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Andreia Reisinho Costa

Andreia Reisinho Costa

Shark Tank. Quem são e o que querem os tubarões do investimento?

Não têm limite máximo para investir, querem acrescentar valor aos negócios e procuram pessoas a quem não falte honestidade, capacidade de trabalho e paixão. Empreendedores, bem-vindos ao Shark Tank.

São cinco investidores com 2,5 milhões de euros para investir, no mínimo. Os tubarões do programa de televisão que vai estrear na SIC no início de 2015 conversaram com o Observador e disseram o que querem, como querem e porque querem investir. Numa coisa, todos estão de acordo: o investimento não se faz apenas de negócios, mas de pessoas. Checklist rápida para quem não tem tempo a perder – a melhor arma de um empreendedor passa pela honestidade e a melhor ferramenta para um bom pitch passa pela precisão. E à simplicidade, ninguém resiste. Até porque transforma a tecnologia mais inovadora num negócio tão claro como a água. Aviso de antemão para os empreendedores portugueses: preparem bem as apresentações. Porque uma coisa é certa: nenhum dos tubarões vai querer ficar na dúvida e nenhuma pergunta pode ficar sem resposta.

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“Invisto não tanto para ganhar dinheiro, mas para ver as coisas acontecerem”

Achava que ia ser advogada, mas os testes psicotécnicos mudaram-lhe o rumo e o Direito cedeu o lugar à publicidade. Não se arrepende. Apaixonada pelo que faz, em 2003, Susana Sequeira lançou aquela que é a agência de publicidade mais premiada do país, a MSTF Partners. Ao Observador, explicou que na área da criatividade, ninguém se deve mover por dinheiro. “Devemos fazer o que gostamos e trabalhar onde temos potencial para crescer. O dinheiro vem depois”, conta. Mãe de duas crianças, o Manuel com cinco anos e a Clara com três, gosta de música clássica e de passear na praia, mesmo que as temperaturas sejam as típicas de um dia de inverno. Lembra a noite em que leu o Só avança quem descansa, do padre Vasco Pinto Pinto Magalhães, de uma assentada, e não se inibe de dizer que toma decisões com base em feelings. “Raramente me engano”, adianta. E a quem acha que a intuição se confunde com emoção, esclarece: “Eu sou mulher, mas sou muito homem a trabalhar”.

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Criativa, empresária, 42 anos, investidora. Low-profile e pragmática. Susana Sequeira deixa o aviso. Melhor, deixa cinco. Aos empreendedores que tiverem a oportunidade de apresentarem a sua ideia de negócio no Shark Tank, pede: “Não sejam exagerados. Não tenham falta de bom senso. Não me peçam mais dinheiro do que na realidade a empresa vale. E não me venham com coisas mal estruturadas”. Se ainda houver quem tenha dúvidas, fica a nota de esclarecimento: Susana Sequeira não acredita em pessoas que começam um negócio sem ganhar dinheiro. “Isso só baralha as contas da empresa”, revela. Para lançar a MSTF Partners, conta que trabalhava à noite para durante o dia se deslocar aos escritórios dos clientes, com os sócios, para apresentar propostas. Em dez anos, conta que nunca perdeu um cliente.

Para Susana Sequeira, na área da criatividade, ninguém se deve mover por dinheiro.

© Hugo Amaral/Observador

“Depois de ter sido diretora criativa, percebi que não era possível mudar gigantes e que, apesar de ter alguma importância, não tinha a importância necessária” para transformar a agência em que trabalhava naquilo que era a sua visão, explicou ao Observador. E desde quando é que investe noutras empresas? “Desde que tenho dinheiro para investir”, revela. Os investimentos podem ser pessoais ou da empresa, desde que os sócios estejam todos de acordo. O último investimento conjunto dos sócios foi no maior terreno da Península Ibérica de plantação de pera-rocha, no Alentejo. Mas também já ajudaram um grupo de portugueses a lançar uma cadeia de restaurantes na China, e apoiaram uma empresa tecnológica.

