Os cabelos grisalhos e os lábios tingidos pelo batom já fazem parte da imagem de marca daquela que, aos 74 anos, é uma das modelos mais velhas na indústria. A presença alegre e aspiracional no Instagram, Twitter ou Tik Tok funcionam como palcos através dos quais comunica com audiências de milhares. Maye Musk, como o apelido deixa antever, é muito mais do que mãe de Elon Musk, o homem mais rico do mundo que, nunca saindo verdadeiramente do escopo dos média, está por estes dias nas bocas do mundo por ser o novo dono da rede social Twitter — um acordo firmado pela módica quantia de 40 mil milhões de euros.
Maye não precisa do empurrão de nenhum dos três filhos maiores de idade — Elon Musk, Kimbal Musk e Tosca Musk — para fazer capas de revistas ou desfilar nas passerelles. A supermodelo, estatuto alcançado já na terceira idade, é um fenómeno no Tik Tok, participou inclusive num videoclipe da artista Beyoncé, mas é também dietista, especialista em ciências da nutrição, oradora em palestras e ainda escritora — o livro mais recente chama-se “A Woman Makes A Plan, Advice for a Lifetime of Adventure, Beauty and Success”, já disponível em mais de 100 países.
A nerd da escola e o casamento abusivo
Nasceu no Canadá e com poucos anos de vida a família mudou-se para a África do Sul. Sabe que a chegada foi uma aventura, não que se recorde, mas porque ainda hoje tem fotografias de como alcançou a Cidade do Cabo. Na década de 50, os pais colocaram os pertences e um pequeno avião num navio de carga rumo à cidade; à chegada, o pai de Musk subiu a bordo da aeronave e sobrevoou o país até a família se apaixonar por Pretória, onde acabou por se instalar — os quatro filhos, todos com menos de 7 anos, iam no banco de trás.
Em entrevista ao canal CBS Los Angeles, conta que nos tempos de escola era uma nerd e que não tinha encontros amorosos. Depois de se reinventar como modelo aos 15 anos, tornou-se “boa o suficiente” para namorar com o futuro ex-marido. “Ele só saía com as miúdas mais bonitas”, atira. Não se sentia especialmente atraída por Errol Musk, mas ele era “persistente” e o namoro acabou por desembocar num casamento infeliz.
Maye fala de um ex-marido agressivo que, de certa forma, a isolou de familiares e amigos. Conta inclusive que foi ele quem planeou o casamento, com ela a subir ao altar aos 21 anos: “Pensei ‘o casamento não pode ser assim tão mau’, mas foi.” Vítima de violência doméstica, admite também que Errol lhe batia: “Quando estava casada era-me dito três vezes ao dia que eu era aborrecida, estúpida e feia. E se eu protestasse, era espancada”.
Foi casada durante nove anos e acabou por fugir com os três filhos e, posteriormente, enfrentar os “processos contínuos” do agora ex-marido. Aos 41 anos mudou-se para o Canadá. Sobre os episódios mais negros do passado diz que ficou “em más situações demasiado tempo” por pensar que podia mudar as pessoas ou as suas atitudes.
Maye deixou os filhos seguirem o seu caminho, com eles a pagarem pelos próprios estudos através de empréstimos e/ou bolsas de estudo. “Mesmo os meus dois mestrados nas ciências da nutrição… eu não os fiz porque tinha dinheiro, mas consegui bolsas de estudo para fazer trabalho de investigação que a faculdade de medicina queria que eu fizesse.” A par das dificuldades que ficaram lá atrás, hoje fala sobre o sucesso dos filhos com orgulho — e de como fica nervosa antes de cada lançamento espacial de Elon Musk (já antes contou como o filho mostrou sinais de genialidade aos 3 anos).
Ainda assim, o pai esteve presente na vida dos filhos: “Elon foi viver com ele aos 10 anos porque ele tinha duas enciclopédias e depois ganhou um computador”, algo para o qual Maye nunca teria dinheiro. Kimbal, com saudades do irmão, também chegou a viver com pai, coisa que Tuska nunca fez. Diz que os filhos a viram trabalhar muito e que acordava todos os dias determinada: não tinha tempo para se sentir triste com as adversidades da vida.
