Artigo em atualização ao longo do dia
Quando se preparava para falar aos jornalistas, a líder do CDS foi ligeiramente desviada para que no plano de fundo não ficasse a placa de inauguração que tinha o nome da sua sucessora, Ana Paula Vitorino. Assunção Cristas tinha acabado de visitar a Congelagos, em Lagos, onde viu a transformação de peixes de mar. Apesar da manhã dedicada à agricultura e à economia azul, o sal político seria dado por José Sócrates, que tinha acusado no domingo o Ministério Público de falta de independência no caso de Tancos. Cristas admitiu que não leu o artigo, mas aproveitou para colar Sócrates ao PS: “Não li, mas enfim, o que registo é que em 24 horas tivemos o ministro Santos Silva a falar, tivemos Carlos César a falar e tivemos um ex-secretário-geral do PS também a falar todos no sentido da defesa do PS“.
Se já no dia anterior, na feira de Arouca, Cristas tinha puxado ligeiramente o antigo primeiro-ministro para a campanha, ao lembrar que Santos Silva se referiu a “jornalismo de sarjeta” quando era ministro do governo, o artigo de Sócrates só veio ajudar à estratégia. Para Cristas “estes três nomes juntos na defesa do Partido Socialista quer dizer alguma coisa“. Não concretizou que coisa era essa, mas registou que continua à espera de uma resposta do atual primeiro-ministro: “Quem eu não ouvi falar e quem não ouvi responder ao CDS foi o primeiro-ministro e continuamos a aguardar as respostas de António Costa“. A líder centrista promete continuar “sempre a reclamar essa resposta e também a ação do presidente da Assembleia da República”.
Cristas disse ainda que não concorda que o MP tenha sido imparcial no timing — da acusação sair em tempo de campanha eleitora — uma vez que “o CDS defende e sempre defenderá a independência do Ministério Público”. E ainda atirou a Sócrates:”Creio que há aí outras motivações que são bastante claras nesse tipo de comentários.”
Declarações feitas depois de uma visita à Congelagos, onde Cristas aproveitou para lembrar que o dono da fábrica regressou a Portugal para investir em 2014. Ou seja: durante o governo PSD-CDS de que fez parte. Não referiu, no entanto, que o mesmo empresário só decidiu avançar com o projeto em 2016, na altura em que o governo já era socialista.
Sócrates até na saúde: “Inaugurado pelo senhor engenheiro Pinto de Sousa”
Numa tarde dedicada à saúde não houve Tancos, mas voltou a existir Sócrates. Assunção Cristas decidiu ir visitar o terreno onde o governo de José Sócrates prometeu construir um hospital logo em 2007, promessa que segundo a líder do CDS foi repetida em 2009, ainda por Sócrates, em 2015, por Costa, e novamente há poucos dias durante a campanha, novamente por Costa.
Pouco antes das declarações da líder, um membro da comitiva do CDS, da distrital do Algarve, pegou numa pedra que estava local e em jeito de brincadeira disse que se estava perante um “ato simbólico”. Isto para marcar a “inauguração do hospital central do Algarve pelo senhor engenheiro Pinto de Sousa”. Vários membros do CDS sorriram do momento de humor, que escapou à líder.
No local onde devia ter sido erigido um hospital, com um investimento que rondaria os 250 milhões de euros, Assunção Cristas registou aquilo que considera um “escandaloso incumprimento do PS das suas promessas e que não são de agora”. A líder centrista diz que quando Costa passa a “campanha toda a dizer cumprimos”, é indispensável que o CDS vá ao Algarve dizer: “Não, não cumpriu”.
Outra denúncia: no “Hospital de Faro uma consulta de ortopedia está com uma lista de espera superior a 1000 dias”. Cristas aproveitou para defender mais uma vez que, quando o Serviço Nacional de Saúde não consegue dar resposta, a consulta “deve ser feita no setor social ou no privado à escolha do utente”.
Sobre o facto de em quatro anos e meio de governo PSD/CDS o hospital não ter avançado, Cristas justificou que esse governo “esteve empenhado em devolver a soberania financeira roubada ao país pelo PS, que o deixou na bancarrota”. Mas, ao invés, Cristas diz ter tido a esperança “que um governo que esteve quatros anos sem estar sob a égide da troika pudesse fazer alguma coisa coisa, e não o fez”.
A líder centrista diz ainda que “na perspetiva do CDS” naquele local “podia nascer uma Parceria-Publico-Privada” e que da parte do partido “não há nenhum problema com esse modelo”. Pelo contrário, os estudos que o CDS tem “mostram que esses hospitais funcionam tão bem, e nalguns casos ainda melhor, do que os hospitais públicos e traduzem-se numa poupança para os bolsos dos contribuintes.
Cristas gosta de laranjas mas “espremidinhas” em casa
Durante a manhã, Assunção Cristas teve uma sessão com agricultores na Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão, em Silves. Foi lá que ouviu o presidente da Associação, João Garcia, e um dos maiores produtores do Algarve, Joaquim Mourinho queixarem-se da falta de mão-de-obra e sugerirem mais barragens em vez da dessalinização como forma de colmatar a ausência de água, proposta por Cristas.
Os agricultores defenderam a cultura do abacate dizendo que, ao contrário do que dizem ecologistas, não consome muito mais água que as laranjas. Para o provar, Joaquim Mourinho colocou abacates ao lado de laranjeiras com o mesmo sistema de rega e levou Cristas a ver no local isso mesmo.
Já no pomar, Cristas confessou: “Gosto muito de laranjas”. Mas logo retificou, evitando leituras políticas de se estar a referir ao anterior parceiro de coligação: “Gosto de sumo de laranja natural, espremido de manhã para o pequeno-almoço. Mas espremidinho em casa, que fica logo o cheirinho na cozinha“.