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Vencedores

Luís Montenegro

Luís Montenegro conseguiu entregar um Orçamento do Estado que o coloca numa posição confortável: se o documento for viabilizado continua a governar, pelo menos, até março de 2026; se for chumbado, pode vitimizar-se e colocar o ónus na oposição. A forma como lidou com o Chega não o deixa refém de exigências criativas nem da imprevisibilidade de André Ventura. Ao mesmo tempo – apesar de algum desgaste provocado por sucessivas reuniões e contrapropostas com o PS –, Montenegro conseguiu passar a imagem de que fez tudo o que podia para chegar a acordo com o PS e que só não foi mais longe para não defraudar por completo o compromisso eleitoral. No momento em que entrega o OE deixa os seus dois principais adversários com o sentido de voto em aberto, sem saber o que dizer e com sinais públicos de alguma desorientação. Pode agora ficar de cadeirinha à espera da decisão dos outros, que terá de ser tomada, no limite, até 31 de outubro. E, até lá, pode ir utilizando o palco de primeiro-ministro para mostrar ou, no mínimo, lançar obra.

Joaquim Miranda Sarmento

Chegou a ser alvo de bullying parlamentar e outros tantos sorriram quando Rio disse que ele era o seu Centeno. Joaquim Miranda Sarmento não só chegou a ministro das Finanças, como apresentou o seu primeiro orçamento de forma eficaz e esclarecedora, sem grandes jargões técnicos, rococós mediáticos ou laivos de vaidade. Se é mau existir limitação do número de perguntas para os jornalistas (limite de 10), também não faz sentido uma conferência de imprensa de mais de três horas, como fazia Fernando Medina. O modelo foi equilibrado e o ministro das Finanças fez bem em não reagir a uma provocação sobre a infeliz declaração do primeiro-ministro sobre os jornalistas. Optou por privilegiar dar esclarecimentos ao invés de alimentar polémicas com uma expectável defesa do chefe. Chegou a circular que Miranda Sarmento andava a ser escondido por Montenegro, como uma desvalorização, mas ninguém duvida da sua influência nas contas, além da responsabilidade que teve na defesa da existência de um excedente orçamental (ainda que de 0,3%). Apareceu no dia e no momento em que tinha de aparecer e o que dependia de si – pelo menos até à especialidade – está feito. A aprovação política do documento já não é da sua responsabilidade.

[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]

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Vencidos

Pedro Nuno Santos

Pedro Nuno Santos decidiu negociar com Luís Montenegro, mas não conseguiu ver as suas exigências completamente correspondidas. Apesar de ter tido ganhos de causa, reconhecidos por comentadores e políticos, entendeu que não era suficiente para deixar passar o Orçamento. Após Montenegro decretar o fim da negociação, Pedro Nuno Santos reuniu com a bancada e não correu bem: os deputados dividiram-se entre a viabilização (os mais distantes de si, como os ex-ministros José Luís Carneiro e Fernando Medina) e o chumbo. E ainda se irritou. Desde então, no PS ninguém (incluindo o líder na entrevista que deu à TVI/CNN) consegue explicar com clareza a posição do partido e ainda menos para que lado vai cair a decisão. Pelo meio, o primeiro-ministro aproveita para fazer elogios ao PS que mais não são que pressão adicional. Apesar de o PS dizer que não tem pressa para revelar o sentido de voto, há uma imagem de indecisão que está a desgastar o líder do PS.

André Ventura

André Ventura passou de estar desorientado para estar completamente de cabeça perdida. Depois de ter sido totalmente descartado (“humilhado”, nas palavras do próprio) pelo primeiro-ministro nas negociações, Ventura acusa agora Luís Montenegro de mentir. O líder do Chega diz que Montenegro lhe propôs um acordo em privado e que até disse que mais tarde poderia integrar o Governo. Montenegro reagiu com estrondo e devolveu a acusação em maiúsculas na rede social X: “MENTIRA”. É a palavra de Montenegro contra a de Ventura. Mas há algo que ajuda a desempatar: publicamente, Montenegro sempre negou querer negociar com o Chega e, também publicamente, Ventura queixou-se por Montenegro não negociar com ele. A versão de ambos era até agora coincidente, o que ajuda a tornar a nova versão de Ventura menos plausível. Não havendo gravações nunca se saberá a verdade. Montenegro abriu o flanco ao reunir secretamente com Ventura em São Bento (e também com a IL), mas o líder do Chega tem contra o si o facto de já ter sido apanhado várias vezes em falso, como aconteceu com as “forças vivas do PSD” que na campanha lhe prometeram um acordo. Ou quando faltou à palavra na eleição de Aguiar-Branco.

Rui Rocha

Em fevereiro, em plena campanha eleitoral para as legislativas, o líder da Iniciativa Liberal aproveitou um frente a frente com Luís Montenegro para anunciar: “A solução para o país está nesta mesa”. Devia ser uma mesa muito pequenina porque ali não coube nada — nada de nada. Uma pessoa olha atentamente para este Orçamento e percebe que não há ali nenhuma medida especial que tenha saído da cabeça esforçada dos liberais. O PSD até está a negociar coligações pré-eleitorais para as autárquicas do próximo ano com a IL e os dois partidos aparentam, por vezes, estar próximos em vários temas. Mas, na hora da verdade, a Iniciativa Liberal contou zero. Como dizia alguém, as coisas são o que são.

Nuno Melo

Quem?

O silencioso

Marcelo Rebelo de Sousa

Há muitos, muitos anos, um Presidente da República chamado António Ramalho Eanes apresentou-se com o slogan “Não prometo, cumpro”. Desta vez, Marcelo Rebelo de Sousa também cumpriu: disse que ia ficar em silêncio sobre as negociações do Orçamento do Estado e ficou. Ainda falta perceber se essa opção tática foi a mais eficaz. E a eficácia vai medir-se pelos resultados: há Orçamento ou não? Ou, dito de outra maneira: há outra vez eleições antecipadas ou não? Marcelo Rebelo de Sousa sempre foi o homem mais bem informado do país, mas nem ele conhece a resposta a estas perguntas. O Presidente da República, tal como todos nós, vai ter de esperar.