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Médio deixou o Barcelona em 2018 e jogou no Japão e nos EAU nos últimos anos
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Médio deixou o Barcelona em 2018 e jogou no Japão e nos EAU nos últimos anos

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Médio deixou o Barcelona em 2018 e jogou no Japão e nos EAU nos últimos anos

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O dono da bola que sempre teve o infinito escrito nas costas. Iniesta, o maior Bola de Ouro que não chegou a sê-lo

Foi o príncipe das ideias de Guardiola no Barcelona, escondeu uma depressão antes de ser herói de um Mundial e passou os últimos anos incógnito no Japão. Esta terça-feira, Don Andrés acaba a carreira.

A propósito de Bobby Robson, José Mourinho disse um dia que as pessoas só morrem quando morre a última pessoa que se lembra delas. De um ponto de vista menos definitivo, o mesmo pode ser dito dos jogadores de futebol. Afinal, um jogador de futebol só termina mesmo a carreira quando já não existem memórias de o ver jogar.

E um dos casos paradigmáticos disso mesmo é Andrés Iniesta – ou Don Andrés, como a comunicação social espanhola tão carinhosamente o trata. Esta terça-feira, dia 8 de outubro, o médio espanhol vai anunciar o fim da carreira. Aos 40 anos, seis depois de deixar o Barcelona e após várias temporadas no Vissel Kobe do Japão e outra no Emirates dos EAU, vai deixar definitivamente os relvados e tornar cada passe, cada recuperação e cada golo numa memória que o manterá dentro de campo.

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Conquistou tudo no Barcelona, onde foi o príncipe das ideias de Pep Guardiola e formou uma dupla inesquecível com Xavi. Conquistou tudo em Espanha, onde foi o herói de Joanesburgo e continuou a formar uma dupla inesquecível com Xavi. Pelo meio, nunca ganhou a Bola de Ouro – e recebeu um pedido de desculpas por isso. Mas será sempre o melhor jogador a nunca ser considerado o melhor jogador do mundo.

No dia em que se despediu do Barcelona, em maio de 2018, quando voltou ao relvado para ficar sozinho em Camp Nou

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O Bola de Ouro que nunca o foi

É uma das fotografias mais icónicas do futebol. Em maio de 2018, depois de cumprir o último jogo pelo Barcelona, Andrés Iniesta regressou a um Camp Nou vazio para se despedir sozinho das bancadas que o acompanharam durante praticamente duas décadas. Descalço, com o telemóvel na mão e sem esconder as lágrimas, sentou-se mesmo no centro do terreno, o sítio que dominou e iluminou durante milhares de minutos, e colocou um ponto final a uma era.

Mais de seis anos depois, o ponto final alarga-se a todas as eras. Andrés Iniesta vai anunciar esta terça-feira o fim da carreira, aos 40 anos, depois de ter passado as últimas temporadas entre o Japão e os EAU. Na época que assinala uma lista de finalistas da Bola de Ouro sem Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi pela primeira vez em mais de duas décadas, o melhor jogador que nunca chegou a ser Bola de Ouro pendura as botas de vez – e essa designação é bem mais do que uma opinião.

Em abril de 2018, ainda antes de Iniesta deixar o Barcelona, a France Football assumiu um inédito mea culpa e pediu desculpa ao médio espanhol por nunca o ter elevado a melhor jogador do mundo. “Não é um jogador, é O jogador”, começou por escrever Pascal Ferré, então chefe de redação da revista francesa, num artigo de opinião onde se estendeu em elogios para tentar compensar o facto de Iniesta nunca ter chegado a levar para casa a bola dourada.

Em maio de 2018, depois de cumprir o último jogo pelo Barcelona, Andrés Iniesta regressou a um Camp Nou vazio para se despedir sozinho das bancadas que o acompanharam durante praticamente duas décadas. Descalço, com o telemóvel na mão e sem esconder as lágrimas, sentou-se mesmo no centro do terreno, o sítio que dominou e iluminou durante milhares de minutos, e colocou um ponto final a uma era.

“É o melhor facilitar do futebol de sempre. A maior parte dos seus contemporâneos complica, mas ele divertiu-se durante 15 anos a simplificar tudo, sem qualquer pensamento vaidoso, a não ser aquele de fazer viver o jogo. O talento de Iniesta é inventar para os outros. Provou que o cérebro é, definitivamente, o músculo essencial dos grandes campeões. Sem ele, Messi teria ficado cansado muito mais rapidamente no Barcelona. O seu altruísmo impediu-o seguramente de um reconhecimento ainda maior. Entre as maiores ausências na lista de vencedores da Bola de Ouro, a de Iniesta é a mais dolorosa”, completava o texto.

