Uma passagem de testemunho. De presidente para presidente, João Cotrim Figueiredo dá lugar a Rui Rocha, o candidato que apoiou, o homem que considerou ser a pessoa certa para uma fase “mais combativa e popular” da IL e o liberal que deu a cara pela continuidade e pela “equipa que construiu o sucesso” do partido. É o ponto final numa disputa interna a três, entre Rui Rocha, Carla Castro e José Cardoso, que deixa uma ferida aberta num partido com muitas dores de crescimento.

O ambiente que se viveu no Centro de Congressos de Lisboa chegou a transparecer que Carla Castro estaria mais perto de se tornar a nova líder da IL. Mas os liberais optaram pela solução de continuidade e por uma lista para a qual transita metade da equipa de João Cotrim Figueiredo. O nome estava há muito definido, tinha três letras e há bem pouco tempo era um famoso liberal nas redes sociais: Rui Rocha.

Quem o conhece descreve-o como um homem de “pensamento rápido” e “ágil”, com capacidade de resposta e de reação imediata. E é exatamente do Twitter que vem uma das maiores qualidades que lhe é atribuída: “É acutilante como poucos e não precisa de muitos caracteres para passar uma ideia”. Para o fim, o “sentido de humor” de que todos falam e que João Cotrim Figueiredo muito elogiou quando disse ser a pessoa certa para o cargo.

Natural de Braga, Rui Rocha tem 52 anos, é deputado da Iniciativa Liberal há menos de um ano e chegou à Assembleia da República depois de uma das campanhas liberais mais elogiadas a nível nacional. Aliás, Rocha foi eleito num dos distritos que a IL não tinha como elegível nos objetivos iniciais e acabou por conseguir sentar-se no Parlamento. É um de oito e, no dia seguinte à vitória, continua a ter a sua principal adversária, Carla Castro, sentada na bancada.

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Ainda antes de se tornar deputado, era uma das caras dos liberais que ia aparecendo, aos poucos, como porta-voz em várias circunstâncias. Começou com declarações para a comunicação social e foi conquistando espaço em frente às câmaras. Porém, de resto, Rui Rocha era mais conhecido pelo currículo online, com presença em blogues como O Insurgente, nas redes sociais e em colunas de opinião. É, portanto, mais um dos liberais que faz jus à tradição e que salta do Twitter para a vida política.

Na carreira profissional foi advogado, consultor jurídico e diretor de recursos humanos em empresas de construção, automóvel, banca e retalho especializado e antes de ser candidato às legislativas deixou o cargo de diretor de recursos humanos na Sonae.

Na Iniciativa Liberal, fez parte da equipa de comunicação — uma das grandes bandeiras do partido — nos últimos dois anos, onde chegou a pertencer à campanha de Mayan Gonçalves à Presidência da República.

Apesar do trabalho atrás das câmaras, Rui Rocha era um desconhecido das bases do partido a nível nacional e esse foi um dos grandes desafios das eleições internas. Tinha o selo de Cotrim Figueiredo, um grande trunfo nesta corrida eleitoral, e chegou às eleições acompanhado pela linha oficial do partido — a maioria dos nomes que tem na equipa faz parte daquilo que descreveu como “o sucesso da IL”.

Garantiu aos críticos que o joker era a não vergonha no passado e a atribuição do mérito e os membros da IL deram-lhe o benefício da dúvida para substituir o presidente do partido que chegou a deputado único e que, dois anos depois, deu a cara pela conquista do grupo parlamentar.

Depois de uma Convenção que fica para a história como a primeira em que houve mais do que um candidato, Rui Rocha tem nas mãos um partido repleto de feridas, em que foram feitos ataques à liderança (de que fazia parte e que manterá ao seu lado), acusações de autocracia e em que se pede mais transparência e menos opacidade.

Foi o único candidato que atirou a resolução de vários problemas internos para o futuro e para os locais que considera os certos para se discutir o novo funcionamento do partido e terá nas mãos o enorme desafio de unir um partido que se orgulha de dizer que tem tantas pessoas como opiniões. É num contexto amargo que agarra o partido, mas tem a missão de honrar aquele que lhe passou o testemunho pelas conquistas que fez na IL.