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Estamos no Pátio da Inovação, outrora Pátio da Inquisição. O horror transformado em possibilidade, legado judaico musealizado no antigo Tribunal do Santo Ofício através da exposição JUDEUS DE COIMBRA | da tolerância à perseguição | memórias e materialidades (até 31 de dezembro; entrada livre). Na outra esquina, Zé serve pregos no Restaurante O Pátio, “inaugurado no dia em que o Cristiano Ronaldo nasceu”, diz-nos com o seu bigode compacto. Cristiano, autor de um golo muito ansiado na vitória de Portugal sobre a Croácia, no arranque da Liga das Nações, aparece nesse preciso momento a falar para as televisões, cruzando dois mundos improváveis, entre os copos de cerveja que saem das mãos de Zé e uma finalização de primeira servida no ponto, cortesia de Nuno Mendes no Estádio da Luz.
Deixámos o balcão do restaurante para caminhar para outra esquina, aquela onde mora o Centro de Artes Visuais (CAV) e, a partir de 28 de setembro, onde morarão também as exposições Radical Papers, sobre a cultura punk rock que atravessou as décadas de 60, 70, 80 e 90, e a mostra individual da artista Cristina Mateus. Porém, nessa noite fria de início de setembro, era outro o motivo que nos levava até ao CAV: o cine-concerto de João Mortágua, Luís Pedro Madeira, Gonçalo Parreirão e Ismael Silva a partir do filme The Wind (1928), obra prima do cinema mudo do realizador sueco Victor Sjöström. O quinteto juntou-se em 2022 para musicar a peça Cabaret Vian, comemorativa dos 30 anos da companhia de teatro A Escola da Noite e a experiência correu tão bem que, a partir desse momento, seguiram-se vários cine-concertos.
Andando de um lado para o outro neste pequeno pátio, escondido no meio das casas esguias e impressionistas do centro histórico, compreendemos que aqui Coimbra se autoexplicava, mostrando a sua inquieta geometria cultural e matando aquela velha frase feita de que em Coimbra não se passa nada. “Para mim era um paradoxo que, numa cidade em que tanto acontece, tão pouco saísse cá para fora”, comenta Rui Miguel Abreu, mentor, juntamente com Fátima Mineiro, do Cu.Co., o primeiro encontro de jornalismo cultural de Coimbra.
Em cinco dias, jornalistas de meios regionais, nacionais e estrangeiros e diversos agentes culturais da cidade das Tricanas reuniram-se à mesa para falar dos seus projetos e da forma como uma cidade, que outrora parecia estagnada, está a exalar cultura por todos os poros. Uma cidade que se enche de convergências entre a ciência, o jazz, o teatro, o cinema, o punk, as batalhas de hip-hop de rua, as artes plásticas, o associativismo académico, a comunidade, e que quer pegar em todas as suas esquinas para fazer delas centralidade no debate cultural português. No fundo, uma cidade que está a erigir o seu próprio Pátio da Inovação, onde a cultura rege os ritmos e congrega todos e todas que com ela queiram dançar.
A cultura a explodir em direção à “grande casa das comunidades e das associações”
A mensagem do executivo municipal é clara nesse sentido: “Queremos continuar a afirmarmo-nos pela via da cultura que é essencial para a própria regeneração da cidade”. As palavras são de José Manuel Silva, Presidente e Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra que se juntou ao Cu.Co. no último dia do evento, lembrando ainda que o investimento feito no sector passou de 10 milhões de euros, em 2022, para os 12 milhões, em 2023. A intenção, garante, é a de continuar a crescer e a promover diálogos entre a autarquia, as empresas e os agentes culturais da cidade. Prova disso, é a confirmação de que o Cu.Co., enquanto plataforma agregadora de várias vontades e mentes criativas, regressará em 2025. “Pela nossa parte vai acontecer.”
Além da Agenda Cultural Online lançada em parceira com a Universidade de Coimbra, a Câmara está empenhada na transferência da dominialidade do velho Hospital Pediátrico de Coimbra para o Município, de forma a criar a “grande casa das comunidades e das associações”: “Temos a perfeita consciência que, com as associações que temos, se lhes conseguirmos dar mais meios, o nível cultural de Coimbra continua a explodir, é uma uma atitude imparável”.
