A bolsa não é um monstro, embora, por vezes, a sua sombra pareça. Todos podem aplicar as suas poupanças através dela, apesar de se deverem armar para o sucesso. A literatura financeira é tanto um bom ponto de partida para esse êxito, como uma alavanca para alimentar os conhecimentos bolsistas.
Para ajudar os seus leitores a avançarem no mundo dos investimentos, o Observador auscultou especialistas profissionais do mercado de capitais e caminhou por várias listas dos livros mais vendidos e mais recomendados para reunir as seis obras indicadas para os investidores, dos aspirantes aos mais experientes.
A maioria dos livros sugeridos é publicada em inglês, a lingua franca dos investimentos, embora haja exceções e algumas alternativas em português. Os preços indicados em baixo são da Wook, a livraria que, segundo a análise do Observador, é a mais barata para adquirir as obras recomendadas em conjunto. Note, no entanto, que os preços podem variar.
“The Intelligent Investor”, de Benjamin Graham
Editora Harper Business
Páginas 640
Preço 17,21 euros
“É o melhor livro sobre investimento alguma vez escrito.” Quem o diz é Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo, que fez fortuna após ter estudado e trabalhado sobre a batuta de Benjamin Graham, professor na Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.
“The Intelligent Investor”, publicado pela primeira vez em 1949, não foi o primeiro livro de Benjamin Graham. Antes, dividiu a autoria de “Securities Analysis” com o também professor David Dodd, um livro mais voltado para o mundo académico. “Este é, na minha opinião, o livro que melhor apresenta o pensamento do investimento seguro”, defende Emília Vieira, presidente da Casa de Investimentos, sobre “The Intelligent Investor”. “Avisa o investidor que deverá estar ciente das variações dos mercados e preparado financeira e psicologicamente para a sua enorme volatilidade e, por vezes, insanidade”, explica a gestora de patrimónios.
O livro já vendeu mais de um milhão de exemplares. A mais recente edição, a quarta, foi revista e editada por Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal, mas preservando a integridade do texto original.
“Graham alerta o investidor para a importância da avaliação profunda dos ativos e para a necessidade de ter o temperamento adequado, de resistir às opiniões contrárias e de fazer os seus investimentos a médio e longo prazo”, resume Emília Vieira, que procura seguir os mesmos princípios na gestão de fortunas na Casa de Investimentos, em Braga. “Só desta forma, evitará o risco muito real de o fazer cair em atitudes e atividades especulativas. É fácil dizer que não se deve especular; o mais difícil é seguir este conselho”, conclui a presidente da Casa de Investimentos, que, prestes a celebrar o quarto aniversário, conseguiu um retorno anual médio de 15,5% para os seus clientes.
“One Up On Wall Street”, de Peter Lynch e John Rothchild
Editora Simon & Schuster
Páginas 304
Preço 14,56 euros
Se há um livro que compete com o sucesso de “The Intelligent Investor” é “One Up On Wall Street”, escrito por Peter Lynch, que também já ultrapassou um milhão de exemplares em vendas. Aliás, na lista dos três mais vendidos na área de investimentos da Amazon.com, uma das maiores livrarias do mundo, estão duas obras de Benjamin Graham e este livro de Lynch.
Peter Lynch é uma lenda. Entre 1977 e 1990, o fundo Fidelity Magellan, que esteve ao seu leme, rendeu 29,2% por ano. “One Up On Wall Street” foi a primeira obra de Lynch em que apresentou o conceito “investe no que conheces”. Resumidamente, o gestor defende que os pequenos investidores estão em vantagem face a muitos especialistas, porque têm informação muito especializada. E exemplifica com uma ida ao supermercado que pode dar muitas dicas sobre as empresas que mais vendem.
Depois do primeiro livro, Peter Lynch escreveu “Beating the Street”, em que mostra como aplicar a sua estratégia, e “Learn to Earn”, dirigido aos mais jovens. Os três livros são também assinados pelo escritor John Rothchild, especializado em títulos de Finanças.
“The Essays of Warren Buffett”, de Lawrence A. Cunningham (editor)
Editora John Wiley
Páginas 320
Preço 16,10 euros
Tal como Peter Lynch, Warren Buffett é uma lenda: começou a investir aos 11 anos até se tornar no homem mais rico do mundo em 2008, com o equivalente a cerca de 40 mil milhões de euros. Desde então, desceu para a terceira posição, segundo a Bloomberg, muito devido à sua filantropia. Buffett não escreve livros, mas os relatórios que anexa às contas da sociedade que lidera, a Berkshire Hathaway, são uma fonte preciosa de conhecimento.
Lawrence A. Cunningham, professor na Universidade George Washington, em Washington, nos Estados Unidos da América, teceu uma narrativa coerente a partir dos relatórios anuais de Buffett. O resultado foi tão bom que o próprio Warren Buffett recomenda o livro. Esta obra já vai em quatro edições, todas atualizadas com as mais recentes inspirações do “Oráculo de Omaha”, como é conhecido Buffett, uma alusão à sua terra natal, no Nebrasca.
“The Essays of Warren Buffett” lidera a lista dos mais vendidos da Amazon.com no segmento de finanças empresariais. Muitos outros livros foram escritos sobre Warren Buffett, alguns dos quais traduzidos em Portugal: “Como Enriquecer na Bolsa com Warren Buffett” (15 euros) e “O Tao de Warren Buffett” (10 euros), ambos escritos por Mary Buffett (que foi casada com o filho mais novo de Warren) e David Clark; “Efeito Bola de Neve”, de Alice Schroeder (22 euros); “O Que Diz Warren Buffett”, de Janet Lowe (15 euros); e “Warren Buffett e as Estratégias de Um Grande Investidor”, de Robert G. Hagstrom (18,17 euros).
