Em três anos, tudo mudou. Mudou o selecionador, mudaram as principais referências, mudaram também as ambições antes da competição. Pode uma campeã europeia em título chegar a uma nova competição sem ter o estatuto de favorito a reconquistar a prova? Sim. A Itália é um dos casos mais particulares deste Euro-2024 que se segue à presença falhada no Mundial do Qatar, daqueles em quem poucos ou nenhuns põem as fichas mas que ao mesmo tempo ganham em toda a linha nas apostas das potenciais surpresas. É entre este cenário quase paradoxal que emerge Luciano Spalletti, que depois de conseguir o impossível com o título de campeão em Nápoles tenta mais uma façanha para coroar uma carreira sempre em crescendo aos 59 anos.
Há menos de um ano, o treinador estava desempregado por vontade própria (apesar de o Nápoles dizer que tinha acionado a opção para ficar mais um ano no sul de Itália) e apostado em passar um período sabático a cuidar das suas vinhas na casa de “retiro”. Depois, veio a “bomba”: Roberto Mancini alegou problemas na construção da equipa técnica, foi para a Arábia Saudita e Spalletti foi a solução para o “vazio” criado antes do Europeu. Seguiram-se outros problemas, nomeadamente o caso das apostas de Sandro Tonali que chegou a outros jogadores como Zaniolo, mas a equipa foi-se reinventando numa nova fase sem os grandes bastiões que foram as bandeiras da squadra azzurra durante vários anos como Gigi Buffon, Bonucci ou Chiellini.
Está a nascer uma nova era no futebol transalpino. A coesão defensiva e a forma de controlar jogos a partir de trás mantém-se como um ADN comum mas Spalletti quer mais e entrou com medidas mais “radicais”. Uma deu nas vistas: os telemóveis têm de ser aceites mas as PlayStations estão proibidas no estágio. “Há jogadores que pensam que o Spalletti ladra mas não morde. Estão enganados. Eu invento um jogo qualquer para que pensem e se distraiam durante a noite. Se vens para a seleção é para ganhar o Europeu e não para ser campeão do Call of Duty”, atirou. Para reforçar o espírito de equipa, o treinador trouxe também ao estágio antigas glórias como Roberto Baggio, Del Piero, Francesco Totti, Gianni Rivera ou Antognoni, que falaram sobre o peso da camisola e a necessidade de assumir responsabilidades. Problema? Depois de Acerbi, a Itália perdeu também Scalvini por lesão. E essas baixas na defesa podem ser um calcanhar de Aquiles.
BI
- Ranking FIFA atual: 9.º
- Melhor ranking FIFA: 1.º (novembro de 1993, fevereiro de 2007, abril a junho de 2007 e setembro de 2007)
- Alcunha: Squadra Azzurra (A Equipa Azul)
- Presenças em fases finais: 10
- Última participação. Vencedor no Europeu em vários países, em 2020
- Melhor resultado. Vencedor do Europeu de Itália em 1968 e em vários países em 2020
- Qualificação. Apuramento direto no segundo lugar do grupo C com Inglaterra, Ucrânia, Macedónia do Norte e Malta
- O que seria um bom resultado? Regressar à final do Europeu
Jogos em 2024
- Jogo particular, 21/3: Venezuela (neutro), 1-2 (V)
- Jogo particular, 24/3: Equador (neutro), 0-2 (V)
- Jogo particular, 4/6: Turquia (casa), 0-0 (E)
- Jogo particular, 9/6: Bósnia (casa), 1-0 (V)
O onze
- 3x4x3: Donnarumma; Buongiorno, Bastoni, Calafiori; Di Lorenzo, Barella, Jordinho, Dimarco; Pellegrini, Chiesa e Retegui
O treinador
- Luciano Spalletti (italiano, 65 anos, desde 2023)
- Outros clubes/seleções: Empoli, Sampdoria, Veneza, Udinese, Ancona, Roma, Zenit, Inter e Nápoles
O craque
- Donnarumma (25 anos, guarda-redes do PSG)
- Outros clubes: AC Milan
A revelação
- Davide Frattesi (24 anos, médio do Inter)
- Outros clubes: Sassuolo, Ascoli, Empoli e Monza
O mais internacional e o maior goleador
- Gianluigi Buffon (176 internacionalizações) e Gigi Riva (35 golos)
Os 26 convocados
- Guarda-redes (3): Donnarumma (PSG), Alex Meret (Napoli) e Guglielmo Vicario (Tottenham)
- Defesas (10): Alessandro Bastoni (Inter), Raoul Bellanova (Torino), Alessandro Buongiorno (Torino), Riccardo Calafiori (Bolonha), Andrea Cambiaso (Juventus), Matteo Darmian (Inter), Giovanni Di Lorenzo (Nápoles), Federico Dimarco (Inter), Federico Gatti (Juventus) e Gianluca Mancini (Roma)
- Médios (7): Nicolò Barella (Inter), Bryan Cristante (Roma), Nicolò Fagioli (Juventus), Michael Folorunsho (Verona), Davide Frattesi (Inter), Jorginho (Arsenal) e Lorenzo Pellegrini (Roma)
- Avançados (6): Federico Chiesa (Juventus), Stephan El Shaarawy (Roma), Giacomo Raspadori (Nápoles), Mateo Retegui (Génova), Gianluca Scamacca (Atalanta) e Mattia Zaccagni (Lazio)
O centro de estágio
- Hemberg Stadium, em Iserlohn
A ligação a Portugal
Ainda não tem 30 anos mas parece que anda nisto há muito mais com uma razão: a passagem pela Primeira Liga portuguesa quando era novo. Bryan Cristante, médio da Roma orientada por duas épocas e meia por José Mourinho, foi uma aposta forte do Benfica de Jorge Jesus em 2014 (e de Rui Costa, que ajudou a fazer as pontes para o AC Milan, clube onde fez a formação) e parecia ter todas as condições para assumir um lugar de destaque nas opções dos encarnados, Não foi isso que aconteceu: depois de fazer 15 jogos em 2014/15, foi ainda menos utilizados nos primeiros seis meses com Rui Vitória em 2015/16 e acabou a entrar numa espiral de empréstimos a Palermo, Pescara e Atalanta até chegar a título definitivo à Roma em 2018/19.