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Estudou Filosofia, foi professora, escreveu manuais escolares e um livro infantil. Só a partir de 1979 é que Cucha Carvalheiro decide dedicar-se, por fim, à representação e ao teatro em particular
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Estudou Filosofia, foi professora, escreveu manuais escolares e um livro infantil. Só a partir de 1979 é que Cucha Carvalheiro decide dedicar-se, por fim, à representação e ao teatro em particular

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Estudou Filosofia, foi professora, escreveu manuais escolares e um livro infantil. Só a partir de 1979 é que Cucha Carvalheiro decide dedicar-se, por fim, à representação e ao teatro em particular

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

O tempo de Cucha Carvalheiro também é este: "Estou muito bem assim como estou, só a ser artista"

Aos 76 anos, Cucha Carvalheiro regressa ao Teatro da Trindade, 10 anos após ter sido afastada da direção. Professora, encenadora, mas atriz primeiro. Assim continuará, “até que a voz me doa”, diz.

Cucha Carvalheiro senta-se sobre o veludo do sofá no Teatro da Trindade, em Lisboa, já o dia vai longo. Depois de ensaios e entrevistas várias, a atriz escuta as perguntas do Observador atentamente. As respostas di-las sem pressa. A sua vida é um palco — e o palco também. Não se esquiva a assuntos, não se coíbe de rir. Tem um olhar penetrante e firmeza no discurso. Tem 76 anos e uma insaciável sede de fazer mais e melhor.

Nasceu em Lisboa a 4 de junho de 1948. Em miúda, escrevia e encenava peças de teatro, mas a independência financeira levou-a à licenciatura em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, findo o curso, a enveredar pelo ensino. “Quis sair de casa. Quis ter um quarto que fosse meu, como diz a Virginia Woolf”. Deu aulas, escreveu livros escolares e até uma obra infantil — Aventuras e Desventuras de Deuses, Gigantes e Heróis (Edições Asa, 1990).

Só com 30 anos feitos é que Cucha Carvalheiro se profissionalizou enquanto atriz, ao fundar a companhia Teatro do Mundo, em 1979. Pouco depois, estreou-se no cinema em Silvestre (1982), de João César Monteiro. “Viu um espetáculo do Teatro do Mundo, gostou daquilo que viu e convidou-me”, recorda ao Observador. Mas nem o irmão cineasta, José Fonseca e Costa, a convenceria de que o palco não era o melhor lugar do mundo. “Houve um filme que ele me deu a escolher e podia ter feito um papel maior. Não fiz porque, lá está, preferi sempre o teatro.”

Fez parte do Teatro do Século, do Teatro da Comuna, da Companhia Teatral do Chiado e, em 1995, fundou a companhia Escola de Mulheres, reivindicando o espaço feminino nos palcos (à frente e atrás do pano) nacionais. Entre 2009 e 2013, foi diretora do Teatro da Trindade, numa saída atribulada que até hoje lamenta.

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Aos 76 anos, Cucha Carvalheiro continua. “Até que a voz me doa”, diz. Prepara um espetáculo de homenagem à atriz Fernanda Lapa, que encenará no Teatro São Luiz em 2025. Dá aulas na Escola Profissional de Teatro de Cascais — “pedi para dar aulas ao primeiro ano, aprendo muito”, admite. Agora, prepara-se para pisar o palco do Teatro da Trindade, em Lisboa, de 29 de fevereiro a 21 de abril, com A Senhora de Dubuque, naquele que é um regresso a um dramaturgo que lhe é querido, o norte-americano Edward Albee, com o qual há 20 anos conquistou um Globo de Ouro. “Parece que o Albee me chama”, comenta. Na encenação de Álvaro Correia, a partir da tradução de João Paulo Esteves da Silva, Cucha Carvalheiro personifica a mulher que confronta o protagonista com o fim inevitável.

