Discurso do líder da IL

no primeiro dia da VIII Convenção Nacional da IL

Estamos aqui hoje a discutir instrumentos importantes na vida do partido, porque o partido cresceu, porque o partido teve sucesso, porque estamos aqui a representar o partido que em todas as eleições nacionais teve sempre crescimento do número de votos. É o único partido que o pode afirmar.”

Rui Rocha justificou a necessidade de mudar estatutos devido ao crescimento do partido, mas deixou essa parte para mais tarde e começou por destacar um feito do partido ao dizer que a IL é o único que cresceu em todas as eleições nacionais a que foi a votos. De uma só vez, puxa a si e à sua direção os louros de subidas em termos eleitorais — ainda que tenha ficado aquém das metas estabelecidas — e festeja não só o resultado das legislativas como o das europeias. Além disso, tenta arrumar as críticas que ainda pairam sobre ser o rosto responsável pelos resultados aquém das expectativas de março. Por outro lado, aproveita para se distinguir do Chega, que teve uma queda abrupta nas europeias — num caminho inverso ao da IL — e ficou muito longe do que conseguiu nas legislativas.

Muito trabalho na eleição do deputado único à Assembleia da República, na eleição dos nossos autarcas, na eleição do primeiro grupo parlamentar à Assembleia da República, do segundo grupo parlamentar à Assembleia da República, muito trabalho até na eleição do primeiro vice-presidente liberal da Assembleia da República, porque até isso tentaram condicionar e tivemos que insistir e ir à segunda, porque à primeira não nos deixaram, temos um vice-presidente da Assembleia da República. Muito trabalho para chegarmos à eleição recente de dois deputados ao Parlamento Europeu e já agora um vice-presidente do Renew Europe no Parlamento Europeu.”

As feridas são difíceis de sarar e há umas que deixam marcas. A não-eleição de João Cotrim Figueiredo para vice-presidente da Assembleia da República, tendo sido colocado no mesmo saco do candidato do Chega, não agradou ao ex-presidente da IL, de tal forma que nunca se chegou a recandidatar — depois de falhar a primeira tentativa de eleição — mesmo perante insistências.  A IL ainda não esqueceu e Rocha fez questão de recordar o momento, com a tese de que “tentaram condicionar” o partido. Pelo caminho, uma passagem pelo último feito liberal, a eleição de Cotrim Figueiredo para a vice-presidência do grupo parlamentar Renovar Europa, e um esquecimento: é verdade que o cabeça de lista liberal nas europeias chegou a esse cargo, mas tinha assumido uma ambição mais elevada quando anunciou uma candidatura à presidência, que viria a retirar por falta de apoio.

Não é menos importante, eu diria que até é mais importante, a capacidade que teve a Iniciativa Liberal de liderar assuntos e propostas e ideias fundamentais para a sociedade portuguesa. Foi a Iniciativa Liberal que liderou a discussão sobre a necessidade do crescimento económico porque aparentemente mais ninguém em determinado momento se preocupava com o crescimento económico. Liderámos a necessidade de descer impostos, porque só se é verdadeiramente livre quando se tem uma compensação justa pelo esforço, pelo mérito e pelo trabalho. A IL que dá essa mensagem, que lidera esse esforço, que diz ao país liderança na proposta de uma visão para a saúde completamente diferente, que recusa a ideia que os outros defendem de que é aceitável que um SNS que já não responde esteja ainda no centro da solução.”

Da economia à saúde, passando pela habitação, Rui Rocha quis mostrar que a IL tem uma visão (liberal) diferente do restante cardápio de partidos políticos. Ao fazê-lo, acaba por argumentar que votar nos liberais não é igual a votar no CDS ou no PSD, preenchendo uma lacuna no espaço não-socialista. Mais a mais, a IL já tinha cantado vitória quando se começou a discutir a descida de impostos e até quando o crescimento económico passou a ser central em muitos discursos. Esta é só mais uma forma de o presidente liberal mostrar que a IL não só não perdeu espaço no campo político nacional como que faz falta — mesmo que não tenha servido para ajudar a uma maioria absoluta da Aliança Democrática.

E lideramos na dimensão das empresas públicas, por exemplo, da TAP. E surpreendentemente, porque este governo, em funções atualmente, se apresentou com o propósito de privatizar a TAP, dá-me a ideia que vamos ter de liderar outra vez, porque perderam a vontade de privatizar a TAP e nós vamos continuar a insistir que é preciso privatizar a TAP.”

As críticas ao Governo ficaram, durante 20 minutos de discurso, todas na gaveta. Exceção para a TAP. Rui Rocha não poupou nas acusações ao estado das coisas, até deu a IL como responsável por liderar temas, mas não apontou dedos e muito menos a Luís Montenegro. A questão da TAP foi mesmo a única referência ao atual Executivo. Na realidade, PSD e IL chegaram a namorar uma possível convergência no Governo, o que deixa notar a boa relação entre os dois partidos, e talvez este passeio no parque para Montenegro em pleno discurso de Rocha seja só mais uma prova disso.

Os estatutos são importantes porque nós precisamos de um partido ágil para ter um combate político ainda mais forte. (…) As propostas de estatutos que aqui estão, nomeadamente a do Conselho Nacional, dá passos claros nesse sentido. Mas mais do que isso, a proposta apresentada pelo Conselho Nacional traz ao partido essa agilidade, essa simplificação, que é importante para que consigamos combater lá fora mais forte, para que consigamos continuar a liderar as ideias, para que consigamos continuar a mudar a vida das pessoas, para que consigamos mudar a crescer.”

Rui Rocha não quis entrar em confronto com a oposição interna, mediu as palavras, não ostracizou e deixou isso para a discussão que coloca frente a frente as duas propostas de estatutos que vão a votos na convenção de Santa Maria da Feira. Não deixou de dizer que a proposta que tem a bênção da direção é a melhor para o crescimento do partido e para ter mais condições para o combate político. Foi nesse equilíbrio que Rocha quis jogar: sabe que tem uma proposta para defender, mas também não quer alimentar uma guerra interna que muitas vezes o tem tido como principal alvo.