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Portugal menos preparado que a média europeia para o pós-Covid, diz Fórum Económico Mundial

Fórum Económico Mundial coloca Portugal na 2ª metade da tabela onde compara 37 países e indica que Dinamarca, Finlândia, Nova Zelândia e Suíça são os mais preparados para relançar as suas economias.

Portugal está entre os países menos bem preparados para relançar a sua economia no pós-Covid, considera o Fórum Económico Mundial num relatório especial publicado esta quarta-feira e que elege a Dinamarca, a Finlândia, a Nova Zelândia e a Suíça como as nações que partem para a fase da retoma com as melhores bases, em vários aspetos, para poderem proporcionar um crescimento económico duradouro e sustentável. Quanto a Portugal, apesar de ótimas condições nas infra-estruturas energéticas e de comunicação, faltam investimentos nas estruturas de saúde e de apoio às crianças e idosos e há falhas nos currículos de ensino – e, também, na organização do trabalho – que ameaçam colocar o país numa posição desfavorável nos “mercados do amanhã”.

Este trabalho do Fórum Económico Mundial vem no âmbito do relatório anual de competitividade mas, ao contrário do que é habitual, não inclui o habitual ranking dos países mais e menos competitivos na economia global. Desta vez, o organismo preferiu focar-se na “road to recovery” – o caminho até à recuperação – numa “reflexão mais profunda” que deve ter tida pelos responsáveis políticos sobre não só as necessidades de curto prazo mas, também, sobre as “prioridades que são essenciais para a transformação a longo prazo para a obtenção de melhores resultados [económicos], com prosperidade partilhada e sustentável no futuro”.

“O relatório fornece caminhos para que os líderes possam dar passos, de forma pró-ativa, para gerar políticas transformativas, investimentos audazes e novas iniciativas com vista à retoma”, afirma o Fórum Económico Mundial, acrescentando que “esta abordagem requer uma visão corajosa e um equilíbrio adequado entre o curto e o longo prazo“.

Além de dar essas pistas, porém, o Fórum Económico Mundial faz uma análise sobre como é que cada país está em 11 áreas essenciais, para depois formar um índice agregado que foi batizado de “índice de prontidão para a transformação económica“. E é nesse índice final, com 37 países mundiais, que Portugal aparece na segunda metade da tabela quando são considerados apenas os países da União Europeia: numa escala de zero a cem pontos, Portugal surge com 56,1 pontos, abaixo de países como Espanha e Estónia mas acima de Itália e Gréciae aquém da média europeia, que é de 58,6 pontos.

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No "índice de prontidão para a transformação económica", entre 37 países mundiais, Portugal aparece na segunda metade da tabela quando são considerados apenas os países da UE. Numa escala de zero a cem pontos, Portugal surge com 56,1 pontos, abaixo de países como Espanha e Estónia mas acima de Itália e Grécia. E aquém da média europeia, que é de 58,6 pontos.

Na amostra do Fórum Económico Mundial, de 37 países, estão 18 nações da União Europeia – Portugal entre elas. No top 5 no índice agregado estão a Finlândia (69,9 pontos), a Suécia (68,5 pontos), a Dinamarca (66,5), os Países Baixos (66,3 pontos) e a Bélgica (63,6 pontos). Em contraste, os cinco piores são a Grécia (47,2 pontos), a Hungria (48,1 pontos), a Polónia (48,8 pontos), a Eslováquia (49,7 pontos) e a Itália (51,9 pontos).

Portugal escapa por pouco a este bottom 5: depois da República Checa (54 pontos), Portugal surge com 56,1 pontos e fica, portanto, atrás de Espanha (56,5 pontos) e de vários outros como a Irlanda (60,9 pontos) e a Estónia (61 pontos).

