A pintura e a escultura tiveram, e ainda têm, um grande destaque na Região dos Vinhos Verdes. Sarah Afonso viveu a sua adolescência em Viana do Castelo, o que influenciou profundamente a sua pintura. Mais tarde, já em Lisboa, casou com outro pintor famoso, Almada Negreiros. Já José Rodrigues dedicou a sua vida à pintura e à escultura, e viveu grande parte do seu tempo em Vila Nova de Cerveira, onde recuperou o convento de Sampaio e onde se inspirou em toda aquela beleza para muitas das suas obras. Ali criou a Fundação Bienal de Arte de Cerveira. Em jeito de curiosidade: uma das suas paixões era esculpir o deus Baco em cerâmica.
Outro grande nome da pintura portuguesa foi Amadeu Souza Cardoso, original de Manhufe (Amarante). Reconhecido nacional e internacionalmente, tendo privado e pintado com grandes nomes europeus da pintura, tem um museu em sua memória e com o seu nome em Amarante.
Solar das Bouças: o palco de uma galeria de arte
Perto de Braga, já na direção de Amares e com paisagens quase bucólicas, encontramos o produtor de vinho Solar das Bouças. É uma propriedade que remonta ao século XVII, tendo o solar sido construído no século XVIII. O atual proprietário recuperou toda a imponência do solar e dos belíssimos jardins circundantes, onde se incluem as vinhas, de grande beleza. No solar existe uma galeria de arte, uma sala de provas e vários quartos que funcionam para turismo.
A galeria de arte espalha-se por dois pisos, com várias obras pertença da casa, e muitas outras disponíveis para venda, entre desenhos, pinturas e esculturas. A pequena capela, que faz parte do solar, foi também recuperada de forma minimalista, com um belíssimo cristo esculpido em mármore preto serrado, da autoria de João Cutileiro. Tudo foi cuidado ao pormenor.
Perto do solar existe uma piscina, e logo a seguir a Casa da Eira: uma construção em madeira, com mais alguns quartos. Mais adiante pode encontrar a Casa de Montariol, também com quartos disponíveis. Logo à entrada da propriedade funciona a receção e uma pequena loja. Os vários vinhos deste produtor são trabalhados a partir das castas Loureiro, Alvarinho e Arinto (aqui conhecida como Pedernã).
Já a música, revela-se em vários formatos e os mais populares na Região dos Vinhos Verdes são o folclore e as bandas filarmónicas. Normalmente, estes géneros musicais estão ligados às imensas festas populares da região, mas que vão muito para além disso.
Embora seja nas festividades de cada vila ou aldeia que atuam os muitos grupos folclóricos, sendo reservadas para as bandas as atuações em coretos, estes dois tipos de formação atuam um pouco por todo o mundo, levando além-fronteiras estas tradições e outros produtos locais, como a gastronomia regional e os vinhos verdes. É esta a cultura do nosso país que tem despertado o interesse dos milhares de turistas que nos visitam e que até alinham num passo de dança quando se juntam aos ranchos.
Também os grupos de bombos e Zés Pereiras são presença obrigatória nas festividades populares nas cidades da região. Na Região dos Vinhos Verdes vai encontrar músicos e compositores de vários estilos. Como exemplos, podemos mencionar: Sá Noronha, um virtuoso violinista e compositor do século XIX, de Viana do Castelo; Fernando Marinho, maestro de orquestras sinfónicas, músico e professor, de Amarante.
As portas que se abrem para o Palácio da Brejoeira
Para além da música há muitos outros estilos de arte muito bem representados nesta região. A começar pelos solares e palácios que se podem encontrar um pouco por todo o lado, muitos deles bem recuperados e a serem ainda utilizados pelos seus proprietários. Em Monção existe um palácio famoso, não só pela sua beleza e imponência, mas também pelos vinhos que produz: o Palácio da Brejoeira, construído no início do século XIX. Quando ali chegamos somos recebidos pelos enormes portões, que se abrem para todo aquele esplendor!
O vasto jardim, repleto de árvores e arbustos diversos, serve de moldura para o edifício principal do palácio. Do lado esquerdo, encontra outro edifício: as antigas cavalariças, igualmente de grande beleza, onde hoje funciona um pequeno museu que recorda essas cavalariças, a receção e a pequena loja, onde se podem comprar o vinho e as aguardentes da propriedade. Do lado direito do palácio situa-se a antiga entrada, mais tarde mudada para a atual posição. Os jardins continuam a encher de beleza e tranquilidade todo o espaço, com fontes e um pequeno lago. Ao fundo, pode ver um enorme pombal a recordar outros tempos.
Visitar o palácio é uma experiência enriquecedora, uma vez que ali encontra história com mais de duzentos anos. A arte está por todo o lado, com imensas salas de grande beleza e em que nenhum pormenor foi esquecido. Um teatrinho e uma capela são peças fundamentais em cada visita, assim como toda a beleza do jardim de inverno. O neoclássico e o barroco dominam toda aquela grandiosidade.
