George Soros, filantropo e multimilionário húngaro-estadunidense, e Klaus Schwab, fundador do Fórum Económico Mundial, são dois protagonistas regulares de teorias da conspiração disseminadas nas redes sociais. Muitas delas apontam a um futuro próximo em que as grandes figuras mundiais se unem para destruir a civilização como a conhecemos. A par dessas histórias, são partilhados alegados factos históricos que procuram colocar em causa a integridade moral de Soros e Schwab.

Desta vez, afirma-se no Facebook que George Soros e o pai de Klaus Schwab trabalharam para Adolf Hitler aquando do regime nazi. Num post de 2 de fevereiro, afirma-se mesmo que “estes dois são os maiores fascistas na Terra atualmente”. “Quando a esquerda acusar Trump de ser Hitler e você um fascista por o apoiar, lembre-se de quem são os seus aliados e os financia”, alerta-se.

Mas será que as alegações têm algum fundamento?

Comecemos por George Soros, atualmente com 93 anos. De acordo com um perfil do The New York Times, Soros é sobrevivente do Holocausto. Nasceu em Budapeste, na Hungria, em 1930, três anos antes de o partido fascista assumir o controlo da Alemanha e de dar início à perseguição e morte de judeus e de outras minorias religiosas e étnicas em território alemão, primeiro, e em vários países europeus, com o passar dos anos, dando origem a um período conhecido como o do Holocausto. A mesma peça do jornal norte-americano aponta que as forças alemãs invadiram a Hungria em 1944, quando Soros tinha 13 anos, e seu pai obteve identidades falsas para os dois filhos. A II Guerra Mundial termina em 1945, quando Soros tinha 15 anos, ou seja, é temporalmente impossível que tenha servido, como funcionário, o regime nazi liderado por Hitler.

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Ou seja, uma das alegações da publicação é completamente falsa.

Quanto à que se refere a Klaus Schwab e ao seu pai, que alegadamente teria sido funcionário de Hitler, existem versões contraditórias. Investigações de várias plataformas de verificação de factos obtiveram os ficheiros de desnazificação de Eugen Wilhelm Schwab. Este documento resulta da identificação dos nazis e da determinação da sua punição.

O Observador contactou o Fórum Económico Mundial que entende que a alegação que relaciona o pai de Schwab e Hitler “é falsa“. “À semelhança de muitas organizações ou indivíduos de renome, o Fórum Económico Mundial e o Professor Klaus Schwab têm assistido a um aumento de histórias de conspiração e desinformação”, acrescenta a mesma organização.

Segundo o Politifact, que consultou fonte do arquivo alemão onde o documento está guardado, os dois arquivos de desnazificação de Eugen “não contêm nenhuma informação dizendo que Schwab trabalhou para Hitler”. Outros especialistas, consultados pela Agence France-Presse, por exemplo, garantem que esta documentação mostra que o pai de Schwab não era membro do partido nazi, tendo mesmo acabado por ser absolvido pelo comité de desnazificação.

Existem, no entanto, outras fontes a relatar que, por ter sido gerente comercial da fábrica de Escher Wyss em Ravensburg, que fornecia equipamento militar à Wehrmacht, ou às forças armadas do Terceiro Reich, Eugen Schwab “apoiou ativamente o esforço de guerra alemão durante a Segunda Guerra Mundial”. A sua fábrica empregava cerca de 200 trabalhadores de campos de trabalho forçado nazis próximos.

Em julho de 1944, foi “declarado não confiável pelas autoridades do Estado”, após a tentativa fracassada de assassinato de Hitler, e foi afastado do seu cargo em Escher Wyss. Niels Weise, investigador do Instituto de História Contemporânea de Munique, disse à Agence France-Presse que mesmo que Schwab tenha utilizado trabalho forçado, “não poderia ser atribuída uma relação especial entre o gestor comercial e Hitler”.

Conclusão

A ligação de Soros a Hitler é absolutamente falsa, já que este era uma criança/adolescente quando o partido nazi governava a Alemanha. Só atingiu a maioridade quando a II Guerra Mundial já tinha terminado. Quanto ao pai de Klaus Schwab, não está provada a sua ligação direta a Adolf Hitler. Existem, no entanto, registos que o associam a uma fábrica que fornecia equipamento militar à Alemanha Nazi e na qual trabalhavam pessoas de um campo de trabalho forçado alemão.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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