Numa década, Plutonio passou de um rapper com pouca expressão para se tornar numa das maiores estrelas pop nacionais. A 28 de fevereiro de 2025, apresenta-se em nome próprio numa das maiores e mais emblemáticas salas do país, a MEO Arena, em Lisboa, palco onde vai apresentar as canções do novo álbum, Carta de Alforria — que referencia o documento que outrora proclamava a libertação de um escravo.
Há algum tempo que o músico de 39 anos andava a deixar pistas sobre este disco, que só foi anunciado oficialmente há poucos dias (e editado a 8 de novembro). Em 2021, na trilogia de singles Pão na Mesa, um tag numa parede já revelava o título deste álbum. No ano seguinte, definia “carta de alforria” numa conversa paralela num sketch do humorista Pedro Teixeira da Mota. Quando em maio celebrou a conquista do campeonato do Sporting com uma atuação no Marquês de Pombal perante os adeptos do clube, ostentava uma camisola dos leões com um “8 de novembro” nas costas. No passado mês de outubro, quando lançou sem aviso o single Luxemburgo, o videoclip foi gravado no Palácio dos Marqueses de Pombal, em Oeiras — onde viveu o célebre político português que foi responsável por implementar algumas das medidas que limitaram e contribuíram para abolir a escravatura em Portugal.
Nada com Plutonio é por acaso, faz tudo parte de um pensamento estratégico, fruto de muito trabalho e dedicação, que o levou a transformar-se num astro no panorama da música lusófona. Nos últimos anos, tornou-se num atleta de alta competição, num profissional que faz dezenas de concertos e grava dezenas de músicas por ano e que raramente tem tempo para descanso. Foi uma subida a pulso, vertiginosa. Este novo álbum reflete muito a sua visão perante o sucesso — e lembra que, apesar de tudo o que conquistou, continua a ser um homem negro criado num bairro social da periferia de Lisboa, características que o tornam ainda um alvo de preconceito racial e violência policial. Sobretudo quando fala desses mesmos assuntos nas suas letras.
[“Carta de Alforria”, o novo álbum de Plutonio, disponível na íntegra no Spotify:]
“Os ouvintes têm sido a minha companhia e é importante continuar a passar uma mensagem honesta, de acordo com o que é a minha verdade hoje em dia”, explica ao Observador. “Infelizmente há coisas que não mudaram com o sucesso. E é importante lembrar que isto é feito de muito trabalho, muita dedicação, muitos sacrifícios e nem sempre é um mar de rosas.”
Um álbum que tanto aborda o sucesso como os problemas que não mudaram: a discriminação e a violência policial
Desde que o rap começou a ganhar expressão comercial de forma generalizada nos Estados Unidos da América, a partir dos anos 80, que se tornou uma ferramenta de mobilidade social. Tal como o desporto, passou a ser encarado por muitos como uma forma de ultrapassar um contexto de pobreza e de problemas sociais, um caminho para ter uma vida melhor enquanto expressa artisticamente as vivências de certas comunidades. Em Portugal, mesmo que numa escala diferente, a realidade não é assim tão distante.
“O conceito da Carta de Alforria tem muito a ver com a posição em que a música me pôs, com aquilo que a música me permitiu fazer, a liberdade que eu atingi. Venho do Bairro da Cruz Vermelha, é difícil conseguires sair daquele estilo de vida, e a música foi o que me permitiu sair. Mas não foi propriamente uma coisa que me deram. Foi algo que eu tive de ir buscar, tive de trabalhar para isso, tive de fazer sacrifícios, quase que para comprar a minha carta de alforria. Ela não me foi dada.”
Em País das Maravilhas, a primeira e uma das mais representativas canções do álbum, Plutonio evoca uma das suas principais referências, o rapper Chullage. Canta sobre ter chegado à conclusão de que “liberdade é uma ilusão, igualdade é uma ilusão”. Diz-se “discriminado”, fala dos “tropas que nasceram cá mas que cresceram sem documentos”, que “saudade é uma palavra que o SEF não traduz”, que transformou a sua “dor em poesia”.
