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Pedro Nuno deu algumas explicações à tarde, numa declaração sem direito a perguntas
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Pedro Nuno deu algumas explicações à tarde, numa declaração sem direito a perguntas

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Pedro Nuno deu algumas explicações à tarde, numa declaração sem direito a perguntas

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

PS perplexo com "erro" e "humilhação" de Pedro Nuno, mas fiéis acreditam que golpe "não é fatal"

Partido não percebe o que passou pela cabeça do ministro e acredita que está "ultrafragilizado". Mas não é para sempre, acreditam pedronunistas: Pedro Nuno tem de passar uns meses em recato.

Nem os pedronunistas perceberam o terramoto político que atingiu o Governo — e Pedro Nuno Santos em particular. Com o seu núcleo duro apanhado de surpresa pela decisão de Pedro Nuno sobre o novo aeroporto, revogada pelo primeiro-ministro em menos de 24 horas, e o resto do PS a mostrar-se perplexo, há nesta altura uma conclusão evidente entre as hostes socialistas: o ministro que tem pastas que fervem, sempre apontado como possível sucessor de António Costa, sai claramente “ultrafragilizado” da contenda pública com o primeiro-ministro, pelo menos a curto prazo.

Mesmo assim, e se o “golpe” duro que Pedro Nuno sofreu — ou se autoinfligiu — é interpretado por dirigentes e deputados do PS como uma desautorização ou até uma “humilhação”, há visões mais benevolentes dos fiéis de Pedro Nuno, de olhos postos no futuro.

Isto é: quem está com o ministro acredita que o golpe foi grave, mas não foi fatal. A esperança, insistem os pedronunistas, é que o “erro grave” — assim classificado pelo primeiro-ministro — vá sendo apagado com o tempo. E que Pedro Nuno possa continuar a fazer o seu caminho no Governo, como o ministro-sucessor com pastas pesadas — da TAP à ferrovia, passando pela habitação — que tenta manter-se com vida própria. Uma vida menos ativa, pelo menos nos próximos tempos.

O governante que “dá trabalho”

O sentimento é partilhado pelos vários pedronunistas ouvidos pelo Observador. “Não há mortes definitivas nem golpes fatais em política. Mas que foi um golpe foi“, resume um dirigente. Outro antigo governante, próximo de Pedro Nuno, antevê assim os próximos tempos: “Três ou quatro dias de conversa, artigos, comentários e afins, a que se seguirão três a quatro meses de Pedro Nuno mais fragilizado. E depois volta tudo ao normal”.

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Mais ou menos otimistas, os mais próximos criticam a nota, dura, com que António Costa tirou o tapete a Pedro Nuno, logo de manhã, dizendo que “compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da ação governativa”, acompanhado de fontes que asseguravam aos jornais que o primeiro-ministro “desconhecia” o despacho autorizado por Pedro Nuno. “Foi uma nota desproporcional”, nota um pedronunista.

“Seria pior para o PS e o Governo perderem um ministro assim”, frisa outro dos fiéis. Quem acompanha Pedro Nuno mais de perto deixa outra nota: a única parte positiva do imbróglio em que o ministro se meteu é que partilhou a sua opinião sobre a melhor solução para o novo aeroporto em público — pelo que daqui a uns tempos terá o crédito de ter sido o governante que quis, finalmente, concretizar a obra pela qual o país espera há décadas. Pedro Nuno justificou-se, de resto, precisamente com a “vontade de concretizar” que terá levado, sem que se perceba em que moldes, ao “erro de comunicação” que assumiu publicamente.

Segundo dia de debate e votação do Orçamento do Estado (OE) para 2022, na Assembleia da República. Primeiro Ministro António Costa fala com Pedro Nuno Santos, Ministro das Infrastruturas. Lisboa, 29 de Abril de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Relação dos dois tem altos e baixos. Costa classificou o erro como "grave", para dizer depois que não foi com má fé

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Só não se percebe, caso afirmar-se tenha sido a intenção — e boa parte do dia dos socialistas foi passada a testar teorias para perceber o que levou Pedro Nuno a atravessar-se daquela maneira — porque não o teria feito de forma mais subtil, em vez de através de um despacho que tinha força de lei.

E, na cúpula do PS, enquanto a poeira assenta e Costa diz em público que é preciso “seguir em frente”, a situação já se comenta com aparente distanciamento: “Dá trabalho, mas é um bom governante”, ouviu o Observador de um dirigente.

