É feio, sabe a mar, resiste à ondulação bem próximo das rochas. O percebes, iguaria marinha que se tornou símbolo de resistência de um Algarve cada vez mais falado em estrangeiro, deu que falar no festival Annecy, um dos maiores eventos de animação do mundo. Isto porque Alexandra Ramires e Laura Gonçalves (ambas da Bap Animation Studios, do Porto, e que já tinham assinado Água Mole, em 2017) terem vencido o Cristal para a melhor curta-metragem com Percebes. O mesmo prémio já tinha sido ganho por por Regina Pessoa e o seu História Trágica com Final Feliz (2005). Mais uma vitória, no ano em que Portugal foi o país escolhido para ser tema principal do festival francês, que premiou a história metafórica entre as gentes do Balarvento algarvio que vivem numa relação de amor/ódio com a região, que veem ora isolada, ora ocupado por ondas de turismo veraneante selvagem.
Antes de se juntarem a nomes fortes da animação portuguesa como David Doutel ou Vasco Sá, no Porto, onde este setor do cinema ferve em prémios e em produções, conseguiram entrar para o Viagem a Cabo Verde, de José Miguel Ribeiro. Só havia lugar para uma, ficaram as duas. Agora, com o que já conseguiram em Annecy, podem mesmo vir a repetir o feito de João Gonzalez e entrar na corrida para os prémios da Academia. Mas não é isso que mas interessa na animação autoral portuguesa. “Se essa seleção acontecer, será bom. Parece é que rouba a atenção toda do filme. O que queremos é falar do impacto. Claro que estar nos Óscares é o melhor que nos pode acontecer ao nível do marketing. Mas parece que depois o que fizemos fica lá ao fundo. O que nos move é fazer o filme”, disse ao Observador Alexandra Ramires.
Como temos vindo a perceber nos tempos mais recentes, o espírito de união nesta indústria continua bem vivo. Quando alguém vence em animação, ganham todos. “É importante dizer que nada disto seria possível para quem surge agora como eu ou a Alexandra, todos viemos com uma caminha bem feita de pessoas que já foram navegando e fazendo cinema para abrir o caminho”, disse Laura Gonçalves. Para já, nenhuma das duas autores está em busca de uma primeira longa-metragem, critério exigido para projeções mediáticas mais altas.
Concordam que o financiamento público nacional, ao contrário das críticas que vem do sector da imagem real, tem ajudado, e muito, a dar a liberdade criativa que tem sido tão reconhecida lá fora. Laura Gonçalves, que costuma pegar nas raízes tal como fez com as memórias do tio emigrado de Belmonte, associou-se a Alexandra Ramires para fazer aquilo que parece impossível fazer em Portugal: falar do turismo a partir de quem o tem de alimentar. Os portugueses que estão nos cafés, nos restaurantes, nos bares, nos hotéis, nos barcos e no mar. “Gostamos de trabalhar temas familiares. O turismo está muito presente nas nossas vidas, apesar da Laura não ser do Algarve, mas eu sim. Tenho amigos com tatuagens de percebes. Vemos autocolantes deste marisco nas paredes no Algarve. É uma relação especial que nem os turistas percebem porque o bicho é feio. A apanha de percebes é poética, violenta, tem adrenalina. Muitas vezes, quem vai para o Algarve diz que estamos sempre de mau-humor, um pouco zangadas. Não, as pessoas estão é cansadas do excesso”, afirmou uma das realizadoras.
[trailer oficial do filme “Percebes”:]
Conversámos o ano passado para fazer um ponto de situação sobre o estado da animação portuguesa na ressaca da nomeação de João Gonzalez aos Óscares. Um ano depois, ganhou, juntamente com a Alexandra, o prémio de melhor curta-metragem em Annecy. Alguma coisa mudou?
Laura Gonçalves (LG) — É o maior festival de animação do mundo. Ganhámos o Grande Prémio, o Cristal. É muito importante a nível autoral, porque falamos de uma competição de curtas, o que nos dá bastante visibilidade. Ou seja, torna o filme mais acessível. E é isso que queremos: que o filme seja visto pelo maior número de pessoas. Assim entramos também na rota dos Óscares. Por Portugal ser o tema principal de Annecy, houve a oportunidade de celebrar o prémio com quem lá estava, de quem não era do nosso estúdio inclusivamente. Com quem fomos crescendo na animação. Foi bonito.
