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Mats Wilander: "O João Sousa tem aquele estilo de jogo que nunca sai de moda"

Mats Wilander, único a ganhar o Open da Austrália em relva e piso rápido, já está em Melbourne para comentar o torneio e fez uma antevisão onde falou em exclusivo para o Observador sobre João Sousa.

“E agora, uma pergunta da Rússia: estão para aparecer alguns jovens suecos que possam dar nas vistas?”, ouve-se. Do outro lado, talvez na resposta mais curta ao longo de quase uma hora, aquela voz que reconhecemos tão bem quando o tema é ténis não podia ser mais sintético: “Nada, nem um”. Foi também por causa daquela voz que o Open da Austrália ganhou a dimensão que tem hoje, foi também por causa daquele país que se tornou tão emblemático. “Os adeptos suecos colocaram o torneio no mapa. Chegaram nos anos 80, vibravam com o jogo como se fosse a Taça Davis tratando-se de uma prova individual. Hoje estarão lá gregos a apoiar o Tsitsipas, sérvios, croatas, mas por causa do que os suecos fizeram nos anos 80″, conta de forma saudosista.

A voz, aquela voz, é a de Mats Wilander, antigo número 1 mundial do circuito ATP que simbolizou a par de Björn Borg e Stefan Edberg uma geração de ouro do país escandinavo no ténis entre o final dos anos 70 e o início da década de 90. “É tão surpresa não haver agora suecos a lutar por títulos como era nos anos 80 haver tantos de um país tão pequeno. É uma questão de tempo”, diz na conference call feita já na Austrália. É mesmo assim: apesar de já ter deixado há mais de 20 anos os courts como profissional (vai competindo no tour dos seniores), já foi treinador da Suécia na Taça Davis – e de Tatiana Golovin e Paul-Henri Mathieu –, tem os seu negócios mas continua a ser sobretudo reconhecido agora pelos comentários para o Eurosport. Fala como jogava, está no topo como quando liderava. E mantém-se sobretudo uma “bagagem” que o distingue dos demais.

Wilander, que terminou o ano de 1988 como número 1, tem uma série de registos históricos na carreira. Como o facto de ser o mais novo de sempre a ganhar o quarto Grand Slams e o único a conquistar sete Majors (três Open da Austrália, três Roland Garros e um US Open, além do triunfo em Wimbledon mas nos pares) sem liderar o ranking. Com Rafa Nadal lidera o registo de dois ou mais triunfos nos maiores torneios nas três superfícies, com Ivan Lendl e Novak Djokovic partilha o feito das três finais seguidas em Melbourne. Por fim, um registo que poucos se recordarão – foi o único a vencer o Open da Austrália quando era jogado ainda em relva e, mais tarde, em piso rápido. Conhece como ninguém o jogo, quem o joga e onde é jogado.

Wilander, hoje comentador no Eurosport, foi o único a ganhar o Open da Austrália em relva e piso rápido

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Em exclusivo para o Observador, o comentador do Eurosport falou sobre a participação de João Sousa e deixou elogios ao jogador português, ao mesmo tempo que admitiu não ter ainda uma ideia formada sobre Pedro Sousa, o outro tenista nacional que teve entrada no quadro principal e faz a sua estreia. “Não conheço bem o Pedro Sousa mas o João Sousa teve recentemente um bom torneio. Tem aquele estilo de jogo que nunca sai de moda: pancada forte, boas movimentações, a jogar de forma agressiva. Os pisos rápidos podem não ser os ideais mas num dia bom no seu serviço tudo fica diferente. Esse é um dos pontos dos pisos rápidos: o serviço não precisa ser uma arma, quem serve bem e ganha cinco dos seis jogos de serviço fica próximo do set. Sempre disse que o João Sousa é daqueles jogadores que no seu currículo ficará com uns quartos do Grand Slam”, comentou sobre o vimaranense de 29 anos, vencedor do último Estoril Open que tem como melhor resultado em Grand Slams a quarta ronda do último US Open e que chegou, em 2015 e 2016, à terceira ronda no Melbourne Park.

