A surpresa surgiu já na reta final da entrevista que Pedro Nuno Santos deu, na noite desta quarta-feira, à CNN. Questionado sobre as eleições presidenciais de 2026, o líder do PS foi comentando e mencionando várias hipóteses, todas elas já lançadas anteriormente e testadas em sondagens. Foi então que, por sua iniciativa, decidiu lançar um nome novo, acrescentando que também o antigo líder António José Seguro daria um bom candidato presidencial. E animou os seguristas, numa altura que continua a ser de indefinição no partido.
Se em público a referência é nova, nos corredores do PS não se estranha. Isto porque, apesar do silêncio de Seguro, que não respondeu às tentativas de contacto do Observador, há pelo menos várias semanas que nos bastidores do partido se iam comentando as movimentações do antigo secretário-geral socialista. Seguro, discreto desde que perdeu a liderança do partido para António Costa, em 2014, já tinha aparecido num par de eventos públicos sobre política no ano passado, e fez questão de estar presente em eventos pequenos, de estruturas locais do partido, nos últimos meses.
Dentro do círculo mais próximo, ouve-se uma garantia: “Ele está a ponderar”, ouve o Observador, numa referência a uma possível candidatura a Belém. No partido, há dirigentes que admitem “vaticinar um regresso”, comentam a “participação discreta em eventos de estruturas do PS” e garantem que esperarão “até ao Natal” para perceber onde é que a alegada ponderação levará Seguro: “Até ao final do ano terá de dizer alguma coisa”, comenta uma fonte socialista.
E há alguns socialistas que já têm tido novidades de Seguro: de acordo com informações apuradas pelo Observador junto de várias fontes do partido, no final de setembro — data que marca os dez anos do fim da sua liderança do PS, quando foi derrotado por António Costa nas eleições primárias do partido — o círculo mais próximo do ex-líder recebeu uma mensagem para assinalar a efeméride, embora não se falasse de futuro. “Era no sentido evocativo do processo difícil que foi [a saída da liderança do PS] e a forma como estivemos juntos”, descreve um dos socialistas que receberam a mensagem.
Além da participação em eventos aparentemente “aleatórios”, como uma candidatura interna na concelhia de Soure e conferências em Condeixa e Miranda do Corvo, António José Seguro aceitou participar, no ano passado, em eventos com maior projeção.
Num debate com Assunção Cristas sobre Europa, antes das eleições europeias que o PS acabaria por ganhar, Seguro recusou falar sobre planos para um eventual futuro político, admitindo que nunca diria “jamais”: “Não tenho no horizonte qualquer regresso. Mas não serei hipócrita ao ponto de dizer ‘nunca, jamais, em tempo algum’”. No final do evento, o Público chegaria a perguntar-lhe se diria que não a uma candidatura às eleições presidenciais de 2026 — pergunta a que Seguro recusou responder. No mesmo evento, e depois de ter recusado várias vezes fazer comentários sobre política nacional, acabou por disparar uma crítica que atingiria diretamente o Governo de António Costa, na altura em plena crise Galamba: “Quando olho para o país, fico perplexo com o que vejo. Acho que os portugueses merecem melhor (…) Pelas razões de que vocês suspeitam”.
Seguro diz-se “perplexo” com situação do país: “Os portugueses merecem melhor”
As candidaturas presidenciais devem, como se vai recordando no partido, partir das próprias personalidades — daí que se comente no PS que “a bola está do lado de Seguro” se quiser mostrar vontade de regressar. Do lado dos que continuam a assumir-se seguristas, a perspetiva anima: a referência de Pedro Nuno Santos levou a trocas de telefonemas entre os antigos apoiantes do ex-líder, que continuam a puxar pela hipótese e a querer puxar pelo hipotético candidato.
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“É sempre uma reserva da República”, comenta um destes nomes. “O partido precisa de olhar para ele como um ativo importante, para fecharmos este capítulo em que um dos nossos melhores não conta”. Outros seguristas falam da “postura cívica” e de uma “forma de estar na vida pública” que, acreditam, ainda terá admiradores.
Não é de estranhar que as hostes seguristas se animem: já durante a última corrida interna no PS, entre Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, o nome chegou a circular, tendo Seguro admitido que o “telefone” tinha tocado “mais” nos últimos dias mas fechando o assunto com uma referência ao famoso episódio da rodagem do carro que Cavaco Silva foi fazer ao congresso do PSD na Figueira da Foz — uma aparição supostamente improvisada que acabou com Cavaco a vencer a disputa pela liderança social democrata. “Não tenho nenhum Citroen para fazer a rodagem”, ironizava Seguro. Desta vez, está em silêncio.
Centeno preferido, mas PS olha para alternativas
Numa altura em que a indefinição ainda é grande, Pedro Nuno Santos veio acrescentar nomes ao leque de candidatos, sem se fechar num só — foi questionado sobre Mário Centeno, que admitiu ter uma relação com o povo português comparável à que tem Marta Temido (que escolheu para protagonizar a candidatura às eleições europeias), e acabou a falar de nomes como Augusto Santos Silva, António Vitorino, Ana Gomes e António José Seguro.
Ainda assim, entre nomes no topo do partido continua a dar-se mais força à hipótese Centeno. E elogia-se que haja, nesta altura, várias opções em cima da mesa. “É importante que o partido tenha várias alternativas, convergindo para a que se mostrar disponível”, nota um socialista, notando a necessidade de o PS encontrar um candidato “único, forte, e que não provoque fraturas no quadro do PS”, de modo a não colocar em risco a oportunidade do partido de voltar a Belém, vinte anos depois.
Nas contas continua a entrar o nome de Augusto Santos Silva, que nunca rejeitou publicamente a hipótese e, apesar de Centeno parecer estar a ganhar terreno nos últimos meses, não colocará o cenário de uma corrida a Belém de lado, notavam fontes próximas ao Observador durante o verão. A este leque, Pedro Nuno Santos juntou os nomes de António Vitorino e da ex-candidata Ana Gomes, além da novidade António José Seguro.
Entre os apoiantes de Seguro nota-se um problema: é que Centeno seria um nome que teria potencialmente vantagens semelhantes às que traria o ex-líder do PS, indo buscar eleitorado ao centro-direita — daí que, como o Observador escreveu, as conversas prévias sobre uma possível candidatura se estendam a figuras da direita — e evitando ficar confinado ao eleitorado da esquerda. Mas quando o assunto é presidenciais, tudo depende sobretudo de vontades pessoais. E sobre essas os protocandidatos fecham-se em copas.