“Ainda tenho os meus irmãos e os meus amigos a viver no bairro”, conta. “Todos os dias estou com eles, vou depois de trabalhar no estúdio. São coisas que não te deixam, apesar do sucesso. Tens amigos que param contigo todos os dias, mas eles não trabalham na música, têm outro estilo de vida, de repente acontece um azar maior…”
Plutonio refere-se ao episódio em que, tal como relata no mesmo tema, estava a fazer um concerto importante em Paris, ao mesmo tempo que um dos seus melhores amigos estava a ser detido em Portugal. “Acabo o espetáculo, tinha imensas chamadas não atendidas, e o meu amigo tinha acabado de ser preso. E era a pessoa que passava mais tempo comigo no dia a dia. É muito sobre este contraste de que falo neste álbum, é algo que marca a minha vida neste momento.”
No álbum que serviu como rampa de lançamento e que o colocou no estrelato, Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor (2019), tem uma canção intitulada Sr. Guarda. “É uma crítica ao abuso policial, algo sobre o qual sempre falei, e foi uma música que acabou por me trazer um monte de problemas com a polícia. Já os tinha, no meu passado, e com aquela música foi como se eles batessem o pé: ‘a partir de agora temos aqui um problema sempre que te encontrarmos’. Tanto que isso resultou num processo [judicial] que está em andamento, no qual fui vítima.”
Em 2021, relatava na série Acoustic Home, da HBO Max, como cerca de uma década antes tinha sido levado para a esquadra da GNR, algemado e sido vítima de uma série de agressões e humilhações. “É quase como se fosse uma guerra entre a polícia e os moradores do bairro”, apontava na altura. “Nada disto tem a ver com proteger as pessoas.”
Após a morte de Odair Moniz, alvejado por um agente da PSP na Cova da Moura (e depois dos subsequentes desacatos que se espalharam pelas periferias de Lisboa), Plutonio reagiu publicamente para apelar à resolução daquilo que diz ser um problema originado num “sistema que falha constantemente a ambas as partes”. “Portugal é uma casa onde os bairros são tratados como anexos, mas não podemos esquecer de que o anexo também faz parte da casa”, escreveu no Instagram.
Ao Observador, reafirma que esta tem de ser uma “questão central” e não “periférica”. “Gostava que os problemas se resolvessem e que as pessoas deixassem só de se revoltar quando há casos que chocam. Tem de ser um trabalho contínuo, só assim haverá melhorias significativas. Há coisas que acontecem agora que são iguais às que aconteciam há 20 anos, eu via-o no meu bairro. Mas é importante, enquanto sociedade, enquanto um Portugal de todos, olharmos para estes casos e arranjarmos uma forma de melhorarmos o país de todos. Deveríamos tentar aprender com outros países que possam já estar mais evoluídos nisto, antes que estes problemas se comecem a refletir na forma como o povo eventualmente se pode expressar; porque às vezes pode não ser da melhor maneira.”
Carta de Alforria é um disco com uma particular consciência de classe, que afirma que nem todo o sucesso do mundo o torna imune à discriminação ou à violência policial.
[o vídeo de “Como 1 Rei”:]
“Enquanto músico, acima de tudo o importante é fazer boa música. Mas, enquanto pessoa, sinto que ao mesmo tempo é importante passar certas mensagens. Cada um de nós deve preocupar-se em ser uma boa pessoa no dia a dia, e não esperar pelas pessoas que possam ter um posicionamento especial, que têm de ser os que vão solucionar tudo. Acima de tudo, é no dia a dia: se vires alguém a tratar mal outra pessoa porque está mal-vestida, porque tem um tom de pele diferente, ou porque não tinha dinheiro para alguma coisa… Tens de te chegar à frente e chamares a atenção. A longo prazo, se cada um fizer a sua parte, vai fazer a diferença. Ao mesmo tempo, devemos alertar; mas também fazer um trabalho interno. Aí é que está a verdadeira mudança e é o que tento fazer. Faço a minha música, a minha música não é propriamente sobre política, não é uma área que eu tenha estudado para ser um profissional, mas enquanto cidadão tenho mensagens que se podem relacionar com as outras pessoas. E faço o meu papel todos os dias como pessoa.”
