910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Oposição suave de Temido contestada no PS/Lisboa. "É a vez de Moedas governar", recorda ex-ministra

Estratégia até 2025 é não levantar ondas, para mais tarde "apontar o dedo" ao que não foi feito por Moedas. Com legislativas e europeias pelo caminho, Temido não tem futuro fechado.

A estratégia de Marta Temido no combate político a Carlos Moedas está a ser contestada internamente. A antiga ministra da Saúde e atual líder da concelhia do PS/Lisboa tem orientado o partido para uma oposição mais moderada, de forma a evitar qualquer tentativa de vitimização do atual presidente da Câmara de Lisboa. Mas há quem, dentro do PS/Lisboa, vá exigindo um combate mais incisivo, um discurso mais fechado, com ideias e propostas definidas para a cidade, capaz de mostrar as diferenças que separam o projeto socialista da coligação Novos Tempos.

“Acho que Marta Temido se compromete pouco e põe pouca coisa em cima da mesa”, diz ao Observador uma fonte do PS na Câmara Municipal de Lisboa. “Mesmo no discurso no congresso, começou cheia de força a atirar a Carlos Moedas e depois não retomou a linha de ataque, limitou-se a uma frase. Podia, nem que fosse, pôr as peças na mesa para que outros [quadros locais] fizessem o combate por ela”, lamenta-se.

No 24.º Congresso Nacional do PS, que decorreu em Lisboa e que teve a antiga ministra como anfitriã, Temido subiu ao palco para defender o legado de António Costa e Medina à frente da autarquia (uma “governação autárquica do PS gravou a marca de políticas progressistas e de uma visão humanista”) e para criticar o “triste efeito da governação da direita”, considerando que Lisboa “revela hoje uma evidente degradação do seu funcionamento”.

Ao Observador, um autarca socialista em Lisboa lamenta a falta de articulações entre os vários atores. “Não existe coordenação entre o PS/Lisboa, as juntas de freguesia e a autarquia”, assinala. A prova, defende, está patente na “forma como se votam coisas diferentes na Assembleia Municipal e na Câmara”. “Na mesma semana, os vereadores da Câmara chumbaram a carta e a Assembleia Municipal aprovou um voto a apelar a que se vote favoravelmente”, sinaliza a mesma fonte.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para alguns elementos do PS em Lisboa, no entanto, o discurso de Temido ficou aquém do esperado e foi mais uma oportunidade perdida de pressionar Carlos Moedas. Ao Observador, a antiga ministra relativiza as críticas e descarta a responsabilidade que lhe é imputada em relação ao combate político que o PS deve travar em Lisboa. “Não sou candidata autárquica. Numa entrevista em outubro fui questionada sobre se gostava de ter funções autárquicas e disse que sim, mas isso não quer dizer absolutamente nada. Há quem não tenha vida além da política, mas eu tenho, sou administradora hospitalar, vim para a política como ministra da Saúde em 2018 e fiz-me militante do PS em 2021, mas a minha vida não é a política.”

Marta Temido, insistentemente apontada como possível adversária de Moedas em 2025 — a própria já assumiu que “gostava de ser autarca” — diz não ter “qualquer pretensão ou ambição política” e defende que, enquanto líder da concelhia do PS/Lisboa, “tem uma função sobretudo de coordenação interna da linha política e não da responsabilidade política dos seus vários órgãos”.

“É a vez do executivo dos Novos Tempos de governar”

A socialista aproveita também para destacar o “contexto muito específico” em que assumiu funções enquanto presidente da concelhia do PS. Sucedeu a Davide Amado depois de o presidente da Junta de Freguesia de Alcântara ter sido acusado pelo Ministério Público de estar no centro de um esquema de viciação de contratos por ajusto direto que lesou a Santa Casa de Misericórdia. Em julho de 2023, Temido foi a votos e teve 99% — seis meses depois, no entanto, começam a surgir as primeiras críticas internas.

Marta Temido é a prioridade da concelhia PS/Lisboa para integrar lista de deputados

Várias fontes dentro do PS asseguram que, na chegada à presidência da concelhia, a posição de Temido ficou imediatamente clara — a ordem é para que se “aprove o que Moedas apresente” para Lisboa. A ideia é “viabilizar”, “esperar que Moedas incumpra” e, daqui a dois anos, quando a campanha para as eleições autárquicas arrancar, “apontar o dedo” ao que não foi feito, mesmo com a colaboração inequívoca dos socialistas. Nem todos os socialistas em Lisboa, todavia, concordam com a abordagem na oposição “moderada” aos Novos Tempos.

Desde logo, porque a estratégia da antiga ministra coloca em xeque os vereadores socialistas em funções. Como indica ao Observador uma fonte do PS na Câmara Municipal de Lisboa, daqui a dois anos, e verificando-se a candidatura da ex-ministra, Marta Temido “vai querer apresentar a sua visão de cidade”, que será, seguramente, diferente da de Carlos Moedas. Ora, continua a mesma fonte, assinar de cruz as decisões do atual executivo, como parece pretender a antiga ministra, terá um efeito perverso: quando chegar a campanha eleitoral, vai estar a criticar aquilo que o PS na autarquia validou.