Francisca Moreira, Diretora de Produção da Marionet, ouve expectante estas declarações. Apesar de já ter sido constituída em 2000, esta companhia, que alia o teatro e as artes performativas à ciência, continua sem ter espaço próprio para apresentar as suas produções. “Isso limita imenso o nosso crescimento. Temos imensas pessoas que precisam de espaços de ensaio e de apresentação e conseguimos perceber perfeitamente, tanto por nós como por outras associações mais jovens, que não há espaços. Isso faz com que a comunidade estudantil acabe por abandonar Coimbra”, diz a também professora de teatro e de educação.
Possivelmente, a tal “grande casa das comunidades” irá resolver, em parte, o problema da Marionet, mas enquanto o projeto não sair do papel, há que encontrar outros parceiros e meios para contornar as adversidades. Seja no online, através do canal Marionet Digital, onde são desenvolvidas periodicamente pequenas peças (a próxima chamar-se-á Artroite Reumatide e será lançada a 14 de outubro); em residências artísticas, como a que aconteceu no Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra; ou na próxima grande estreia marcada para os dias 12 e 13 de dezembro no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), a partir da primeira peça da história do teatro, escrita em 1676, que tem um cientista como protagonista.
Teatro Académico Gil Vicente: o catalisador de várias ca(u)sas
A Marionet não é a única companhia de Coimbra a fazer parte da nova temporada do TAGV. “Funcionamos como um bom catalisador das dinâmicas culturais da cidade. Estamos a estabelecer uma rede muito boa”, refere Sílvio Santos, Diretor Artístico do único teatro universitário do país. Sendo um teatro académico, o TAGV é a casa natural de várias manifestações artísticas da Universidade, como o ciclo de música Órphika, que decorre entre 8 de novembro e 8 de dezembro, ou o ciclo de teatro e artes performativas Nemesis, que acontece tradicionalmente nos meses de maio e de junho.
No campo do teatro, serve também de anfitrião do Clube de Leitura Teatral, coproduzido há 10 anos com A Escola da Noite e que se desenrola nas primeiras segundas e terças feiras de cada mês. Nessas sessões, são abordados textos clássicos ou da nova dramaturgia, através de ensaios abertos conduzidos pela companhia histórica da cidade.
Fundada em 1992 e com pés assentes no Teatro da Cerca de São Bernardo, A Escola da Noite tem feito um percurso alicerçado em autores clássicos e contemporâneos, dedicando-se também à formação de atores, produtores, técnicos, amadores de teatro e professores. Parte importante do seu reportório versa nas obras vicentinas e é precisamente Frágua de Amor, peça escrita em 1524 por Gil Vicente, que estará em destaque na nova temporada do TAGV. Em cena de 14 a 16 de dezembro, conta com a encenação de António Augusto Barros, diretor artístico da companhia desde a sua fundação, e terá a participação da Banda Surunyo, ensemble especializado em música dos séculos XVI e XVII.
Outro dos destaques da programação da nova temporada é o Festival Caminhos do Cinema Português, que se realiza em Coimbra desde 1988 e cuja 30.ª edição está agendada para novembro. Antes, em outubro, o TAGV sai à rua para celebrar o Dia da República. “Queremos fazer uma festa com os vizinhos da Praça da República num espírito de comunidade”, adianta Sílvio Santos. A partir das 10h30 do dia 5 de outubro, haverá visitas, conversas, teatro para a infância, cinema de animação oficinas, exposições, poesia, música, mercados e piqueniques.
Metrobus, sem ressentimentos e com Teatrão
De entre os diversos vizinhos do TAGV, conhecemos um curioso bar nascido em 2018 numa casa burguesa do séc. XIX, que promove semanalmente uma programação multidisciplinar. No Liquidâmbar é possível participar numa jam session às quartas ou assistir a concertos que vão do samba ao jazz todas as sextas e sábados, enquanto se petisca uma tosta ou se bebe um chá ou uma Práxis, a marca de cerveja artesanal de Coimbra que saiu do World Beer Awards 2024, em Inglaterra, com seis medalhas.