Quando olhamos hoje para o panorama nacional, não faltam exemplos de músicos ou desportistas, sobretudo, que cresceram em bairros sociais ou em contextos de pobreza e que conseguiram ultrapassar as adversidades e as desvantagens para se tornarem casos de sucesso.
“É importante que exista essa representatividade para as novas gerações. Na minha altura havia mais no futebol, mas, lá está, nem todos têm jeito para o futebol. Eu não tinha, encontrei uma outra forma. Mas não tem que ser sempre com base no talento, pode ser com base na dedicação e na disciplina. Pode ser num bom trabalho, enquanto professor, enquanto polícia, enquanto político… Importante é motivar as pessoas e sinto, com o feedback que vou tendo, que certas músicas minhas têm sido banda sonora na vida de algumas pessoas, nesse sentido positivo.”
Plutonio lembra Bob Marley, o seu “artista favorito”, e como a lenda do reggae foi fundamental durante a sua adolescência. “Quando ouvia as músicas dele, parecia que estava num mundo à parte. E acho que isso é o mais importante que podemos passar aos próximos.”
Um disco feito de forma livre e descomprometida: “Não escrevi uma única letra deste álbum”
Esta liberdade, conceito ambíguo que percorre o disco, refletiu-se de forma positiva durante o processo de construção de Carta de Alforria. Plutonio explica que o “à vontade” que ganhou em estúdio nos últimos anos — nos quais também lançou o disco Ordem & Progresso, que o juntou a uma série de artistas brasileiros; e o EP Anti$$ocial, com o português Lon3r Johny — fez com que estivesse num estado de espírito muito mais “livre” para criar.
“Venho de um género que, no meu início, era muito quadrado e fechado. Se uma pessoa vinha com melodias, auto-tune ou temas de amor, era complicado. E é importante passar aos outros artistas e não só, que vêm de onde eu venho, que é na boa para um rapper de um bairro fazer uma canção de amor. Ou fazer um som mais melódico ou com uma mensagem mais motivacional. O estatuto musical também me deu essa liberdade, para me sentir bem com isso”, explica.
De Sam The Kid a Charlie Beats, passando por Progvid ou DJ Dadda, Migz ou Ariel, Plutonio quis trabalhar com uma série de compositores e produtores diferentes. Desta vez, explica, o processo de criação foi mais orgânico e instintivo.
“Nunca fui para o estúdio com coisas já feitas. Não escrevi uma única letra deste álbum. O microfone estava ligado, eu dizia: ‘mete aí um instrumental. Não sei bem o que quero, mete o que tens. Quando ouvir uma cena de que goste, paramos e começamos’. Musicalmente, fui parar a lugares que não estavam planeados. Antes, se calhar achava que precisava de um beat assim ou assado, com um piano ou uma guitarra, mais trap ou mais aquilo. Foi um álbum mais livre e trouxe-me resultados de que não estava à espera. Foi tudo feito de forma natural.”
Nas letras, conta, atingiu também resultados distintos. “Cheguei a duplos sentidos diferentes, métricas melódicas e com terminações rímicas diferentes. Só acontece quando estás a inventar e a experimentar tudo. Gosto de me meter nessa posição, meio que me obriga a estar sob pressão. Vamos para o estúdio: se encontrarmos o instrumental, temos que fazer o som até ao fim. O que aprendi muito com o processo foi que o primeiro sentimento que uma música te dá já lá está, demores uma semana ou um mês a escrever. É só programares a cabeça para: estou aqui, vou fazer. No pior dos casos, se não gostar, não lanço. Ou amanhã apago o verso e faço outro.”
Ao todo, revela, ficaram 25 músicas gravadas fora do disco. Ainda assim, Carta de Alforria é um álbum longo, dividido em duas partes de 11 temas — que ultrapassa o alinhamento, já por si extenso, de Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor, que somava 18 faixas.