A título pessoal, Susana Sequeira investe em projetos em que acredita e em pessoas em quem confia. Uma hamburgueria e uma empresa de catering são alguns dos negócios que constam do seu portefólio. “Invisto não tanto para ganhar dinheiro, mas para ver as coisas acontecerem. Às vezes, as pessoas só precisam de um empurrão para começar”, diz, acrescentando que quando vê uma boa ideia, quer logo vê-la avançar. Sobre o Shark Tank, diz que não estabeleceu nenhum limite máximo de investimento. Nem quer.

“Acho que consigo motivar as pessoas, mesmo os mais pessimistas, de que é possível. Acredito mesmo que as coisas são possíveis".
Susana Sequeira

De que anda à procura? De ideias que se destinem a mercados que conheça minimamente, de pessoas sérias, de startups onde possa contribuir além do investimento financeiro, onde possa ajudar a criar uma marca, um posicionamento e ajudar a vendê-la. “Não tenho nada contra estudantes, adoro estudantes e pessoas cheias de ideias, mas, às vezes, falta-lhes um bocadinho de emoção e experiência. Uma startup que tiver, por detrás, uma pessoa que trabalhou numa área e que, da sua experiência profissional, chegou a uma ideia por conhecimento e porque sabe que aquilo é exequível, para mim é mais tentador”, revela.

E não é de grande percentagens nos negócios que Susana Sequeira anda à procura. “Acho que ter 30% de uma empresa é fantástico”, revela, acrescentando que não vê com bons olhos quem lhe propuser 50 ou 60% do negócio. “Os empreendedores têm de ter paixão e vontade de conduzirem o seu próprio negócio”, diz. E o que é um bom empreendedor? Uma pessoa séria, com iniciativa, eficiente e competente, corajosa, que entenda que num negócio não se deve confundir o dinheiro pessoal com o da empresa, explica.

Sem preferência por uma área de atividade em específico, a shark avança que “é bom” que as ideias estejam bem explicadas, sobretudo as que incidem sobre áreas que não domina. E que ninguém gosta de perder, mas que falhar é um mal necessário. “Acho que consigo motivar as pessoas, mesmo os mais pessimistas, de que é possível. Acredito mesmo que as coisas são possíveis. Sou um bocadinho pragmática a avaliar as coisas e detesto indecisões. Para mim as coisas ou se fazem ou não se fazem e não há tempo a perder. É arrancar.”

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“Apaixona-me a ideia da multiplicação, da reprodução do capital”

Fé, perseverança, conseguir ver, provar, sentir e analisar o futuro. O dinheiro vem depois. Tim Vieira, 39 anos, filho de pais portugueses, nasceu em Joanesburgo, África do Sul, no mesmo dia em que Nelson Mandela e o milionário Richard Branson vieram ao mundo, conta. “Ter uma boa ideia é fundamental. Mas a fé e a perseverança são imprescindíveis, obrigatórias. São, no fundo, o segredo para o sucesso”, explicou ao Observador. Fã de clássicos tão distintos como Dire Straits, Billy Joel ou Alphaville, adianta que o primeiro milhão é o mais difícil de fazer crescer e que o empreendedor nato e com capacidade de concretização é aquele “cujo sentir o empurrará em definitivo para a realização dos seus sonhos e para a reprodução do capital investido”.

Livro que marcou a sua vida? A Bíblia, que se mantém como um dos livros mais atuais e relevantes que conhece. O homem que criou a primeira cerveja artesanal da África do Sul nos anos 1990 conta que este é o “best-seller que o conforta” e que faz sentir que está “em boa companhia sempre que necessita de algo para além do óbvio”. Tal com outros grandes nomes do empreendedorismo mundial, como Steve Jobs ou Bill Gates, desistiu da universidade sem ter concluído a licenciatura em Gestão e Administração de Empresas, na UNISA – University of South Africa.

