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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

Quem são os homens que vão mandar nas finanças do FC Porto?

Um tubarão que se confessa inquieto, um gestor que chocou com o PS, um outro que foi adotado pela Sonae e um banqueiro que testou a gestão pública. Quem são os financeiros dos candidatos ao Porto?

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A saúde financeira do FC Porto foi um dos temas que mais fez falar os dois candidatos à presidência dos azuis e brancos. Jorge Nuno Pinto da Costa, 86 anos, é presidente do clube há mais de 40 anos, candidata-se ao seu 16.º mandato. André Villas-Boas, 46 anos, foi observador e treinador do FC Porto e candidata-se pela primeira vez à liderança dos dragões.

As eleições realizam-se este sábado e aí se saberá qual das três listas – além dos dois referidos há um terceiro candidato, Nuno Lobo – sairá vencedora. Pinto da Costa reuniu novos nomes à sua volta e Villas-Boas formou uma equipa de gestores que, embora não tratando o futebol pelo primeiro nome, não são totalmente desconhecidos neste mundo.

A área financeira mereceu especial atenção de ambos os candidatos que apresentaram os seus “preferidos” no decurso da campanha. João Rafael Koehler e José Fernando Figueiredo, por Pinto da Costa; José Pedro Pereira da Costa e João Begonha Borges, por Villas-Boas. Quem são eles?

Os homens de Jorge Nuno Pinto da Costa

João Rafael Koehler, um “inquieto” que “há muito” ambiciona ser presidente do FC Porto

Além do antigo guarda-redes (e atual administrador) Vítor Baía e do antigo jogador e treinador (e principal acionista individual) António Oliveira, o candidato a vice-presidente do FC Porto mais mediático é João Rafael Koehler, que se tornou uma cara conhecida do grande público por ter sido um dos jurados do Shark Tank, um programa da SIC em que empreendedores procuravam financiamento para os seus projetos.

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Na altura em que participou no Shark Tank, em 2015, Koehler, então com 42 anos, era presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários e empresário, filho dos fundadores da Colquímica Adhesives, uma companhia de Valongo que, além de Portugal, está na Polónia e entrou, mais recentemente, nos EUA – é líder ibérica na produção de colas “hot melt“.

A família, de origem holandesa e espanhola, fundou a Colquímica em 1953 – o pai era engenheiro e criou o negócio com a ajuda da mulher, professora de Química. Depois da passagem da empresa para os filhos, dois irmãos (João Pedro e Sofia) compraram a parte de João Rafael, e são esses dois irmãos que têm continuado a gerir o negócio – e a gerir com sucesso.

Essa capacidade de enfoque total num só negócio, que os irmãos estão a demonstrar, não é algo que caracterize João Rafael, referiu um empresário do norte com quem o Observador falou. “Tem boa cabeça, tem faro, sabe ligar as coisas, ligar as pontas dos negócios, mas não o vejo como um executivo capaz de se focar numa coisa a 100%, neste caso numa eventual presidência do clube como o FC Porto”, diz este empresário.

“Há muito que se comenta, na cidade, que ele quer chegar a presidente do FC Porto”, diz a mesma fonte. Koehler começou por ser um crítico de Pinto da Costa “mas, entretanto, deverá ter considerado que a melhor maneira de chegar à presidência é aproximar-se dele, para lhe suceder”, afirma a mesma fonte.

O próprio João Koehler admitiu, numa entrevista que deu em 2014, que não tem na sua fibra a dedicação apenas a um negócio ou atividade. “Começa a ser chato fazer sempre a mesma coisa. Como tenho um perfil muito inquieto, é quase insuportável”, afirmava.

“Começa a ser chato fazer sempre a mesma coisa. Como tenho um perfil muito inquieto, é quase insuportável”
João Koehler, em entrevista ao Observador em 2014

Apesar da auto-confessada “inquietude”, praticou entre os 11 e os 18 anos “um desporto individual que exercita a paciência”. Esse desporto é o karaté, como explicou o próprio na biografia no Jornal T, uma publicação sobre a indústria têxtil dirigida por Manuel Serrão, colega nas lides do Portugal Fashion (do qual chegou a ser presidente da direção).