Portugal abaixo da média global, mesmo em categorias onde o país está melhor

Uma das conclusões mais preocupantes quando se analisa o desempenho de Portugal em cada uma 11 sub-categorias é que entre aquelas que contribuem positivamente para os 56,1 pontos finais, em várias delas o País continua, mesmo assim, abaixo do valor mediano da amostra (de 37 países). Eis alguns dos destaques principais entre as categorias onde Portugal tev, um resultado mais positivo:

  • O melhor resultado está na subcategoria das infraestruturas, no sentido de infraestruturas que “acelerem a transição energética e permitam alargar o acesso à energia e às tecnologias de informação e comunicação”. Aí, Portugal tem 87,8 pontos, bem melhores do que a média global de 78,7 pontos e acima da pontuação de países como Itália (74,1 pontos) e até Alemanha (79,6 pontos) – a Estónia é a estrela nesta rubrica, com 99,7 pontos.
  • Porém, quando se fala em “assegurar que as instituições públicas contêm princípios sólidos de governança, uma visão de longo prazo e fomentam confiança pelo serviço que prestam aos cidadãos“, Portugal tem um resultado de 57,8 pontos, acima da “nota” final agregada mas abaixo dos 60 pontos que são a média entre os 37 países da amostra. O melhor resultado nesta rubrica é da Finlândia, com 78,5 pontos, e a Rússia é o pior de todos, com 42,8 pontos.
  • Acontece o mesmo na sub-categoria sobre as medidas já tomadas no sentido de “aumentar os incentivos a que os recursos financeiros sejam aplicados em investimentos pensados para o longo prazo, beneficiando a estabilidade e a inclusão“: Portugal consegue 67,1 pontos mas, mesmo assim, fica aquém da média global de 69,2 pontos. E outro exemplo: sendo essencial que se “repensem os enquadramentos na área da concorrência, ajustando-os à Quarta Revolução Industrial e assegurando acesso aos mercados local e internacional“, Portugal até consegue 61,5 pontos mas a média dos países é de 62 pontos.
  • O pior, porém, é uma subcategoria onde Portugal tem 58,1 pontos (acima da sua “nota” final) mas bem aquém da média global de 61,4 pontos. Aqui está em causa a necessidade de “repensar a legislação laboral e os enquadramentos de proteção social para os ajustar à nova economia e às novas necessidades da população ativa“. O melhor país a fazê-lo até agora, segundo o Fórum Económico Mundial, foi a Dinamarca (77 pontos) e o pior foi a África do Sul (42,9 pontos).
  • A outra única subcategoria onde Portugal está acima da média (além do ponto sobre as infraestruturas energéticas e de comunicações), é nos “incentivos dados às empresas para que apoiem a diversidade, a igualdade e a inclusão, com vista a beneficiar a creatividade“: Portugal consegue 65,3 pontos, contra os 62,2 pontos da média global.

Péssimo resultado de Portugal nas estruturas de saúde e de apoio a crianças e idosos

Portugal teve um dos piores resultados entre os países da amostra quando se olha para a necessidade de, na fase da recuperação, “expandir as infrestruturas de saúde e de apoio a idosos e crianças, garantindo um acesso e uma inovação que beneficiem as pessoas e a economia”. Os 31,4 pontos de Portugal só comparam bem com os 24,7 pontos da Grécia num índice cuja média global é de 47,8 pontos (aqui a amostra foi de 30 países, para os outros não houve dados).

O Fórum Económico Mundial defende que “um investimento público generalizado na Saúde e das infraestruturas de apoio aos idosos e às crianças é algo que proporciona, no futuro, uma transformação económica mais inclusiva, ao mesmo tempo que traz inúmeras vantagens às sociedades”. E acrescenta: “aumentar o investimento na Saúde pode atingir dois objetivos – robustecer a capacidade dos serviços de Saúde, que já eram insuficientes antes da pandemia, ao mesmo tempo que se cria um maior potencial para criação de emprego numa área que passou a ser considerada trabalho essencial“, afirma o organismo.

