ecossistema, que tem a sua mais valia na genética industrial e nas jovens startups, acolheu 87 novas empresas, foram gerados 1.128 postos de trabalho, captando 113,7 milhões de euros de investimento. Foram abertos cerca de 900 processos, seja para criar uma empresa ou negócio, para atrair investimento ou para promover determinado projeto, explicou Augusto Lima.
Famalicão Made In em números
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- 911 processos abertos
- 87 empresas criadas (Têxtil e vestuário: 12; Serviços: 10; Informática e multimédia: 9; indústria alimentar: 8; saúde e bem-estar: 7; comércio e afins: 7; restauração e bebidas: 6; mobiliário: 3; agricultura: 2; turismo: 1)
- 1.128 postos de trabalho criados
- 113,7 milhões de euros investidos
- 92 empresas no Roteiro Made IN
- 24 startups incubadas (acumulado) nos dois pólos
- 35 mentores
- 68 ideias em acompanhamento
- 365 empresas em acompanhamento
- 530 alunos em programas de educação para o empreendedorismo (ano letivo 2016/2017)
- 53% de jovens no ensino profissional (ano letivo 2016/2017)
- 41 parceiros institucionais
(entre outubro de 2014 e junho de 2017)
Município de Vila Nova de Famalicão
A meio do caminho entre Porto e Braga, num concelho que ainda vive dos seus têxteis, da transformação de carnes e da metalomecânica, a aposta continua a ser “inequivocamente no reforço da nossa competência industrial”, sublinha Paulo Cunha. Mas esse caminho faz-se agora lado a lado com tecnologia e inovação. A digitalização dos processos industriais e a criação de “fábricas inteligentes” são uma “oportunidade”, diz Augusto Lima, coordenador do Famalicão Made In.
Num dos cubos em aglomerado de madeira instalados na Riopele, a Kortex encontrou “tudo o que uma empresa precisa a um preço simbólico”, refere Rui Abreu. “O Made In tem ações concretas orientadas para o empreendedor, como a rede de mentores, workshops, o que também ajuda a que o negócio e as ideias ganhem corpo”, assinala.
No caso da Kortex, ajuda a que software e hardware para a indústria se desenvolvam. “Estamos a trabalhar numa plataforma que permite às empresas dotarem os seus processos de mecanismos para digitalizarem processos”, diz Rui Abreu. Como? A Kortex desenvolveu uma aplicação em que, com um tablet, os operadores na fábrica introduzem diretamente os dados das máquinas. A informação é automaticamente processada e fica disponível em tempo real, permitindo “tomar decisões mais rapidamente”, explica o líder da startup.
Rui Abreu fundou a Kortex em 2015 para digitalizar e tratar dados recolhidos no “chão de fábrica”. Um dos primeiros clientes foi precisamente a fábrica onde agora estão instalados. “Os funcionários da fábrica faziam a recolha com papel e tinham checklists que depois passavam de mão em mão. O que se fazia num mês — recolher, tratar e fazer chegar essa informação aos destinatários –, nós conseguimos praticamente em tempo real”, explica Rui.
Hoje, os três engenheiros da Kortex desenvolvem projetos à medida para empresas da região que trabalham em áreas distintas: da indústria automóvel, ao têxtil e à energia. O objetivo é transformar fábricas em seres “inteligentes” e ajudá-las a gerir grandes quantidades de dados. Estão, por exemplo, a desenvolver um projeto em que fazem a recolha dos consumos energéticos e cruzam esses dados com os da produção de modo a que consigam perceber o impacto que o custo energético tem na produção. Esta empresa famalicense sente a necessidade de contratar mais engenheiros e, apesar de estar focada em trabalhar com empresas da região, um dos objetivos será fazer projetos internacionais, conta Rui Abreu.
“É aí a nossa força, no presente e no futuro, e é aí que as startups poderão entrar de uma forma mais avassaladora na nossa indústria. Quando eu dizia que queremos projetos de valor acrescentado para a indústria é precisamente isto. Startups que tragam soluções para a indústria para fazer face a estes novos desafios da digitalização”, considera Augusto Lima.