Esta peça começa com um jogo que consiste em adivinhar a identidade do outro. Uma das primeiras falas da personagem que interpreta é precisamente “Quem sou eu?”. Aos 76 anos, é mais fácil responder a esta pergunta?
É uma pergunta que faço muitas vezes. Qualquer ator, aliás, qualquer pessoa, quanto mais souber quem é, em toda a dimensão das suas qualidades e dos seus defeitos, melhor. Como atriz, conhecer-me é útil para interpretar qualquer personagem. Porque, no fundo, ponho as minhas qualidades e os defeitos ao serviço das personagens. E isso também é muito importante, quanto a mim, para qualquer pessoa, e é uma das mensagens desta peça. Uma das coisas que a Senhora de Dubuque diz, a certa altura, é que, quando era criança, aprendeu, embora não tivesse consciência de que estava a aprender, que todos os valores são relativos. Só há um que importa: quem sou eu. Tudo o resto, ainda nas palavras dela, é semântica. Liberdade, dignidade, posse, é semântica. O que importa, e no fundo é a mensagem que dou ao protagonista que está em negação em relação à morte da mulher, o que importa é saber quem é. Quem é ele, é quem eu sou.

Esse questionamento permanente acompanhou-a sempre, ou foi ganhando essa consciência?
Provavelmente terá a ver com o meu caminho como pessoa. Provavelmente foi por isso que tirei o curso de Filosofia. Mas é uma coisa importante para qualquer ator. Um ator é tanto melhor quanto mais verdadeiro for em cena, embora esteja a interpretar outra pessoa. Mas são as suas emoções que põe ao serviço. Para pôr as suas emoções ao serviço de outra personagem tem que conhecer as suas próprias. E, portanto, é uma coisa em que penso. Mais do que pensar, é sentir. É aquilo a que se chama meditar, quase.

Cucha Carvalheiro no Salão Nobre do Teatro da Trindade, em Lisboa. A atriz e encenadora foi diretora daquele teatro entre 2009 e 2013, antes de ser despedida pela administração da Fundação Inatel

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Um dos temas centrais da peça é o confronto com a finitude da vida. Pondo-se ao serviço dessas emoções, e tendo já lidado com a perda, como é que abordou este tema?
Foi pacífico. Explico-lhe porquê. Provavelmente, devido à idade que tenho e ao facto de já ter perdido o meu pai, a minha mãe, dois irmãos… São perdas muito estruturais. Pelo facto também de o meu futuro ser mais curto que o meu passado, confronto-me muitas vezes com a ideia de morte. Sou agnóstica, mas sou meia mística.

Como é que isso funciona?
Funciona porque não tenho a certeza se Deus existe, mas tenho a certeza que preciso acreditar numa espiritualidade qualquer. Portanto, encaro a morte de duas maneiras. Por um lado, se houver alguma coisa para lá da morte, tenho pessoas que me amam e que já lá estão e portanto me protegem. Se não houver nada… Antes de nascer onde é que eu estava? Portanto, também não há problema nenhum. É engraçado porque a única coisa de que tenho receio na morte é de eventualmente ter medo naquela altura precisa. É muito estranho… Não sei explicar melhor.

Ser atriz, ser ator, é uma profissão em que a idade da reforma é mais permissiva. Em teoria pode representar até… 
Até que a voz me doa.

Enquanto atriz, ainda tem medos?
Sim, porque a responsabilidade é cada vez maior.

É?
Claro! É muito interessante isso. Porque, por um lado, uma pessoa sente-se mais livre porque sente que tem mais ferramentas, mas, por outro lado, cada vez é um desafio maior porque… Quando as expectativas estão boas e nós somos melhores que as expectativas é fantástico. Agora, quando as expectativas já estão um bocadinho altas, é um desafio maior. Portanto há sempre um certo medo e nervosismo.

