Uma mudança na política monetária europeia, a independência versus o controlo e escrutínio do BCE, ideias completamente diferentes sobre como deve a UE lidar com os direitos do trabalho e o aumento dos salários e modelos quase opostos sobre o crescimento económico da Europa. De um lado Cotrim de Figueiredo, do outro Catarina Martins, João Oliveira e Francisco Paupério, os cabeças de lista do Bloco, CDU e Livre, e para quem o número um da Iniciativa Liberal chegou a usar a frase “populismo de esquerda”.

O tema inicial do terceiro debate para as eleições europeias de 9 de junho começou logo com uma questão fracturante: a possibilidade de Portugal sair do Euro, que João Oliveira tinha admitido em entrevista. O cabeça de lista da CDU recusou dizer diretamente que defende essa possibilidade, ficando-se apenas por uma frase ambígua, em que afirmou que a moeda única “não é uma fatalidade”. Quando se passou a falar de BCE, a questão aqueceu ainda mais, e aí foram três contra o cabeça de lista da Iniciativa Liberal. Catarina Martins defende que o Parlamento Europeu tenha um mandato vinculativo sobre o Banco Central Europeu, Cotrim defendeu a independência técnica total.

Depois daí nunca mais se entenderam, com a esquerda toda (genericamente) do mesmo lado em relação a salários, trabalho e crescimento económico, enquanto a Iniciativa Liberal apresentava as suas propostas alternativas.

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O próximo debate será na segunda-feira, dia 20, na SIC, entre João Oliveira (CDU), Fidalgo Marques (PAN), Tânger Corrêa (Chega) e Cotrim de Figueiredo (IL). Pode ver os dias e os canais de todos os debates aqui. Os únicos frente a frente serão na Rádio Observador.

Quem ganhou o debate? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai dar nota de 1 a 10 a cada um dos candidatos e explicar porquê. A soma surge a cada dia, no gráfico inicial onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor e quem lidera.

Quem ganhou o debate: João Oliveira, Catarina Martins, Cotrim de Figueiredo ou Francisco Paupério?

Carlos Diogo Santos — Em alguns momentos foram 3 contra 1. Mas o debate acabou por servir para perceber o que distingue os candidatos nos vários temas abordados. E houve mesmo momentos acesos. Como aquele em que João Oliveira (CDU) tirou da cartola uma notícia sobre o lucro por hora dos bancos, numa altura em que os portugueses viram “as prestações das suas casas aumentarem”. João Cotrim Figueiredo (IL) não se conteve: “Esse ódio ao lucro é muito maior que o amor que têm pelas pessoas”. Mas comecemos pelo início: Portugal deve ou não sair da moeda única? O candidato da CDU não conseguiu ser claro — também não se esforçou muito — sobre se defende a saída de Portugal do Euro, limitando-se a dizer que o país deve, pelo menos, preparar-se para esse cenário. Ainda assim, defendeu, o Euro é apenas um dos obstáculos à melhoria das condições de vida, não o único. A falta de clareza na resposta foi uma deixa para Cotrim: “É inacreditável que continue sem explicar se quer a saída da Euro ou não”. E desafiou a dizer também se assumia a posição sobre a permanência na União Europeia. Quando a moderadora introduziu o tema do BCE, que teve os momentos mais acesos, foi Catarina Martins (BE) quem partiu ao ataque, interrompendo o candidato da IL: “Estou a ouvir um liberal a dizer que há uma instituição que manda na nossa vida e não deve ter escrutínio.” Distribuição da riqueza vs. Criação de riqueza: já a caminhar para o final, os candidatos do BE, da CDU e do Livre tomaram a defesa conjunta da necessidade de distribuir melhor a riqueza, com Cotrim a sublinhar que esse não é o caminho — afirmando inclusivamente que a Europa está a ficar para trás em relação aos EUA. Aqui, como em vários temas, Catarina Martins mostrou-se mais bem preparada para defender a sua posição, do que Francisco Paupério e João Oliveira. No final, deste 3 contra 1: Catarina Martins e Cotrim Figueiredo empataram.

Filomena Martins —Quando um eurocético assumido (que agora hesita em o assumir), uma eurocrítica (contra o eurocinismo, até “porque o mundo mudou”) e um novato nestas andanças tem uma cartilha sobre transição energética (boa, mas que se começa a tornar redudante), entram num debate com um liberal, acontece o esperado. São três contra um, sendo que neste caso Cotrim Figueiredo usou de todas as armas que conseguiu para se defender. Esteve mal quando resolveu que tinha de dar uma de professor, com a aula de literacia financeira, ou quando falou de ignorância, mas ainda assim foi sempre a jogo contra o trio de adversários, mesmo quando Catarina Martins se exaltou (e depois pediu desculpa por isso). A cabeça de lista do Bloco valeu-se também da sua experiência política para defender os pontos de vista que defende, nomeadamente em relação ao escrutínio sobre o BCE. Sobram Francisco Paupério e João Oliveira. Sobre a escolha, que chegou a ser polémica, do Livre, Paupério a espaços ainda foi respondendo (sobretudo a Cotrim), mas a argumentação que vem do primeiro debate (onde até se destacou) já se tornou uma cassete. Já João Oliveira, só no fim se animou e entrou no debate que já estava quase só a dois, perdeu-se no primeiro tema. A saída de Portugal do euro é demasiado importante e séria para que mantenha qualquer ambiguidade e se recuse a responder de forma direta. E dizer que o país está pior agora do que antes de ter entrado para a UE é de uma verdadeira cegueira ideológica.

Pedro Raínho — Previa-se um debate de três contra um mas, no final, não foi bem a isso que se assistiu. Ao lado de dois experimentadíssimos políticos — Catarina Martins e João Oliveira —, foi o rookie (ainda alguém olha para ele assim?) Francisco Paupério quem mais diretamente enfrentou o candidato da Iniciativa Liberal e, naquilo que em alguns momentos mais pareceu um frente a frente, obrigou João Cotrim Figueiredo a ir a jogo e a mostrar onde estavam as principais diferenças entre duas visões contrastantes para a Europa. Num debate em que se falou de salários e de políticas para a agricultura, foi o papel do Banco Central Europeu que mais animou a troca de ideias. Mal, Cotrim Figueiredo, quando sugeriu que os adversários alimentam a ignorância geral por terem chumbado no Parlamento uma proposta da IL de inclusão da literacia financeira nos currículos académicos (e numa série de outras acusações de “ignorância” e “populismo”). Bem, Catarina Martins e João Oliveira, quando lembraram que as regras europeias são para cumprir mais por uns que por outros.

Sara Antunes de Oliveira — Não deve ser fácil ser um rosto recente na política e debater com dois ex-lideres partidários e um ex-líder parlamentar. Catarina Martins e João Cotrim de Figueiredo mostraram muito cedo que estavam ali para assumir o controlo do debate. João Oliveira percebeu muito rápido que também tinha de entrar na conversa e os três fizeram deste o confronto mais animado e dividido até agora. Francisco Paupério, entre tiradas sobre o saneamento básico que o Euro trouxe a Portugal (!) e os agricultores contra a PAC, demorou a intrometer-se em alguns temas, teve alguma eficácia na troca de argumentos com Cotrim sobre as desigualdades na riqueza, mas nunca conseguiu impor-se. A experiência política ainda faz alguma diferença.

Quem ganhou o debate: Catarina Martins, Fidalgo Marques, Tânger Corrêa ou Francisco Paupério? Veja as notas

Quem ganhou o primeiro debate das europeias? Temido, Bugalho, Cotrim ou Paupério? Veja as notas