O próprio Pedro Nuno Santos frisou repetidamente, na curta declaração que fez à tarde, a “boa relação” com Costa e o trabalho que têm desenvolvido juntos — incluindo na época da geringonça, quando era o secretário de Estado responsável pelas relações com os parceiros de esquerda — e fez questão de falar nos méritos “partilhados”.

“Parece o Governo do Santana Lopes”

No meio do caos, não será, no entanto, essa a nota a reter para quem assistiu ao desenrolar dos episódios durante o dia. E muito menos para os socialistas que estão longe de se definir como pedronunistas. “Isto já parece o Governo do Santana Lopes”, ironiza um deles, criticando o “desafio inqualificável” à autoridade do primeiro-ministro. “O Pedro Nuno humilhou-se e o Costa abdicou da autoridade”.

Além disso, o primeiro dado a registar entre os socialistas, pedronunistas ou não, foi mesmo a surpresa. Entre as fontes ouvidas pelo Observador, a perplexidade era evidente: “Isto está para lá da compreensão humana“, resumia fonte próxima de Pedro Nuno Santos, fazendo eco do sentimento partilhado em boa parte das estruturas do PS.

Outro socialista, deputado próximo do ministro, resumia assim a dúvida sobre as motivações do ministro: “Costuma dizer-se que quem quer saber onde está o mel segue as formigas. Mas aqui não se vai a lado nenhum… Não há mel”.

A tentativa de paz e a humilhação

A estranheza, sabe o Observador, atingiu até o próprio núcleo duro de Pedro Nuno Santos, uma vez que o ministro não fez confidências sobre o que estava a preparar, e que não se resumiu apenas à publicação do despacho sobre a solução para o aeroporto de Lisboa — foi reafirmado pelo ministro em duas entrevistas, ainda na quarta-feira.

Assim, os mais próximos do governante dedicaram-se a tentar travar a escalada de tensão que se ia sentindo quando começou o dia, com notícias que davam conta de que Costa estaria preparado para demitir Pedro Nuno Santos, e acalmar as duas partes: “Tentámos criar a paz entre Palestina e Israel”, ironiza uma fonte.

No entanto, com o passar do dia e a declaração sem direito a perguntas de Pedro Nuno, de ombros encolhidos, no ministério, em que assumia todas as culpas — “uma humilhação”, acreditam vários socialistas — foi-se desfazendo a ideia de que tudo se explicaria com um esquema maquiavélico, e premeditado, do ministro para romper com Costa. “Se não estava disponível para ir até ao fim” — ou seja, demitir-se — “não podia fazer isto”, resume um socialista.

No partido é notado, de resto, que ainda mais estranho é ser Pedro Nuno Santos — com a sua “persona” pública do ministro rebelde, que gosta, aliás, de alimentar — a colocar-se nessa situação, “de vir humilhar-se”.

O enfant terrible e o primeiro-ministro brincalhão

A relação com António Costa é, aliás, há muito pautada por momentos de tensão ou, no mínimo, de provocação. Basta lembrar o congresso de 2018, em que Pedro Nuno se entusiasmou — e entusiasmou o congresso — de tal forma com o seu discurso, de grande base ideológica, que António Costa se viu na necessidade de vir garantir que ainda não estava pronto para arrumar as botas.

Depois, no último congresso, no ano passado, chegou atrasado (mas ainda a tempo de tirar selfies com vários socialistas) e Costa chegou a alvitrar aos jornalistas que poderia “ter adormecido ou tido um furo”. Pedro Nuno responderia que o líder do partido é “um brincalhão”.

Já nas funções de ministro, depois da experiência como secretário de Estado na geringonça, houve vários outros episódios em que Pedro Nuno pareceu precipitar-se. Aconteceu de forma mais pública quando Luís Marques Mendes adiantou, na SIC, que o ministro tencionaria levar a votos, no Parlamento, o plano de reestruturação da TAP.

António Costa fecharia a porta à ideia com estrondo e Pedro Nuno acabaria por reconhecer o desentendimento ao Expresso: “Queria a TAP votada no Parlamento. Não consegui. É pena.” Dessa vez, Costa ganhou a guerra. Desta, aparentemente, também.

A partir de agora, concluem as fontes ouvidas pelo Observador, terá de “ter muito cuidado com as palavras“. E o à vontade de Pedro Nuno com as palavras sempre foi uma das suas armas políticas — a arma que tantas vezes lhe serviu para se descolar de Costa e se posicionar como o possível sucessor com mais hipóteses de agarrar o PS. Mas, por agora, o que se prevê para o futuro próximo do ministro enfant terrible é mesmo o silêncio.

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