Koehler licenciou-se em Direito na Universidade Católica do Porto (com mestrado em Relações Internacionais) e, depois de ter exercido advocacia por pouco tempo, rapidamente se virou para o mundo das empresas. Teve uma passagem fugaz pela política, como militante da JSD, distrital do Porto, no tempo de Luís Filipe Menezes e Valentim Loureiro, e trabalhou como assessor do então presidente da Câmara de Valongo (Fernando Melo).

Porém, sobretudo depois de vender aos irmãos a sua parte Colquímica, Koehler virou-se quase exclusivamente para os negócios, assumindo um papel de “business angel“, investidor individual em pequenos negócios em fase de expansão, ao mesmo tempo que crescia dentro do associativismo empresarial, sobretudo a ANJE.

Koehler tem quatro filhos, com idades entre 22 e 15 anos, fruto do seu primeiro casamento. Casou segunda vez, em 2019, com a manequim Débora Sabbo. É um frequentador dos eventos da alta sociedade do Porto, mas os negócios, porém, não têm corrido especialmente bem. Não só os do Shark Tank (aliás, é mal geral, poucos negócios ali feitos pelos “tubarões” acabaram por ter sucesso), mas também os outros.

João Rafael Koehler vendeu a sua participação na Colquímica, empresa familiar, aos irmãos João Pedro e Sofia, que estão a gerir a empresa com sucesso.

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Em 2016 fundou uma empresa de autenticação e identidade digital, a Biometrid, que ainda não se afirmou porque “a tecnologia tem algumas fragilidades”, diz uma outra fonte mais ligada às empresas tecnológicas. Um ano mais tarde, em 2017, cofundou a Growth Partners, uma sociedade de capital de risco que só teve mais sucesso nos anos recentes, depois de Koehler vender a sua participação a investidores espanhóis (em 2019).

Antes destas, já tinha criado em 2014 uma outra empresa cuja atividade está mais próxima do negócio da família, que João Rafael conhecia por dentro: a Elastictek, uma empresa de Ovar que faz bandas de polietileno, uma fibra usada nos elásticas das fraldas, por exemplo.

No início, Koehler conseguiu captar 15 milhões de investimento e alavancou a empresa com 19 milhões de euros em dívida. Atualmente tem uma dívida de 17 milhões e teve nos últimos oito anos um resultado operacional negativo acumulado de dez milhões de euros. Só teve resultado operacional positivo em 2020, ano do início da pandemia e altura em que a Elastictek mobilizou parte da produção para fazer máscaras e outros dispositivos de proteção pessoal e médica.

João Rafael Koehler, que não respondeu a uma tentativa de contacto por parte do Observador, chegou a ponderar uma candidatura à presidência do clube em 2020. Mas acabou por recuar, dizendo que não tinha “reunido as condições” para avançar. Isto depois de ter sido muito crítico em relação ao “descalabro financeiro” que, na sua opinião, grassava no FC Porto – “descalabro” pelo qual responsabilizava o próprio Pinto da Costa: “Se fosse eu, demitia-me“, dizia ao Expresso.

Mais recentemente, os comentários que faz em privado são diferentes: Pinto da Costa estava era “mal acompanhado”, relatou uma fonte ouvida pelo Observador. A situação é difícil mas, agora, Koehler já atribui as culpas mais a Fernando Gomes e Adelino Caldeira, administradores que estão a sair da instituição.

Há dois anos, entrevistado na Rádio Portuense, foi questionado sobre se tinha a ambição de ser presidente do FC Porto. “Não”, garantiu, antes de contextualizar: “Eu diria que quem quiser muito ser presidente do Porto não devia ser” porque “estes cargos não estão talhados para quem quer, tem de haver uma confluência de fatores e as pessoas têm de ser empurradas para ser”. Mas logo chutou para canto: “Aquilo que eu ambiciono é o Porto voltar a ser campeão europeu, isso é que é uma grande ambição que eu tenho”.