Umas portas ao lado, encontrámos o Pharmácia, o primeiro bar LGBT da cidade. “Em Coimbra, uma cidade conhecida pelos seus movimentos ativistas, sempre faltou um espaço a que a comunidade queer pudesse chamar seu. A invisibilidade já não nos serve e, por essa razão, o Pharmácia LGBT Club representa uma conquista para toda a comunidade – um ato político e de ativismo social onde ninguém poderá negar a nossa existência”, lê-se no manifesto publicado nas redes sociais do clube, aquando da sua inauguração, a 6 de julho. Mais um sinal de que a cidade está a mudar.
Uns metros abaixo, numa esquina da Avenida Sá da Bandeira, batemos à porta da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), parceira de quase todos os eventos culturais que acontecem na cidade. Transmitindo ininterruptamente desde 1986, é composta e gerida apenas por estudantes universitários, sendo, por isso, um caso único no país. “Desde a sua origem até ao presente, a RUC é uma rádio livre, sempre no ar e sem restrições. Aqui se aprende e experimenta, se ensina e partilha”, explica o site oficial da rádio.
Quiçá a RUC, o Pharmácia e o Liquidâmbar participem na Festa de 5 de outubro do TAGV, para encher a Praça da República de cor e novas possibilidades de celebração em comunidade. Para isso, terão de contornar o caos das obras do Metrobus que se alastra por toda a cidade. Passear por Coimbra por estes dias significa esbarrar com uma série de vias esburacadas, sentidos cortados e incontáveis grades que delimitam a área por onde passará o tão ansiado metropolitano de superfície, um projeto idealizado lá atrás, nos anos 90. Os sucessivos adiamentos e processos em tribunal foram protelando a implementação deste novo meio de transporte e a população, descrente, foi desesperando com o passar do tempo.
“Toda a história com o metro leva mais de vinte anos, mas a nossa vontade não é alimentar o ressentimento. O ressentimento é uma coisa da extrema direita e nós, não querendo ficar presos a isso, procurámos ir ter com as pessoas que foram mais afetadas para lhes perguntar como é que estão e que caminho querem fazer daqui para a frente”. Aquilo que Luís Marújo nos diz reflete o modus operandi do Teatrão, companhia nascida em 1994 e que sempre se empenhou em criar elos com as comunidades através do teatro. O próximo espetáculo a estrear, conta o responsável de Comunicação do Teatrão, chama-se Com que Linhas te Cruzas e está relacionado, precisamente, com o Metrobus.
Dividido em duas partes, a primeira, À Espera, tem estreia marcada para dia 19 de setembro, na estação de São José, em Coimbra, que repetirá a sessão a 26 de setembro e a 10 de outubro. Haverá novas apresentações nos dias 22 e 29 de setembro, na Lousã e em Moinhos, e a 19 e 20 e de outubro, em Miranda do Corvo e Serpins. A segunda parte passar-se-á em 2025, nas carruagens do Metrobus, com a primeira apresentação a acontecer previsivelmente no Ramal da Lousã.
Até lá, o Teatrão continuará com o seu calendário normal de atividades, com destaque para a Todos São Palco – Mostra de Teatro Brasileiro do Teatrão, a decorrer até 31 de outubro. Neste ciclo de teatro itinerante por várias cidades do país, destacam-se as apresentações de Hamlet 16×8, a partir de Hamlet ou o Filho do Padeiro, de Augusto Boal, a 23 de outubro na Oficina Municipal do Teatro (espaço polivalente administrado pelo Teatrão); e de Esperando Godot, de Samuel Beckett, a 31 de outubro no Convento de São Francisco, aquele que é um dos principais equipamentos culturais camarários.