E há casos de empresas que estão a 400 quilómetros de Famalicão, na Startup Lisboa, mas pretendem ter um polo em Famalicão, porque “querem estar onde estão os seus clientes”, garante o coordenador do Famalicão Made In.
“O país tem aproveitado pouco a dinâmica de Famalicão”
Há 68 novas ideias de negócio em estudo e há empresas a considerar a sua expansão para o concelho. São empresas maioritariamente do setor têxtil que chegam de concelhos vizinhos. Há também multinacionais, na área da metalomecânica ou da injeção de plásticos que chegam ao concelho, como o grupo francês Saint-Eloi, que instalou em Famalicão a CMI, dedicada à produção de estruturas metálicas. É uma das três empresas de capitais franceses que se instalaram recentemente no concelho.
O capital alemão continua a ser “muito importante” para o concelho, diz Augusto Lima. É o caso da Continental Mabor, a quarta maior exportadora portuguesa, que anunciou em abril o investimento de mais 150 milhões de euros e a criação de 200 novos postos de trabalho na fábrica de pneus que tem em Lousado. A empresa emprega 1.900 pessoas e fechou 2016 com faturação acima dos 830 milhões de euros.
Dentro do programa, deu-se também o regresso da histórica Têxtil Manuel Gonçalves (TMG) ao concelho. Com um investimento de 52,5 milhões de euros, as instalações fabris em Vale de S. Cosme dão lugar à TMG Automotive, um dos maiores fabricantes europeus de tecidos plastificados e outros revestimentos para a indústria automóvel, implicando a contratação de mais de 150 pessoas.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2015 as exportações no concelho cresceram 8,5%, face ao ano anterior, o que corresponde ao dobro da média nacional (que cresceu 3,7%).
“É raro o projeto empresarial que não cresceu nos últimos três anos, do ponto de vista da produtividade, da empregabilidade e ao nível da expansão do mercado. A dimensão da internacionalização está cada vez mais presente nas nossas empresas”, diz o autarca famalicense.
Questionado sobre se a administração central tem reconhecido a vertente exportadora do concelho, Paulo Cunha admite que “o país tem aproveitado pouco a dinâmica de Famalicão”. “Há projetos que continuam na gaveta à espera das condições infraestruturais”, diz o autarca, referindo-se ao projeto da variante à estrada nacional 14, que liga o Porto a Braga e passa por concelhos como a Maia e Trofa. É uma reivindicação com mais de 20 anos e que pretende ser uma via alternativa à N14, que é atravessada diariamente por cerca de 30 mil veículos, nomeadamente pesados, já que é via de acesso a várias zonas industriais onde existem empresas com forte vocação exportadora (a Maia é o quarto concelho mais exportador do país).
“Se somarmos os quase 2 mil milhões de volume de exportações de Famalicão (1,9 mil milhões de euros) aos mais de mil milhões da Maia, são sinais claros de que falamos de uma zona onde o investimento faz sentido e tem retorno”, considera o autarca.
Viajar com uma mala alugada
Em 2013, o município vivia o “pico da crise e do desemprego”, nota Augusto Lima. No final desse ano, o desemprego no concelho ultrapassava os 15%, fruto da crise económica e da crise do têxtil que se iniciou em 2005 com a abertura dos mercados, nomeadamente o asiático. Hoje, a taxa de desemprego ronda os 8,5%, o que equivale a uma descida de 44%.
“Se em 2013 nascemos num contexto que era muito local, de fazer face às necessidades de emprego, hoje, estando isso mais estabilizado e as empresas do concelho mais viradas para outros desafios, que já não a sua sobrevivência, precisamos de ter cada vez mais projetos que venham trazer mais valias e conhecimento, tecnologia e inovação, para que estas empresas possam continuar a dar cartas no futuro”, salienta Augusto Lima.
É o caso da Bag4Days, a empresa de Rúben Marques, 39 anos, que permite alugar ao dia malas de viagem “seguras, resistentes e higienizadas”. Apresentaram o projeto e passaram a ter um espaço no segundo polo da incubadora, em Vilarinho das Cambas, que abriu em junho de 2016, que dá casa a 11 projetos mais focados nos serviços e produtos para o consumidor final.