"Na história da dramaturgia mundial não há assim tantos papéis para mulheres mais velhas. Tem que se andar um bocadinho à pesca. Os temas mais recorrentes da dramaturgia mundial são histórias de amor, histórias de juventude. Provavelmente, numa série ou numa novela, poriam a fazer esta Senhora de Dubuque uma boazona de 40 anos (risos)"

Aquando do espetáculo Lindos Dias!, de Samuel Beckett (encenação de Sandra Faleiro), no Teatro São Luiz, disse: “Não há assim tantos papéis para mulheres. No cinema e no audiovisual há para mulheres jovens. À medida que o tempo passa se verificarem, nas séries e nos filmes, há cada vez menos pessoas de idade e sobretudo mulheres de idade” [Público]. O teatro é menos ditador da juventude?
Se for ver na história da dramaturgia mundial também não há assim tantos papéis para mulheres mais velhas. Felizmente, tem este, o Lindos Dias!, que se pode fazer a vida toda, mas também tem que se andar um bocadinho à pesca. Porque, de facto, os temas mais recorrentes da dramaturgia mundial são histórias de amor, histórias de juventude. Provavelmente, numa série ou numa novela, poriam a fazer esta Senhora de Dubuque uma boazona de 40 anos [risos]. Ou seria a tendência. Aqui pode ser uma pessoa com a minha idade ou até mais velha.

Foi esse um dos motivos que, em 1995, a levou a fundar a Escola de Mulheres? A consciência de que era necessário uma estrutura, feminina, para atacar essa evidência?
Foi. A Fernanda Lapa, eu, a Cristina Carvalhal, as pessoas que fundaram o grupo, as atrizes, sentíamos que a maior parte das companhias de teatro eram dirigidas por homens e, portanto, escolhiam peças cujos protagonistas eram homens e faziam peças com elencos maioritariamente masculinos. Mas não foi só isso. Isso foi uma coisa muito importante, podermos escolher as peças que quiséssemos fazer. Mas queríamos também promover a criação feminina no teatro, no sentido de escolher dramaturgas, incentivar mulheres a escrever e a serem representadas, e motivar técnicas, artistas, desenhadores de luz, de som, tudo isso. Acho que foi uma aposta ganha. De 1995 até cá temos imensas mulheres a dirigirem.

Não teatros.
Não, teatros não. Estive aqui no Trindade, mas foi por pouco tempo. Sim, falta isso. Aliás, ainda falta muito! Mas a dirigirem no sentido de encenarem, escreverem. Temos mais mulheres a escrever, e projetos de pendor mais feminino. E temos bastante mais mulheres em departamentos técnicos, que fazem luzes e por aí fora.

Pedro Penim: “O teatro tem muitos interesses, mas não tem necessariamente muitos amigos”

Passou a infância a escrever e encenar peças de teatro com uma amiga, mas não gostava de entrar nelas.
Não, não.

Foi sempre mais autora e encenadora do que atriz ou isso entretanto mudou?
Acho que isso mudou. Na altura, era uma questão de vergonha ou coisa assim. Mas considero-me muito mais atriz do que encenadora, embora encene de vez em quando, e gosto. Gosto muito de dirigir atores, mas considero-me mais atriz. Também escrevo para teatro quando me dá na cabeça, mas não sou dramaturga. Acontece ser dramaturga às vezes.

Profissionalizou-se como atriz só aos 30 anos. Foi nessa altura que perdeu a vergonha?
Já tinha perdido a vergonha antes. Comecei a fazer teatro num grupo universitário, que era o grupo cénico da Faculdade de Direito, embora fosse de Letras. Tinha visto um espetáculo fantástico que adorei, o Volpone, do Ben Jonson, encenado pelo Adolfo Gutkin, que estava cá patrocinado pela [Fundação Calouste] Gulbenkian, isto ainda antes do 25 de Abril. Vi o espetáculo, adorei, e no dia seguinte fui-me lá oferecer. Perguntaram-me: “Queres ser atriz?”. E eu disse: “Não, de todo, quero ajudar”. Então fazia serviço de cena, ou seja, estava nos bastidores a dar os adereços, a preparar os adereços. Só que um dia o Adolfo Gutkin viu-me nos bastidores, estava o espetáculo a decorrer, e disse-me: “Estás morta por entrar lá para dentro”. Eu fiquei vermelha. No espetáculo seguinte ele fez-me entrar e aí perdi a vergonha. Foi aí.