Da rica vegetação, fazem parte plantas aromáticas, oliveiras antigas e, claro, as vinhas. São 18 hectares de vinhas da casta Alvarinho, cujas uvas dão origem apenas a um vinho: um Alvarinho de excelência. Falamos do primeiro Alvarinho comercializado e que desde logo adquiriu fama e prestígio. Hoje, no meio de centenas de vinhos Alvarinho de Monção e Melgaço, o Palácio da Brejoeira continua a ser um ícone e a manter um elevado grau de qualidade. É produzido ainda na velha adega – reconhecida por ser um edifício austero, mas de grande beleza -, que se situa nas traseiras do palácio. Lá, também são produzidas duas aguardentes, igualmente tradicionais: uma aguardente vínica e uma bagaceira.
O enoturismo tem ali enorme importância e o palácio é muito procurado, durante todo o ano. Nas várias visitas, muito bem-apresentadas, é partilhado com o visitante todo aquele património, a sua história, as vinhas, a adega e, no final, a prova do vinho. Nunca se consegue dali sair sem levar pelo menos uma garrafa de Alvarinho como recordação.
No entanto, a arte mais representativa na Região dos Vinhos Verdes é, sem dúvida, a literatura. Foram muitos os escritores por toda esta região – uns mais populares, outros mais eruditos -, que deixaram excelentes memórias e marcas no país.
Alguns dos poetas mais reconhecidos foram: Teixeira de Pascoaes, de Amarante, onde existe um museu a ele dedicado; António Feijó poeta considerado, de Ponte de Lima; de Afife, Pedro Homem de Melo, um poeta profícuo que também se dedicou à divulgação dos ranchos folclóricos; António Manuel Couto Viana, de Viana do Castelo, dramaturgo e ensaísta, sendo que foi a sua poesia o que o tornou famoso. Para além destes nomes, podemos ainda falar de Thomaz de Figueiredo, de Braga, romancista do século XX; Agustina Bessa Luis, uma das mais famosas escritoras portuguesas do século XX, de Amarante; e um dos maiores e mais conhecidos escritores portugueses, que imortalizou a sua propriedade de Tormes no romance “A Cidade e As Serras”, Eça de Queiroz.
Na pequena povoação de Tormes, em Baião, já com o rio Douro á ilharga, situa-se a Fundação Eça de Queiroz, em homenagem ao grande escritor. Canja de galinha e frango corado com arroz de favas é a célebre refeição que consta no romance de Eça, mas não só. Este e outros pratos referidos nas obras de Eça estão disponíveis na ementa do restaurante da Fundação, para deleite dos muitos queirosianos que a visitam, e que podem ser acompanhados pelos vinhos verdes produzidos na propriedade.
A sub-região de Baião tem na casta Avesso a sua principal representante, que ali encontrou condições fantásticas para se desenvolver e revelar todo o seu potencial. Embora Azal, Loureiro e mesmo Alvarinho tenham alguma expressão, são os vinhos com base na Avesso que são mais procurados. Mas também Baião está fortemente ligada á arte, neste caso a arte da escrita. Na pequena povoação de Tormes, já com o rio Douro à ilharga, situa-se a Fundação Eça de Queiroz, em homenagem ao grande escritor. Quer a propriedade quer a casa de Tormes foram imortalizadas no seu romance “A Cidade e As Serras”.
Aqui vive a casta Avesso. Bem-vindo à Quinta de Santa Teresa
Na estrada que liga Tormes a Santa Marinha do Zêzere situa-se a Quinta de Santa Teresa, uma propriedade pertencente ao produtor A&D Wines e que nasceu pelas mãos de um casal que apostou forte neste espaço, nas suas raízes e, sobretudo, na excelência dos vinhos que produzem maioritariamente a partir da casta Avesso, a rainha desta região.
Estando mesmo na fronteira da região dos vinhos verdes com o Douro – logo a seguir a Santa Marinha do Zêzere está Mesão Frio -, da propriedade avista-se o rio Douro. As vinhas, algumas das quais já com alguma idade, produzem maioritariamente a casa Avesso, e mesmo em alguns vinhos de lote com outras castas, ela é maioritária. Os mais de 33 hectares de vinha estão já em modo de produção biológica certificada e os resultados não demoraram a aparecer, tendo-se traduzido num grande sucesso no mercado, entre consumidores e críticos, que se têm rendido à qualidade destes vinhos. Assim nasceram os Singular, Esculpido e Quinta de Santa Teresa, entre outros.
O enoturismo tem ali grande importância e é bastante variado: visitas às vinhas, passeios pela propriedade onde pode apreciar os vários edifícios e visita à adega. Esta recuperou edifícios antigos a que se juntou uma construção muito moderna, com tecnologia de ponta, preparada para fazer ótimos vinhos.
A sala de provas é já emblemática, uma vez que falamos de uma construção toda envidraçada quase em cima da antiga piscina, hoje utilizada como retenção de água, numa adaptação inteligente a novas funções.
Provam-se os vinhos juntamente com petiscos naquela sala ou então em simpáticos piqueniques ao longo da propriedade. Numa pequena loja, no meio das vinhas, podemos adquirir os vários vinhos deste produtor. Ao deixarmos a região de Baião, vem-nos à memória a figura de Eça de Queiroz, na sua sala da casa de Tormes, a petiscar um dos muitos pratos tradicionais e a acompanhá-lo dum vinho verde local, da casta Avesso. Fazer ótimos vinhos na Região dos Vinhos Verdes é, também, uma arte.
Saiba mais em Saberes e Sabores na Rota dos Vinhos Verdes