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HUGO GUERRA/LUSA

HUGO GUERRA/LUSA

Porque quer a Oi dizer "tchau" à Portugal Telecom?

Um mega-operador luso-brasileiro? O projeto poderá, afinal, morrer antes de ter verdadeiramente nascido. O que está a correr mal e porque ficou a fusão, subitamente, em risco?

A fusão da Portugal Telecom e da brasileira Oi, com vista à criação de um mega-operador luso-brasileiro no setor das telecomunicações, arrisca morrer quase à nascença. O afastamento entre as duas empresas, que agora pode levar à venda da PT Portugal aos franceses da Altice – ou a outro interessado que possa surgir –, terá sido menos súbito do que aquilo que pode parecer à primeira vista. O clima de impaciência cresceu à medida que a quota de mercado diminuiu, mas pode ter sido a ligação da PT ao escândalo do Grupo Espírito Santo a “gota” que está a fazer transbordar o “copo” de tensões entre portugueses e brasileiros.

Cerca de um ano após o anúncio da fusão entre a Oi e a Portugal Telecom, as duas empresas parecem cada vez mais estar a caminhar em sentidos opostos. São várias, nesta altura, as peças em movimento no mercado das telecomunicações no Brasil (e não só) e a disponibilidade aparente da TIM Brasil – controlada pelos italianos da Telecom Italia – para comprar ou ser comprada “estará a levar os acionistas brasileiros a rever a estratégia imaginada aquando da fusão”, diz ao Observador Javier Borrachero, analista da casa de investimento Kepler Cheuvreux, em Madrid.

Javier Borrachero mantém a convicção de que o “casamento” entre a Oi e a Portugal Telecom está para durar, “até porque este sempre foi um projeto com motivações políticas, que transcendem as questões puramente financeiras e estratégicas”. Mas reconhece que, cada vez mais, os sinais que chegam ao mercado apontam em sentido contrário. Tanto a Oi como a TIM Brasil estão já a recorrer aos serviços de consultores financeiros para estudar formas de criar um “gigante” brasileiro que ficaria com 46% da quota do mercado móvel e 28% na banda larga.

Javier Borrachero, analista da Kepler Chevreux, ainda acredita que o "casamento" entre PT e Oi está para durar. "Até porque este sempre foi um projeto com motivações políticas, que transcendem as questões puramente financeiras e estratégicas", assinala.

A Oi voltou em julho a descer no mercado das telecomunicações móveis, para 18,5%. Investir na conquista de quota de mercado não parece ser opção, já que a situação financeira continua precária apesar do aumento de capital realizado na primavera. “A Oi continua a gerar menos fluxo de caixa (‘cash flow’) do que os encargos financeiros que suporta com o serviço da dívida [que supera o equivalente a 15 mil milhões de euros]”, aponta o analista Javier Borrachero. Do outro lado está a TIM Brasil, que cobiça a presença nas comunicações fixas da Oi com vista a apostar, futuramente, nos serviços de “quadruple-play”, ou seja, ofertas conjuntas de televisão paga, telefone fixo, internet e móvel.

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A Oi continua a perder quota de mercado nas telecomunições, mesmo depois da fusão com a PT.

MARCELO SAYAO/EPA

PT Portugal como dano colateral?

É neste contexto que um possível negócio entre a Oi e a TIM Brasil, sejam quais forem os moldes em que este possa acontecer, estará a agradar cada vez mais aos acionistas de ambas as empresas. A posição financeira precária e a possível mudança de estratégia podem tornar inevitável o “divórcio” com a Portugal Telecom, ou seja, a venda dos ativos portugueses que passaram para a nova empresa – a que foi dado o nome de CorpCo – no âmbito da fusão. As notícias que apontam para a substituição de Zeinal Bava na liderança da Oi são a face mais visível de que algo está para acontecer.

E há, também, o interesse dos franceses da Altice nas operações da PT em Portugal. Segundo o Jornal de Negócios, os donos da Oni e da Cabovisão já estão a negociar com a Oi a compra dos ativos portugueses, entre os quais a marca Meo. O Diário Económico avança que a Altice, liderada pelo milionário Patrick Drahi,  contratou os bancos Goldman Sachs e Morgan Stanley para assessorarem uma eventual proposta de compra dos ativos da PT Portugal. “A confirmar-se [a separação da Oi e da PT], será o desfazer de uma operação que tinha sido bandeira dos dois lados do Atlântico”, afirma Pedro Rodrigues, analista da sala de mercados do Montepio. “Todo o plano original, que passava por a PT tornar-se o maior acionista de uma operadora brasileira para depois juntar as duas posições e criar um grande operador luso-brasileiro, vai acabar sem ter começado verdadeiramente”, defende o especialista.