José Fernando Figueiredo, um “comunicador nato” que chocou com secretário de Estado de Costa

Nasceu em Folgosa do Douro, Armamar, o gestor que será administrador–financeiro do FC Porto se Pinto da Costa conseguir ser eleito para o seu 16.º mandato à frente do clube. José Fernando Figueiredo, hoje com 58 anos, é sobretudo conhecido por ter sido presidente da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) até junho de 2017, a entidade que, fundida com outras entidades públicas, viria a originar o atual Banco Português de Fomento (BPF).

Começou a carreira na Inter-Risco (uma parceria entre o BPI e um private equity inglês), e desde o início da carreira focou-se na esfera das sociedades de garantia mútua. Tornou-se um “craque” nessa área, diz uma fonte com quem trabalhou há vários anos, que lhe elogia a proatividade e a “ótima capacidade de comunicação”. As garantias mútuas são sistemas mutualistas de apoio às pequenas e médias empresas (PME), através da prestação de avales que facilitam a obtenção de crédito em condições mais favoráveis do que seria possível sem essa garantia pública.

Ao lado de José António Barros, que em 2008 sairia da SPGM para a liderança da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Figueiredo ajudou a criar a Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua (SPGM) “quase de raiz e, por isso, era adorado por todas as pessoas daquela estrutura, muitas delas trazidas por ele para o setor”, diz uma fonte que conhece o gestor há várias décadas. O dinamismo e a experiência nesta área granjearam-lhe, também, cargos importantes em plataformas do setor das garantias mútuas a nível europeu e até mundial – e é, também, consultor do Banco Mundial.

“É muito extrovertido, um comunicador nato, conhecido por gostar de aproveitar bem as missões no exterior, com uma boa dose de boémia à mistura”, diz uma fonte ouvida, ao que outra acrescenta uma “capacidade de mobilizar esforços absolutamente invulgar, cá dentro e lá fora, por exemplo na organização de eventos internacionais do setor”.

José Fernando Figueiredo, licenciado em Economia pela Universidade do Porto, é casado e tem um filho. A personalidade forte – e um pendor político mais alaranjado – terá contribuído para que se incompatibilizasse com João Vasconcelos, o então secretário de Estado da Indústria de António Costa, que morreu em 2019.

A rutura deu-se em 2017. “Eram duas personalidades muito fortes, acabaram por chocar de frente, como às vezes acontece nestas coisas”, disse uma fonte deste meio. Outra fonte corrobora esta leitura: “Figueiredo enfrentou o Vasconcelos desde o início, achava que o Governo não estava a fazer o que tinha de fazer para aquilo crescer… ”

Embora lhe fosse reconhecida experiência e competência, na área em que se especializou, nunca teve boa relação com Vasconcelos porque na interação com os membros do governo “normalmente tinha uma postura de, antes de encontrar soluções, encontrar problemas” – esta é a perceção dos fiéis ao secretário de Estado entretanto falecido. Contactado pelo Observador, José Fernando Figueiredo preferiu não fazer comentários sobre aquele período, não escondendo, porém, que não é de boa memória.

Mas o desalinhamento estratégico tornou-se óbvio logo que o governo de António Costa tomou posse, no final de 2015, já Figueiredo estava na liderança do IFD há quase um ano. Fontes próximas do governo dessa altura recordam que, por mais do que uma ocasião, chegou atrasado a reuniões com o secretário de Estado e até com o ministro (da Economia). José Fernando Figueiredo confirma, ao Observador, que isso aconteceu “pontualmente”, devido a outros afazeres profissionais que levaram a que perdesse o avião do Porto para Lisboa.