[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]

E não mentia. De entre a lista de jogadores esquecidos ou apagados pela Bola de Ouro devido à hegemonia de Ronaldo e Messi durante 20 anos, o exemplo de Andrés Iniesta é talvez o mais gritante. Ainda assim, e muito à semelhança do futebol abnegado que praticava e da personalidade pacata que nunca abandonou, nunca precisou de prémios, galas ou elogios para ser o ídolo dos ídolos de hoje. Até porque Iniesta sempre jogou de smoking e não punha o laço apenas em dias de cerimónia.

O dono da bola que nunca precisou de ser o mais rápido para chegar sempre primeiro do que os outros

Deixou de ser o rapaz de La Mancha para ser o rapaz de La Masia aos 12 anos, quando fez uma viagem de 500 quilómetros quase em silêncio, em conjunto com os pais e o avô, para ir atrás do sonho de jogar à bola. Chorou “rios” na primeira noite na Catalunha, como já contou, mas nunca abdicou daquilo que o tinha levado a deixar a casa da família. Tomou como lema uma das primeiras coisas que aprendeu na academia do Barcelona e aperfeiçoou-a até de se tornar um dos melhores de sempre a executá-la: o futebol é simples, basta receber, passar, oferecer e fazer tudo outra vez.

Com Xavi e Messi, com que liderou uma autêntica época de ouro no Barcelona

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As palavras de Pep Guardiola, em 1999, tornaram-se famosas e foram dignas de futurologia. Na altura, o então capitão do Barcelona aproximou-se de Xavi, quatro anos mais velho do que Iniesta e já a jogar na equipa principal, e não teve meias palavras. “Tu vais reformar-me. Este miúdo vai reformar-nos a todos”, atirou o agora treinador do Manchester City, que ainda não podia imaginar que seria ele próprio a potenciar a ligação umbilical entre os dois pequenos génios.

Estreou-se pela equipa principal em outubro de 2002 e ainda com cabelo, pela mão de Louis van Gaal e desde logo na Liga dos Campeões, contra o Club Brugge. A temporada foi particularmente complicada para o Barcelona, com um sexto lugar na La Liga e uma eliminação na primeira ronda da Taça do Rei, e Frank Rijkaard assumiu o comando técnico na época seguinte e já com Joan Laporta como presidente. Iniesta foi um dos vários produtos de La Masia a fixar-se na equipa principal com o neerlandês, participou na conquista do bicampeonato de 2005 e 2006 e na vitória na Liga dos Campeões nesse último ano, mas só iria tornar-se tudo aquilo de que nos recordamos com Pep Guardiola.

O antigo capitão tornou-se treinador em 2008 e juntou-o progressivamente a Xavi e Busquets, construíndo um meio-campo que se tornou a pedra basilar do tikitaka que conquistou a Europa. Iniesta nunca foi o mais rápido ou o mais forte, nunca teve o lado físico do jogo a favorecê-lo ou a possibilidade de ganhar duelos com o corpo – mas Iniesta via o que os outros não viam, corria menos porque sabia para onde correr e dava a ideia de que acompanhava as jogadas sempre um segundo antes dos restantes. Como Guardiola explicou, certo dia, era “um mestre da relação entre o espaço e o tempo”.

Chorou "rios" na primeira noite na Catalunha, como já contou, mas nunca abdicou daquilo que o tinha levado a deixar a casa da família. Tomou como lema uma das primeiras coisas que aprendeu na academia do Barcelona e aperfeiçoou-a até de se tornar um dos melhores de sempre a executá-la: o futebol é simples, basta receber, passar, oferecer e fazer tudo outra vez.

Ver Iniesta com a bola nos pés era ter testemunhar alguém que sabia quando avançar e quando recuar. Que conhecia o momento exato para fazer tudo, entre driblar, acelerar ou colocar gelo no jogo. Iniesta tinha tudo aquilo que não podia ser ensinado ou comprado: a noção absoluta de tudo o que estava a acontecer no relvado e à sua volta. Não se escondia da bola, procurava-a. E fazia tudo isto com uma ligação quase sobrenatural com Xavi.

Seis meses depois da despedida de Camp Nou, Iniesta conta tudo: a depressão, o Mundial da Rússia e “o ódio” que José Mourinho provocou

“Quer sempre a bola. Será que as pessoas sabem o que isso significa? Quando muitos não a querem nem pintada, porque é uma armadilha, ele pede sempre por ela. O Andrés ama a bola. Quando alguns jogadores pensam ‘ai, ai, ai’ ou ‘não, não me dês, por favor, não agora’, o Andrés aparecia e dizia: ‘Vá, dá-me a mim, dá-me agora, por favor’. Não sei de onde é que vinha, mas o Andrés aparecia sempre no momento certo… ‘Olha para mim, estou aqui'”, explicou Xavi há alguns anos.

Com o Barcelona, sem nunca ver um único cartão vermelho, ganhou tudo. Nove campeonatos, seis Taças do Rei, cinco Supertaças, quatro Ligas dos Campeões, duas Supertaças Europeias e três Mundiais de Clubes. Assistiu nas finais da Champions de 2009, 2011 e 2015 e nunca escondeu que tinha “dificuldade” em marcar golos, mas deixou o mais importante para o momento indicado.