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João Sousa, que ocupa atualmente o 44.º lugar do ranking, começará a sua sétima edição consecutiva no Open da Austrália frente ao argentino Guido Pella (66.º), jogador que conhece bem por ser o seu parceiro de pares; já Pedro Sousa, que se encontra nesta fase fora do top 100 do ATP, fará a sua estreia num quadro principal do Grand Slam diante do australiano Alex di Minaur, jovem de 19 anos que tem dado nas vistas e está no 29.º posto do ranking. Desde a primeira ronda, é complicado fazer prognósticos sobre o que se passará neste arranque de época de 2019 e é dessa forma também que Wilander antevê o torneio, sem um dominador claro ao triunfo embora coloque Novak Djokovic como principal favorito à vitória. Com outro dado curioso: o sérvio, que tem as mesmas seis vitórias do que Federer em Melbourne, pode isolar-se nesse registo histórico.

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“O quadro masculino tem todas as condições para ser um dos mais interessantes dos últimos anos. Apesar de haver Djokovic, a questão do vencedor é um cenário em aberto. Basicamente há os três jogadores do top e o regresso dos mais novos. Se tivesse de apostar, diria que a provável final seria entre ele e o Zverev, isto se ficassem separados nos quadros. Ter o Ivan [Lendl] do seu lado faz com que pense que desta vez conseguirá ganhar um Grand Slam”, admitiu Wilander, ainda antes do sorteio juntar o sérvio e o alemão no mesmo emparelhamento. Mas houve tema e elogios para mais do que essa dupla – ou não tivessem as perguntas vindo de Portugal, do Reino Unido, da Dinamarca, da Itália, da Suécia ou da Rússia, entre outros.

"[João Sousa] Tem aquele estilo de jogo que nunca sai de moda: pancada forte, boas movimentações, a jogar de forma agressiva. Os pisos rápidos podem não ser os ideais mas num dia bom no seu serviço tudo fica diferente."

“Se fosse o Novak [Djokovic] não estaria preocupado por ter perdido em Paris ou em Londres, não há razões para não acreditar que estará 100% preparado para ganhar. O Federer está numa fase em que pode sempre ganhar. O piso rápido é bom para os jogadores australianos e para ele. Se tiver um bom sorteio, sem muitos jogos físicos nas primeiras quatro rondas, pode conseguir. O Nadal não tem estado a jogar mas, apesar de só ter ganho uma vez lá, é o segundo torneio para ele em termos de condições ideais. Se fosse adversário e me cruzasse com ele, ficava preocupado. Só quando o jogo está para começar é que percebe se está a 100% mas é como uma corrida de 100 metros, onde se está nos blocos e não se sabe como está o adversário do lado. O Murray depende sempre do sorteio, porque pode apanhar bons jogadores logo no início, mas ninguém quer jogar contra ele. Era bom que chegasse à segunda semana. Sobre o Zverev, pensei que faria melhor no último ano mas agora que venceu o Federer e o Djokovic [no ATP Finals], e pela forma como jogou em termos táticos e físicos, com o Ivan [Lendl] do lado dele, diria que tem de ser considerado um dos favoritos. Em 128 jogadores, há pelo menos 120 com quem não vai perder”, foi dizendo Wilander, antes de abordar também os maiores perigos que os principais jogadores poderão encontrar em Melbourne.

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“Perigos? Nem sei por onde começar… O Nishikori está a jogar muito bem, o Tsonga está a voltar, o Berdych surgiu outra vez, o Tsitsipas já conseguiu vencer alguns jogadores, o Khachanov é um jovem… Para escolher favoritos temos de ir pelos óbvios, que são Djokovic, Zverev, Federer. Mas quando olho para este torneio vejo que os mais velhos estão a voltar, os mais novos também estão a aparecer e a lista nunca mais acaba. O Alex de Minaur é alguém com quem não se quer jogar em cinco sets com aquele calor, o Kyrgios a mesma coisa… Estou ansioso pela ronda dos últimos 32. É impressionante como chegámos a este ponto onde não existe propriamente uma figura dominante, a não ser o caso do Novak”, destacou.