Levar Coimbra para fora de Coimbra
De volta ao Convento, onde na despedida do Cu.Co. Stereossauro se agarrou ao gira-discos, aos sintetizadores, pads e à mesa de mistura para fazer uma tour pelos temas de +351 (2024) e Bairro da Ponte (2019), falámos com João Silva, conhecido nas ruas conimbricenses como Jorri. Foi ele e João Rui, dupla da banda Jigsaw, que lançaram as bases da Blue House, à qual se juntou no momento da fundação, em 2018, Ricardo Jerónimo e Henrique Toscano, dos Birds Are Indie. “A Blue House nasce como espaço para trabalharmos e termos melhores condições. A nossa intervenção na vida cultural da cidade passa sempre por darmos condições aos artistas e criadores para criarem, se apresentarem e circularem.”
Definida a missão, criado um estúdio de gravação e implementada uma equipa de produção e de booking, a Blue House começou a espalhar os seus tentáculos pelo território, fosse em parceria com A Escola da Noite na dinamização dos “Sábados para a Infância”, no Teatro da Cerca de São Bernardo, ou no lançamento da iniciativa “MIC | Música Independente de Coimbra”, uma convocatória para descobrir novos talentos da região que serve de alimento para a programação do ciclo de concertos Café Curto.
Todas as terças-feiras desde 2020, o bar do Convento de São Francisco recebe músicos emergentes que ali se apresentam num formato intimista. “Em quatro anos já fizemos quase 170 showcases“, diz Jorri, explicando que dessas apresentações surgiu uma outra ideia, a do Café Duplo: “Na verdade, são residências expresso para trazermos músicos a Coimbra, para que conheçam a cidade, o nosso estúdio e para prepararem um concerto”. De cada uma dessas residências, aflora um tema inédito que, no final do ano, será incluído numa compilação. Em 2024 já passaram pelo Café Duplo Surma com Tiago Saga, Paulo Vicente com Bia Maria ou Luca Argel com Vânia Couto.
O projeto evoluiu de tal forma ao ponto de já ter despertado o interesse de outras geografias, com a promotora independente Dedos Biónicos a levar mensalmente o Café Duplo até ao Teatro Municipal de Bragança. “É fundamental criar estas dinâmicas de circulação de artistas”, ou seja, “levar Coimbra e o nosso pensamento em termos de programação para fora de Coimbra”.
Isso tanto acontece na música, como nas artes plásticas, campo em que o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC) atua desde 1958. Na Manifesta15 de Barcelona, que decorre até 24 de novembro, é possível ver Speak to the earth and it will tell you, do Prémio Turner Jeremy Deller, obra que fora comissariada pela Anozero, a Bienal de Coimbra. Já em Lyon, a CAPC marca igualmente presença através de uma peça do artista queer Robert Gabris, coproduzida com a Bienal de Arte Contemporânea da cidade francesa.
“A questão da escala é uma questão central para a Bienal”, refere Carlos Antunes, Diretor Artístico do CAPC, que também participou no Cu.Co. Se nos anos 70, diz, Coimbra era o epicentro da vanguarda, nas décadas seguintes foi perdendo gradualmente o protagonismo, ressentindo-se disso mesmo o CAPC. A Anozero, lançada em 2015, foi, nesse sentido, uma “locomotiva” que voltou a pôr Coimbra a carburar na esfera da arte contemporânea. “Nós somos uma micro Bienal, mas, apesar de tudo, conseguimos, do ponto de vista internacional, marcar alguns pontos. Acho que isso pode ser muito importante para o reconhecimento do trabalho incrível que todos nós fazemos”.
A próxima edição da Anozero será só em 2026, mas há quem já desenhe utopias maiores: “Acredito que um dia teremos a Manifesta em Coimbra”, afiança sorridente José Manuel Silva. Para isso seria necessário juntar, pelo menos, 8 milhões de euros, dezasseis vezes mais do que o orçamento da Bienal de Coimbra, mas o potencial, sublinha o Presidente da “terceira cidade com mais eventos culturais ao vivo”, está lá. “Com o capital humano, a localização geográfica, a história de dois mil anos de uma cidade, com todo este património mundial, a cultura e a consciência cultural que Coimbra e a sua região têm, vamos continuar a privilegiar e a apostar em todas estas iniciativas, porque queremos fazer explodir o potencial cultural, social, económico e turístico da cidade”.