Além disso, entre os elementos do PS na autarquia, há quem vá lamentando que Temido, cuja principal e única experiência política é de gabinete ministerial, não envolva mais gente na tomada de decisões.  “Naquilo que é estratégico, o PS local não pode deixar de ter as suas ideias. O processo tem de ser muito mais consensualizado do que decidido por um”, argumenta a mesma fonte.

Em contrapartida, Marta Temido entende que o papel da concelhia do partido se fica pela “harmonização das linhas políticas” e coloca a responsabilidade do lado dos vereadores, deputados municipais e autarcas, que “têm de responder perante quem os elegeu”. “A presidente de concelhia tem uma função sobretudo de coordenação interna do partido e não da responsabilidade política dos seus vários órgãos”, argumenta.

A líder do PS/Lisboa não assume diretamente ter optado pela tal linha moderada em relação ao executivo de Carlos Moedas, mas assinala a importância de “respeitar a legitimidade democrática de quem foi eleito”.”É a vez do executivo dos Novos Tempos de governar a cidade”, recorda. “Os lisboetas nunca perdoariam o PS se não respeitássemos aquela que foi a sua escolha.”

A dirigente socialista não tem dúvidas de que os vereadores e deputados municipais têm assumido o seu papel, mesmo que com “estilos variados, uns mais agressivos, outros mais pausados”. “Não considero que este membros estejam a defraudar as expectativas dos lisboetas, acho que estão a fazer o seu papel de oposição, embora compreenda que haja quem tenha outra posição”, salvaguarda.

"A presidente de concelhia tem uma função sobretudo de coordenação interna do político e não da responsabilidade política dos seus vários órgãos".
Marta Temido

Evitar a vitimização de Moedas

Noutra perspetiva, um outro dirigente socialista relativiza o desconforto interno que se vai sentido em reação a Marta Temido e à estratégia da atual líder da concelhia do PS/Lisboa. Manteve-se a responsabilidade e a serenidade necessária para que exista um adulto na sala. “Se o PS votar contra a não captação do IRS dos lisboetas, por exemplo, as pessoas vão receber zero e isso é grave”, defende.

“O PS é um partido plural e com opiniões para todos os gostos. Ao contrário de outros partidos, não as abafamos”, continua este dirigente socialista, reconhecendo, ainda assim, que há quem defenda “que o PS deveria ter uma postura mais aguerrida e mais combativa” a Carlos Modas, e outros que vão pendido uma “postura mais colaborativa com Carlos Moedas”. “Cada cabeça sua sentença”, remata-se.

Já sobre a forma como a oposição é recebida pelo atual presidente da autarquia, este dirigente socialista argumenta que o líder social-democrata é exímio na arte da “vitimização“, mesmo com a viabilização socialista da maioria das propostas, pelo que “se de um momento para o outro o PS começasse a votar contra”, o efeito seria precisamente aquele que se quer evitar com a estratégia prosseguida por Temido e pelos órgãos locais — colaborar e apaziguar para não dar armas futuras à recandidatura dos Novos Tempos.

A presidente da Concelhia do PS em Lisboa discursou na sessão de abertura do 24º Congresso.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Temido não se prendeu a Pedro Nuno nem a Carneiro. E manteve tudo em aberto

Marta Temido é, até ao momento, o nome mais falado no PS para se candidatar à Câmara de Lisboa e o novo secretário-geral do PS já afirmou que daria uma “excelente” autarca. Na sua intervenção no congresso socialista, a ex-ministra assegurou que o partido “está unido” com Pedro Nuno Santos, colocando-o ao lado de históricos líderes socialistas, de Mário Soares a António Guterres. “Eles representam o socialismo em que acreditamos”, apontou a socialista que, em 2021, quando ainda era ministra teve honras de receber o cartão de militância das mãos do então primeiro-ministro.

Foi António Costa que a nomeou como ministra e o ato simbólico abriu caminho para a consolidação da independente nos quadros do partido. Ao Observador, um autarca do PS lembra que, no recente ato eleitoral interno, após a demissão de António Costa, Temido pôs-se fora do debate, “na expectativa de ver o que acontecia” e “não quis apoiar ninguém”, nem José Luís Carneiro nem Pedro Nuno Santos, mesmo que praticamente “todo o secretariado [de Temido] tenha apoiado” o ministro da Administração Interna do atual Governo demissionário.

A neutralidade nas últimas diretas evitou irritantes com Pedro Nuno Santos e faz de Temido um trunfo para todas as eventualidades. Pedro Nuno Santos pode olhar para a antiga ministra da Saúde como possível candidata a deputada, a Bruxelas ou — e esse parece ser o cenário mais provável nesta altura — como possível candidata à Câmara Municipal de Lisboa. Resta saber se vai conseguir continuar a segurar o aparelho do partido na capital.

Ainda assim, Marta Temido acabou por ser aprovada como primeira prioridade para integrar a lista de candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Lisboa pela Comissão Política da Concelhia socialista da capital. A votação desta sexta-feira, no entanto, esteve longe de ser unânime: o conjunto de nomes, encabeçado por Marta Temido, foi aprovado por maioria, com 30 votos a favor, mas houve 12 votos contra, dois nulos e um branco.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.