Tim Vieira começou a gerir o supermercado da família ainda jovem

“Não completei a universidade porque entrei cedo no mundo dos negócios e porque acredito que a experiência e a prática profissional assumem, no nosso desempenho e nos resultados que queremos alcançar, um papel determinante. Obviamente que a universidade e os graus académicos são importantes, mas já me cruzei com muitos profissionais bem formados cuja prática está longe de corresponder ao que as empresas deles precisam”, explicou ao Observador. Mais tarde, concluiu um curso de Gestão Avançada, na Chicago Booth School of Business. Em Angola, é proprietário de um dos grupos de media mais relevantes, o Special Edition Holding, que emprega mais de 500 colaboradores.

Começou a gerir o supermercado da família ainda jovem e acredita que esse foi o segredo para o sucesso: obrigou-o a lidar com todo o tipo de pessoas. Em Portugal, tem investimentos na área da agricultura, distribuição e Tecnologias de Informação. Mas o que gosta mesmo é de coleções. Nos tempos livres, Tim Vieira gosta de colecionar autógrafos famosos, documentos históricos e automóveis antigos e clássicos. “Felizmente, tenho muitos dos que aprecio e gosto de verdade”, revela. Porque investe? Porque é apaixonado pela ideia da multiplicação, da reprodução do capital. “Muito mais do que o simples ato ou efeito de ganhar dinheiro”, acrescenta, referindo que se estiver apaixonado por uma ideia, acaba por transformá-la num negócio líder de mercado.”Acredito profundamente que quando se gosta realmente de algo no mundo dos negócios, o dinheiro vem com o tempo”, refere.

"É o envolvimento e a minha capacidade pessoal de contribuir para o sucesso de um projeto que me apaixonam, me movem, que me tornam uma peça chave no sucesso dos negócios em que aposto”.
Tim Vieira

Por isso, quer criar parcerias com empreendedores talentosos, a quem não falte vontade para serem bem sucedidos na implementação dos projetos. É neles que vai estar o foco de Tim Vieira, nos participantes que forem dinâmicos, apaixonados pelo que fazem e honestos. E se conseguirem “ver, provar, sentir e analisar o futuro”, melhor. Até porque bons investimentos são aqueles dos quais se pode orgulhar quando atingirem a fase madura, explica. E o orgulho não tem necessariamente a ver com lucro.

“Há outras variáveis que tenho sempre presentes, até para continuar com o entusiasmo necessário para investir e multiplicar o que tenho. Ou seja, o mais lucrativo dos investimentos, pode não ser o que mais me entusiasma e o que me faça mais feliz. É o envolvimento e a minha capacidade pessoal de contribuir para o sucesso de um dado projeto que me apaixonam, me movem, que me tornam uma peça chave no sucesso dos negócios em que aposto”, explica.

"Eu nunca tive uma oportunidade destas, portanto sugiro: não estraguem tudo”.
Tim Vieira

Sem ter imposto nenhum limite máximo de investimento no programa, conta que vai estar no Shark Tank de “espírito aberto”, com vontade de analisar um projeto de cada vez, com seriedade e perspicácia. Objetivo: acrescentar-lhes valor. Para quê? Para chegar ao melhor investimento possível. Aos empreendedores que vão estar sob a sua análise no programa pede que aproveitem bem a oportunidade. “Não a deixem escapar por entre os dedos. Porque é uma oportunidade fantástica para apresentarem ideias ganhadoras a cinco investidores, que têm vontade de transformá-las em sucessos comerciais. Eu nunca tive uma oportunidade destas, portanto sugiro: não estraguem tudo”, revela.

Para o shark Tim Vieira, Portugal não tem um mercado enorme para vender e fazer negócio, como acontece nos EUA. Por isso, os portugueses vão ter de ser melhores e mais fortes nas ideias a apresentar. “Os investidores, por seu turno, terão que ser ágeis, velozes até, na análise e na concretização dos projetos, socorrendo-se obviamente da sua capacidade profissional e financeira, da rede de contactos, das sinergias que consigam criar com parceiros que já tenham de longa data ou de outros que considerem relevantes e tudo isto em tempo recorde. Perder tempo jogará a nosso desfavor”, revela. Por isso não hesita: é preciso acreditar, pôr mãos à obra, trabalhar com empenho e dedicação. “Como diz claramente o meu livro preferido de todos os tempos, cada um colhe o que planta.”