Médio espanhol homenageou o amigo Dani Jarque no momento em que marcou o golo decisivo do Mundial-2010

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Enquanto fazia dupla com Xavi no Barcelona, também fazia dupla com Xavi na seleção de Espanha. Juntos conquistaram o Euro 2008, ainda com Luis Aragonés, e foi novamente juntos e já orientados por Vicente del Bosque que partiram para a África do Sul com a ideia de que os espanhóis poderiam sagrar-se campeões do mundo pela primeira vez. Iniesta marcou o golo da vitória de Espanha no Mundial 2010, aos 116 minutos da final contra os Países Baixos, e tornou-se o autor do instante mais importante da história do futebol do país. O que ninguém sabia, na altura, era que aquele remate que bateu Stekelenburg foi também o espantar de uma tormenta pessoal.

A depressão antes do Mundial-2010 e a vida depois de 22 anos de Barcelona

No momento em que marcou o golo decisivo na final de Joanesburgo, Iniesta tirou a camisola enquanto corria em êxtase e revelou uma outra que trazia por baixo e onde se lia “Dani Jarque, sempre connosco”. Dani Jarque, jogador do Espanyol e antigo colega do médio nas camadas jovens de Espanha, tinha morrido um ano antes vítima de um ataque cardíaco. A perda de um dos amigos mais próximos de forma repentina, assim como as lesões que o retiravam do relvado de vez em quando, atiraram-no para um sítio feio.

“A melhor hora do dia era quando tomava a medicação e ia para a cama. Perdi a vontade de viver. Abraçava a minha mulher, mas era como abraçar uma almofada”, contou Iniesta em 2018, confessando que chegou a pedir para dormir em casa dos pais e que não pregou olho na véspera do Mundial 2010 onde acabou por ser herói, optando por correr nos corredores do hotel sul-africano.

Iniesta marcou o golo da vitória, aos 116 minutos da final contra os Países Baixos, e tornou-se o autor do instante mais importante da história do futebol espanhol. O que ninguém sabia, na altura, era que aquele remate que bateu Stekelenburg foi também o espantar de uma tormenta pessoal.

“Continuo a fazer terapia porque ainda preciso de cuidar de certas coisas. Gosto de ouvir profissionais a falar sobre doença mental e depressão. Com o tempo, a vida ensina-nos que a depressão e a doença mental podem afetar qualquer pessoa. Não se trata de coisas materiais. Posso ter todos os carros do mundo, tudo aquilo que quero, mas ainda é difícil enfrentar os problemas da vida”, acrescentou.

Dois anos depois da África do Sul, voltou a conquistar o Campeonato da Europa e assumiu-se como um dos líderes da geração de ouro de Espanha. Continua a ser o único a ser eleito o melhor jogador de uma final de um Europeu, de um Mundial e de uma Liga dos Campeões. E quando em 2018, um ano depois de assinar um contrato vitalício com o Barcelona, anunciou que iria deixar os catalães, todos os adeptos de futebol souberam que um dos capítulos mais bonitos das últimas duas décadas tinha acabado de chegar ao fim.

Andrés Iniesta, o Ilusionista. Mais do que um nome e um futebolista, um sentimento

“Esta conferência de imprensa serve para tornar público que esta temporada é a minha última temporada aqui”, começou por dizer na sala de imprensa de Camp Nou, onde nunca travou as lágrimas ao despedir-se do clube que representou durante 22 anos. “Tenho de ser honesto comigo próprio e com o clube que me deu tudo. Este clube merece o melhor de mim e entendo que no futuro mais próximo não conseguiria dar o melhor de mim a todos os níveis, tanto físico como mental”, explicou, garantindo desde logo que iria sair da Europa para não ter de enfrentar o Barcelona.

Depois de deixar a Europa, Iniesta jogou vários anos no Vissel Kobe do Japão

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O passo seguinte foi o Japão, com seis anos no Vissel Kobe e três troféus conquistados. Sempre viveu num hotel e saía à rua praticamente incógnito, em conjunto com a família, sem o estatuto de estrela estratosférica que tinha na Catalunha. Mudou-se para os Emirados Árabes Unidos no ano passado e ainda fez 23 jogos pelo Emirates, mas já não renovou contrato e estava sem clube desde o final da última época.

No primeiro dia deste mês, aquilo que era um rumor tornou-se praticamente uma certeza. Nas redes sociais, com a frase “bem-vindos ao meu futuro” e a promessa de novidades para 8 de outubro de 2024, Andrés Iniesta deixou a ideia de que vai anunciar o fim da carreira esta terça-feira. No vídeo, surge um graffiti onde o típico número oito que usou no Barcelona está deitado, formando o símbolo do infinito. E dificilmente existiria outra maneira de deixar claro que Iniesta nunca vai acabar.

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