“Gosto de álbuns grandes e complexos. Quando um artista de quem gosto volta a entrar na minha vida com um álbum que tenha um conceito, gosto que ele passe tempo na minha vida e eu tenha tempo para imaginar em que ponto é que ele está, o que é que ele realmente quer dizer, que mensagens é que estão escondidas, que pormenores ligam as músicas… Sendo um amante de obras longas, senti que fazia sentido para mim, depois deste tempo em que estive afastado do público a solo, voltar com um álbum com esta dimensão.”
Menos de quatro meses para “o concerto mais importante” da sua vida
Para anunciar o concerto na MEO Arena para 28 de fevereiro de 2025, Plutonio foi mais longe do que os seus pares — demonstrando precisamente a dedicação e empenho de que fala — e gravou um pequeno tema com videoclip que serviu de anúncio. Será, nas suas palavras, “o concerto mais importante” da sua vida até agora, embora já tenha tocado de norte a sul de Portugal e em diversos outros países.
Em 2020, celebrara o Dia dos Namorados com um espetáculo a solo no Coliseu dos Recreios. Agora é a vez de elevar o nível e de tocar na MEO Arena, uma sala onde se contam pelos dedos de uma mão os artistas portugueses do universo hip hop que já por lá passaram em nome próprio — depois do fenómeno Da Weasel, Slow J parece ter aberto portas para outros dos nomes que estão na linha da frente do rap nacional, enquanto casos de popularidade massiva. Embora não seja rapper, não se pode deixar de mencionar o caso de Richie Campbell, que nos últimos anos construiu um império em torno do seu R&B e dancehall, tornando-se numa das grandes referências nacionais da música urbana, e tendo ele sido decisivo na carreira de Plutonio.
“O coliseu foi super importante naquela altura, mas quando o fiz sabia que havia uma sala chamada MEO Arena, que é outra história. A responsabilidade também é maior, então quero dar um concerto ainda melhor. O coliseu foi o melhor concerto da minha vida, a melhor experiência que tive com o público, mas entretanto houve músicas que ganharam uma dimensão que não tinham, houve projetos lançados, fiz outras relações na música que agora gostaria de apresentar no palco da MEO Arena, então acho que vai ser um concerto ainda mais especial”, explica.
Para Plutonio, pisar um palco como aquele também representa mais uma etapa de superação no seu trajeto. “Dentro da indústria da música, também existe preconceito. Existem pessoas que, apesar de teres os números, de fazeres os palcos, de chegares aos públicos… Nem todas as pessoas te veem com os mesmos olhos”, afirma. Em Luxemburgo, rima precisamente sobre isso: “Entrei na indústria sem convite/Mas claro que ainda sou escuro demais p’a ser elite”.
“Por questões que às vezes são pessoais, podes nem entrar em certos patamares. Por isso, isto também é: vocês não acreditavam, vocês ainda duvidam, mas se havia algum tipo de dúvida, temos aqui a confirmação de que este género musical também tem espaço, também é importante e que estes artistas também são cultura portuguesa”, remata.
“Hoje, não há dúvida de que há mais casos de sucesso, de pessoas que vieram de bairros e não só. Temos tido mais artistas do hip hop a ocuparem palcos, salas, os headphones e as colunas das casas das pessoas e isso é o mais importante. Houve quem tivesse aberto portas para outros, que depois abriram outras portas, até chegar ao ponto em que estamos de portas, portões e janelas abertos para a música urbana.”
Do Brasil a África, passando pela política e os feats: as portas que Plutonio ainda quer abrir
Chegar à MEO Arena é um patamar difícil de superar, mas Plutonio tem ideia de várias outras coisas que pretende alcançar. Por um lado, aquilo que gosta realmente de fazer é música, e nesse sentido diz ter ainda muito por explorar.