Para mim, um empresário, que cria emprego e gera riqueza para o país, ou um colaborador, que ajuda a organização a evoluir, não é menos importante que um ministro ou secretário de estado, sem prejuízo na necessária institucionalidade. Por isso, admito que me possa ter atrasado em reuniões com empresários e tenha perdido uma ou duas vezes aviões para ir a Lisboa a reuniões com ministros”, confirma Figueiredo, ao Observador.

A determinada altura, chegou à imprensa que José Fernando Figueiredo acumulava os cargos de presidente da Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua com os de presidente das quatro sociedades de garantia mútua (e respetivas remunerações), que ainda hoje existem: três com pendor mais regional (Norgarante, Lisgarante e Garval) e, ainda, uma quarta que é a Agrogarante, de âmbito nacional e mais dedicada à agropecuária (da qual ainda é hoje o Presidente). “Não eram remunerações extraordinariamente elevadas mas, todas somadas, se calhar faziam dele o tipo mais bem pago em todo o Estado”, admite uma fonte ligada ao governo da altura.

Contactado pelo Observador, além de mostrar algum desconforto pessoal com este tema, recorda que foi eleito para todos esses cargos pelos acionistas nas respetivas assembleias gerais, sempre por unanimidade, tendo os mesmos cargos sido comunicados e aceites pelo Banco de Portugal – e todos os vencimentos foram sempre aprovados pelos respetivos conselhos de remunerações. Esta era, aliás, uma situação que já vinha do seu antecessor (na SPGM e entidades mutualistas), acrescenta.

José Fernando Figueiredo recorda, também, que “algum tempo mais tarde a Procuradoria-Geral da República haveria de arquivar essas alegações de acumulação de cargos, deixando claro que não havia sido cometida nenhuma ilegalidade”. Aliás, “depois disso, muita gente no Estado passou a acumular cargos graças à decisão sobre este caso, e aí já não os vi nada preocupados“, atira.

Na altura, porém, sabendo que não era “querido” pelo poder, José Fernando Figueiredo saiu da SPGM e, alguns meses mais tarde, no verão de 2017, deixou a presidência da IFD. Nenhuma das partes alguma vez quis esclarecer, publicamente, as razões para essa substituição. “Foi uma indicação dos acionistas. Não tenho estados de alma sobre as decisões dos acionistas. Portanto, estou absolutamente sereno e tranquilo”, disse Figueiredo, na altura, à imprensa.

Ao Observador diz agora ter ficado “muito desiludido por não [o] terem deixado montar um verdadeiro Banco de Fomento em Portugal, que o país bem precisa e teria sido o resultado da evolução natural do IFD, que já estava licenciado pelo Banco de Portugal e pela Comissão Europeia”. A partir daí, deixou de ter “qualquer atividade pública”, já que permaneceu na presidência da Agrogarante mas essa é maioritariamente privada (por ser uma mutualidade constituída pelas empresas).

Hoje diz “gastar a maior parte do tempo a trabalhar para o Banco Mundial, com sede em Washington, como consultor sénior, e também para o maior fundo europeu de co-investimento em tecnologias disruptivas, com sede no Luxemburgo”. Tem, também, investimentos onde se incluem uma “pequena participação, não executiva e sem interferência na gestão” na Quadrantis, a empresa de capital de risco que foi comprada por João Koehler, de quem diz ser “amigo há muitos anos“.

Esta empresa, a Quadrantis, foi notícia nesta campanha eleitoral porque uma subsidiária sua (Connect Capital) fez um financiamento ao FC Porto. Anteriormente, a Quadrantis também foi notícia por ter interposto uma providência cautelar contra o Banco de Fomento – por ter sido excluída de um programa de apoios empresariais (Programa de Venture Capital). João Koehler já descartou que José Fernando Figueiredo, o homem que se propõe endireitar as contas do FC Porto, tenha tido qualquer envolvimento no financiamento ao FC Porto ou em qualquer outra questão relacionada com a Quadrantis. “É acionista da Quadrantis da mesma forma que eu sou acionista da Google“, atirou o empresário. Já Koehler disse ao Público que, se passar a ser vice-presidente do FC Porto, afastar-se-á da Quadrantis e extinguirá qualquer ligação com os negócios da empresa.