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Em paralelo, o comentador do Eurosport abordou ainda a preocupação crescente do torneio com a integridade e parte física dos jogadores, ao mesmo tempo que deu a sua explicação para o facto de sete dos dez jogadores no atual top 10 terem 30 ou mais anos e haver apenas um caso desses no quadro feminino (Angelique Kerber). “Sobre as pausas de dez minutos nos dias de maior calor, só posso dizer que sou sempre a favor de proteger os jogadores. Estamos num tempo em que o mundo do ténis quer fazer isso e preocupa-se. O aquecimento global é real, apesar de Donald Trump achar que não, e sou a favor dos courts fechados e das pausas. Sei que é complicado para os adeptos ficarem ali sentados mas é preciso dar sinais aos jogadores de que estão preparados. Nem todos aguentam aqueles jogos com tanto calor”, referiu o sueco. “As mulheres começam mais cedo do que os homens a ser melhores mas depois é mais complicado manterem o mesmo nível tanto tempo do que os homens. São sinais dos tempos porque o jogo dos homens tem ficado mais ou menos no mesmo registo, ao passo que o das mulheres tem evoluído, está mais forte e rápido. A Serena [Williams] é o modelo e penso que daqui a cinco ou seis anos será diferente”, acrescentou.

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Saltando para o quadro feminino, Wilander traça um cenário ainda mais imprevisível sobre uma eventual favorita ao triunfo. “Não há ninguém a jogar a um nível que permita dizer que está na frente. A [Naomi] Osaka tem estado bem mas não há ninguém capaz de controlar o torneio. Vai ser completamente aberto”, começou por referir. “Vamos ter sempre de falar de muitas jogadoras porque não conseguimos encontrar ninguém a dominar pelo seu estilo de jogo. Temos Osaka e [Sloane] Stephens que jogam forte mas também correm muito, Serena que consegue dominar pelo serviço, Kerber que tem um estilo que não passa de moda, Wozniacki que serve melhor e aprendeu imenso depois de ter ganho o primeiro Grand Slam…”, completou.

"Vamos ter sempre de falar de muitas jogadoras porque não conseguimos encontrar ninguém a dominar pelo seu estilo de jogo."

Ainda assim, e perante alguma insistência sobre uma figura que possa ter algum domínio nos próximos três a cinco anos, Mats Wilander lá acabou por fazer a sua aposta na japonesa Naomi Osaka, atual número quatro do ranking. “Para mim é ela. Tem um grande serviço, parece uma cópia da Serena mas mais rápida, e é assim que deve continuar. [Aryna] Sabalenka também é um pouco assim mas pouco abaixo em termos físicos, não ainda aquela agressividade regular. [Elina] Svitolina a mesma coisa”, referiu na projeção de uma nova era que entretanto deixará de contar com Serena Williams, hoje com 37 anos.

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Por fim, e voltando ainda ao ponto de partida tendo a Suécia como ligação, o antigo número 1 do mundo falou também de Leo Borg, filho de Björn Borg que tem apenas 15 anos mas começa a ser destacado em muita imprensa internacional. “É muito complicado ires a algum lado quando tens um pai como o Björn, mas ao mesmo tempo ter um pai assim também leva a um outro nível em relação a onde se quer ir. Todos os filhos costumam pensar que o pai não sabe o que diz, neste caso é alguém que ganhou 11 Grand Slams [seis Roland Garros, cinco Wimbledon, tendo perdido quatro finais do US Open]. Está no caminho certo, a tentar ser quem é”, concluiu o compatriota escandinavo hoje comentador de 54 anos.

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