Alexandra Ramires (AR) — Este prémio coloca o nosso filme no mapa. Só tinha sido estreado em Zagreb, com uma escala diferente. A partir daqui, o percurso vai ser bastante bom dentro do que é o universo das curtas e do cinema autoral de animação. Há bem pouco tempo fizemos 100 anos de história, 50 anos do 25 de abril e agora mais um Cristal para Portugal. Todas as peças a bater certo. Agora é surfar esta onda a vários níveis. Não sabemos se toda a gente vai ver o filme. Se isto ajudar a que se fale mais, melhor. Até mais do que os prémios. Isso é que seria bom. É melhor falar daquilo que o filme nos diz do que dos prémios, porque são uma consequência do que fazemos.
Quão difícil é o percurso de um filme como estes no resto do ano? Não é um passeio no parque até aos Óscares, certamente.
AR — Estamos elegíveis, isso é certo. Abriu-se uma das portas. Falar dos Óscares é…
… redutor?
AR — Se acontecer, é bom. Parece é que rouba a atenção toda do filme. O que nós queremos é falar do impacto. Claro que estar nos Óscares é o melhor que nos pode acontecer ao nível do marketing. Mas parece que depois o que fizemos fica lá ao fundo. O que nos move é fazer o filme.
LG — Parece que os melhores filmes vão aos Óscares.
Garantidamente que não.
LG — Exato.
AR — Principalmente em animação. Os que ganham estão muito distantes da nossa realidade, do que fizemos. Não é desvalorizar, é a Academia norte-americana, que é incrível. Mas o nosso cinema tem muito força porque tem uma voz própria, não se cola aos cânones a que a indústria americana se dedica. A poesia das curtas portuguesas é incrível, não a vejo nas animações escolhidas para os Óscares. Não estamos aqui a dizer o que é melhor ou não. Esse cinema tem outras valências.
LG — Estamos a falar de uma realidade ligada à Pixar, por exemplo, na qual não nos revemos mesmo. Ficámos muito contentes com o caminho do João.
AR — E claro que conseguimos citar exemplos de filmes dos Óscares gahadores de que gostamos. Por vezes, parece que os Óscares se zangaram com a animação independente e de autor. O João tem a sua força, outros filmes também a terão. O cinema de autor é a nossa realidade, não é a do filme da Pixar, que, por vezes, nem sabemos quem realizou. Conhecemos o traço da indústria e não do autor. Queremos saber o que cada um tem a dizer e a diversidade que isso traz.
Os prémios colocam sementes na cabeça do público? Vive-se, de facto, um tempo de maturidade neste setor em Portugal?
LG — Temos assistido a uma constante evolução na qualidade dos filmes. Cada geração que vai entrando, vai conseguindo elevar o patamar um pouco mais. É importante dizer que nada disto seria possível para quem surge agora como eu ou a Alexandra se não fosse a caminha bem feita por pessoas que já foram navegando e fazendo cinema para abrir o caminho. A Regina Pessoa, o Abi Feijó, o José Miguel Ribeiro. Estão a ser criadas novas produtoras. Tem existido uma competitividade saudável, estamos sempre a querer melhor do que o nosso último filme. É um sentimento comum. Estamos todos a celebrar as conquistas. Quando se fala destes prémios, não falamos só de uma pessoa. Não chegamos aqui sozinhos.
AR — Esta não é, de facto, uma geração espontânea. A linha artística tem vindo a ser definida. A nível político, temos financiamento público, o que tem valor. Tivemos o ano zero em 2012, mas não houve mais interrupções. Há alíneas que protegem o surgimento de novos autores e estruturas, para se organizarem em cooperativas como a nossa, em colaboração conjunta. Tudo isto faz com que desague aqui, nesta era dourada. No caso da distribuição, a Agência da Curta-Metragem é financiada pelo Instituto de Cinema e Audiovisual. Artisticamente, eles não intervêm. Foi criado um terreno fértil para a liberdade criativa. Se tivéssemos mais investimento privado poderíamos estar como Espanha, por exemplo.
