Ora aí está, o primeiro dos prémios, aquele que inaugura a época das distinções, numa série de semanas em que olhamos para as passadeiras vermelhas a caminhos dos palcos: é neles que se decide quem foram os melhores do ano que passou e isso será sempre fascinante. Os Globos de Ouro são entregues nos EUA este domingo (já madrugada de segunda feira em Portugal) para distinguir os melhores do cinema e da televisão na América.

Há quem diga que é o prémio que interessa e que os Óscares vão perdendo cada vez mais importância. Nada contra, mas ainda não há quem vença os troféus de Hollywood, tanto em projecção comercial como em mediatismo. E a verdade é que há outras estatuetas especiais, há vitórias mais significativas que qualquer uma destas: perguntemos a um realizador se preferia ganhar um Óscar ou uma Palma de Ouro e talvez a resposta não seja imediata (nem a mais previsível).

Reunimos dez dos troféus culturais mais cobiçados no mundo e juntamos-lhe o prémio português mais mediático. Recordamos características e histórias e deixamos a pergunta: e se pudéssemos escolher?

Globo de Ouro

Quando foi criado: 1944
Quanto mede: 27 cm
Quanto pesa: 2,5 kg

As estatuetas douradas em forma de globo apoiado num pedestal são entregues antes dos Óscares, o que leva muita gente ao engano de achar que, se determinado filme ou ator vence um Globo, provavelmente também vai ganhar o prémio da Academia. O melhor é não apostar dinheiro nisso. Só depois da primeira cerimónia, nos estúdios da 20th Century Fox, é que o troféu foi criado, após um concurso de ideias — ganhou Marina Cisternas, presidente da associação. Num artigo publicado em 2013, a Time afirma que o custo de produção de cada estatueta ronda os 800 dólares.

Os vencedores são escolhidos pela Associação de Imprensa Estrangeira e, além do cinema, também se premeia o melhor da televisão. Em 73 cerimónias, o filme que mais Globos conseguiu arrecadar foi “Voando Sobre um Ninho de Cucos”, em 1976, vencendo nas seis categorias para as quais estava nomeado. E, apesar das diferenças para os Óscares, há pelo menos uma semelhança curiosa. Em 1973, Marlon Brando recusou o seu Globo de Ouro de Melhor Ator pelo papel n'”O Padrinho”, em protesto contra o “imperialismo e racismo” dos Estados Unidos. Quando, mais tarde, venceu o Óscar pelo mesmo papel, disse igualmente não à Academia.

Óscar

Quando foi criado: 1929
Quanto mede: 34 cm
Quanto pesa: 3,8 kg

Espelho meu, haverá troféu mais famoso do que o Óscar? No mundo das artes, dificilmente. O que poucos sabem é que, antes de a estatueta dourada se chamar Óscar, o seu nome oficial era Prémio de Mérito da Academia. Há várias teorias e lendas para a mudança de nome. Uma delas conta que Margaret Herrick, uma bibliotecária que trabalhava para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, quando viu o troféu pela primeira vez comentou que este se parecia com o seu tio Óscar. Certo é que a alcunha deste prémio, criado nos Estados Unidos em 1929, passou a nome oficial.

Amados por uns, detestados por outros, os Óscares são entregues após votação dos membros da Academia, numa cerimónia seguida em direto todo o mundo — seja para ver as piadas dos apresentadores, os vestidos das atrizes, as quedas de Jennifer Lawrence ou se é desta que Leonardo DiCaprio ganha o Óscar (uma odisseia cumprida em 2016). Há 87 anos, a primeira entrega de troféus durou uns míseros 15 minutos, num jantar privado, e os vencedores das 12 categorias já tinham ido anunciados com três meses de antecedência. Os americanos, já se sabe, são mestres na arte do entretenimento e não demoraram a perceber que era preciso explorar a galinha dos ovos de ouro.

Desenhadas por Cedric Gibbons, as estatuetas representam um cavaleiro apoiado sobre uma bobine de cinema, a segurar a espada de um cruzado, são feitas em bronze e depois banhadas a ouro de 24 quilates. Para além de ver DiCaprio a conseguir o tão aguardado Óscar, 2016 viu ainda a mudança de fabricante das estatuetas, que desde 1983 eram feitas pela empresa R.S. Owens & Co, em Chicago. A Academia atribuiu o contrato a uma empresa nova-iorquina e pediu-lhes que o formato recuperasse a forma original de 1929. À R.S. Owens & Co, a quem cada estatueta custava 400 dólares a produzir, resta-lhes os Emmys, para quem continuam a fazer os troféus.