Mas quando acabou o curso não começou logo a trabalhar como atriz.
Não, quando acabei o curso quis sair de casa. Quis ter um quarto que fosse meu, como diz a Virginia Woolf. Embora tenha tido dois convites para integrar companhias, fui dar aulas e estive quatro, cinco, seis anos sem fazer teatro.

Queria independência financeira?
Exato, claro. Embora na altura fosse difícil arranjar casas, foi a seguir ao 25 de Abril. Partilhei casa com amigas… O que os jovens agora têm que fazer também.

Em "A Senhora de Dubuque", a atriz contracena com Fernando Luís (na fotografia), Alberto Magassela, Álvaro Correia, Benedita Pereira, Manuela Couto, Renato Godinho e Sandra Faleiro

Alípio Padilha

Quando decide ser atriz envereda pelo teatro. Tendo um irmão cineasta [José Fonseca e Costa] é no mínimo curioso que tenha trabalhado pouco em cinema. Porquê?
Para já porque acho que a minha imagem não é a imagem que os realizadores escolhem. Participei em alguns filmes do meu irmão, mas papéis pequenos. Acho que ele também não gostaria muito de ser acusado de me estar a beneficiar. Só fiz um papel importante num filme dele, já bastante mais velha, quando ele achou que havia um papel para mim, que eu era capaz de o fazer e que o defendia bem, de certeza. Foi a Viúva Rica Solteira Não Fica [2006]. Até lá fiz pequenos papéis. Houve um filme que ele me deu a escolher e podia ter feito um papel maior. Não fiz porque, lá está, preferi sempre o teatro.

Porquê?
Ia fazer uma peça, disse que não podia. Porque, no meu tempo, quando se estava numa companhia de teatro, estava-se a tempo inteiro. Não é como agora que se faz novelas, séries, teatro, tudo ao mesmo tempo. Na altura ou se estava num sítio ou se estava no outro.

Há semanas esteve a encenar A Andorinha, no Teatro Experimental de Cascais, agora está a representar no Teatro da Trindade. Está ativa, mas refere-se ao seu tempo como um tempo passado. Este tempo já não é o seu?
É o meu tempo, mas é completamente diferente. Isto agora foi uma maluqueira. Estava a dar aulas na Escola Profissional de Cascais, ia começar aqui os ensaios e de repente surge-me… Com a morte do Carlos Avilez, sou convidada e achei que não podia dizer que não. A minha admiração pelo Carlos e a minha amizade para com as pessoas, com os meus colegas do TEC, que estavam devastados… Isto é uma responsabilidade enorme, mas não lhes ia dizer que não.

Pediram-lhe para encenar a peça após a morte de Carlos Avilez.
Oito dias depois. Tivemos muito pouco tempo para ensaiar. Telefonei ao Álvaro Correia a dizer: “passa-se isto, mas isto é para estrear dia 19 de janeiro”. Os nossos ensaios aqui começavam dia 3. Portanto, ensaiei dezembro todo com eles, dia 3 vim para aqui e dez dias antes da estreia [em Cascais] o Álvaro dispensou-me e fiquei só em Cascais os dez dias e a dar aulas. Portanto, é o meu tempo, mas cá está… Também é o que me mantém viva.

Foi com uma peça do dramaturgo Edward Albee que venceu o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Teatro, em 2004, no caso com A Cabra, apresentada no Teatro da Comuna.
E também encenada pelo Álvaro Correia.

Foi um marco importante ou houve outras peças que a marcaram mais?
É muito difícil porque já muitas me marcaram. Por exemplo, os Lindos Dias! também foi uma peça que me marcou muito. O Cerejal, em que tinha um papel pequeníssimo, marcou-me muito. Normalmente é a última peça que nos marca mais. Agora é esta. Mas parece que o Albee me chama, é a quarta vez que estou a fazer o Albee. Fiz A Cabra com o Álvaro, depois fiz aqui no Trindade, quando estava a dirigir o teatro, o Casamento em Jogo [2011], com a encenação da Graça Correa, que fazia sozinha com o Rogério Samora. Depois fiz o Encontrar o Sol [2017], no São Luiz, com a encenação do Ricardo Neves-Neves. E agora voltei ao Albee com o Álvaro, que foi quem me deu a conhecer o Albee.

