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Os CTT anunciaram, em dois dias consecutivos, duas operações que tornam a empresa portuguesa num gigante europeu de encomendas e correio expresso. Primeiro com a compra da espanhola Cacesa; depois com a aliança com a alemã DHL para a Península Ibérica. Cada vez menos os Correios são uma empresa de cartas. Em dois dias os CTT tornaram-se numa empresa maior. Esta não é a primeira vez que as duas empresas firmam um acordo. Mas desta vez foram mais longe.
Foi a partir de Madrid que as duas empresas, CTT e DHL, explicaram aos jornalistas a operação. Com o negócio, “a CTT Expresso passará a ser a maior empresa do grupo em receitas e em rentabilidade”, assume João Bento, presidente da empresa portuguesa que salienta que o negócio da DHL “é uma alteração grande” que “reforça a dinâmica” de tornar os Correios numa empresa de comércio eletrónico.
CTT e DHL decidiram juntar os negócios de encomendas de comércio eletrónico na Península Ibérica. Longe vão os tempos em que este negócio em Espanha representava, para os CTT, prejuízos. Hoje já é uma área rentável, embora a rentabilidade desta área em Portugal seja maior. Também por isso, no acordo entre as duas empresas vai ter de haver uma compensação da DHL para os CTT de 69 milhões de euros.
CTT compram empresa espanhola de tratamento de comércio eletrónico por 104 milhões
Que negócio dos CTT está em causa?
O negócio de encomendas e expresso dos CTT conseguiu, em 2023, receitas de 340,6 milhões de euros, sendo 149,1 milhões em Portugal por tratamento de 38,9 milhões de objetos. Espanha, por seu lado, garantiram aos CTT receitas, neste negócio, de 186,8 milhões de euros, com 61,7 milhões de objetos.
O resultado operacional bruto deste negócio atingiu, em 2023, 19,7 milhões de euros, com uma margem de 5,8%. Tanto Portugal como Espanha estão, agora, em terreno positivo em termos de rentabilidade. Em 2023, a CTT Express, empresa espanhola, teve um resultado operacional recorrente positivo de 6,7 milhões de euros. Foi em 2022 que esta unidade atingiu o break even.
Esta empresa espanhola, CTT Express, foi criada em 2020 com a integração da Tourline Express, comprada em 2005 por 28,5 milhões de euros (ainda que tenha sido negociada em 2004, mas como Carlos Horta e Costa, presidente dos CTT de então, estava de saída, o negócio resvalou para o ano seguinte, na presidência de Luís Nazaré). Aliás nesses anos os CTT fizeram uma parceria precisamente com a DHL para o correio expresso. Em 2004 foi anunciado um acordo comercial e operacional no correio expresso entre as duas empresas, cujo arranque aconteceria em 2005. Na altura foi referido que, no âmbito do acordo, a DHL Portugal passaria a transportar e a distribuir através da sua rede mundial os envios de correio expresso originados em Portugal na rede dos CTT Expresso. Agora a parceria entre ambas as empresas vai mais longe.
De fora do acordo atual ficará a área de logística que hoje está integrada na CTT Expresso. Agora vai ser retirada da CTT Expresso. A logística fez, em 2023, um volume de negócios de 3,9 milhões de euros.
No caso da DHL, este negócio de encomendas na Península Ibérica realiza receitas de 385 milhões de euros, para um resultado operacional de 8 milhões, com cerca de 50 milhões de objetos entregues anualmente.
E os cacifos?
Os cacifos que os CTT detêm para distribuição das encomendas de comércio eletrónico, na rede denominada Locky, integram a CTT Expresso, pelo que estão abrangidos no negócio. No final de 2023 tinham mais de 820 cacifos instalados em Portugal, com 330 adicionais contratados e mais de 600 em negociação. A empresa tem indicado que os cacifos Locky “são uma rede agnóstica e conta desde o quarto trimestre de 2023 com mais um transportador, além dos CTT, a usá-la”.
O que foi acordado?
O acordo ibérico entre CTT e DHL tem várias componentes. Por um lado, a DHL entra para o capital da CTT Expresso, na qual tomará uma posição de 25%. De igual forma, os CTT entrarão na Danzas (empresa da DHL em Espanha), ficando reciprocamente com 25%. O mesmo é dizer que a a DHL fica com uma posição na operação portuguesa dos CTT e estes ficam com uma participação no negócio espanhol da DHL. Isto porque a DHL Parcel Portugal será totalmente adquirida pela CTT Expresso. Isto é a fase um do acordo que prevê que a partir de 2027 o grupo CTT possa adquirir mais 10% da Danzas e a DHL possa comprar mais 10% da CTT Expresso. Posições que até podem evoluir até aos 49% em ambos os casos.
As trocas de participações implicam avaliações das várias empresas. Segundo foi revelado, com o negócio a DHL Parcel Portugal foi avaliada em 12 milhões de euros; a DHL Parcel Espanha em 106 milhões e a CTT Expresso em 482 milhões de euros. Uma vez que foi considerado que os CTT tinham de pagar à DHL, por alavancas de valor, 15 milhões de euros.
