Quando em maio deste ano, Mark Beighley veio de férias a Portugal, estava longe de imaginar o que estava para acontecer. Os incêndios graves de junho e outubro criaram as condições para o especialista em fogos florestais voltar ao país como consultor na área. Afinal, tinha sido ele a prever, em 2009, que um incêndio devastador podia acontecer em Portugal no prazo de dez anos.
A previsão tinha sido feita por Mark Beighley e o coautor A. C. Hyde no relatório pedido pelo grupo Portucel-Soporcel – Avaliação da Gestão e Capacidade de Resposta aos Incêndios Florestais. Os autores identificaram, com uma probabilidade de 5%, que num ano de seca extrema os fogos florestais em Portugal podiam queimar mais de 500 mil hectares. Era um cenário extremo, que muitas pessoas julgaram exagerado. Mas aconteceu. Aconteceu este ano e o especialista não descarta que possa voltar a acontecer nos próximos anos.
“Em muitas zonas de Portugal, encontram-se já reunidos os principais ingredientes de um incêndio devastador, exceto um: o próximo episódio provocado pelas condições meteorológicas”, escreveram os autores do relatório em 2009.
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A Afocelca é um agrupamento complementar de empresas do grupo The Navigator Company e do grupo Altri que tem como missão apoiar o combate aos incêndios florestais nas propriedades das empresas agrupadas. A Afocelca trabalha em coordenação e colaboração com a Autoridade Nacional de Proteção Civil.
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Durante as férias, Mark Beighley ligou ao amigo Tiago Oliveira para combinarem um jantar, mas o resultado foi que o então Gestor da Proteção Florestal da empresa The Navigator Company (antiga Portucel-Soporcel) lhe pediu que atualizasse o relatório que tinha produzido em 2009. Tiago Oliveira considerava que tudo o que estava no relatório era ainda relevante, mas a data marcada na capa não ajudava. Além disso, era preciso juntar os dados dos incêndios até 2016 e voltar a avaliar o desempenho da Afocelca (uma empresa privada de combate a incêndios).
Antes mesmo de conseguirem acordar uma data para começarem a fazer o trabalho de campo, chegou junho e os incêndios de Pedrógão Grande e Góis. A extensão dos incêndios e a morte de 64 pessoas obrigaram a que a ideia ficasse suspensa até que o ambiente estivesse mais sereno para se tocar no assunto. Com os incêndios de outubro, Mark Beighley, que trabalhou nos Serviços Florestais dos Estados Unidos, sentiu que era imperativo o regresso a Portugal como consultor.
“Eu quero mesmo que isto funcione. Se pagarem as minhas despesas, volto de borla e fazemos isto”, disse o especialista a Tiago Oliveira, agora presidente da recém-criada Estrutura de Missão para a Instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.
Durante três semanas, Mark Beighley voltou a correr o país e tentou entrevistar muitas das pessoas com quem tinha falado para elaborar o relatório de 2009. A resposta foi comum a muitas delas: “Basta mudar esta data para 2017, porque está tudo na mesma”. Mas o especialista norte-americano não concorda: “Não é bem verdade, porque na realidade está tudo um bocadinho pior”.
Muito do que faltava em 2009 continua a faltar
Quando Mark Beighley esteve em Portugal em 2009, para elaborar o relatório para a Portucel-Soporcel, “a ideia era fazer uma revisão completa do sistema de combate a incêndios em Portugal”. Uma questão particularmente importante para a empresa, que queria reduzir o dinheiro gasto com os serviços da Afocelca. Mas, para isso, precisava de ter garantias de que os meios disponibilizados pelo Estado para o combate a incêndios era suficiente.
Para conseguir uma imagem o mais abrangente possível, Mark Beighley percorreu o país e entrevistou quase 60 pessoas das áreas relacionadas com o assunto: das associações florestais aos professores universitários, dos bombeiros, à ANPC e à GNR. O que mais o irritou foi o facto de José Honório, o então presidente da Portucel-Soporcel, não ter facilitado a divulgação do documento. “As pessoas entrevistadas nunca tiveram oportunidade de ver este relatório — o que me deixou aborrecido. Sempre que fazemos um relatório queremos receber um feedback das pessoas.”