BAFTA

Quando foi criado: 1947
Quanto mede: 27 centímetros
Quanto pesa: 3,7 kg

Atravessando o Atlântico encontramos os britânicos BAFTA – British Academy of Film and Television Arts. Mas foi nos Estados Unidos que o artista Mitzi Cunliffe desenhou o troféu em forma de máscara, em representação do teatro e das artes cénicas. O design só foi feito em 1955, apesar de a primeira cerimónia ter acontecido em 1947, dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, no hotel londrino Hyde Park Hotel. E a primeira máscara tal como a conhecemos hoje só foi entregue em 1976, a Charlie Chaplin.

As máscaras são feita em bronze na mesma fundição de sempre, em West Drayton, e os responsáveis orgulham-se de recorrerem a um processo manual, ao contrário dos Óscares ou dos Globos de Ouro. Do lado interior, a máscara tem dois símbolos, junto a cada olho. A cavidade direita é aberta mas, por trás, está esculpido um ecrã. Na parte de trás do olho esquerdo está esculpido um símbolo eletrónico. Juntos, simbolizam a ligação entre a produção dramática e as novas tecnologias artísticas.

Tony

Quando foi criado: 1947
Quanto mede: 20 centímetros
Quanto pesa: 500 gramas

Os BAFTA podem ter como símbolo a máscara do teatro, mas são os Tony que premeiam as artes cénicas. Criados em 1947 para celebrarem o que de melhor se fazia no teatro, nos dois primeiros anos os vencedores não tinham um troféu para expor orgulhosamente na vitrine lá de casa. Até que, em 1949, a United Scenic Artists lançou um concurso para encontrar um prémio que simbolizasse o prestígio da distinção. Venceu Herman Rosse, com um medalhão prateado redondo, com as máscaras da tragédia e da comédia de um lado e com o perfil de Antoinette Perry do outro. Isto porque os Tony Awards foram criados logo após a morte de Antoinette Perry, atriz, realizadora, produtora e líder da American Theatre Wing, responsável pela cerimónia.

Talvez por perceberem que todos os prémios mais importantes das artes tinham uma espécie de pedestal na base, em 1967 o medalhão cresceu. Para além dessa base, ganhou ainda um semicírculo. Após a cerimónia, que todos os anos se realiza em Nova Iorque, a cidade da Broadway, cada vencedor vê o seu Tony numerado e o seu nome nele gravado. Já agora: o verdadeiro nome do prémio é The Antoinette Perry Award for Excellence in Theatre. Mas continuaremos a chamá-lo pela alcunha.

MTV Video Music Award

Quando foi criado: 1984
Quanto mede: 30 cm
Quanto pesa: 3,2 kg

“Ex On The Beach”, “Geordie Shore”, “Ridiculousness”, “Teen Mom”. Podiam ser nomes de bandas ou de músicas. Podiam, se a Music Television não se tivesse tornado num canal de reality shows. Mas nem sempre foi assim. Quando a MTV pôs no ar o primeiro videoclip, da simbólica “Video Killed the Radio Star”, a 1 de agosto de 1981, uma pequena revolução na indústria musical começou, com a aposta em força nas grandes realizações e produções. Três anos depois, o canal criou os Video Music Awards para premiar os melhores vídeos e os mais populares — desde 2006 que o público pode votar neles.

Entre os vencedores de 2016 estão Beyoncé, Drake e Calvin Harris, e cada um deles levou para casa uma estatueta em forma de astronauta a chegar à lua. Chama-se informalmente “Moonman” e é uma referência às primeiras imagens da história do canal, que em 1981 abriu a emissão com imagens reais da NASA e adicionou uma referência à MTV. Como se esta reclamasse para si a conquista do novo território da música 24 horas por dia. Hoje, sabemos que o vídeo não matou a estrela da rádio. E que, para ver e ouvir música 24 horas por dia, o melhor é procurar outro canal.