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“Vou preparado para minimizar o risco ao máximo”

É o “Miguel dos cães”, para os amigos. Quis ser veterinário, foi para Miami para importar um conceito ligado ao universo canino, conversou com o Observador na companhia da Nina e da Nala, duas boerboel, mas foi na água que fez fortuna. Miguel Ribeiro Ferreira lançou o primeiro negócio aos 12 anos, depois de os pais lhe terem oferecido um casal de cães da Serra da Estrela. Com a Dog’s Pow começou a fazer criação de cães, importou uma marca de champôs e sabonetes para estes animais, e por volta dos 16 anos lançou a primeira empresa “à séria”. Fez de (quase) tudo, até uma linha de roupa para pessoas baseada em raças caninas. Foi o shark Miguel que desenvolveu o primeiro serviço de entrega de rações em casa. E não só. Aos 18 anos, tinha vários negócios na área da jardinagem, pintura, reparações, entre outras. E um bar também. Mas o dinheiro não veio dos cães, veio da água. O espírito empreendedor, esse, esteve sempre lá. “Sou empreendedor desde que nasci. Gosto do risco, mas do risco controlado“, diz ao Observador.

Miguel Ribeiro Ferreira, 43 anos, pai da Rita e do Miguel, com 12 anos, e da Luísa, com dez. Praticante de jiu-jitsu, trocou a medicina veterinária pelo marketing e, em 1998, com 50 mil euros, lançou a Bebágua, que mais tarde foi vendida à PowWow e depois à Nestlé. “No ano 2000, já éramos líderes ibéricos. Depois, vendi a Bebágua e fui para Espanha. Comecei do zero e passados dois anos era outra vez líder ibérico. Em 2005, voltei e comprei a Fonte Viva, que detinha cerca de 15% do mercado. Hoje, detém 40% e somos atualmente líderes ibéricos”, conta.

Do que anda à procura no Shark Tank? De boas pessoas, ou seja, bons líderes, com boa capacidade de vender interna e externamente, honestos, com capacidade de trabalho e um bom drive. E apesar da experiência em logística, tem outra paixão. “Adoro indústria e transformação. Faz todo o sentido apoiar e internacionalizar projetos nesta área, mas não vou restringir os investimentos. Se houver uma coisa gira, com coisas boas…”, adianta.

Miguel Ribeiro Ferreira diz que quer conhecer bem as pessoas e os negócios

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Fado. Miguel Ribeiro Ferreira é fã de Carminho e de Alfredo Marceneiro. Gosta de andar de bicicleta e de ler livros sobre a história de Portugal. Investidor na Orey e na Pasta House, conta que a razão das suas escolhas está na vertente humana. “Normalmente, vou atrás das pessoas e não de negócios. É 80% pessoa e 20% produto”, conta, explicando que um bom investimento é aquele que dá retorno, que acrescenta valor ao país, ao mercado, que cria postos de trabalho, que tenha uma função social, revela. “Acho que é o que faz sentido”, revela. Aos participantes do Shark Tank, mais um conselho: “todos os projetos são internacionalizáveis ou replicáveis. Arranjem-me um produto que dê para exportar ou um conceito que funcione cá e também dê para exportar, pelo menos, para a Europa.”

Depois de a Acquajet se ter fundido com a Fonte Viva, no final de 2004, o empresário conseguiu instalar 60 mil máquinas de água na região ibérica e obtém receitas na ordem dos 22 milhões de euros. No Shark Tank, revela que não vai impor limites ao investimento. Mas deixa um alerta: “não me apresentem uma coisa que não conhecem. Os empreendedores têm de conhecer tão bem o seu negócio como eu conheço o meu, ou melhor. Porque eu vou fazer as perguntas mais esquisitas e mais profundas, as mais técnicas. Vão necessitar de ter um conhecimento profundo do negócio para poder responder. Vou andar a fundo. Quero conhecer bem as pessoas e os negócios. Preparem-se”, revela.