No relatório de 2009, Mark Beighley, com mais de 40 anos de experiência em gestão de fogos florestais, apresentou os três pilares essenciais para lidar com este problema: a prevenção — especificamente, a redução ou eliminação das ignições (início dos incêndios); a redução de combustíveis (como ervas e matos secos, lenha e excesso de árvores); e o combate aos incêndios, propriamente dito.
“Tentei enfatizar que só quando os dois primeiros pilares falham é que é preciso recorrer ao último. Mas, em Portugal, tudo o que se tem feito é no último pilar.” Um problema que, segundo o especialista, é típico dos países que têm problemas com incêndios. “É mais fácil investir em mais helicópteros e aviões de combate a incêndios, atirar dinheiro para o problema e ver se, com sorte, ele se resolve sozinho.”
Foi isso que o Governo fez depois dos incêndios de 2003 e 2005. E quando Mark Beighley voltou, em 2009, o Governo reclamava sucesso, porque as épocas de incêndios de 2007 e 2008 não tinham sido muito graves. Para o especialista era cedo para cantar vitória: os verões desses dois anos tinham sido amenos e húmidos. Os anos críticos em termos de incêndios em 2013, 2016 e 2017, mostraram que tinha razão.
Portugal precisa de apostar na prevenção das ignições
Quando se encontrou com o primeiro-ministro António Costa, no dia 10 de novembro, Mark Beighley alertou que o foco devia estar na prevenção e no tratamento de combustíveis. Ideias que já estavam na proposta técnica do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios que ajudou a elaborar. Ideias que têm sido repetidas e reforçadas por muitos engenheiros florestais e especialistas em incêndios em Portugal. Mas, como o próprio Mark Beighley lembrou, grande parte das propostas acabaram por não ser integradas no plano final de defesa da floresta.
“Não há soluções milagrosas. Não vão resolver este problema num ano ou dois ou mesmo dez. Precisam de uma solução sustentável de longo prazo.” E uma solução que considere as múltiplas facetas do problema identificadas pelos autores do relatório. Uma delas é a desertificação do interior e, como resultado, terrenos agrícolas que não estão a ser tratados. Quando um terreno fica abandonado, as árvores estabelecem-se e formam-se áreas florestadas selvagens, que “contribuem para este oceano imenso de combustível”.
O interior não está só a ficar sem pessoas, as pessoas que têm abandonado a região são as mais jovens. Quem fica não tem capacidade para fazer uma gestão adequada. Mais, os proprietários dos terrenos têm, normalmente, parcelas de terra muito pequenas que não justificam o investimento na gestão de combustíveis. A solução poderia ser a criação de Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) — a agregação de todas as pequenas propriedades num mesmo corpo de decisão —, mas, além do processo de constituição das ZIF ser moroso e burocrático, “os proprietários não estão disponíveis para abdicar da gestão do seu pequeno pedaço de terra”.
Paulo Fernandes: “O problema não se resolve mudando umas pessoas nem de um ano para o outro”
“Poucas ou nenhumas ZIF realizam tratamentos de combustível que reduzam o risco de incêndio”, referem os autores nas conclusões do relatório. “É preciso garantir mais especialização, apoio e incentivos aos proprietários, de forma a que concluam os tratamentos de combustível. O conceito das ZIF é inútil, se não obtiver resultados significativos de prevenção dos incêndios florestais.”
Outro problema é o número de ignições, que Mark Beighley atribui às pessoas, por negligência ou acidentes. “Disse ao primeiro-ministro: não é terrorismo, não são os aviões de combate a incêndios, são os seus vizinhos.” As pessoas continuam a ter comportamentos de risco, a fazer queimadas quando a recomendação é para que não o façam. Depois vem uma rajada de vento e a pequena fogueira para queimar os restos da poda transforma-se num incêndio de grandes dimensões. E isto aconteceu este ano.