Globo de Ouro (Portugal)

Quando foi criado: 1996
Quanto mede: 34 cm
Quanto pesa: 2,536 kg

Foram criados em 1996, pelo canal de televisão SIC, em conjunto com a revista Caras. E desde então têm ocupado o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, durante uma noite por ano — excepto em 2006 e 2007, quando a cerimónia aconteceu no Campo Pequeno. Ao contrário de todos os outros galardões aqui referidos, os Globos de Ouro não têm uma área específica de distinção. Ou melhor, é um prémio que quer reconhecer as melhores personalidades. Mas estas podem ser do cinema ou do desporto, da televisão, da moda ou do teatro, novos valores ou prémios carreira.

Pelo menos desde 2006 que há uma comissão de seleção, para escolher os nomeados nas diferentes categorias e depois os vencedores. Esta comissão é formada por personalidades das diferentes áreas. O Globo para Revelação do Ano é votado pelo público. Quem ganha leva para casa a estatueta desenhada por Maria João Bahia, feita de latão maciço que é depois banhado a ouro.

Num país em que este tipo de galas é acontece pouco, os Globos de Ouro não têm concorrência, pelo menos no que toca à popularidade. Uma coisa em comum com os outros dez prémios: a passadeira vermelha. Será, provavelmente, a mais mediática do país — e, por isso mesmo, é também aquela que exige mais cuidado e dedicação junto de quem a quer pisar.

Emmy

Quando foi criado: 1949
Quanto mede: 39 cm
Quanto pesa: 3,08 kg

Cobre, níquel, prata e ouro. Tudo isto forma a estatueta dos Emmys, os prémios que distinguem o que de melhor é feito na televisão americana, reconhecimento que acaba por influenciar a forma como a televisão é consumida em todo o mundo. Foram criados em 1945 pela Academia de Artes e Ciências da Televisão e o troféu foi encomendado a Louis McManus, tipo dado às engenharias que decidiu usar a própria mulher como modelo para a figura feminina que se vê na estatueta a segurar um átomo.

A ideia foi a de cruzar a arte com a ciência, duas sensibilidades para analisar uma única expressão, uma ideia bonita que continua a fazer sucesso. Mas atenção: o fabrico da estatueta custa 400 dólares, é o que dá fazer uso de banhos de ouro. E se os vencedores querem levar o troféu para casa têm de o pagar. Não é valor que espante os vitoriosos, até porque quem vai ao palco costuma estar envolvido em produções de milhares (ou milhões, vá) de dólares.

Apesar de tudo parecer fazer sentido na história dos Emmys (que chegaram a chamar-se Immys, um nome influenciado por questões técnicas televisivas que nos ocupariam muito tempo e espaço a explicar), ele há coisas difíceis de compreender. Vejamos: séries como “Mad Men” ou “Guerra dos Tronos” foram colecionando prémios à medida que as temporadas foram passando. Outros há que, apesar da insistência, nunca conseguiram lá chegar. Angela Lansbury foi nomeada 12 vezes pela prestação enquanto Jessica Fletcher de “Crime Disse Ela” e nunca ganhou. Caramba.

Grammy

Quando foi criado: 1959
Quanto mede: 22,8 cm
Quanto pesa: 2,72 kg

Grammy, claro está, é a pequena alcunha para gramofone, o objeto representado na estatueta entregue aos melhores da música americana. E é mais um dos “quatro grandes” que acaba em “y” — na verdade, só o Óscar é que falha a regra. Mas vai-se a ver e o Grammy esteve para chamar-se Eddie, o que não era errado de todo, bem pelo contrário: o gramofone foi inventado pelo senhor Thomas Eddison e a homenagem seria bonita.

As estatuetas são feitas por um fabricante do Colorado, na cidade de Ridgway. São feitas e montadas à mão, numa liga especial, patenteada, com o nome gramminium. Mas atenção, os troféus que vemos na cerimónia são repetentes de outras galas. Os vencedores levam gramofones dourados com os respetivos nomes gravados, mas como essa operação só acontece depois de revelados os vencedores, aproveitar o que não se estraga é uma boa opção. No caso dos Grammys este cuidado é especialmente significativo: há três Presidentes dos EUA com Grammys em casa: Obama, Clinton e Jimmy Carter — os álbuns de spoken word também merecem.

Urso de Ouro

Quando foi criado: 1951
Quanto mede: 22 cm
Quanto pesa: 2,3 kg

Na edição de 2016, a portuguesa Leonor Teles foi notícia por ter vencido um Urso de Ouro, na categoria de melhor curta-metragem. O troféu dourado circular que recebeu não é igual ao do realizador italiano Gianfranco Rosi, que recebeu o Urso de Ouro de melhor filme com “Fuocoammare”. O de Gianfranco é um dos prémios mais cobiçados do cinema, representado por uma estatueta em forma de urso, o animal que é o símbolo da cidade de Berlim.