“Quero fazer coisas com outros artistas, não tenho muitas participações com os meus colegas, e no próximo álbum a solo, que já tem um título manifestado, quero fazer diferente, quero ter feats. Há muita coisa que ainda quero experimentar. Até porque gosto de estar com outros artistas em estúdio, gostava de acompanhar outros projetos e de poder fazer por um artista aquilo que o Richie [Campbell] fez com a minha carreira. Não me posso queixar, mas ainda há muito para fazer. Há muitos palcos para tocar, muita música para lançar, muitos projetos para concretizar.”
Quando no ano passado lançou Ordem & Progresso, o disco foi visto, naturalmente, como uma tentativa de Plutonio de singrar no maior mercado de língua portuguesa, o Brasil — onde são muito raros os casos de sucesso da música portuguesa. Mesmo os artistas que conseguem tocar e ter um público no país sul-americano, costumam estar circunscritos a circuitos de nicho — mesmo que esses nichos possam ser alargados num território daquela dimensão, com uma população de mais de 216 milhões de pessoas.
“O Ordem & Progresso aconteceu de forma natural. Primeiro fui contactado por um produtor brasileiro para fazer alguns trabalhos, ele apresentou-me a outros artistas, fizemos músicas… Como tinha músicas suficientes, acabou por se tornar um projeto. Não queria propriamente juntar àquilo ao meu álbum porque fugia do conceito, mas queria que as músicas ganhassem vida. Achei interessante fazer esta conexão entre Portugal e o Brasil, até porque, falando a mesma língua, só fazia sentido. Por consequência, tive mais ouvintes brasileiros, mais convites brasileiros e tenho participações em projetos de lá que eventualmente hão-de sair. Quanto à continuidade sobre futuros volumes, não é algo em que eu tenha pensado, mas sem dúvida que quero continuar a fazer música com artistas brasileiros. Este projeto foi importante para incentivar a que haja mais ligações.”
Com raízes moçambicanas, Plutonio também se tem vindo a tornar num nome de peso nos PALOP. Já tocou em Cabo Verde, Angola, Moçambique e para as comunidades portuguesas e afrodescendentes espalhadas pela Europa fora. Com o lançamento do Spotify em Angola nos últimos anos e a expansão do digital nestes mercados, o artista acredita que o mercado lusófono tem muito potencial e que será cada vez mais natural para músicos portugueses fazerem carreira num circuito mais internacional.
“Lanço um álbum à meia-noite e sei que automaticamente a minha música está disponível lá. Não é como antigamente, em que tinha de sair um CD daqui e até chegar lá… E mesmo assim não estava acessível a todas as pessoas. Hoje esta internacionalização é mais fácil de acontecer e os resultados disso estão à mostra. Quero continuar a fazer este trabalho. Temos um mercado cada vez maior e há espaço e margem para continuar a crescer. Acho que vai crescer de uma forma gigantesca nos próximos cinco anos.”
Quanto a outras ambições, há vários anos que comenta publicamente que deseja um dia ser o presidente da Junta de Freguesia de Alcabideche, onde fica o seu Bairro da Cruz Vermelha, no concelho de Cascais. Entre risos, confirma que o desejo se mantém e que é “sério”.
“Não é uma coisa que eu tenha de planear. É algo que quero e acredito que possa acontecer. Quando for o momento, vou sentir. Há certas mudanças que só podes fazer se estiveres dentro. Há mudanças na indústria musical que ajudei a fazer ou que tento fazer por dentro. Nos bairros é igual. Acho que poderia dar um contributo no sentido de dar uma perspetiva diferente sobre os assuntos. O mesmo objeto, de outro ângulo, pode parecer diferente. Sinto que, muitas vezes, há uma falta de convivência [com a classe política]. Se te sentares connosco, vais ver que ninguém é selvagem, ninguém é assim tão mau ou quer o mal dos outros. São pessoas que querem uma vida melhor e muitas delas não sabem e, por vezes, na circunstância em que estás, é mais fácil fazeres o pior do que o melhor. É importante convivermos uns com os outros, nem que seja para percebermos que, no final do dia, somos todos iguais.”