“Muitas destas pessoas fazem isto há décadas: chega o outono, cortam as folhas, podam as árvores e queimam tudo. Parece-me que não lhes faz muita diferença que esteja calor ou tempo seco ou vento. Vão fazê-lo na mesma”, disse. “Depois ouvi comentários do tipo: vinha aí o furacão Ophelia, que iria fazer chover muito, como faz nos Estados Unidos, e que tinham de se despachar a queimar as coisas antes que chovesse.” Muitas das queimadas foram feitas nos dias 13 e 14 de outubro. Depois vieram os ventos fortes. Sem falar que setembro e outubro foram dos meses mais quentes de que há registo.
E as outras pessoas permitem que isto aconteça. Quando visitou as zonas afetadas pelos incêndios de Oliveira do Hospital, Mark Beighley perguntou às pessoas se denunciariam à GNR um vizinho que estivesse a fazer uma queimada numa altura de risco elevado de incêndio. E a resposta que obteve foi que não, porque tinham de continuar a conviver com essa pessoa. “Esta é uma parte do problema, a tolerância para a quebra de regras, ou como me disseram: ‘Não são leis, são meramente sugestões’.”
Em Mortágua encontrou um exemplo diferente. Como a maioria das pessoas depende de alguma forma da indústria do papel, todos têm um papel de vigilante, as próprias equipas de futebol fazem patrulhas. E quando vêem algo suspeito, ou um estranho a rondar a área, ligam ao comandante dos bombeiros. “Eles consideram a floresta como um banco, é o seu investimento, e está a crescer.”
Os autores do relatório mostraram-se surpresos com a “ocorrência anormalmente elevada de fogo posto em Portugal” e perceberam que muitos destes resultam de políticas públicas contraditórias e dos consequentes conflitos de interesse. “Outros países implementaram sanções penais graves para este tipo de crime”, referem os autores. “Em junho deste ano [2009], a Califórnia condenou à morte uma pessoa que causou um incêndio, no qual faleceram cinco bombeiros, que tentavam salvar uma casa.”
Criticam ainda a atuação das equipas de bombeiros por não protegerem os locais dos incêndios como uma potencial cena de crime até à chegada do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), da GNR, ou dos agentes da Polícia Judiciária. “Na ansiedade de extinguirem os incêndios, destroem os indicadores da origem dos mesmos e as provas essenciais, tornando quase impossível determinar a origem do incêndio e instaurar uma ação penal.”
Os reacendimentos são outro problema a considerar. “Este ano, alguns distritos tiveram uma taxa de reacendimento de 30%”, disse o especialista, lembrando que é uma taxa muito alta. “Quando temos 500 fogos por dia, o que acontece é que a primeira força de intervenção fica assoberbada e não consegue extinguir completamente um fogo antes de ter de ir combater o próximo.” A sugestão é que, depois de os bombeiros apagarem o fogo, entre outra equipa para garantir que todos os pontos quentes são eliminados.
Este trabalho pode ser feito pelo Exército. “Portugal tem muitos pelotões de militares que precisam de fazer exercícios de orientação e que não precisam de conhecimento sobre combate a incêndios para isso.” Para Mark Beighley o exercício pode ser dar uma localização aos militares para treinarem essas competências e, quando chegarem ao local, podem detetar se existem pontos de calor. “O que é preciso é um processo de verificação dos incêndios em contínuo, precisam de alguém que tenha a responsabilidade de o fazer, porque agora é aleatório, na melhor das hipóteses: alguns fogos são verificados, outros não.”
Os bombeiros precisam de usar mais ferramentas, defendeu o especialista. E não só na deteção dos pontos quentes, também no combate aos incêndios. “Uma das coisas que fazemos nos Estados Unidos é que criamos um trilho à volta de todos os incêndios, onde acabamos com os combustíveis e ficamos só com o solo mineral”, explicou. “E vocês aqui não fazem isso. Esta é uma das críticas do relatório.”
