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AFP/Getty Images

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Onde é que o Estado Islâmico vai buscar dinheiro?

O Estado Islâmico está a facturar entre dois a três milhões de dólares por dia, o que o torna no grupo terrorista mais rico do mundo. Dinheiro vem do petróleo, extorsão e impostos.

Estima-se que os ataques de 11 de setembro de 2001 tenham custado aos cofres de Bin Laden e da al-Qaeda um a dois milhões de euros, entre logística, subornos e custos com os terroristas nos EUA. Com o atual ritmo a que o autodenominado Estado Islâmico (EI) consegue juntar dinheiro, este grupo terrorista tem capacidade para fazer um ataque como o do World Trade Center por dia sem precisar de recorrer a qualquer financiamento externo.

Venda e exploração de petróleo, controlo de comida e água, extorsão, impostos e resgates são apenas algumas das atividades levadas a cabo pelo EI, que fazem com que todos os dias entre dois a três milhões de dólares sejam adicionados aos cofres do grupo liderado por Abu Bakr al-Baghdadi. A consolidação da ocupação dos territórios conquistados e o avanço no terreno, tomando algumas das cidades mais importantes a nível estratégico e financeiro do Iraque, fazem com que esta organização seja autossuficiente e, por isso, cada vez mais difícil de travar.

“Eles têm uma economia estável, tanto na Síria como no Iraque”, defende Hasan Abu Hanieh.

Não há informação oficial ou números certos sobre a origem e os valores atualmente detidos pelo Estado Islâmico. Sabe-se, sim, que para alimentar o crescimento exponencial deste grupo nos últimos meses foram precisas duas coisas: financiamento e organização. O EI conta com quase 100 mil homens nas suas fileiras, todos pagos e com valores muito superiores a outros grupos rebeldes sírios, uma área de influência cada vez maior e tem armamento cada vez mais potente que vai adquirindo ou saqueando.

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Algumas estimativas mostram que o grupo pode estar a gerir mais de dois mil milhões de dólares em bens e dinheiro e, assim, a desenvolver a sua própria economia. “Eles têm uma economia estável, tanto na Síria como no Iraque”, defende Hasan Abu Hanieh, um académico jordano citado pelo “Wall Street Journal”.

Algumas estimativas mostram que o grupo pode estar a gerir mais de dois mil milhões de dólares em bens e dinheiro, e assim a desenvolver a sua própria economia.

Esta estabilidade da economia está ligada ao seu avanço estratégico no Iraque, onde o grupo luta para tomar os principais campos petrolíferos e refinarias. Há semanas que os guerrilheiros do EI combatem o exército para tomarem Baiji, a maior refinaria do Iraque. Outro dos objetivos do grupo é o de chegar a Kirkuk, a maior reserva de petróleo do Iraque.

Territórios ocupados pelo Estado Islâmico em agosto de 2014

Na Síria, a organização controla oito campos de gás e petróleo nas regiões de Raqqah e Deir Ezzor, vendendo o barril de petróleo bruto entre 26 a 35 dólares – o preço atualmente situa-se nos 95 dólares nos mercados internacionais. O barril de petróleo pronto para transformação é mais caro, sendo vendido por cerca de 60 dólares. Estes combustíveis são adquiridos por intermediários locais que depois transportam o crude para refinarias na Turquia, no Irão e no Curdistão.

O grupo também não tem qualquer problema em fornecer energia às forças que combate e que apelida muitas vezes de infiéis, abastecendo por exemplo, o exército sírio. Estima-se que na Síria o Estado Islâmico esteja a conseguir produzir entre 30 mil a 70 mil barris de petróleo por dia, segundo rebeldes que desertaram.

A dimensão das vendas de combustível oriundo do Estado Islâmico no mercado negro não é difícil de constatar na região, já que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia disse publicamente que houve um aumento de 300% na apreensão de petróleo ilegal na fronteira entre a Síria e a Turquia desde 2011, altura em que começaram os combates.

