Nem trepidação, nem os sons metálicos — e tão característicos — que anunciam a chegada ou a partida dos comboios. No mais recente cinco estrelas da capital, as carruagens e o rebuliço de Santa Apolónia são parte indissociável da experiência, mas mal se sentem. Com vista Tejo ou vista estação, os 126 quartos do The Editory Riverside Hotel estão de tal forma insonorizados que os comboios passam perfeitamente por paisagem. Partem e chegam quase parados. Lá ao longe — mesmo ao longe — ainda se ouvem os apitos em surdina, mas é só.

Primeiro hotel do grupo Sonae em Lisboa, este Riverside entra pela estação de Santa Apolónia adentro e carrega-a em todos os detalhes e pormenores. São 156 anos de história da ferrovia em revista, um investimento de cerca de 12 milhões de euros, a assinatura dos arquitetos e engenheiros da Saraiva + Associados, um projeto de 2017 e praticamente dois anos das obras de requalificação que voltou a pintar de vermelho a estação que, desde 1990, deu volta e meia para o azul celeste, mais ou menos desmaiado.

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As portas que Santa Apolónia abriu

Antigos gabinetes e escritórios da Infra-estruturas de Portugal, os quartos mantêm a traça original, leia-se o formato e a orientação das janelas e das portadas ao estilo neoclássico da estação. “São todos diferentes”, apresenta a diretora Sónia Fragoso, numa visita guiada pelos dois andares da nova face da estação lisboeta. “O primeiro piso tem 53 quartos e uma componente interessante histórica porque conseguimos mantê-lo praticamente como estava. Foi remodelado e preparado, mas mantém a estética e o lambrim em azulejo original. No segundo temos 73 quartos e, apesar de o termos encontrado ligeiramente mais descaracterizado, mantivemos tudo o que nos foi permitido”. Em vermelho e azul, respetivamente, os corredores transportam-nos para uma espécie de transiberiano parado: “elegante mas sem pretensões.”

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Situada numa das portas de entrada da capital, virada ao rio para o Terminal de Cruzeiros e portas meias com a animação noturna do Lux, a primeira unidade do grupo a carregar o carimbo The Editory Collection pretende “quebrar o stress de qualquer viagem”, afirmando-se como um “porto de abrigo” para quem chega a Lisboa e segue para reuniões de trabalho. Preenchido pelas malas de viagem vintage com que nos podemos cruzar nos cantos e recantos do hotel, o móvel da receção foi feito à medida para homenagear a ferrovia nacional, sem esquecer as suas personagens.

A chamada Júnior Suite Rosácea tem pouco mais de metade da área da Master Suite Vista Rio, mas nem por isso deixa de ser uma das atrações principais do hotel de Santa Apolónia. Tanto os vitrais da janela como a claraboia são originais. Coração de Santa Apolónia, a rosácea tem vista privilegiada para a movida da estação. Carris à parte, as personagens estão lá todas; ora a embarcar os trolleys de viagem, ora nos encontros, despedidas ou correrias, sem esquecer, claro, as fardas da Comboios de Portugal, vulgo CP.

Nos corredores alcatifados e em cada um dos 126 quartos, é possível conhecer todas as estações e apeadeiros do país através das fotografias do fotógrafo catalão Jordi Llorella. Todas a preto e branco, as imagens foram captadas através do método de câmara escura, dos primórdios da fotografia e permitem-nos percorrer a memória da ferrovia nacional sem sair do lugar. No espírito das cabines, as casas de banho do hotel que põe o foco na hospitalidade — de resto um dos quatro pilares do grupo Sonae, a que se juntam à arte, ao local e à sustentabilidade — replicam a organização de uma carruagem.

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Da capital para o país (e Madrid)

Aberta a hóspedes e a “quem queira” degustar os sabores mais tradicionais do país – sim, costuma haver caldo verde com uma rodela de chouriço ao almoço, por exemplo  – a cozinha do restaurante do Riverside Hotel reproduz a bilheteira de Santa Apolónia, com direito à reprodução das plataformas com destino a Coimbra, Faro, Guimarães, Porto, Covilhã, Albufeira, Aveiro, Santarém, Fátima, Grândola, Loulé, Vila Nova de Gaia e até Madrid. Nas palavras da diretora Sónia Fragoso: “o que se pretende é integrar esta reprodução da zona de venda de bilhetes numa experiência gastronómica que respeita a origem dos produtos e a sazonalidade.

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Ainda em construção e à responsabilidade do Chef André Silva o menu de almoço — “pensado para ser mais prático” — pode arrancar com um creme de grão de bico com lascas de bacalhau ou com uns cuscos de espargos com ovos escalfados são servidos no arranque da refeição. Açorda de gambas com pimentos e coentros, entrecosto de javali com pera bêbada, batata doce e cebola assada e arroz malandrinho com beterraba com espuma de queijo da serra são pratos principais, enquanto as farófias com molho inglês, suspiro de canela e espuma de leite para a sobremesa e a seleção de frutas laminadas são as opções de sobremesa.

Mais demorado, o jantar do restaurante estação pode incluir presunto de porco preto de Estremoz, requeijão, abóbora em várias texturas e rúcula ou creme de alho francês com tártaro de camarão e coentros para entrada. Diretamente da lota de Setúbal, o salmonete com molho dos seus fígados, batata doce assada e legumes da época concorre com as lascas de bacalhau, espinafres de cebolada em gema de ovo, com o entrecosto com chips de tubérculos e salada de agriões e ainda com o lombinho de porco preto com açorda de amêijoas e molho de ervas aromáticas no prato principal. Antes do café e petit fours servidos no fim da refeição ainda pode optar pela torta de azeitona, creme de citrinos e sorvete de limão, fruta laminada ou arroz doce de gelado de baunilha, crocante de frutos secos e canela para a sobremesa.

Brunch não há, mas não faltam os ovos benedict da moda no pequeno almoço que também não é um exclusivo para quem passa a noite no hotel. As sugestões do chef são os cogumelos salteados e o feijão estufado em tomate e bacon. Nas bancadas da cozinha que “funciona aberta e como uma montra para o cliente” há uma seleção de padaria e pastelaria típicas, compotas, queijos e outros acrescentos tipicamente portugueses. Também não faltam fruta, sumos naturais e ovos de todas as formas e feitios. Mexido, estrelado, cozido em versão omelete ou benedict são feitos na hora.

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A funcionar entre as 7h e a 1h, o restaurante tem no centro um bar que recria e remete para o interior das carruagens que servem comida e bebida. Há 122 lugares sentados e até tomadas, clinicamente colocadas em algumas mesas adaptadas às recentes rotinas do escritório em qualquer lugar. Sala de reuniões dos antigos inquilinos dos andares superiores de Santa Apolónia, o salão nobre está preparado para receber reuniões de e com até 30 a 40 pessoas. Depois da rosácea que dá nome a uma das suites, o teto icónico e altamente trabalhados dos anos 60 do século XIX é uma das coqueluches deste Riverside Santa Apolónia.

Quartos duplos a partir de 125 euros por noite e quartos duplos premium a partir dos 145 euros. Suites a partir dos 250 euros — com destaque para a suite Rosacea, a partir dos 260 euros. Master Suite Vista Rio desde 390 euros. 

Avenida Infante Dom Henrique 1, Lisboa. Tel: 21 902 3000 / 21 405 35 04; reservas.riverside@editoryhotels.pt