Punk, hip-hop e jazz: tudo ao centro
Coimbra explode em vários campos e se houve movimento pioneiro nessa explosão, esse movimento foi o punk rock dos anos 80 e 90. Bandas de culto como os Tédio Boys, The Parkinsons ou M’as Foice lideraram uma torrente de insurreição e inconformismo que extravasou, em muito, a zona centro do país e que agora o Luna Fest quer trazer de novo para primeiro plano. Victor Torpedo, membro dos Tédio Boys, é, ao lado de Tito Santana, diretor do festival que em 2024 cumpriu a sua segunda edição e que apresentou nomes como Lene Lovich, Jon Spencer, Selma Uamusse, The Legendary Tigerman ou Belle Chase Hotel.
Não se pode dizer que o Luna Fest, que decorreu nos dias 6, 7 e 8 de setembro, tenha sido memorável. Os atrasos nos horários, a lembrar um tempo em que os festivais em Portugal eram feitos com mais paixão do que com profissionalismo, e a saída precoce de palco dos The Psychedelic Furs por falhas no sistema de som foram golpes difíceis de amparar. “Temos muito a fazer para que esta estrutura solidifique e enfrente as dores de crescimento de um festival que ambiciona ter um cariz internacional. Somos um Festival novo e teremos que sofrer estas dores de parto”, reflete a organização. No meio deste rebuliço, há, porém, uma certeza: “2025 está já aí e o Luna está para ficar”.
Enquanto uns dão os primeiros passos, outros ostentam com elegância a sua veterania, como é o caso do Jazz ao Centro, que celebra a sua vigésima segunda edição entre os dias 21 de setembro e 5 de outubro. A pianista japonesa Satoko Fujii abre o festival no sábado, às 21h30, no TAGV. O cartaz contará também com os concertos de Rodrigo Amado, Samuel Gapp, Hernâni Faustino e João Lencastre (4 e 5 de outubro), de Carlos Barretto e da saxofonista americana Zoh Amba (4 e 5 de outubro), com as residências artísticas de cinco músicos portugueses e britânicos, que se apresentarão a 26, 27 e 28 de setembro, ou com a estreia do projeto Aether – Cruzamento, espetáculo que junta o trio “Bode Wilson”, de João Pedro Brandão, Demian Cabaud e Marcos Cavaleiro às bailarinas Ana Rita Xavier e Wura Moraes (22 setembro, Convento São Francisco).
“O Jazz ao Centro nasceu numa altura em que Coimbra acolheu a Capital Nacional da Cultura. Desde 2003 que o festival tem sido um ponto alto”, explica José Miguel, Diretor do Festival e do Jazz ao Centro Clube (JACC), estrutura responsável pela publicação jazz.pt e pela JACC Records, editora que promove o trabalho de artistas de diferentes quadrantes musicais. No catálogo encontramos nomes menos conhecidos, mas relevantes do jazz nacional, como os guitarristas Marcelo dos Reis e João Firmino ou o saxofonista Desidério Lázaro, e outros já consolidados, como Maria João ou Afonso Pais.
Muitos desses artistas já se apresentaram no Salão Brazil, sala de espetáculos municipal, aberta em 2012 e gerida, precisamente, pela JACC. “Até chegarmos ao Salão Brazil estivemos muito centrados na área do jazz. O Salão Brazil obrigou-nos a uma espécie de viragem territorial e a pensarmos o território e a comunidade, temas que estavam um bocado ausentes do nosso léxico”.
O território, esse, é mutável e tem várias sonoridades. Se nos anos 90 era o punk a tomar conta das ruas de Coimbra, hoje é o hip-hop que está a reivindicar uma nova centralidade para o género em Portugal. Todas as quintas-feiras, desde 2023, centenas de rappers e entusiastas da cultura hip-hop juntam-se no skate park de Coimbra para a Roda ao Centro, como reportou o jornalista Ricardo Farinha ao Observador, na peça intitulada Roda ao Centro: a comunidade que está a redesenhar o mapa do hip-hop português. Redesenhar parece ser a palavra de ordem de uma cidade que não quer mais estar dividida entre a tradição e a contemporaneidade. Coimbra quer ser tudo ao centro. Se com ou sem Manifesta, logo se verá.