Foi há cerca de 11 anos que nasceu o Quarto Solidário. Esta que é uma iniciativa do NEYA Lisboa Hotel, tem como objetivo oferecer alojamento e pequeno-almoço, de forma gratuita, às famílias de crianças carenciadas que se desloquem da sua zona de residência para consultas médicas, tratamento hospitalar ou internamento, nos hospitais do Centro Hospitalar de Lisboa Central.
“O projeto Quarto Solidário é um projeto de responsabilidade social da NEYA Hotels, e tem na sua génese uma experiência muito pessoal, que aconteceu há aproximadamente 30 anos e tem a ver com o facto da minha filha bebé, na altura, com três meses de vida, ter sido internada no Hospital D. Estefânia devido a um episódio de internamento urgente”, começa por dizer Yasmin Bhudarally, CEO do grupo. “Obviamente que, vivendo à data muito longe do hospital e tendo o hospital uns horários de visita muito limitados, cada vez que eu saía do hospital, tinha um sentimento de estar a abandonar a minha filha. Felizmente consegui transformar esta experiência em algo positivo e útil para a comunidade, o Quarto Solidário”, salientou.
O hotel fornece muito mais que um conforto. Trata-se de uma doação genuína e verdadeira, onde se destacam o acolhimento dos pais, o pequeno-almoço, mas, acima de tudo, o tempo dos nossos colaboradores.
Para a CEO, mais do que um simples quarto, esta é uma iniciativa que pretende cuidar de quem cuida. “O hotel fornece muito mais que um conforto. Trata-se de uma doação genuína e verdadeira, onde se destacam o acolhimento dos pais, o pequeno-almoço – que também é gratuito e que está incluído -, mas, acima de tudo, o tempo dos nossos colaboradores. As famílias são trazidas pelas assistentes sociais, e quando chegam ao hotel sentem que a parte humana é muito mais importante do que o conforto do quarto. Os pais quando chegam vêm muito fragilizados, mas encontram sempre alguém no hotel com quem podem falar. E falar é muito importante. Além do conforto físico, encontram algum apoio emocional também”, afirma.
O que é certo é que, desde o seu início, muitos têm sido os momentos partilhados e as famílias que por aqui passaram, tornando uma experiência difícil, num processo menos solitário. Vera Valdanta é apenas um desses exemplos. Depois de muitos anos a ser-lhe dito que não poderia engravidar, fruto de endometriose profunda e Adenomiose, Vera não baixou os braços até conseguir realizar o seu maior sonho: ser mãe. 44 injeções, 4 óvulos e muita frustração acumulada não foram o suficiente para impedir que se desse o verdadeiro milagre: uma gravidez 100% natural.
“O meu bebé nasce dia 17 de abril de 2020, às 27 semanas e três dias de gestação, 1kg do mais puro e verdadeiro Amor e 36cm. Um parto normal. Um prematuro extremo, a lutar pela vida dia após dia. Foram 68 dias de internamento com muitas lágrimas, muita angústia, muito medo, muitas máquinas a apitar, muitas dúvidas, saudades de casa, da minha família, dos meus amigos, e muitas conversas à janelinha daquela incubadora para que ele levasse o tempo que quisesse e precisasse. Conheci gente fantástica que trago no coração para sempre e serei eternamente grata por nunca me terem deixado desamparada estando eu tão longe dos meus. Mas fui incapaz de ir a casa sem levar comigo o meu filhote”, conta-nos Vera, explicando, assim, de que forma surge o Quarto Solidário na sua vida.
Num período tão delicado, em que a distância seria uma coisa impensável de suportar, foi no NEYA Lisboa Hotel que Vera encontrou uma verdadeira casa. “Eu estava bastante frágil, cansada, e tudo o que mais precisava era de apoio quando saía da maternidade ao final do dia. Estar no quarto solidário veio-me dar a tranquilidade e paz de que eu precisava naquele momento tão delicado da minha vida. Confesso que ao início a minha estadia foi um pouco estranha, pois eu era a única “hóspede” do hotel, devido à pandemia”, explica.
Contudo, nem a pandemia foi capaz de anular o sentimento de pertença e entreajuda que Vera sentiu. Todas as suas necessidades foram respeitadas e a mãe afirma que será “eternamente agradecida pelo apoio incondicional que me deram. Gostava que o meu testemunho desse força e coragem a todos os pais que passam por situações delicadas como foi a minha e que saibam que não estão sozinhos e que, passando pelo Quarto Solidário, não só ficam muito bem instalados, como podem contar com toda a equipa para lhes dar força e apoio, nem que seja para lhes levarem uma sopa quentinha ao quarto naqueles dias em que estamos mais em baixo e sem qualquer apetite. Foram todos impecáveis e sempre preocupados comigo. Sentir-me-ei sempre em casa com eles”.
Fazer a diferença na vida de alguém pode partir de pequenas grandes iniciativas como esta. As palavras foram as de Vera, mas poderiam ser as de muitos outros pais. E porque cuidar das famílias, é cuidar das crianças, é de olhos postos no futuro que este quarto se mantém de portas abertas para todos os que nele quiserem entrar. Afinal de contas, para ajudar “só tem de ficar”.