“Financial Times Guide to Financial Markets”, Glen Arnold
Editora Pearson Education
Páginas 576
Preço 39,74 euros
Antes de começar a avaliar empresas e as suas ações para as poder comprar, é preciso saber como funcionam os mercados financeiros. Nesta área, João Duque, professor catedrático de Finanças do Instituto Superior de Economia e Gestão, recomenda o livro “Financial Times Guide to Financial Markets”, escrito por Glen Arnold.
“Para quem quer entender o que lê na imprensa especializada partindo do zero, está é uma boa porta de entrada”, conta João Duque. “Ajuda a entender como funciona o mercado e os termos que são usados, possibilitando a leitura completa do que escrevem ‘os homens dos mercados’ sobre ‘os mercados’.”
Glen Arnold, professor de investimentos na Universidade de Salford, em Inglaterra, promete esquadrinhar todo o jargão financeiro e traduzi-lo em conceitos práticos para aspirantes a investidores. As páginas financeiras do jornal britânico Financial Times são o ponto de partida para as explicações de Arnold.
Em 1993, quando João Duque estava a meio caminho de terminar o seu doutoramento em Administração de Empresas, na Universidade de Manchester, em Inglaterra, comprou uma edição precedente ao “Financial Times Guide to Financial Markets”. Duque explica que a aquisição o ajudou a decifrar o Financial Times, leitura obrigatória na City londrina, cuja edição britânica era mais complexa do que a do resto da Europa.
“Investors and Markets: Portfolio Choices, Asset Prices, and Investment Advice”, William F. Sharpe
Editora Princeton University Press
Páginas 232
Preço 29,08 euros
A bolsa não pode ser domada sem os conhecimentos sobre a gestão de carteiras. Porque é importante a diversificação? Qual a proporção ótima entre os vários ativos? Poucos podem responder tão bem como William Sharpe, professor jubilado de Finanças na Universidade de Stanford.
“Aprofundando e desenvolvendo o contributo original de Harry Markowitz de 1952, Sharpe abriu todo o pensamento sobre o CAPM a uma vasta audiência e construiu importantes fundações para enormes avanços posteriores no estudo do comportamento dos investidores e dos mercados”, relembra Luís Saraiva Martins, o diretor de investimentos da Caixa Gestão de Activos, a maior sociedade gestora em Portugal.
O CAPM (a sigla em inglês de capital asset pricing model) é um modelo usado em Finanças que calcula a rentabilidade teórica que se deve exigir a um instrumento financeiro tendo em conta uma carteira perfeitamente diversificada. O desenvolvimento do CAPM levou Sharpe a receber o Prémio Nobel da Economia em 1990, juntamente com Markowitz e Merton Miller.
Luís Saraiva Martins, cuja sociedade é responsável pela gestão de mais de 27 mil milhões de euros, leu “Portfolio Theory & Capital Markets”, um livro escrito por Sharpe em 1970, no início da sua carreira profissional, em 1988. “Abriu uma enorme quantidade de novas janelas para assuntos não antes abordados nos planos de estudos habituais dos cursos superiores de Economia ou Gestão da década de 80 em Portugal”, recorda o administrador da Caixa Gestão de Activos.
“Portfolio Theory & Capital Markets” não é publicado há 14 anos, mas, mais recente e igualmente útil, é “Investors and Markets”, editado em 2008. Para este livro, Sharpe desenvolveu um programa, disponível na sua página alojada na Universidade de Stanford, para ajudar os leitores a testarem a criação de carteiras.
Outro livro que marcou Luís Saraiva Martins foi “Valuation: Measuring and Managing the Value of Companies“, escrito por quadros da McKinsey. Já na quinta edição, é considerado por muitos como uma bíblia da avaliação de empresas.
“Flash Boys”, Michael Lewis
Editora Lua de Papel
Páginas 248
Preço 15,21 euros
A bolsa continua a evoluir: já não é um mercado apenas de corretores de dedos esticados a combinar negócios. Quem acreditar que quem lhe está a vender ou a comprar as ações são unicamente pessoas, está enganado. “Flash Boys” mostra que já não é assim que se fazem negócios.
“É um livro que, tendo saído na primavera de 2014, foca um tema muito atual que, na minha opinião, é extremamente útil para se entender o funcionamento das bolsas mundiais nos dias de hoje”, diz Rui Borges de Sousa, o diretor do Banco Espírito Santo de Investimento que é responsável pela atividade de negociação por conta própria. “Neste livro, Michael Lewis fala nas mudanças radicais que aconteceram nos mercados num passado recente, com a crescente substituição das pessoas por computadores conectados por fibras óticas de alta velocidade.”
Michael Lewis mostra que “o mercado, no coração do capitalismo, estava manipulado” e relata a história de uma equipa que descobriu o esquema. “É uma espécie de visita guiada pelo mundo do high frequency trading [negociação de alta frequência] de que todos já ouvimos falar, mas que nem todos temos noção de que de alguma forma fazemos parte dele”, resume Rui Borges de Sousa, do BES Investimento, que, no seio do grupo do Novo Banco, se coloca na primeira posição dos intermediários bolsistas portugueses. Nos primeiros nove meses do ano, o grupo recebeu 46,8 mil milhões de euros em ordens de transação sobre ações e dívida.
Embora tenha sido traduzido para português pela Lua de Papel, Rui Borges de Sousa recomenda a opção pela edição em inglês (13,12 euros). O New York Times publicou, no final de março, um longo artigo adaptado do livro.