Supermodelo aos 69 e uma carreira de sucesso
A vida de conforto que atualmente tem reflete o oposto de momentos passados, quando chegou a viver num apartamento t1, deixando o quarto para os filhos e fazendo do sofá da sala a sua cama. A independência financeira chegou-lhe com a aposta na nutrição e com os sucessivos biscates enquanto modelo que, segundo a própria, nunca interferiram com os estudos ou com o trabalho.
No currículo da moda ainda tem participações na condição de modelo plus size, depois de ter ganho peso extra no rescaldo de uma relação amorosa que, já findo o casamento, não correu bem — foi o timming perfeito, garante. Além dos quilos a mais, também a idade assentou-lhe que nem uma luva: “Eu era a modelo mais velha na África do Sul, no Canadá e em São Francisco. Na verdade, em Nova Iorque já havia modelos da minha idade.” Já antes deixou claro, num vídeo da Vogue onde explora o seu ritual de beleza, como está “muito feliz por representar as mulheres na faixa etária dos 70”.
Maye Musk começou a trabalhar como modelo aos 15 anos. Na conta de Instagram já antes escreveu que na adolescência e, até ao começo dos 60 anos, era uma “modelo comercial”; só quando já estava próxima dos 70 é que se tornou uma “modelo editorial” — as sucessivas capas de revista são prova do sucesso que, embora tardio, foi bem recebido. Já no comummente chamado inverno da vida conseguiu ter a sua imagem em quatro outdoors na Times Square, em Nova Iorque. “Em adolescente não sonhava fazer capas de revistas aos 70 anos, então estudei longas horas para [tirar] dois mestrados para me tornar uma especialista em ciências da nutrição”, lê-se na legenda de uma das suas fotografias publicadas na já referida rede social.
Tanto se dedicou ao estudo da nutrição que começou negócios na área em oito cidades de três países diferentes na forma de oradora, mas também enquanto consultora — marcando sempre uma presença ativa junto dos media. O cuidado com a comida, um hábito da esfera pessoal que passou para a restante família, traduziu-se também em sucesso profissional na África do Sul, no Canadá e nos EUA, onde ganhou a distinção “Outstanding Nutrition Entrepreneur Award”. Maye foi também a primeira dietista a aparecer numa caixa de cereais, tal como se lê no site em seu nome.
Aos 69 anos fez história ao conseguir uma campanha global de beleza para a marca CoverGirl. “Um contrato de beleza aos 69 anos… É o sonho de qualquer modelo ter um grande contrato de beleza”, chegou a dizer. “É um privilégio ser-se modelo, a qualquer idade.”
Meio milhão de seguidores no Instagram e um fenómeno no Tik Tok
Diz que a hashtag favorita é #ItsGreatToBe74 e é fácil de acreditar nela (celebrou mais um aniversário a 19 de abril). Afinal, a alegria de viver é contagiante, seja pelo positivismo com que fala em entrevistas, seja pela forma divertida como se apresenta nas diferentes redes sociais, a começar pelo Instagram onde soma 565 mil seguidores. E é por lá que vai partilhando looks, trabalhos editoriais e detalhes de um dia a dia agitado, pontuado por viagens internacionais, presenças em festas e dicas de como conseguir um estilo de vida mais saudável. Afinal, como já antes disse, comer bem e ser feliz é o segredo para chegar em boa forma aos 74 anos.
@mayemuskofficial At 72, must I really do this????? #fyp #dancechallenge #ForYouPage #MayeMusk #DogsOfTikTok #Comedy  @itsannasherman
A folia — o lado mais divertido, se quisermos — parece ficar essencialmente reservado para o Tik Tok, cuja primeira publicação data de abril de 2020. Em dois anos de conta publicou mais de 70 conteúdos que evidenciam que está atenta às tendências não só de maquilhagem e de moda, mas também do por vezes intenso universo das redes sociais. No Tik Tok, onde é seguida por quase 70 mil seguidores, Maye replica conteúdos virais, exibe looks, participa em desafios de dança até abana o corpo ao som de Macarena durante a quarentena.
Maye Musk diz que não pensa muito no envelhecimento, está antes a viver a melhor das fases, consciente de que ainda tem muito pela frente. Aos 74 anos continua a fazer apresentações na área do empreendedorismo, igualdade de género, monoparentalidade, superação de desafios, confiança e saúde para empresas, associações e universidades. É também embaixadora da Big Green, ONG criada pelo filho Kimbal Musk e que aposta na construção de hortas em escolas necessitadas.