Nos Encontros do Cinema Português falou-se muito da lei do mecenato, questionou-se se as televisões privadas deveriam entrar neste setor. Se as televisões entrassem mais na animação portuguesa, a escala seria outra? Ou iriam perturbar este percurso que tem tido mais financiamento público?
AR — O que vier vem por bem, desde que a liberdade criativa seja salvaguardada. Os autores têm de ser os principais intervenientes deste crescimento. Se as pessoas quiserem investir, tudo bem, mas é preciso perceber porque estamos aqui. O investimento privado não é mau, temos de completar os nossos orçamentos, mas não esquecer o que nos trouxe até aos dias de hoje.
Há séries de animação portuguesas em desenvolvimento, falta animação infantil. O realizador de animação Nuno Beato diz que falta isso para que tenhamos verdadeiramente uma indústria. Seria importante?
LG — Neste momento fazer uma série em Portugal é muito difícil. Somos umas privilegiadas por poder fazer um filme com o apoio do ICA. É muito raro na Europa termos este nível de financiamento e de liberdade. Quanto às séries, há contornos que não conheço tão bem. Estamos a desenvolver o conceito depois de ter garantido um primeiro financiamento. Queremos explorar esta forma de contar histórias por episódios. Existe uma falta de apoio de produção para ser possível. É preciso ir lá fora para as fazer. Só que antes de falarmos do que é preciso, era importante passarem o nosso trabalho na televisão.
AR — NA televisão portuguesa.
LG — Sim.
AR — O Percebes já foi comprado por dois canais lá fora.
LG — Como as pessoas não os veem na televisão, só sabem dos nossos filmes quando ganhamos prémios. E onde veem?
No ano passado programou-se o Ice Merchants no cinema.
AR — Estava a ouvir um podcast em que o Hugo Van der Ding falou do Vasco Granja, de quando ele mostrava imensas curtas antes da Pantera Cor-de-Rosa, que era a chamada “sobremesa” que toda a gente queria comer. Aquilo formou uma geração atenta a este tipo de trabalho na animação. A formação de público tem de ser feita. Os jornalistas têm esse papel, independentemente do gosto do público. Mostrem. Dá-se uma diversidade. Estamos as duas a desenvolver séries diferentes e temos imensas questões. Por vezes, pensamos: não há assim tantos projetos artísticos porque não há autores ou porque há atrito face ao trabalho com cunho autoral? Estamos dependentes de compras de outros países. A série da Laura centra-se em mulheres portuguesas e temos receio do público que poderemos trazer fora de Portugal. Se não houver esse público, compromete a pré-compra e a série não avança. Faz-nos andar para trás e para a frente e deixa-nos a achar que não vai ter recetividade. Mas é preciso arriscar além desse pensamento de negócio. Temos de dar uma patine igual a tudo o que se faz ou fazer o que queremos? Uma série como o Percebes seria difícil. Ninguém conhece o bicho. É em português, nunca vamos dobrar as vozes. Por mais que fosse fácil contar em episódios. Seria difícil fazer a montagem financeira no mercado.
LG — Há uma tendência em agradar a algum investidor que faça sentido. E isso já é limitador.
AR — Tenho um miúdo pequeno e pus-me a ver a antiga Rua Sésamo. Tinha algo muito bom: era internacional, cada país adaptou a sua realidade. Mesmo como formato comprado. Hoje, as séries mais atuais para as crianças parecem ser muito universais, o que é bom para vendas, mas sinto falta de conteúdos da nossa identidade. De algo mais familiar.
Depois de Homem do Lixo, a Laura sentiu, da parte dos programadores e distribuidores, que havia mais interesse na animação no país?
LG — Existiu essa vontade. Ter estado na shortlist dos Óscares trouxe uma espécie de selo de qualidade. Portanto, quiseram exibi-lo antes de longas-metragens. No entanto, não existe continuidade. Não sei bem responder. Como as pessoas não veem muitas curtas-metragens e são associadas a uma faixa etária específica, rapidamente esquecem. Tem de haver formação de público. Os festivais já o fazem. Sinto mais abertura, sim, em alguns espaços culturais. Acho que pode haver mais. Mas nem toda a gente quer. Tivemos essa discussão com o João Gonzalez e o Filipe Melo em várias sessões. Vi o primeiro filme do Filipe Melo porque estava a abrir o Exorcista, era estudante, não sabia onde ver, então fui a um cinema de propósito na Covilhã. Há muitos autores que não gostam de mostrar as suas curtas antes de longas ou vice-versa. Porque, por alguma razão, isso pode interferir com a essência do filme. Essa não é a minha opinião. É muito importante as pessoas serem surpreendidas.