A ideia de criar a Bag4Days surgiu no ano passado quando Rúben queria viajar e foi pedir a mala do irmão emprestada. Mas as agendas de férias coincidiram e, sem mala, fez o normal: comprou uma. Quando chegou ao destino a roda estava partida e, quando regressou a casa, percebeu que tinha sido assaltado. Nesse caso, “o barato saiu caro”, conta ao Observador.
Depois disso, com quatro pessoas e 27 mil euros, criou um negócio que permite viajar com malas mais modernas, sem a preocupação de estragar a mala (os custos de manutenção são assumidos pela empresa). Como funciona? Depois de selecionar a mala que quer, de entre as mais de 40 que a empresa tem, indica quais são as datas em que pretende receber e entregar a mala e faz o pagamento. O período mínimo de aluguer são quatro dias. A mala é entregue, pelo menos, 24 horas antes da viagem, e é recolhida 24 horas depois da chegada.
No início do ano, admite Rúben, tiveram pouco alugueres, situação que se alterou na altura da Páscoa e agora no verão. Por isso, adianta, estão a criar parcerias com empresas, como a Deloitte por exemplo, que têm sempre colaboradores a viajar. Outros potenciais clientes são estudantes de Erasmus ou enfermeiros que foram para Inglaterra e não querem malas grandes a ocupar espaço em quartos minúsculos, exemplifica. O serviço da empresa permite entregas em Portugal e recolhas em qualquer país da Europa, e vice-versa, e custa entre 4 e 8 euros ao dia para entregas e recolhas em Portugal.
Com uma mala média de 400 euros (preço médio das malas da empresa), se viajar uma vez por ano, cada cliente consegue usar as mala da Bag4Days durante 8 anos, explica Rúben.
Este é, literalmente, um projeto que quer ir de Famalicão para o mundo. O próximo mercado que a startup quer atacar é o espanhol. “O nosso objetivo é ter um mercado interno peninsular. A partir daí é crescer para a Europa”, remata o fundador.
Dar um passo em frente na tradição
Há quem não queira dispensar as linhas e as agulhas para coser uma nova história. Mas dando um passo em frente na tradição. São os casos de Luís Campos, Vanessa Marques e Artur Santos.
Luís e Vanessa são famalicenses, têm 35 anos, e criaram a Westmister, uma marca de meias premium para homem que faturou, no ano passado, cerca de 40 mil euros.
Era uma ideia antiga do fundador que, como tantos, tem a família ligada à indústria têxtil. Ao mesmo tempo, queria combater uma “carência” no mercado e criar uma marca que fosse capaz de calçar o mais “clássico” e o mais “arrojado” que gosta de arriscar nos padrões, conta Luís ao Observador.
Começaram a vender em março do ano passado em lojas físicas no Porto e em Lisboa. Em dezembro, arrancaram com a loja online da marca, já que as “meias são uma coisa fácil de comprar, muito mais fácil que uma peça de roupa”, sustenta Luís.
O grande objetivo neste momento passa por “pôr a marca a trabalhar em força a nível internacional”, diz Luís. Já estão em lojas físicas em Espanha, França, Inglaterra, Suíça, Áustria, Luxemburgo e Bélgica e também nos Estados Unidos e Canadá. E, até ao final do ano, duplicar a faturação do ano passado.
Nesta quarta Revolução Industrial, a investigação e desenvolvimento tem tido um “papel fundamental”, considera Augusto Lima. Porque o têxtil é hoje muito mais do que vestuário.
No concelho, centros como o CITEVE (Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário) e o CENTI (Centro de Nanotecnologia, Materiais Técnicos Funcionais e Inteligentes) produzem e vendem tecnologia a nível mundial. O CITEVE, por exemplo, tanto trabalha fibras, nesta “nova fase” da têxtil, dos têxteis inteligentes, que juntam a moda a uma melhor performance, como trabalham na nova loja do futuro, que junta o online e o offline.
