Discurso de Rui Rocha,
Agradeço também à Carla Castro e ao José Cardoso a coragem cívica que demonstraram e o modo como contribuíram para esta eleição. E para que não fiquem dúvidas, que às vezes foram levantadas, ao agradecer à Carla Castro e ao José Cardoso convoco todos os liberais, sem exeção, para participar no futuro da IL que hoje começa. São todos muito bem vindos, somos todos liberais.”
No momento da vitória, Rui Rocha agradeceu aos dois adversários que concorreram à presidência da Iniciativa Liberal e usou o nome dos candidatos à liderança para reforçar a ideia de que está disponível para integrar todos os que queiram trabalhar ao partido. Mais do que a tradicional referência aos vencidos, Rui Rocha sabe que Carla Castro e José Cardoso são os rostos dos descontentes com a corrente de Cotrim e sabe que esses críticos serão o maior desafio dos próximos anos.
Quero agradecer muito, muito, e creio que o faço em nome de todos os liberais, a João Cotrim Figueiredo. Foi um líder extraordinário. Não há palavras que descrevam o que fez pelo partido, o que me ajudou, o que aprendi com ele. Mas essas palavras não são necessárias porque alguém já as disse: saiu hoje uma sondagem que diz que é o líder partidário mais bem avaliado de Portugal.”
João Cotrim Figueiredo foi o protagonista do maior agradecimento do novo líder liberal, depois de este lhe ter dado a prova de confiança de o apoiar e de confiar em si para ser o rosto da continuidade. Mais do que um elogio sobre tudo aquilo que fez pelo partido, Rui Rocha sublinhou o facto de Cotrim o ter ajudado e ensinado ao longo dos últimos anos. Ficou o agradecimento de um sucessor, mas também a prova de que os dois têm uma relação mais do que profissional.
Foram 20 mil quilómetros pelo país. Eu ouvi o que me disseram. Têm o meu compromisso: o partido precisa de transformação, nós vamos fazê-la e de forma muito rápida. Queremos um partido pronto para as batalhas que temos pela frente.”
Foi um dos marcos da campanha e Rui Rocha fez questão de o referir para mostrar que não ficou sentado numa secretária durante os últimos meses e que andou pelo país a mostrar o projeto de futuro. Ainda assim, admitiu que há muito a fazer e, sendo essa uma das maiores críticas que lhe apontaram, deixou a promessa de que as mudanças serão “rápidas” para que o partido se foque nas batalhas para o futuro.
E as batalhas que temos lá fora para combater são as de um país estagnado, em que o salário de 56% dos portugueses não chega aos mil euros, entre os jovens são 65%. A educação está em degradação, a burocracia asfixia quem quer subir na vida pelo seu trabalho. É este o diagnóstico que se soma à baixa natalidade, despovoamento, desertificação, burocracia, é esse país que temos de combater.”
Sem entrar em grandes pormenores, Rui Rocha fez questão de aproveitar o primeiro discurso como presidente da IL para falar sobre os problemas do país e para fazer um diagnóstico daquilo que considera errado e daquilo que o partido quer combater. A narrativa não é nova, repetiu-a várias vezes durante a campanha e é aquela que há muito vem a ser levantada pelos liberais. Mas a preocupação de virar o partido para fora depois de dois dias a discutir questões internas foi uma preocupação constante.
Eu disse na campanha que o objetivo era levar a IL a um patamar, se as eleições decorrerem daqui a quatro anos, de cerca de 15%. É o único patamar que nos permite começar de facto a influenciar a política portuguesa com significado e transformar o país. As sondagens valem o que valem, mas hoje há uma que nos dá um valor já muito interessante. Esses 15%, que alguns diziam ser ambicioso demais (…) sim, sim, nós vamos lá, vamos ter 15%, e vamos acabar com o bipartidarismo em Portugal.”
Os objetivos para o futuro estão estabelecidos, Rui Rocha já os tinha deixado bem claros — sendo esta uma novidade relativamente a Cotrim Figueiredo —, mas reiterou-os perante os liberais presentes: 15% nas legislativas. Mais do que isso, a palavra que marcou a campanha de Rocha e que voltou a ser referida: bipartidarismo — um estado no país a que a IL quer pôr fim. No seguimento, exemplificou para dizer que PSD e PS se uniram na questão do aeroporto e dos debate quinzenais e que se prepara para fazer o mesmo na revisão constitucional.
No dia seguinte vamos estar unidos, sim. E faço o convite de, já em fevereiro, irmos para a rua para lutar contra esta revisão constitucional.”
Rui Rocha lançou o primeiro repto ao partido logo no primeiro discurso, para dizer que a IL se vai focar na questão da revisão constitucional e que vai para a rua mostrar aquilo em que acredita. Na ambição do novo líder, a IL irá como um partido unido.
A IL assume as suas responsabilidades, vamos liderar a oposição, como já temos liderado.”
Rui Rocha deixa claro que a Iniciativa Liberal está preparada para liderar a oposição e diz mesmo que já o tem feito, e dá exemplos como a TAP para dizer que os liberais foram os “únicos com posição clara e permanentemente contrária à nacionalização”, mas também em questões como a gestão da pandemia.
Apresentámos uma moção de censura que declarou morto o Governo do PS. O Governo pode durar meses e anos, mas está completamente esgotado, politicamente morto e fomos nós que declarámos.”
As críticas ao PS, que não faltaram na Convenção de 2021 e que este ano passaram despercebidas devido aos problemas internos, ecoaram nas palavras de Rui Rocha, que recordou a moção de censura da IL ao Governo e que declarou o Executivo de António Costa “esgotado” e “politicamente morto”.
Quero perguntar daqui a Luís Montenegro, o que seria preciso acontecer mais para votar a favor da moção de censura da IL. [E sobre a revisão constitucional] Luís Montenegro, vai estar do lado da liberdade ou do lado daqueles que querem tirar a liberdade aos portugueses?”
A agulha virou para o PSD e para as perguntas que a Iniciativa Liberal quer ver respondidos pelo presidente do PSD, partido que votou contra a moção de censura. Mais do que uma crítica ao partido, esta é uma primeira forma de Rui Rocha se posicionar perante uma IL quer liderar a oposição por considerar que o PSD não está a saber fazê-lo. Mais do que isso, Rui Rocha deixou o Chega arredado do discurso e nem colocou o partido de André Ventura nas contas.
Até ao final do ano vou desafiar o grupo parlamentar a apresentar uma proposta de revisão da lei eleitoral. É absolutamente inaceitável que 700 mil votos tenham sido deitados ao lixo.”
Por fim, uma proposta e um desafio ao grupo parlamentar do qual faz parte, para admitir que é preciso a Iniciativa Liberal investir na apresentação de uma proposta de revisão da lei eleitoral.