O mapa abaixo é atualizado diariamente pelo The Long War Journal, consoante o avanço das tropa dos Estado Islâmico no terreno:

O contrabando só tem agora tendência a crescer e a desenvolver-se com o avanço no território iraquiano. Esta organização, segundo avança Valerie Marcel, investigadora de Chatham House, está já a atrair mão-de-obra especializada na prospeção, tratamento e transformação do crude. “Estas pessoas têm a capacidade de pôr estas instalações [refinarias e poços] a funcionar. O EI está a produzir petróleo”, assegurou ao Buzzfeed.

Estima-se que na Síria, o Estado Islâmico esteja a conseguir produzir entre 30 mil a 70 mil barris de petróleo por dia, segundo rebeldes que desertaram.

O mealheiro dos terroristas

Mas não é só a partir do contrabando de petróleo que se faz o grupo terrorista mais rico do mundo. Apesar de no início haver especulação sobre o financiamento desta organização por parte de países como o Qatar, Arábia Saudita e Kuwait (o ministro alemão da Desenvolvimento e Cooperação económica acusou mesmo o Qatar de armar e financiar o EI), agora sabe-se que atualmente o grupo é financeiramente independente de qualquer país ou indivíduo – continuando a receber generosas doações de magnatas da região que apoiam o califado declarado a 30 de junho.

Uma das pistas mais sólidas sobre a forma como este grupo atua para obter fundos e se organiza internamente foi conseguida dias antes de o EI tomar a cidade de Mosul em junho, com a apreensão de 160 pens USB que pertenciam à organização terrorista. O exército iraquiano, assim como os serviços de informação norte-americanos, ficaram surpreendidos pelo grau de detalhe que os registos do EI demonstravam.

Para além de compilar todos os nomes, alcunhas e desempenho dos guerrilheiros vindos do estrangeiro que se juntaram ao grupo terrorista, havia um registo meticuloso das suas finanças, da hierarquia de comando e das suas fontes de informação em ministérios na Síria e no Iraque, segundo relata o “Guardian”.

Antes de tomar Mosul, o EI teria, entre bens e dinheiro, cerca de 875 milhões de dólares, segundo os registos informáticos encontrados. Para além de explorar desde 2012 campos petrolíferos na Síria, também se descobriu que vendia antiguidades pilhadas em museus sírios no mercado negro. A organização vendeu artefactos com mais de oito mil anos roubados em al-Nabuk, perto de Damasco, por 36 milhões de dólares.

Quando Mosul passou para o domínio do EI, o grupo fez um dos seus maiores saques, roubando quase 500 milhões de dólares do banco local. Tanto os serviços de informação norte-americanos, como o exército iraquiano não sabem onde é que a organização guarda o dinheiro, podendo estar distribuído em várias contas por todo o mundo ou guardado algures na Síria ou no Iraque.

O exército iraquiano ficou surpreendido pelo grau de detalhe que os registos do Estado islâmico demonstravam.

A violência do dinheiro

As práticas violentas do EI não fazem apenas parte da sua estratégia militar. Integram o dia-a-dia das cidades que ocupam e traduzem-se na imposição de impostos e extorsão, tanto na Síria como Iraque. Por mês, o grupo conseguirá arrecadar cerca de 12 milhões de dólares desta forma.

“É sabido que o Estado Islâmico é quase inteiramente autofinanciado”, Charles Lister

Charles Lister, investigador do Brookings Doha Center, disse, em entrevista à Der Spiegel, que o dinheiro “é a chave do EI”. “É sabido que o Estado Islâmico é quase inteiramente autofinanciado. O dinheiro vem do controlo e da venda ilícita de petróleo e gás, produtos agrícolas como cereais, controlo da água e da eletricidade e de cobrar impostos nas áreas que controla”. O académico relata que o grupo está a tentar cumprir as funções de um governo, controlando até ao pormenor a vida das pessoas que vivem nos seus territórios.

Assim, cabe à estrutura montada em cada cidade pelo EI regular o comércio, especialmente o tradicional comércio de rua, e recolher o pagamento pela “proteção” das suas milícias – o nível de organização é tão grande, que o grupo também exerce o poder judicial, instituindo tribunais que decidem segundo a lei islâmica os mais diferentes casos, desde disputas de terras a adultérios, como se pode ver no documentário do site “VICE”, filmado na capital do Estado Islâmico, Raqqah.