Aumentar o investimento na Saúde pode atingir dois objetivos – robustecer a capacidade dos serviços de Saúde, que já eram insuficientes antes da pandemia, ao mesmo tempo que se cria um maior potencial para criação de emprego numa área que passou a ser considerada trabalho essencial", afirma o organismo.

Na área do apoio aos idosos, uma recomendação concreta que o Fórum Económico Mundial faz é investir em novas tecnologias que permitam fazer um acompanhamento remoto dos idosos quando estes ainda estão nas suas próprias casas, designadamente através de sistemas de alerta precoce de possíveis problemas de saúde. O melhor país nesta rubrica é a Suécia, com 75,9 pontos.

Um mau ponto de partida tem Portugal, também, nos esforços feitos para “atualizar os currículos de ensino e alargar o investimento na promoção das aptidões que serão necessárias nas carreiras profissionais e nos ‘mercados do amanhã’“. O País não vai além dos 49,8 pontos numa rubrica onde a média global é de 55,3 pontos e que será decisiva para dar aos jovens (e não só) capacidades para ter sucesso no futuro – sim, porque “num horizonte de médio prazo, é possível mapear e definir as aptidões que vão ser necessárias no mercado [de trabalho] de amanhã”, diz o Fórum Económico Mundial.

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“Para promover essa transformação com vista às carreiras profissionais de amanhã, as economias têm de melhorar, de forma fundamental, as áreas da formação técnica e vocacional tanto para estudantes como para trabalhadores, numa perspetiva constante”, salienta o relatório, acrescentando que “os responsáveis políticos têm de inovar e atualizar a forma como os currículos de ensino ensinam as aptidões centrais que têm de ser semeadas [nos mais jovens] para que exista uma propensão para a inovação, mais tarde na vida, através da creatividade e capacidade de pensamento crítico“. E importa, também, fomentar que no futuro tenhamos cidadãos com apurado sentido de “justiça social”.

Com vista aos tais “mercados do amanhã”, Portugal parte de uma base pouco favorável quando se fala na necessidade de “facilitar a criação de ‘mercados do amanhã’, especialmente em áreas que requerem colaboração entre o setor público e privado” (44,6 pontos, contra a média de 45,1 pontos). E, também, há trabalho a fazer nos “incentivos e investimentos na área das patentes, para gerar inovação e invenções que podem ajudar a criar esses ‘mercados do amanhã'” (42,2 pontos em Portugal, comparáveis aos 41,6 pontos da média global).

A “nota” final de Portugal é, também, penalizada pelos 52,1 pontos que o país obteve numa rubrica onde, apesar de tudo, a média global é pior (50 pontos): “Fazer uma mudança no sentido de um quadro fiscal mais progressivo, repensando como é que as empresas, o capital e o trabalho devem ser taxados” – um “repensar” que deve ser feito tanto à escala nacional, em cada país, como, também, “numa perspetiva de colaboração internacional”.

Este é um tema que ganhou “uma urgência reforçada” após a pandemia de Covid-19, numa economia marcada por “níveis de dívida pública significativamente mais elevados e níveis de desigualdade historicamente exacerbados“. Em concreto, o Fórum Económico Mundial idealiza que exista um “acordo internacional sobre a taxação das atividades na área digital, bem como responder aos aumentos da riqueza no extremo mais elevado da distribuição”, incluindo através de impostos sobre o património e sobre os ganhos de capital (em oposição aos ganhos obtidos através do trabalho).

E mais: “a natureza do investimento público em sistemas de segurança social, por outro lado, também terá de mudar – deixando de ser algo que proporciona apoios intermitentes a pessoas em momentos de necessidade, em tempos de crise, para ser algo que fomente as capacidades e as ligações entre e dentro das comunidades, ao longo de todo o ciclo de vida”. O Fórum Económico Mundial não concretiza, mas parece estar a referir-se a propostas como as de um Rendimento Básico Incondicional.

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