"Há pouca formação para o empreendedorismo. Somos uns empreendedores selvagens, um bocadinho como foram os nossos navegadores".
Miguel Ribeiro Ferreira

Sobre a realização de um Shark Tank em Portugal, diz que a iniciativa “é de louvar” e que vai contribuir para uma melhoria da qualidade dos empreendedores e dos projetos. “Acho que as pessoas vão aprender imenso. Há pouca formação para o empreendedorismo. Somos uns empreendedores selvagens, um bocadinho como foram os nossos navegadores. Mas é importante haver este treinamento. Acho que o  programa vai ajudar a a olhar e a perceber  que se faz bem e o que se faz mal – não só às pessoas que vão lá, mas às que veem o programa”, adianta o empreendedor que, na hora de escolher um livro que marcou a sua vida, aponta o Good to Great: Why Some Companies Make the Leap… and Others Don’t (2001), de James C. Collins, como aquele onde aprendeu a analisar bem uma empresa.

E olhando para o Shark Tank português à luz do que é o norte-americano, confessa que vão ser programas completamente diferentes. “Não vale a pena comparar a Europa com os Estados Unidos. Nós não podemos ir pelo lado exibicionista, temos de ir mais pelo lado da formação. O intuito é juntar pessoas que já passaram pelo processo, que sabem o que é fazer um negócio e desenvolvê-lo, às que querem lançar empresas. Junta-se a experiência à vontade e à necessidade”, diz, acrescentando que podem sempre acontecer coisas que as pessoas não preveem. O que é preciso é reduzir o risco e eu vou preparado para reduzir o risco ao máximo.”

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“Vou ser um ‘shark’ muito inquisitivo”

Londres, 1984. Mário Ferreira começa a trabalhar numa empresa de cruzeiros que opera a nível mundial, longe de imaginar que a sua vida profissional se faria mais a bordo do que em terra. Talvez a culpa seja d’Os Lusíadas e da vontade que o empreendedor tem de descobrir. “Acho que os Descobrimentos têm muito a ver com a vontade e o gosto que tenho em empreender”, diz o proprietário da Douro Azul, aquele que é o primeiro português a ter o desafio de viajar até ao espaço, que gosta de caçar, de fazer mergulho, de correr, de tirar fotografias, de ouvir Diana Krall ou Rod Stewart. “Aquela voz… Já o tentei contratar, mas o tipo é muito careiro”, diz ao Observador. Empreendedor e investidor, é o tubarão mais velho do Shark Tank, onde quer sair da sua zona de conforto para apostar em negócios novos. Para Mário Ferreira, dono da Douro Azul, um bom empreendedor é um lutador. Não desiste com facilidade.

Nem só de cruzeiros fluviais no rio Douro se faz a história do dono da empresa que tem “mais de mil camas hoteleiras a navegar”. Com investimentos na área da restauração, hotelaria, imobiliário, agricultura, viticultura, fotografia, helicópteros turísticos, autocarros turísticos, Mário Ferreira lançou a Caminho das Estrelas, a primeira empresa de turismo espacial europeia, em parceria com a Virgin Galactic. No Porto, desenvolveu o World of Discoveries, o primeiro museu interativo e parque temático dedicado à epopeia dos Descobrimentos portugueses. No Shark Tank, quer apostar naquelas que considera serem as áreas de futuro: a biotecnologia, nanotecnologia, robótica, produtos ou equipamentos que possam ser industrializados e patenteados.