O troféu é baseado numa escultura de Renée Sintenis e é fabricado pela berlinense Noack desde o início do festival. É feito a partir de uma liga metálica baseada em zinco, com o obrigatório banho de ouro. Naturalmente, se estivermos a falar do Urso de Prata — entregue a outros vencedores que não os de Melhor Filme, Melhor Curta ou Prémio Honorário — o banho será outro.

Para os interessados: há um negociante que vende pelo eBay um Urso de Ouro. Fica por explicar se é verdadeiro ou não — e no caso de ser, a quem pertence. Mas custa quase 300 euros. Mas talvez não seja necessário investir tanto, se o objetivo é o de enfeitar a sala. É fácil enocntrar réplicas do Urso, sobretudo nas lojas de Berlim durante o festival. Pode é ser complicado entrar nessas mesmas lojas. A Berlinale é o festival de cinema com mais visitantes em todo o mundo, daí que a concorrência possa ser feroz.

Palma de Ouro

Quando foi criado: 1955
Quanto mede: 10 cm
Quanto pesa: 2 kg

Um total de 19 folhas feitas à mão, de ouro de 24 quilates, com uma base de cristal em forma de diamante. Tudo junto, acrescentando o pequeno grande detalhe de ser o mais importante dos prémios entregues em festivais de cinema, dá este resultado: a Palma de Ouro de Cannes vale 20 mil euros. Classe e luxo para uma distinção que, na verdade, não é dada ao grande vencedor do festival desde a primeira edição. Até 1954, o Melhor Realizador levava para casa uma obra de um artista que estivesse em alta no momento. Até que a organização do festival decidiu mudar isso a adoptar um troféu que estivesse mais próximo do símbolo da cidade.

A primeira Palma de Ouro foi desenhada por Sébastien e entregue em 1955 a Delbert Mann, pelo filme “Marty”. Mas pouco depois, entre 1964 e 1974, o grande vencedor do festival voltou a ganhar o chamado “Grand Prix”, regressando assim o modelo inicial. Só em 1975 aconteceu o regresso da Palma, ainda que o seu desenho tenha sido alterado em diferentes ocasiões, por artistas como Thierry de Bourqueney ou Caroline Scheufele.

E se é para impressionar, vamos a isso. Quantos realizadores já ganharam duas Palmas de Ouro? Apenas cinco: Francis Ford Coppola, Shoei Imamura, Bille August, Emir Kusturica e os irmãos Dardenne. E quantas mulheres? Apenas uma, Jane Campion, por “O Piano”. E já agora: a Palma das Palmas distinguiu Ingmar Bergman em 1997, quando o festival fez 50 anos.

Leão de Ouro

Quando foi criado: 1949

O Leão é o símbolo de São Marcos, o evangelista que é o patrono da cidade de Veneza (como já tinha sido da antiga república com o mesmo nome). E quando chegou a altura de alterar o prémio maior do festival de Veneza — o mais antigo do mundo, cuja primeira edição aconteceu em 1932 — foi o mesmo Leão alado que serviu de modelo.

Antes do Leão de Ouro, os melhores filmes apresentados em Veneza recebiam as Coppas Mussolini, pelo menos até 1942. Foi em 1949 que o novo troféu surgiu, mantendo-se até hoje, e é também um Leão de Ouro que é atribuído a outros vencedores da Bienal de Veneza. Por exemplo, na arquitectura, o país vencedor leva esta mesma mascote para casa.

O mais difícil em relação ao Leão de Ouro é saber os números certos: quanto pesa ou quanto mede, por exemplo. Dos 11 troféus aqui apresentados é o que guarda mais segredos. Mas, apesar disso, temos informação que baste sobre o prémio para o podermos usar sem medos quando é preciso descongelar conversas e desbloquear diplomacias sociais. Por exemplo: quem foi o primeiro a ganhá-lo? Henri-Georges Clouzot, por “Manon”. E o último? Lav Diaz, com “The Woman Who Left”, em 2016. E qual o país que já ganhou mais? A França, com 14 filmes. E isto é só o começo.

Os Globos de Ouro são entregues na madrugada desta segunda-feira.