Falemos de Percebes. Conseguiram arranjar uma forma de falar do turismo com alguma consequência. Porquê contar assim esta história?
AR — Estudei em Belas Artes em Lisboa. Quando chegámos à capital, era engraçado porque a cidade ficava vazia. Falava com carinho da meia dúzia de turistas. Depois começou a crescer. Uma das coisas que nos fascinou mais no Porto foi que não havia tanto turismo, agora é igual. E vinha do Algarve antes da faculdade. De uma certa forma, parece que estou a fugir de sítios turísticos. Vivia na praia da Rocha, atenção. O verão sempre foi algo angustiante para mim. E isto foi um tema em conversas com a Laura, as transformações das cidades por causa do turismo. Tudo começou no Algarve nos anos 70, a paisagem mudou drasticamente. No Porto, vemos tudo em inglês, no Algarve já acontece há muito tempo.
O Allgarve.
AR — Exatamente. Muita da minha vida ainda é lá. também falei com pessoas que já não conseguem voltar. Têm uma relação de repulsa e de amor. Trabalhar em áreas culturais… Agora começa a haver alguns festivais. Gostamos de trabalhar temas familiares de certa forma. O turismo está muito presente nas nossas vidas, apesar da Laura não ser do Algarve. A ilustração disto acabava, do meu lado, por vir dessa região. Pegámos neste bicho porque tem muito a ver com o que sentimos por estas pessoas. Tenho amigos com tatuagens de percebes. Vemos autocolantes deste marisco nas paredes no Algarve. É uma relação especial que nem os turistas percebem, porque o bicho é feio. A apanha de percebes é poética, violenta, tem adrenalina. Muitas vezes, quem vai para o Algarve diz que estamos sempre de mau-humor, um pouco zangadas. Não, as pessoas estão cansadas do excesso. O bicho também é feio mas está cansado e é especial. A levar sempre com as ondas. É essa a metáfora, de quem leva com o turismo e dos percebes que levam com as ondas.
Laura, costuma trabalhar as suas raízes no seu cinema, aqui foi uma estrangeira ou não se sentiu assim?
LG — Não me senti, não. Estive com a Alexandra num círculo de amigos, fizemos grandes mariscadas e não enquanto turista. A minha visão é de fora, claro. No Porto, dizemos que o algarvio, quando se bate a porta, esconde tudo. É de alguém que está sempre desconfiado dos outros. Claro que depois percebemos que há muito carinho.
Temos algum medo de falar uns dos outros em Portugal.
LG — Não é medo…
Talvez timidez?
LG — A verdade é que nunca disse isto à Alexandra.
AR — Mas, Laura, tu não vieste como turista. Não foste só usar o sol e a praia. Isso muda a perceção. Também sou algarvia emprestada, fui viver para lá com sete anos. Senti dificuldade em integrar-me. Não é algo imediato. Quando passas a barreira, há toda uma magia ali.
LG — Nunca passei férias no Algarve. A minha irmã é que vai muitas vezes. Diz que, de facto, existe algum cansaço daquelas gentes. É muito exaustivo estar a receber pessoas o ano inteiro e, depois, quando vem o bom tempo, ter de estar a trabalhar. Percebo estas pessoas ainda mais depois de ter falado com elas, de ter feito o filme, de as ter entrevistado. Enquanto realizador, colocamo-nos nos sapatos das pessoas. Cresce-se muito assim.
AR — Quisemos dar voz a quem não é ouvido. Raramente oiço estes discursos.
Este filme fez-me lembrar os filmes do Basil da Cunha, que anda a filmar a Reboleira para a preservar, porque está à beira de deixar de existir. O cinema pode preservar um Algarve que já não existe?