Mário Ferreira lançou a primeira empresa europeia de turismo espacial. a Caminho das Estrelas

“Estou recetivo a coisas que sejam interessantes, que me despertem curiosidade. Às vezes, estamos a focalizar a conversa no produto, mas também temos de ver a pessoa. Se a pessoa inspira confiança e se tem vontade de investir. Isso também é importante”, explicou ao Observador. Alvo de diversas condecorações, como a de Comendador da Ordem de Mérito, em 2003, e a de Comendador da Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, em 2005, Mário Ferreira também foi distinguido com a Ordem da Cruz Mariana pelo presidente da República da Estónia, e alerta para a importância de saber executar. “Há muita gente que tem ideias, mas que não consegue transformá-las em algo palpável”, diz o shark para quem a pontualidade é uma virtude.

Um bom investimento é aquele que conseguir multiplicar várias vezes o valor investido, revela, acrescentando que, para que tudo funcione, é preciso que o empreendedor e o negócio reúnam um conjunto de características. Honestidade é uma delas. “Não aprecio pessoas que sejam desonestas, que estejam a faltar à verdade, que vivam num mundo de fantasia e não dominem a realidade do negócio que estejam a montar. E que não sejam pontuais. A pontualidade é uma virtude”, adianta. Pai de quatro filhos, a Íris com 20 anos, o Mário com 12, a Carlota com seis e a Catarina com quatro, Mário Ferreira não hesita quando diz que vai ser um “shark muito inquisitivo”. “Os empreendedores devem vir bem preparados, dominar a ideia em todas as suas vertentes”, alerta.

"Um empreendedor tem de dominar o seu negócio. Quem não dominar fica logo encostado".
Mário Ferreira

E na hora de apresentarem a ideia aos tubarões, deixa alguns conselhos para os empreendedores: a apresentação deve ser o mais resumida possível, mas correta, com poucos equívocos, para que se perceba que quem está a apresentar o negócio o domina na totalidade, que as perguntas sejam respondidas com a maior naturalidade possível e as dúvidas clarificadas. Nada pode ficar “a pairar no ar”. “Um empreendedor tem de dominar o seu negócio. Quem não dominar fica logo encostado”, revela.

Aos 42 anos, Mário Ferreira completou a sua primeira maratona de Londres e participou no último rali Dakar em África. Em 2014, a Douro Azul comprou o navio Atântida, por 8,7 milhões de euros, para transformá-lo num navio para cruzeiros de luxo na Amazónia, mas no início de dezembro, Mário Ferreira anunciou que estava a equacionar a sua venda. Na conversa com o Observador, vai buscar Os Lusíadas, de Camões, para dizer que deve ter ficado algo no seu subconsciente, a propósito dos Descobrimentos. E remata, revelando que os jovens devem acreditar que têm uma alternativa quando acabam os estudos. E que o empreendedorismo é uma delas.

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“Sempre tive um perfil, como dizem os espanhóis, inquieto”

“Os melhores negócios do mundo são os mais simples.” As palavras são de João Rafael Koehler, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e da direção do Portugal Fashion, em entrevista ao Observador. O tubarão não tem dúvidas: no Shark Tank, vai andar à procura de ideias simples, ou seja, de negócios que consegue entender. Aos 42 anos, o homem que está à frente da Colquímica – a empresa que a família lançou há mais de 60 anos, que exporta 90% da sua produção e que está presente em 45 países – não hesita quando tem de dizer que teve de fechar o primeiro negócio que lançou. “Foi um fracasso, mas acho que isso é importante. Faz parte do percurso das pessoas e das empresas. Não tenho qualquer interesse em esconder rigorosamente nada”, revela. Hoje, tem uma empresa de consultadoria de projetos imobiliários, ativa há mais de dez anos, e lançou uma startup tecnológica, a Elastictek, que teve um investimento recente de 15 milhões de euros para a produção de polietileno e elástico. Do que gosta? De fazer coisas diferentes.

Pai de quatro crianças, Tomás com 12 anos, o Salvador com nove, Rafa com seis e Luisinha com cinco, conta que faz desporto sempre que pode, que na banda sonora da sua vida é possível encontrar hits dos GNR, Coldplay ou de Green Day e que um dos livros que mais marcou a sua vida foi Os Pilares da Terra, de Ken Follett: “retrata a humanidade de forma muito crua e ajuda-nos a perspetivar as coisas.” Começou a investir em empresas de outras pessoas, porque quis diversificar os negócios em que estava envolvido. “Começa a ser chato fazer sempre a mesma coisa. Como tenho um perfil muito inquieto, é quase insuportável”, revela.

