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Guardia Civil

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Operação Star Bananero. Como bananas com cocaína entraram no porto de Setúbal

No início da semana, um contentor com milhares de bananas chegou ao porto de Setúbal. A polícia já estava à sua espera e seguiu a mercadoria até Espanha. É que cada caixa tinha 15 quilos de cocaína.

Não era a primeira vez que chegavam ao porto de Setúbal cargas de bananas vindas da Costa Rica. Desde o início deste verão, várias dezenas de contentores com aquelas características entraram no território português por via marítima. As importações eram feitas por uma empresa espanhola de comercialização de frutas, mas, sabe-se agora, ninguém estaria interessado em fazer negócio com as bananas. A ideia era criar um rasto de credibilidade e não levantar suspeitas sobre as verdadeiras intenções da empresa: traficar cocaína.

Depois de vários contentores importados com mercadoria legal — bananas sem droga — a empresa preparara-se-ia para dar o próximo passo: fazer chegar a Portugal o primeiro contentor com mercadoria ilegal — bananas com droga — e esperar que ninguém desse pela diferença. Na tese da investigação, no início desta semana, os traficantes terão decidido pôr o plano em prática e testar o seu método. Se resultasse, continuariam a encomendar fruta para que, de tempos a tempos, pudessem introduzir um contentor com cocaína, sem que ninguém desconfiasse.

O método falhou ainda antes de ser testado. Ainda o cargueiro vinha a caminho e em curso já estava uma investigação, que começou há mais de um ano. Todas as importações de bananas estavam a ser monitorizadas e todos os contentores anteriores tinham sido controlados. Este não era exceção. Antes mesmo de o contentor chegar, no Porto de Setúbal havia já quem esperasse por ele: os alegados traficantes, prontos a levar o produto para Espanha e, depois, espalhá-lo pelo espaço europeu. “A ideia seria introduzir uma grande quantidade de cocaína no continente europeu. Uma parte ficaria em Espanha e a outra ia para os países europeus”, explicou Artur Vaz, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ), ao Observador.

Durante as cerca de seis horas, as bananas com cocaína seguiram percurso de Setúbal a Málaga

À espera do cargueiro estavam também autoridades portuguesas e espanholas, como a Guarda Civil e o Cuerpo Nacional de Polícia, que, sem saber se era este o contentor que trazia a cocaína, estavam prontas a atuar, caso a suspeita se confirmasse. Confirmou-se: dentro de centenas de caixas estavam 6,3 toneladas de cocaína dissimuladas em milhares de bananas. A droga tinha sido dissimulada e colocada em contentores na Costa Rica. Dali, foi enviada por via marítima para Setúbal — o ponto de entrada na Europa.

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A primeira suspeita foi levantada assim que o contentor entrou em território português, mas as autoridades permaneceram na sombra: deixaram que todas as operações se desenrolassem à frente dos seus olhos, escondidas do olhar dos traficantes, e o contentor respeitou o itinerário comercial estipulado. “[Os traficantes] montaram um circuito de distribuição e comercialização legal para essas bananas, mas o objetivo final era camuflar e dissimular a importação da cocaína. Estando a estrutura montada, era uma questão de a rentabilizar. O mais difícil muitas vezes é montar essa estrutura”, explicou Artur Vaz, que coordenou a Operação Star Bananero, ao Observador.

Durante as cerca de seis horas, as bananas com cocaína seguiram percurso de Setúbal a Málaga

O contentor seguiu o percurso que era suposto, sem ninguém desconfiar que, logo atrás, levava dezenas de inspetores. O camionista percorreu mais de 600 quilómetros, de Setúbal a Málaga, através da fronteira em Badajoz. Durante as cerca de seis horas, as bananas com cocaína seguiram o seu caminho, sempre acompanhadas pelas autoridades portuguesas e espanholas. A mercadoria e o seu trajeto viriam a confirmar as suspeitas que já tinham levado à investigação. “Foram feitas diligências e o percurso que o contentor seguiu acabaria por fazer com que se reforçassem as suspeitas e determinar a intervenção das autoridades”, contou o diretor Artur Vaz ao Observador.

Tal viria a acontecer na quinta-feira. Nesse dia, o contentor chegou ao destino: um armazém em Málaga. Quando o camião chegou, vários homens apressaram-se a receber e a descarregar a mercadoria, em plena luz do dia, por volta das 14h00. “Alguns suspeitos já a estavam a preparar-se no sentido de darem destino à cocaína”, revelou o diretor da UNCTE ao Observador. Naquele momento, já não restavam dúvidas e as autoridades decidiram intervir para desmantelar aquela organização criminosa dedicada ao tráfico de grandes quantidades de estupefacientes.

Foram detidas 16 pessoas. Todos homens na casa dos 40 anos. A “grande maioria” foi detida em flagrante delito, adiantou Artur Vaz ao Observador. Foram ainda detidos outros alegados traficantes, na sequência de buscas domiciliárias. Do total, 13 são holandeses. Não há portugueses entre as detenções efetuadas. Os restantes detidos são romenos residentes na região da Costa do Sol, em Espanha. Alguns serão, como descreve o diretor do UNCTE, “pessoas com peso no mundo do tráfico de droga. “Não é qualquer um que trata e consegue fazer uma importação de mais de 6 toneladas de cocaína. Alguns indivíduos já seriam, aliás, bem conhecidos — estavam referenciados pelas autoridades de vários países, há vários anos, e tinham estado detidos, em vários países”, explica Artur Vaz ao Observador.

Além das detenções, foram apreendidas as 6,3 toneladas de cocaína no valor de cerca de 350 milhões de euros. Estima-se que cada caixa de bananas teria 15 quilos do produto. Foram também apreendidas armas de fogo, carros topo de gama e 300 mil euros em dinheiro vivo. Apesar da alegada rede ter sido desmantelada, a PJ não exclui a possibilidade de haver mais pessoas envolvidas. Os resultados das diligências efetuadas “nomeadamente as buscas domiciliárias” vão ser ”analisados e re-analisados”, adianta o diretor. Para já, as autoridades espanholas acreditam que, além das 16 pessoas detidas, estejam envolvidas outras 30. “As investigações prosseguem a cargo das autoridades portuguesas e espanholas com a cooperação de outros países”, como se lê no comunicado emitido na quinta-feira passada pela PJ.

Cooperações como esta são cada vez mais frequentes, mas não por se acreditar que há um aumento na utilização do território português para introduzir droga na Europa. De facto, Portugal, ao longo dos anos, sempre foi um ponto de entrada: “Não é dos pontos mais relevantes, mas é um ponto de entrada de cocaína proveniente da América Latina. Há outros pontos na União Europeia com outra dimensão. Mas não podemos negar essa realidade”, esclarece Artur Vaz. O que acontece é que “a produção de cocaína tem vindo a aumentar e há também um aumento das atividades das autoridades e das quantidades apreendidas”, como explica o responsável. Assim, as autoridades estão mais atentas e mais proativas. “Esta operação é um exemplo disto. É mais uma resultante da atividade coordenada das autoridades portuguesas, espanholas e de outros países europeus”, acrescentou.

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