Os impostos passaram a ser recolhidos pelo Estado Islâmico nas cidades que dominam. Para os cristãos e outras minorias que decidiram ficar nestes territórios, o EI impõe um imposto adicional. Também quem se dedica à agricultura e à pecuária tem de entregar uma parte da sua produção aos terroristas.

O “Business Insider” dá conta que o próprio EI já estará a fazer a sua própria farinha depois de se ter apoderado de terras nas cinco principais províncias produtoras de cereais no Iraque. Estas terras são responsáveis por 40% da produção de cereais e pelo caminho, o EI saqueou silos do governo que continham entre 40 mil a 50 mil toneladas de cereais. A farinha produzida pelo Estado Islâmico estará mesmo a ser vendida às autoridades iraquianas para arrecadar mais fundos.

Quanto a resgates, tornou-se prática comum no califado raptar pessoas para depois exigir largas somas de dinheiro em troca, não só cidadãos estrangeiros, mas também habitantes locais. Esta prática já terá rendido cerca de 125 milhões de dólares ao grupo terrorista nos últimos cinco anos, segundo avança o “New York Times”, e sabe-se agora que, antes da execução de James Foley, o Estado Islâmico pediu às autoridades norte-americanas e à família do jornalista, um resgate multimilionário.

A mais recente fonte de receitas do EI é a venda de jovens cristãs como escravas sexuais aos guerrilheiros por 150 dólares, segundo uma família fugida da região relatou ao chegar a Paris.

Para os cristãos e outras minorias que decidiram ficar nestes territórios, o EI impõe um imposto adicional. Também quem se dedica à agricultura e à pecuária tem de entregar uma parte da sua produção aos terroristas.

Como travar o Estado islâmico?

Financiando-se a nível local e dependendo só de si próprios para manter a operação militar, é impossível lidar com o EI utilizando as fórmulas do passado. Impor sanções internacionais a países que estejam a ajudar os guerrilheiros não parece ser eficaz, já que poucos analistas acreditam que nesta altura algum Estado ainda esteja a financiar um grupo tão radical.

Quanto a doações individuais, ocorrem através de países onde os fluxos de capital não são controlados, o que leva a um vazio de informação sobre a sua proveniência e sobre o seu destino. A maneira mais eficaz seria travar o mercado negro de petróleo na região, o que implicaria maiores controlos transfronteiriços, mas também a consciencialização, por parte dos iraquianos e dos curdos, que a compra de petróleo a intermediários que lidam com o EI só fomenta o avanço desta organização dentro do país.

Os ataques aéreos norte-americanos na zona de Kirkuk abrandaram a conquista de território por parte dos guerrilheiros na região, dando espaço para a fuga dos cristãos iraquianos que estavam encurralados nas montanhas e continua a dar frutos, já que, após várias semanas, o exército iraquiano conseguiu romper o cerco que o EI fazia à cidade de Amerli. Mas o Estado Islâmico continua a expandir-se em várias frentes, intensificando a luta pela refinaria de Erbil.

Alemanha, França e Reino Unido vão enviar durante as próximas semanas armas para os combatentes curdos. Na Alemanha o anúncio foi feito este domingo e o ministro da Defesa referiu que a situação é crítica”. Berlim vai enviar 70 milhões de euros em equipamento militar, incluindo oito mil espingardas G36, cinco tanques, proteções corporais e sistemas de comunicação, e ainda 50 milhões de euros em ajuda humanitária.

Uma das melhores hipóteses de travar este grupo é a de a Turquia continuar a reter as águas do rio Eufrates, que é uma das principais fontes de àgua na Turquia, na Síria e no Iraque. A Turquia fechou recentemente a barragem e a capital dos terroristas, Raqqah, já se está a ressentir. No entanto, continuar a reter estas águas pode significar a morte de milhões de pessoas que dependem deste rio como fonte de água potável.

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