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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

"Escrever sobre leite é quase um assassinato público"

Devemos beber leite? E água às refeições? O pão engorda? Os produtos "light" valem a pena? O nutricionista Pedro Carvalho lançou um novo livro e falou com o Observador sobre "Os Mitos que Comemos".

Todos os dias surgem novas dietas e alimentos proibidos ou milagrosos que desafiam até o regime alimentar mais saudável e equilibrado. Num dia, o leite acidifica o organismo e, no outro, o cálcio do leite é essencial para a saúde óssea. Hoje, devemos beber água às refeições mas amanhã a concentração de enzimas diminui e dificulta a digestão. Ah, e o pão é uma fonte nutricional equilibrada mas… engorda. Estas foram algumas das dúvidas que levaram o nutricionista Pedro Carvalho a lançar um livro sobre os grandes mitos clássicos da alimentação.

Depois de perder a conta ao número de vezes que lhe perguntaram se os produtos light são realmente ajudas efetivas na perda ou gestão de peso, o doutorado em Ciências do Consumo Alimentar e Nutrição decidiu responder aos grandes equívocos da nossa alimentação numa única obra. Em Os Mitos que Comemos, Pedro Carvalho tanto fundamenta a sua opinião com artigos devidamente citados como ainda levanta dúvidas e incertezas num tom irónico. “Ser nutricionista hoje em dia é uma missão ingrata”, começa por dizer o atual professor universitário do Instituto Superior da Maia. “É importante saber defender-se das operações de marketing e da falta de rigor de muitos especialistas.”

Das dietas detox ao efeito do leite no organismo, passando pelos superalimentos que devemos ter em cima da mesa, o nutricionista falou com o Observador sobre os grandes mitos e verdades da nossa alimentação.

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O livro foi publicado pela Matéria-Prima Edições e custa 14,50€.

Qual é o maior mito de alimentação no qual continuamos a acreditar?
Para mim é difícil dizer qual é o maior mito mas, hoje em dia, escrever sobre leite é quase um assassinato público porque existe quase uma corrente fundamentalista “anti-leite” com uma argumentação completamente falaciosa. De facto, o leite tem malefícios para alguns subgrupos populacionais mas para a população geral continua a ter mais benefícios do que malefícios. O leite não tem nada que faça dele um alimento essencial e não tem nada que faça dele um veneno. Já o glúten também tem muitos mitos associados e é um dos tópicos mais controversos nos últimos anos.

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Quantas vezes já lhe perguntaram se o pão engorda? Qual é o veredito?
Essa é uma pergunta básica que as pessoas acabam sempre por fazer. Acho que atualmente o grande problema nem é tanto o pão mas as bolachas e é por isso é que está uma bolacha Maria na capa [risos]. O pão é daquelas fontes de hidrato de carbono que até acaba por ser o mais equilibrado mas pode engordar tal como qualquer alimento — depende é da quantidade com que é ingerido, do tipo de pão e do que vai dentro dele.

Em vez de manteiga ou margarina, acompanhe uma pequena porção de pão com azeite ou húmus. (foto: iStock)

Lisovskaya Natalia

Se tolera bem o leite de vaca e o bebe moderadamente continue. Acredite que há muitas outras coisas mais importantes que pode mudar na sua alimentação e no seu estilo de vida para melhorar a sua saúde. Se não o tolera bem, experimente as opções sem lactose e também a bebida de soja. (Os Mitos que Comemos, p.88)

Manteiga ou margarina: qual é a mais saudável?
Nenhum dos dois é particularmente feliz. Em primeiro lugar, são cremes de barrar à partida colocados em pão ou tostas, o que já não é um episódio alimentar muito equilibrado porque junta hidratos de carbono e gordura. Nesse contexto, as margarinas ou os cremes vegetais com uma redução de gordura maior até podem ser um bocadinho melhores do que a manteiga (na redução dos níveis de colesterol) mas também podem ser o oposto (porque são grande fontes de ómega 6). Existem hoje alternativas equilibradas como manteiga de amendoim e pastas de azeitona e húmus que podem perfeitamente substituir a manteiga e a margarina.