Com todos os deves e haveres, no final é a DHL que tem de pagar aos CTT um valor de 69 milhões de euros, que pode não ficar por aqui.
CTT tinham anunciado aquisição da Cacesa. O que acontece agora?
João Bento, presidente dos CTT, admitiu que acabou por ser coincidência o anúncio consecutivo das duas operações. Na quarta-feira os Correios anunciaram a compra da Cacesa, que atua na área alfandegária de comércio eletrónico. O acordo de compra prevê um valor de 104 milhões de euros, com ativos de 91 milhões de euros, equivalente a um múltiplo de 5,5 vezes o resultado operacional.
A Cacesa – Compañia Auxilial al Cargo Express tem uma plataforma de desalfandegamento de comércio eletrónico internacional e tem serviços de distribuição de encomendas. Presente em 15 países, Espanha, Itália, Bélgica e Polónia são os seus principais mercados.
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A Cacesa obteve receitas de 92 milhões de euros em 2023, gerando resultados operacionais de 20 milhões de euros. No dia em que foi anunciada esta aquisição, os CTT justificaram-na pelo “ambição” de “reforçar ainda mais a sua presença de liderança no comércio eletrónico na Península Ibérica e alargar o portefólio de serviços e soluções de comércio eletrónico disponibilizados aos seus clientes”. Os CTT apontavam para sinergias de 5 milhões com esta aquisição apontada para ficar concluída em março/abril de 2025, antes do acordo final com a DHL.
É por isso que no âmbito da parceria com a DHL, a empresa alemã poderá, querendo, contribuir com 25% do valor para que a Cacesa seja integrada na CTT Expresso. Pablo Ciano, CEO da DHL eCommerce, já indicou, na conferência de imprensa, que é uma boa aquisição, antecipando que irá entrar, então, com os seus 25%.
A marca CTT Expresso e DHL vão continuar a existir nos dois mercados?
No âmbito do acordo assinado nesta quinta-feira as duas marcas vão manter-se, mas haverá um posicionamento em termos de segmentos de mercado.
Em Espanha, a parceria irá operar com marcas independentes: “CTT Express, a partnership with DHL” no segmento B2C (particulares) e “DHL, a partnership with CTT Express” no segmento B2B (empresarial). Em Portugal, a marca é CTT.
Como ficam os CTT com este acordo? E qual o racional?
Este acordo permite aos CTT tornarem-se uma empresa maior e com o principal negócio já a ser o das encomendas e correio expresso. Segundo indica, em comunicado, com este acordo as receitas numa base proforma atingem 1,1 mil milhões de euros (em 2023 os Correios fecharam com rendimentos de 985 milhões) e resultados operacionais de 110 milhões de euros (77,7 milhões em 2023).
Os CTT estimam sinergias de 35 milhões com o acordo da DHL. Além disso, os CTT conseguem uma maior exposição ao mercado empresarial (B2B). “O negócio B2B da DHL na Península Ibérica (cerca de 300 milhões de euros/ano, 75% das receitas) vai permitir uma diversificação natural aos CTT que têm exposição maioritariamente ao B2C”, indica em comunicado.
A rede de ambas as empresas fica fortalecida. Os CTT Expresso têm 20 mil pontos de entrega (PUDO), 22 hubs e 257 entrepostos em toda a Península Ibérica, juntamente com mais de mil cacifos Locky. A DHL eCommerce, com presença mais expressiva em Espanha, tem mais de 3 mil pontos de serviço, 7 hubs e 73 entrepostos.
E a rede vai crescer. Nomeadamente nos cacifos, os CTT antecipam a implementação de mais 10 mil.
Os CTT ficam assim com um negócio assente, na sua maioria, nas encomendas e correio expresso, potenciadas por um cada vez maior número de compras online que têm de ser enviadas e entregues via estas redes. Os CTT têm feito essa aposta. No ano passado, a empresa anunciou que tinham estabelecido “uma parceria com a popular plataforma de comércio eletrónico Temu na Península Ibérica”, tornando-se “no parceiro exclusivo das entregas da Temu no mercado português, constituindo-se, simultaneamente, como um parceiro estratégico em Espanha, desta plataforma de comércio eletrónico, reconhecida pelos seus preços altamente competitivos”.
O mercado das compras online dos particulares, segundo dados dos CTT, ultrapassou os 100,6 mil milhões de euros na Península Ibérica em 2023. O mercado português gerou 11,2 mil milhões de euros e o mercado espanhol 89,4 mil milhões de euros.
O que falta?
Para o acordo ficar concluído tem de passar pela avaliação das autoridades de concorrência. É por isso que a empresa espera que o negócio fique concluído apenas no segundo semestre de 2025. João Bento garante, por outro lado, que os acionistas dos CTT não vão ser chamados a pronunciar-se sobre o acordo, considerando um ato de gestão. “Não faz sentido” e é uma decisão, admite, “tomada de forma ponderada”.