Os homens de André Villas-Boas

José Pedro Pereira da Costa, o financeiro que conhece bem a banca (nacional e estrangeira)

Quando, em 2007, no Forum Picoas se decidia a cisão da então PT Multimédia, no seguimento da OPA da Sonaecom sobre a PT, não houve dúvidas para que lado José Pedro Pereira da Costa penderia. Acompanharia Rodrigo Costa na nova empresa. E assim chegava a administrador financeiro, de plenos poderes, na PT Multimédia que se transformou em Zon passados uns meses e que acabaria Nos, depois da junção com a Optimus. E foi aí que José Pedro Pereira da Costa se tornaria uma espécie de “homem Sonae”. Foi adotado pela Sonae, sem ter sido criado no seu seio à maneira antiga. Esteve, aliás, no outro lado no combate (sem sucesso) da Sonae para ficar com a PT naqueles anos de 2006 e 2007.

Começava a caminhada de 16 anos de José Pedro Pereira da Costa na Zon/Nos, que lhe deu acesso direto ao mundo do futebol e que lhe permitiu que conheça como poucos os meandros dos direitos televisivos (como distribuir e como produtor de conteúdos). Direitos que, no futebol, estão, agora, a caminho da centralização, que tem data marcada para a época 2028/29.

Foi no seu tempo que a Nos patrocinou a principal liga de futebol desde 2015 (“salvando” então a Liga liderada por Luís Duque, ao patrociná-la, depois de um ano em que não tinha conseguido quem o quisesse fazer) a 2021; a Nos adquiriu os direitos televisivos do Benfica, Sporting e Sporting de Braga; a Nos era (e é) acionista da Sport TV, onde José Pedro Pereira da Costa se sentou no conselho de administração. E também é pela fusão da Zon com a Optimus – da qual foi um pivô importante – que entra no mundo da Sonae.

Mas Pinto da Costa, candidato da lista opositora à de André Villas-Boas – do qual José Pedro Pereira da Costa será (se eleito) administrador financeiro – vê perigo nestas ligações empresariais do gestor. Numa entrevista à SIC o atual presidente do Porto indicou que a sua candidatura (aos 86 anos) só aconteceu “depois de ver aquela que parecia ser uma OPA da Sonae e da Olivedesportos sobre o FC Porto”.

Quando se anuncia um indivíduo como o super star das finanças – sr. Pereira da Costa, um antigo empregado da Olivedesportos e depois foi para a Nos –, quando vejo um senhor antigo funcionário da Olivedesportos e da Nos, que não pode ir para a direção do FCP porque só é sócio efetivo desde final de 2023, pergunto que credenciais é que este senhor tem?”

O ataque de Pinto da Costa centrou-se na ligação à Sonae e à Olivedesportos, acionista, com a Nos, a Altice e a Vodafone, da Sport TV. Durante a gestão de Pereira da Costa, a Zon/Nos até reduziu a sua posição na Sport TV para que Vodafone e Altice pudessem entrar, repartindo o capital com a Olivedesportos, na empresa dos canais de desporto. José Pedro esteve envolvido em todas essas negociações. E não gostou quando perdeu para a rival Altice, em 2015, os direitos televisivos do “seu” Porto por quase 500 milhões de euros, um contrato que passou a vigorar em 2018, mas eram valores aos quais a Nos não queria chegar. Pouco tempo antes tinha garantido, por menos, os direitos do Benfica e uns dias depois garantiu os do Sporting também por valores a superar os 400 milhões. Os jogos do Benfica em casa são os únicos que não são transmitidos via Sport TV.