Devemos ou não beber água às refeições?
Não há mal nenhum em beber mas também não há mal nenhum em não beber. Os poucos estudos que já se fizeram sobre o assunto demonstraram que beber um a dois copos de água 30 minutos antes da refeição até diminui o apetite e aumenta a saciedade. Não se perde nada e ficamos mais hidratados.

"Ser nutricionista hoje em dia é uma missão ingrata. Uma vez que comer é um ato que praticamos várias vezes ao dia, todas as pessoas parecem tornar-se especialistas em nutrição e alimentação sempre com uma opinião bem robusta e segura, típica de quem sabe suficientemente pouco para não ter dúvidas."

Se gosta de manteiga, e só a ingere em pequena quantidade no seu pãozinho ao pequeno-almoço, então continue. A magnitude expectável do efeito da mudança não compensa o fim desse pequeno prazer diário. (Os Mitos que Comemos, p.46)

Vale a pena optar por produtos light?
Vale a pena em alguns casos. No que toca aos refrigerantes sim, porque ainda existe uma grande redução a nível de açúcares. À partida, nos iogurtes e queijos também há uma redução de gordura mas a análise do rótulo é fundamental. Por exemplo, basta uma marca retirar 30% do açúcar ou gordura do produto original para lhe chamar light, diet, zero ou magro.

Na sua opinião, existe algum regime alimentar em que devemos pensar duas vezes antes de o experimentar?
Qualquer dieta que retire um grupo inteiro da nossa alimentação na totalidade não faz muito sentido. Eventualmente quem estiver a fazer dietas detox ou alcalinas em que só se bebem calorias líquidas desprovidas de proteínas e ácidos gordos essenciais deve ter cuidado porque estas podem ser perigosas se forem adotadas durante muito tempo.

Frutos vermelhos como morangos, mirtilos, amora, framboesas e cerejas são superalimentos com propriedades nutricionais de exceção. (foto: iStock)

iStock

Quais são os superalimentos que devemos ter em cima da mesa?
Frutos vermelhos, aveia, batata-doce, salmão, sardinha, gengibre são alguns dos superalimentos que possuem realmente propriedades nutricionais de exceção e devem estar em cima das mesas dos portugueses. No entanto, são alimentos mais caros e nem toda a gente tem possibilidade para incorporá-los diariamente na alimentação. Mas também existem superalimentos com um embrulho apelativo — como as algas em pó ou millet — que não têm uma vantagem nutricional assim tão grande para o preço que custam. Não estou a dizer que são uma fraude mas não são superalimentos obrigatórios para uma alimentação equilibrada e saudável.

"Uma área em constante desenvolvimento como as ciências da nutrição exige que todos os seus profissionais possuam a mente aberta para novas ideias e conceitos, mas não tão aberta ao ponto de lhes cair o cérebro: a ciência evolui, mas nem tudo o que é novo é ciência."

Porque é que a sociedade, no geral, está cada vez mais preocupada com a sua alimentação?
É uma tendência positiva porque hoje há cada vez mais fontes de informação e a alimentação tornou-se uma imagem de marca distintiva das pessoas. Está muito na moda as pessoas partilharem nas redes sociais o que comem e aderirem a determinados regimes alimentares — excluem o glúten, os laticínios e privilegiam os superalimentos, por exemplo. Felizmente, há cada vez mais preocupação com a alimentação mas nunca foi tão difícil ser nutricionista como agora. Primeiro é uma área em constante evolução e, hoje, quase todos somos especialistas em nutrição com uma opinião formada uma vez que comer é um ato que praticamos várias vezes ao dia. As pessoas chegam às consultas já com uma lição estudada e a confrontação de informação é cada vez maior.

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