AR — É angustiante. Sinto uma utopia com o cinema. Pode ser uma ferramenta forte para lançarmos para cima da mesa coisas que podem vir a mudar. Tentámos colocar muita construção, há um plano da cidade com muitas obras e poucas chaminés algarvias. E isto acontece agora. Se pudermos falar disto, melhor. É meio utópico, mas se as pessoas refletirem sobre este nível de construção, talvez pensem que é necessário recuperar as típicas casas algarvias, por exemplo. Quando nos referimos ao Algarve, no filme, falamos do Barlavento algarvio. Ao ver filmes com 40 anos, penso: será que ainda é possível visitar estes sítios? Adoraria ver as máscaras da Noémia Delgado, ver tudo isto sem tantas máquinas fotográficas. Temos a ambição de nos questionarmos sobre para onde nos movemos a seguir. Sei que as possibilidades são poucas, mas colocamos o assunto no mapa. Até que ponto vale a pena? Precisamos de falar do turismo sustentável. Somos contra o excesso de consumo, da terra e das pessoas. Não temos muito poder mas podemos colocar uma sementinha para falarmos sobre isto.
Como é que explicariam como se faz um filme destes a uma criança?
LG — É muito difícil… Fazemos um ping-pong que é difícil de explicar até porque depende das fases. Trabalhamos muito em cima do trabalho uma da outra. Uma faz, outra revê. Escrevemos em conjunto. Separamos as águas na parte visual, em que trabalho mais as personagens e a Alexandra os backgrounds.
Sempre uma ao lado da outra porque trabalham na mesma produtora.
LG — Sim, sim. Seja nos filmes dos outros ou nos nossos.
Escrevem primeiro a história? O método mudou muito desde O Homem do Lixo?
LG — É sempre muito diferente. A Regina Guimarães ajudou-nos a juntar as peças todas no percurso, desde a apanha até às ondas finais.
AR — Em relação ao nosso primeiro filme, o Água Mole [2017], puxei da edição, ela puxou da técnica. O que acontece é que a Laura faz o modelsheet [ficha modelo], não está a atinar com os óculos, depois não estamos a atinar com a montanha, o enquadramento está a falhar. Ou seja, uma de nós pode começar mais no cenário, mas depois tudo se funde. Há um dia em que escrevo muito texto, mas a Laura acrescenta mais cinco cenas no mesmo documento. O processo demora mais, sim, mas traz uma partilha que nos deixa muito orgulhosas, apesar de ser mais tramada de atingir.
[trailer oficial do filme Água Mole:]
LG — É o contributo das duas. Entrámos no mundo da animação juntas. No Viagem a Cabo Verde [2010], do José Miguel Ribeiro. Criou uma grande ligação entre nós. Depois fomos para o Porto, começámos a trabalhar no Bando à Parte e fizemos o Água Mole. Havia esse background. Ajudou muito a cimentar a nossa relação.
AR — Na cooperativa pensamos que, de facto, a cooperação puxa carroça. Já o realizámos sozinhas, claro. Mas há sempre muitas mãos à mistura. A cooperação leva-nos longe. E é o que nos une. Nem sempre é fácil. Há vezes em que não concordamos, temos de debater o que é melhor para o filme e ceder. Na BAP Animation Studios, como fazemos vários tipos de trabalho, do David Doutel, do Vasco Sá, do Vítor Hugo, até nós, trabalhamos em várias frentes. Temos dois ou três filmes, se não há trabalho de animação, há de pintura, há de direção de produção ou de gestão do estúdio. É preciso manter este volume e manter um determinado número de projetos apoiados. Vamos ter a longa do David e do Vasco e mais curtas a acontecer. A estabilidade é muito importante. A ideia de recibos verdes é de evitar. Queremos que as pessoas sintam que têm um ordenado. Não é fazer dois segundos de animação e num determinado mês não pagar renda.
É muito chato quando perguntam sobre uma primeira longa-metragem?
LG — Gostava de a fazer, sim. Não tenho planos, para já. Gosto muito de usar as curtas, mas quero explorar outros formatos. Não sou purista.
AR — Se tiver uma ideia que faça sentido e uma equipa que queira trabalhar connosco, siga. Podemos manter o lado autoral numa longa. Ainda não é para já, mas sim, pode vir a acontecer.