Considera-se mais atriz do que encenadora, mas confessa gostar de dirigir atores. Em dezembro, após a morte de Carlos Avilez, foi chamada para encenar a peça que se estrearia um mês depois no TEC

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

É um duplo regresso, já que torna ao teatro que dirigiu durante quatro anos. Em 2013 foi afastada da direção por decisão da Fundação Inatel, proprietária do Teatro da Trindade — a administração era então presidida por Fernando Ribeiro Mendes, nomeado pelo Conselho de Ministros para substituir Vítor Ramalho, após este se ter pronunciado contra os cortes de financiamento às fundações. Uma década depois, como olha para a sua saída, agora com distanciamento?
Foi uma coisa muito indelicada da parte da anterior administração porque pus o meu lugar à disposição e eles disseram que não, que queriam continuar comigo. Entretanto tinha tido um orçamento muito baixo, tinha tido pouco dinheiro para programar. Portanto, queria voltar a ter dinheiro para programação conveniente. Creio que foi por isso, mas não só. Queriam pôr a dirigir o teatro o diretor da cultura que vim substituir aqui. Foi uma situação muito indelicada de aceitar. Dependia da administração e, de repente, tinha que ficar a depender de uma pessoa que tinha vindo substituir. Não me pareceu correto. Mas despediram-me. Quando pus o lugar à disposição podiam ter dito aceitado logo, como mudou à administração é normal uma pessoa pôr o seu cargo à disposição. Excusavam de me ter humilhado como humilharam. Chegaram a humilhar-me aqui, à frente dos funcionários todos. Humilharam-me mesmo. A senhora que assumiu o pelouro da cultura pôs-se a dizer que eu tinha feito um quadro do teatro. O quadro do teatro são cargos administrativos, uma pessoa olha para o quadro e não vê quem é que é o diretor técnico, quem é que é o técnico de luz… Não, é: técnico de primeira classe, como se fossem funcionários públicos. E eu quis fazer um quadro de teatro. Portanto, tinha um diretor técnico, um diretor de produção. “A senhora promoveu toda a gente”, ouvi. Não promovi ninguém, porque eles ficaram a ganhar o mesmo, o nome da função é que era adequado a um teatro. Foi muito desagradável.

O que é que aprendeu?
Aprendi muito. Mas não só com isso. Aprendi muito também por estar à frente de uma instituição destas.

Na altura disse que “98% do trabalho foi burocrático”.
Foi. Neste momento e com a atual administração, o Diogo Infante é só diretor artístico, que é o melhor dos dois mundos. Está a programar, a ler, a ter reuniões com os criadores, está a encenar. Eu era diretora. Tinha uma pessoa que era minha adjunta, uma pessoa que é jurista e que foi um braço de direito fantástico, mas eu era responsável por tudo. Tinha que assinar tudo. Tinha que assinar os talões do multibanco das pessoas que compravam bilhetes na bilheteira. À sexta-feira tinha que dar autógrafos nos talões todos. Do ponto de vista criativo, encenei uma peça e entrei como atriz numa outra. Estive cá quatro anos a fazer serviço público. Estive ao serviço dos meus colegas que convidei para virem para cá.

Teve pena de não fazer uma verdadeira direção artística?
Sim, era capaz de ter sido giro. Mas é muito trabalhoso e é muito difícil, porque muitas vezes temos que dizer que não, não é? E isso é complicado, porque ganhamos anticorpos, às vezes. Mas aprendi muito sobre relações humanas, sobre ter que gerir,  porque era responsável também pelas relações humanas aqui dentro. Isto era um teatro já com uma grande história de trás, portanto eu tinha que gerir sensibilidades.

E fazer alguma política?
Exato. Gestão de pessoal também. Tive que despedir pessoas, por exemplo. Foi duro. Saí daqui vazia, em termos criativos. Estou muito bem assim como estou, só a ser artista.

Teatro da Trindade, Lisboa. De 29 de fevereiro a 21 de abril, Qua-Sáb, às 21h, Dom, às 16h30. 14-20€

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