João Rafael Koehler deixou a advocacia para se dedicar em exclusivo à atividade empresarial

PAULO DUARTE

Para o presidente da ANJE, investir não se trata apenas de dinheiro. João Rafael Koehler quer participar em negócios que possa ajudar a internacionalizar. “Dos sharks que estão envolvidos no programa eu devo ser o que tem a maior experiência de internacionalização”, diz. Com um mestrado em Relações Internacionais e tendo sido o principal responsável pela internacionalização do negócio da família, avança que gostava de utilizar o conhecimento que tem vindo a adquirir para escalar outros negócios. “Cometi os erros todos. Por isso, estes empreendedores não vão ter de os cometer outra vez. Isso é uma grande vantagem”, adianta o empreendedor que, garante, para que possam gerar ganhos, as ideias não podem ser complicadas. Importante é ter um bom plano de negócios.

Ideias simples, produtos simples que possam ser produzidos em Portugal ou fora e exportar. É disto que o presidente da ANJE anda à procura. Contudo, não coloca as tecnologias de parte. Se surgirem projetos tecnológicos com muito potencial, na área do software ou da computação, João Rafael Koehler também tem interesse em investir. “Se eu perceber que o produto é muito inovador e que consigo multiplicar muito rapidamente a empresa, estou interessado em investir, para fazer explodi-la”, diz. E deixa um alerta, que se foca na rapidez: na área tecnológica, os ciclos de vida são muito curtos e é preciso ser rápido. “As pessoas podem ter as melhores ideias de negócio, mas quando não há clientes, não há empresas. À partida, não excluo nada. Se o produto tiver potencial, então acho que estou preparado para produzi-lo e distribuí-lo com eficiência”, adianta.

"Nos primeiros dois anos de existência, as startups atravessam o vale da morte e algumas acabam por fechar. Por isso, tem de ser alguém que consiga suportar estas adversidades".
João Rafael Koehler

Requisitos para se ser um bom empreendedor: resiliência e carisma. É preciso que inspirem os outros, que sejam capazes de vender, que consigam suportar as contrariedades. “Sou muito focado na área comercial das empresas e acho que estas características são as mais importantes. Nos primeiros dois anos de existência, as startups atravessam o vale da morte e algumas acabam por fechar. Por isso, tem de ser alguém que consiga suportar estas adversidades”, revela. Quanto ao dinheiro que vai investir, adianta que se aparecerem negócios “muito bons”, vai existir sempre dinheiro para investir. Não hesita quando tem de dizer que não vai investir “um cêntimo” num negócio em que não acredite. “Não estamos ali para fazer fretes a ninguém. Nem aos negócios, nem às pessoas”, afirma.

E aos participantes do Shark Tank, relembra que vão ter muito tempo para prepararem apresentações concisas. Aconselha a que façam uma intervenção muito curta, simples, que comuniquem bem e que descompliquem o mais possível o negócio. E que os números batam todos certo. “Têm de ser bons com os números”, revela. O presidente da ANJE acredita que o Shark Tank português vai ser didático e que vai contribuir para que haja um empreendedorismo mais responsável em Portugal.

“Acho que nós nos devemos rir. Não devemos levar a vida tão a sério. É verdade que as coisas vão acontecendo e eu acredito muito que aquilo que fazemos é-nos sempre retribuído em dobro”, acrescenta o tubarão. E sobre as empresas que abrem e encerram atividade, diz que isso é a economia a funcionar. “Cada vez mais dinâmica, cada vez mais competitiva. O ambiente é cada vez mais hostil.”

 

No início de 2015, há Shark Tank na SIC. Os investidores vão estar de olhos postos no programa. Os empreendedores também vão estar de olhos postos no programa. Resta saber que ideias vão contribuir para agitar as águas do tecido empresarial português.

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