A francesa Altice, liderada pelo milionário Patrick Drahi, foi a primeira a emergir como interessada na PT Portugal. Telefónica e Vodafone também terão interesse, diz o Diário Económico.

AFP/Getty Images

“Sabendo que alguns dos acionistas brasileiros da Oi não têm grande capacidade para fazer mais investimentos na Oi, possivelmente estará a haver uma mudança de estratégia por parte desses acionistas”, realça Pedro Rodrigues, analista do Montepio. Sobretudo depois de a espanhola Telefónica – antiga parceira da Portugal Telecom na Vivo – ter investido sete mil milhões de euros na aquisição da GVT, a unidade de banda larga que pertencia aos franceses da Vivendi. Com esta operação, a Telefónica aproximou a sua quota do mercado de banda larga, agora de 30%, dos 32% pertencentes à América Móvil, do bilionário mexicano Carlos Slim.

A mesma Telefónica surgiu nesta terça-feira como um dos possíveis interessados na PT Portugal. A empresa espanhola está “atenta” a este processo, diz o Diário Económico. O mesmo jornal acrescenta que a Vodafone poderá também estar na corrida. À atenção dos interessados: segundo o Jornal de Negócios e o Diário Económico, o BESI já fez as contas: quem quiser comprar a PT Portugal terá de pagar “aproximadamente 6,7 mil milhões de euros”. É a este valor que o banco de investimento avalia os ativos portugueses. Também estes analistas concordam que “a única explicação possível para a Oi considerar essa opção seria a necessidade de levantar fundos para avançar com uma possível aquisição da TIM Brasil”.

A Oi indicou terça-feira, em comunicado, que "até a presente data, não existe decisão visando à alienação de seus ativos em Portugal, nem tampouco recebeu qualquer proposta para isso". Mas nota que faz "parte da sua estratégia procurar e analisar alternativas para reforçar e melhorar sua flexibilidade financeira".

Em comunicado enviado à bolsa de São Paulo nesta terça-feira, citado pela Lusa, a brasileira Oi garante que “até à presente data, não existe decisão visando à alienação de seus ativos em Portugal, nem tão pouco recebeu qualquer proposta para isso”. Contudo, a Oi “reitera que é parte da sua estratégia procurar e analisar alternativas para reforçar e melhorar sua flexibilidade financeira (…) e fortalecer a sua posição de liquidez, inclusive por meio de eventual alienação de ativos não estratégicos e participações em [empresas] controladas”.

O papel do papel comercial

Se o namoro entre a Oi e a TIM Brasil der em casamento, “a TIM não terá grande interesse em comprar a Oi com ativos não-brasileiros”, ou seja, portugueses, diz Pedro Rodrigues. Daí que, nas palavras do analista Javier Borrachero, “por muito boa que seja a reputação operacional de Zeinal Bava, não faz sentido ficar como líder de uma empresa sem ativos portugueses”. Além disso, poderá avançar-se finalmente para a venda da Africatel, a unidade em que a Oi-PT detém 75% e que, por sua vez, detém 25% da Unitel, da empresária angolana Isabel dos Santos. Este é, há muito, um desejo dos acionistas brasileiros da Oi. Acionistas que viram aumentar o seu poder na nova empresa após o escândalo da aplicação financeira da PT no papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES).

Zeinal Bava estará de saída da liderança da Oi, tem insistido a imprensa brasileira.

Diana Quintela

Deste lado do Atlântico, as ligações da PT ao GES continuam a fazer correr “tinta”.  Um relatório da comissão de auditoria da Portugal Telecom, elaborado em julho, descreve a estratégia financeira da operadora como “imprudente e enganadora”, segundo o Público. Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e o administrador financeiro, Luís Pacheco de Melo, são os grandes visados do documento, por terem desrespeitado uma regra elementar de boa gestão – a diversificação dos ativos – e ocultado as decisões de tesouraria aos investidores e à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Após a falha de pagamento dos 897 milhões de euros aplicados na RioForte, os termos da fusão foram revistos. Os acionistas da “antiga” PT passaram a ter uma posição de 25,6% na nova empresa, menos do que os 37,6% inicialmente acordados. Ficaram, contudo, com uma opção, por seis anos, de comprar novas ações da Oi. O poder passou ainda mais para o Brasil. “Os acionistas brasileiros conseguiram que o risco associado ao papel comercial tenha ficado totalmente do lado dos acionistas portugueses, mas é muito provável que esta situação tenha feito azedar as relações entre as partes”, afirma Javier Borrachero. “Digamos que as coisas não estão a correr exatamente como se previa quando a fusão foi imaginada”, remata o especialista.

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