“O CITEVE teve esse condão de criar mercado para o têxtil”, acredita o autarca famalicense. Paulo Cunha destaca ainda o caso da LousAgro, a unidade de produção de pneus agrícolas da Continental, que integra um centro de pesquisa e desenvolvimento que a multinacional decidiu instalar no município. “Já não é sobre escolher Famalicão no país, é escolher Famalicão no mundo”, nota Paulo Cunha.
Além dos centros, o autarca destaca a proximidade do concelho com as universidades do norte (Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro e Minho) e com as locais, a Lusíada e a CESPU, com as quais o município assinou um protocolo para a criação de um Centro de Competências do Agroalimentar, tirando partido do “know-how” das 165 empresas do setor que, em 2014, empregavam mais de 2.700 pessoas, tendo criado um volume de negócios de 361 milhões de euros, segundo dados do INE. Um “centro que estará para as carnes como o CITEVE esteve para o têxtil”, acredita Paulo Cunha.
Também no universo masculino quis arriscar Artur Santos, 30 anos, quando criou a Art Sartorial, uma marca de fatos feitos por medida, personalizados, para poder responder a todo o tipo de pedidos. Diz que pode vestir a pessoa mais excêntrica ou o Presidente da República. Mas o alvo são os dandies, que “fazem parar o trânsito” e estão dispostos a gastar entre 600 e 700 euros num fato que é totalmente produzido em Portugal, com tecidos que vêm de Inglaterra e Itália.
A ideia andava na sua cabeça há dois anos. Era consultor de imagem e sentia dificuldade em arranjar um fato com uma cor ou um padrão diferente no pronto a vestir. Então quis criar uma marca em que cada um decide o que quer.
“Cada vez mais as pessoas gostam da exclusividade, da diferenciação, seja para uma cerimónia, seja para andar no dia a dia. E hoje é possível fazer um fato por medida com mais precisão do que a mão de um alfaiate. Há máquinas com muita precisão. Alguns detalhes ainda são feitos manualmente. É uma mistura da tradição com o futuro”, explica.
Lançou a marca há cerca de três meses e vendeu 11 fatos. Olha para o cabide que tem fatos de todas as cores e chama a atenção para um completamente amarelo. Diz que os clientes lhe chegam porque o veem em feiras como a Pitti Uomo, um dos maiores eventos de moda masculina, que reúne duas vezes por ano entre 35 mil a 40 mil pessoas em Florença.
Artur conta que muitos dos contactos que recebe são de angolanos e também de japoneses. Por isso, quer internacionalizar mais a marca. Nisso, o Made In pode ajudar. É, aliás, uma das funções: facilitar o contacto entre empreendedores e a Câmara de Comércio ou embaixadas.
“A maioria das empresas, quando nos abordam, não estão à espera de uma benesse fiscal. Estão à espera de a burocracia ser aquela que é aceitável, da abertura, de disponibilidade, de entreajuda. Não querem que o terreno custe um euro o metro quadrado, não querem uma isenção de impostos durante 50 anos. Não é isso que procuram nos municípios e, se calhar, nem no país”, admite Paulo Cunha.
Em jeito de balanço, o autarca famalicense reforça o trabalho que tem pela frente. “Acertamos no ponto de partida. O projeto ao longo destes três anos tem evoluído e vai continuar a evoluir. Se me disserem que o projeto Made In ajudou a criar um posto de trabalho, estou realizado. Se criou mil, ótimo. Mas, mais do que criar mil postos de trabalho em três anos, a mim interessa-me que esses mil postos de trabalho aguentem os próximos 40 anos”, considera.
“O tecido empresarial famalicense está mais aberto. A novas ideias, à inovação, a novos desafios e oportunidades, mais colaborativo e próximo. Através deste gabinete conseguimos fazer o tal ecossistema, aproximar as empresas dos centros de investigação, de tecnologia, das startups e associações”, sublinha Paulo Cunha.
Assim se vai trilhando a história de um concelho com gente “empreendedora, dinâmica, arrojada, com vocação para arriscar”, atira o autarca, em que os mais experientes “estão disponíveis para falar com quem tem ideias”. Como José Dias Oliveira fez há 90 anos na casa onde hoje pedalam novos projetos. De Famalicão para o mundo.