José Pedro Pereira da Costa teve direito a uma conferência de imprensa dedicada a si

Nestes 16 anos de Nos José Pedro Pereira da Costa viu vários anos o presidente da companhia entregar troféus aos rivais. Mas viu em metade deles serem erguidos no Dragão. Desde 1967, ano em que nasceu, o Porto já ganhou o campeonato 25 vezes. O primeiro que presenciou (1977/78), depois de um interregno de 19 anos quebrado pela mão do treinador José Pedroto, já apanharam Pereira da Costa em Lisboa. Por razões familiares saiu do Porto para viver em Lisboa. O pai, que tinha sido campeão de andebol seis vezes pelo clube e que é o sócio 178, foi trabalhar para a capital e aí Pereira da Costa ficou e estudou. Contou já as dificuldades que sentiu em ser portista na terra dos rivais Benfica e Sporting. Já era sócio do FC Porto. “Sou sócio praticamente desde que nasci”.

Nasceu em 1967, entrou para sócio em 1971, ficando com o número 3.978. “Tive a felicidade de ser inscrito como sócio pelo meu avô, e desde miúdo que o acompanhei e passei a frequentar o estádio das Antas. As minhas primeiras recordações de infância estão ligadas ao Futebol Clube do Porto”. Mas foi em Lisboa que teve de viver as alegrias e tristezas ligadas ao futebol. Segundo Pinto da Costa, como sócio correspondente (só se tornou efetivo em 2023, disse o atual presidente), o que, pela sua interpretação, limitar-lhe-ia a sua participação na direção do clube.

Se muitos dos jogos teve de acompanhar, em jovem, pela rádio ou esperar que o Porto viesse à área de Lisboa, já nas suas funções de gestor conseguiu ao vivo assistir a alguns jogos emblemáticos (outros de mais triste memória, como uma goleada em Inglaterra). Saiu da Nos em dezembro de 2023, tendo encontrado apoio familiar para se atirar de cabeça à candidatura de André Villas-Boas. O apoio da “mulher Ana” (fotojornalista) e dos (três) filhos – “todos portistas” – foram essenciais para Pereira da Costa ter “dado o sim incondicional” ao convite a André Villas-Boas.

Quem trabalhou com Pereira da Costa, ou melhor com o Zé Pedro, sabe a sua preferência clubística, mas não deixa de ficar surpreendido com a sua opção de avançar para a direção do clube, deixando para trás uma carreira bem sucedida de administrador financeiro. “Podia ser gestor em qualquer lado, quer em Portugal, quer fora”, assume um ex-colega, que se recorda bem do gosto que Pereira da Costa tem às finanças –  enquanto cursava gestão na Universidade Católica chegou a ganhar prémios de melhor aluno de Finanças e Gestão de Empresas –, mas também à gestão desportiva, além do conhecimento vasto do mundo da banca e dos meandros da bolsa.

Passou pelo setor da banca como gestor, no BPI e no Santander, mas é às telecomunicações que ficará ligado para sempre. Primeiro quando entrou para a Jazztel, nos primórdios da liberalização do setor em Portugal. Joaquim Paiva Chaves, que foi presidente desta operadora (que acabou vendida à SGC de Pereira Coutinho), conhecia Pereira da Costa da toda-poderosa consultora McKinsey (uma porta de entrada de muitos gestores na alta roda empresarial). O desafio para seguir consigo o caminho da Jazztel recebeu o “sim” de Pereira da Costa que em pouco tempo teve o que na altura se considerava uma oferta “irrecusável” da Portugal Telecom. Aí entrou para o negócio das comunicações móveis. A PT queria cotar a subsidiária PT Móveis e nisso pensou quando contratou Pereira da Costa que acabou no Brasil a negociar uma joint-venture com a Telefónica. Voltou a Portugal para a PT Comunicações (que era a que tinha a rede fixa) onde trabalhou diretamente com Rodrigo Costa, decisivo para formar a equipa da Zon, onde entrava também Luís Lopes, atual presidente da Vodafone Portugal. Mais tarde cimentou também a relação com Miguel Almeida (presidente da Nos), com quem partilha o gosto clubístico.

Quando se pergunta por hobbies todos os contactos referem o desporto – ténis, como jogador amador, o padel, o futebol, tendo ensaiado a prática de golfe – e as viagens. Agora a viagem vai ser outra “com grande sentido de responsabilidade”, assumiu na sua apresentação como o homem das finanças de Villas-Boas.