Para se conseguir criar este trilho é preciso resfriar o fogo primeiro. É para isso que servem os helicópteros e aviões de combate a incêndio. Estes meios não apagam incêndios, os bombeiros é que fazem esse trabalho, mas têm de conseguir lá chegar. Claro que quando as chamas estão muito altas, os bombeiros não conseguem lá chegar e as chamas saltam os trilhos como saltam as estradas. A solução para ter chamas mais baixas é fazer a gestão dos matos e arbustos juntos destes trilhos e estradas, que pode ser feita com corte ou com fogo controlado.
Mas, muitas vezes, na opinião de Mark Beighley, não haveria gestão de combustíveis, nem número de bombeiros ou de viaturas, que pudesse ter alterado o desfecho do incêndio. “O que podia alterar o desfecho? Não ter um incêndio à partida.” E os reacendimentos são preveníveis, como reforçou o especialista várias vezes durante a entrevista. “São este tipo de incêndios que estão a queimar casas, que estão a matar pessoas.”
É preciso uma unidade específica dedicada aos fogos florestais
Mark Beighley, que conhece vários comandantes e corporações de bombeiros em Portugal, defendeu que estes são parte da solução no combate aos incêndios, mas é preciso fazer mais. “Os bombeiros são muito bons em algumas coisas: fogos em habitações, em empresas ou em estruturas, mas precisam de mais conhecimentos em fogos rurais, em fogos florestais, em gestão de fogo florestal.” O especialista defende que os comandantes das corporações maiores, assim como todos os líderes envolvidos no combate aos incêndios devem ter formação, competências e experiência na área. O relatório da comissão técnica independente, elaborado depois dos incêndios de Pedrógão Grande e Góis, defendia o mesmo.
Relatório. Todas as falhas que contribuíram para a morte de 64 pessoas
Para o especialista, um fogo rural ou florestal não pode ser encarado como um fogo urbano. Além do equipamento necessário ser completamente diferente, as competências que devem ter os bombeiros também o são. O mesmo para a coordenação das equipas. Por isso, Mark Beighley defende que seja criada uma estrutura, paralela à Autoridade Nacional de Proteção Civil [ANPC], que se dedique aos fogos rurais. “Criar outra organização que não substitua [a ANPC], mas que certamente a suplementa e complementa.”
“A estrutura existente é boa para fogos em habitações, para emergências, para as ambulâncias, mas não é boa para fogos florestais”, disse o especialista norte-americano. “O que normalmente acontece [em fogos florestais] quando têm alguns arbustos a arder e têm uma casa que está ameaçada é pôr toda a água na casa para evitar que arda. O fogo [nos arbustos] pode avançar para outros locais e depois ameaça outra casa. E o que fazem? Vão proteger a outra casa e o fogo continua em movimento, a espalhar-se e a ameaçar mais casas. Ninguém está a combater os fogos, toda a gente está em modo defensivo, a defender as estruturas, não há ninguém em modo ofensivo.”
O especialista, que também já foi bombeiro e comandante, criticou que não haja requisitos mínimos nas qualificações dos bombeiros em Portugal. “Estabelecer um padrão de competências para todas as pessoas com cargos de chefia na proteção civil, saúde pública, resposta de emergência, é do interesse público, tem a ver com segurança.” Ainda assim, Mark Beighley referiu que se começam a ver muito bons profissionais, com boas competências técnicas, como o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS), da GNR, ou a Força Especial de Bombeiros Canarinhos, mas falta a coordenação com os outros meios no terreno.
Outra das estruturas com potencial para ajudar a resolver o problema são os Gabinetes Técnicos Florestais (GTF). Mas, segundo Mark Beighley, estes técnicos queixam-se “que não podem fazer aquilo para que foram criados, tornaram-se escravos dos presidentes de Câmara e dos municípios”. O objetivo dos GTF era “fazerem tratamento dos combustíveis ou fogo controlado ou mapeamento de risco”. Em vez disso, “estão a podar as árvores e a garantir que as árvores do parque têm bom aspeto e esse tipo de coisas”.
Um problema que Mark Beighley atribui, em parte, à extinção dos Governos Civis. Não existe um nível de governação intermédio entre o Governo central e as autarquias. “E os presidentes de Câmara tem mais poder do que deviam.” Aqui, a solução pode ser a criação e organização de Comunidades Intermunicipais. Os GTF podem ser “libertados dos presidentes de Câmara, colocados neste outro patamar em que trabalham para três ou quatro municípios”.