João Borges já andava de braço dado com André Villas-Boas

Chega à equipa que Villas-Boas propõe para o FC Porto depois de liderar o seu projeto de solidariedade social, Race for Good, que nasceu em 2018. João Borges entra na entidade em 2022, após ter passado pela empresa de casinos online do grupo Amorim e de ter estado na Dugout Limited, empresa que tinha parcerias com clubes para direitos sobre vídeos e fotografias, e que acabou adquirida pela OneFootball, plataforma de conteúdos sobre futebol.

Uma passagem pelo futebol e pela solidariedade social, mas João Borges e André Villas-Boas já não eram desconhecidos. João Borges, portuense, tem 44 anos e é licenciado em Economia pela Universidade Católica. Deloitte e Banco Best são algumas das empresas no seu currículo, mas foi no Banco Carregosa, um banco do Norte, que passou mais anos. Ao fim de oito anos decidiu dar novo rumo à sua carreira, e enveredar por uma função de gestor público, na Administração do Porto de Aveiro e da Figueira da Foz.

Segundo apurou o Observador, o seu nome para esta infraestrutura foi indicado por estruturas ligadas ao PSD dessa região. A referência valeu-lhe a inclusão numa lista que chegou ao Governo PSD/CDS, tendo sido nomeado vogal desse porto, para mais tarde, já com Governo PS, ter chegado à presidência da empresa depois da renúncia de João Pedro Braga da Cruz que, em 2015, tinha sido nomeado para o cargo máximo. Renunciou e João Borges, o “jovem gestor, com grande dinamismo”, como é descrito ao Observador, ascendeu já com um governo de outra cor política, o que leva a mesma fonte a não o catalogar como “boy” social-democrata como chegou a ser caracterizado pelo Correio da Manhã. “Governo nomeia ‘boys’ em Aveiro” era o título da notícia desse jornal que dava conta da escolha de Braga da Cruz, Olinto Ravara, Luís Leal e João Begonha Borges para a administração do porto, isto depois do até então presidente da infraestrutura, José Luís Cacho, ter sido despedido por fax, contava o Correio da Manhã. 

Depois dessa escolha, em 2015, para vogal, chegou, provisoriamente, à presidência em 2018, até às novas nomeações (foi presidente de março a junho de 2018). João Borges sairia, nessa altura, da infraestrutura portuária, para onde tinha ido arriscando uma carreira como gestor público a ganhar menos do que acontecia no Banco Carregosa. Na instituição financeira tinha estado a trabalhar com muitos clientes particulares que tinham dinheiro para investir em ativos. Não era João Borges que decidia os investimentos (isso era com o departamento de gestão de ativos), mas assumia o contacto com os investidores. Conheceu grandes empresários do norte, por essa via. Mas quis conhecer outro mundo na gestão e transitou para o Porto de Aveiro e Figueira da Foz, tendo o seu nome sido aprovado pela Cresap e pelo Ministério das Finanças. Esta função, embora por poucos meses, foi realçada por Villas-Boas na apresentação que fez do gestor que quer para diretor de operações.

Villas-Boas não o referiu, mas João Borges foi jogador de futebol. Aliás, no Zero Zero aparece a sua ficha. Foi do Ramaldense, do Pasteleira e do Marechal Gomes da Costa. Jogava a guarda-redes. A carreira de futebolista não foi longe. É o sócio do FC porto número 77.872. Diz quem o conhece que tem intuição económica e financeira, preparação técnica, é determinado e tem mentalidade empreendedora, adaptando-se facilmente no diálogo consoante o interlocutor. Já não tem registo no Zero Zero, mas continua a ser um desportista.

João Borges e José Pedro Pereira da Costa estão os dois na lista de André Villas-Boas. Partilham a veia portuense e portista. Têm amigos comuns, o que é muito comum no mundo do Porto, cidade.

 
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