O que precisamos fazer mais?
Depois dos grandes incêndios de 2017, o Governo já criou nova legislação relacionada com os incêndios. Sem ter tido oportunidade de a ler, porque estava em português, e conhecendo apenas o que lhe contaram, Mark Beighley considera que não é suficiente. “Acho que a legislação que é criada imediatamente depois de uma emergência é provavelmente insuficiente, provavelmente não é bem pensada.” O especialista sabe que os órgãos eleitos “têm de responder rápido e, muitas vezes, não é a melhor resposta”.
Na reunião com o primeiro-ministro deixou-lhe dois conselhos. Em primeiro lugar, a mudança tem de ser significativa para que a população perceba que há algo a ser feito. “Tem de ser diferente do passado, não pode ser apenas mais helicópteros e aviões de combate a incêndio, precisam de concentrar-se nos outros componentes.” Depois, é preciso gerir expectativas. “Se fizer promessas que não consiga cumprir, as pessoas vão perder a confiança em si. E se não tiver a confiança do público, não vai chegar a lado nenhum.”
Nos próximos anos, o número de incêndios e a área ardida até podem ser menores, mas isso não será necessariamente resultado das políticas do Governo. No relatório de 2009, os autores perceberam que existe um ciclo de verões amenos e húmidos, com menos expressão dos fogos florestais, seguidos de um ou dois anos de verões secos e quentes, em que os incêndios podem tomar proporções catastróficas. E são estes “anos benignos” de incêndios que conduzem aos anos extremos. Porquê? “Primeiro, as zonas não ardidas nos anos amenos tornam-se mais propensas a arder nos anos seguintes com verões quentes e/ou secos. Segundo, nos verões amenos, há um aceleramento do crescimento vegetal, devido a um menor stress da humidade, que fornece mais combustível para a ocorrência futura de incêndios, em verões quentes e/ou secos”, escreveram os autores no relatório.
Mas se acha que este ano ardeu tudo o que havia para arder, Mark Beighley desfaz a ilusão: “Ainda há muito para arder. Há combustível suficiente — em diferentes partes de Portugal — para termos mais duas ou três temporadas de incêndio como este ano”.
O especialista deixa ainda uma crítica à calendarização da época dos incêndios (fases Bravo, Charlie e Delta). “O calendário é ótimo para a proteção civil, mas é péssimo para o combate aos fogos florestais.” E dá o exemplo deste ano: “A fase Charlie, quando acontecem a maior parte dos incêndios, começa a 1 de julho e vai até 30 de setembro, mas os dois incêndios mais significativos deste ano aconteceram fora deste período, um antes e outro depois.” Para Mark Beighley, a média faz pouco sentido quando o que se verifica são “temporadas de incêndios assimétricas”. “Ou se tem uma época de incêndios muito severa ou muito branda.”
A sugestão é que se crie um índice meteorológico com foco nos incêndios, que tenha em consideração, por exemplo, o clima presente, as previsões futuras, o nível de secura dos combustíveis ou o nível de aridez dos solos. Mais uma vez, o especialista disse que o país já tem capacidade para fazer isto e enalteceu o trabalho feito pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Mas os autores deixam claro que a prevenção é o mais importante. “As nações e estados não podem controlar a meteorologia, as secas e ondas de calor. No entanto, podem controlar a quantidade de combustível pronto a arder e a sua distribuição no terreno.” Só reduzindo a quantidade de combustíveis se consegue reduzir a intensidade dos incêndios e, aí sim, os meios de combate serão eficazes. Os autores dão ainda o exemplo da Califórnia, que tem “o sistema de combate aos incêndios florestais mais sofisticado e caro do mundo”, mas que mesmo assim tem dificuldade em combater incêndios extremos.
Correcção: Mark Beighley visitou as zonas afetadas pelos incêndios de outubro, nomeadamente a zona de Oliveira do Hospital