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HUGO DELGADO/LUSA

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Seis 'não', três 'talvez' e um 'sim'. Críticos tentam colar toda a direção de Cristas à derrota

João Almeida é o único rosto da continuidade em ponderação. Entre os críticos, estratégia é colar toda a direção à derrota e defender que líder não tem de ser deputado. Congresso a 25 e 26 de janeiro.

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Depois da “hecatombe” eleitoral, que fez o partido passar de 18 deputados para apenas cinco, o CDS reúne esta noite o seu Conselho Nacional — órgão máximo entre congressos — para começar a delinear o futuro do partido. Começar, sim, porque não será esta noite que as luzes ao fundo do túnel se vão acender. Nenhum dos dirigentes centristas que afirma estar em “ponderação” (são três: João Almeida, Filipe Lobo d’Ávila e Francisco Rodrigues dos Santos) deverá assumir já esta quinta-feira que é candidato, mas as decisões não deverão tardar.

“Não tenciono demorar muito, até porque é preciso dar espaço a quem é candidato”, admite Filipe Lobo d’Ávila ao Observador. Para já, é tempo de perceber se “o CDS quer mudar de vida” ou se quer “deixar tudo na mesma”, acrescenta o promotor do movimento Juntos Pelo Futuro, que há dois anos se afastou do Parlamento e da atual direção do CDS e se manteve como voz crítica da estratégia seguida pela direção de Assunção Cristas. Também o líder da JP, Francisco Rodrigues dos Santos, não deve empurrar a decisão muito para lá do fim de semana. Já João Almeida prefere dar prioridade ao conteúdo da moção estratégica que vai apresentar ao congresso, do que ao facto de essa moção vir ou não com uma candidatura à liderança.

Esse vai ser, precisamente, o trunfo dos críticos: encostar toda a direção de Assunção Cristas à derrota eleitoral, deixando de fora aqueles que sempre avisaram que o rumo do partido não devia ser aquele. Além disso, na mesma lógica de abrir espaço para uma alternativa a João Almeida, os não-alinhados com a atual direção vão defender que o próximo líder não tem de ser, necessariamente, deputado na próxima legislatura.

Da parte de Assunção Cristas, que foi rápida, logo na noite eleitoral, a dizer que não seria recandidata à liderança do partido, resta só saber se vai assumir o lugar de deputada, hipótese que é vista como improvável e que deverá ser anunciada pela ainda líder na reunião desta noite (a Comissão Política reuniu-se a partir das 19h e o Conselho Nacional a partir das 21h).

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Além da análise aos resultados eleitorais, vai sair deste Conselho Nacional a marcação da data do próximo congresso, que Cristas pediu para ser antecipado. Ao que o Observador apurou, depois de uma proposta inicial para os dias 18 e 19 de janeiro, os dirigentes do partido detetaram uma série de inconvenientes nessas datas e o novo agendamento em cima da mesa é o último fim-de-semana de janeiro (dias 25 e 26) devendo ser essa a data que vai ser votada pelos conselheiros. Inicialmente a ideia era antecipar mesmo para dezembro, para acelerar o processo, mas o mês das festas revelou-se mais “caro” e com maior indisponibilidade de salas para acolher a reunião magna dos centristas. Sendo eletivo, este pode mesmo vir a ser o congresso mais disputado da história do CDS. Para já, há mais indisponíveis do que candidatos. Mas é nos ‘talvez’ que pode estar a chave.

Os ‘talvez’ de onde pode sair o futuro líder

Filipe Lobo d’Ávila quer ouvir conselheiros a admitir erros

Filipe Lobo D'Ávila ao lado de Assunção Cristas no 27º Congresso do CDS

NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

Chega ao Conselho Nacional desta noite com o poder de dizer “eu avisei”. Filipe Lobo d’Ávila deixou o seu lugar no Parlamento a meio da anterior legislatura em discordância com a estratégia e o rumo seguido pela direção de Assunção Cristas, e desde então tem-se mantido afastado, aparecendo apenas nos Conselhos Nacionais ou congresso do partido para dizer o que pensa. É crítico assumido. O movimento que criou dentro do CDS, Juntos pelo Futuro, tem cerca de 20% de representação no Conselho Nacional (16 membros), sendo que todos os restantes — a grande maioria — são afetos à atual direção do partido. É por aí que Filipe Lobo d’Ávila vai orientar a sua intervenção esta noite no Largo do Caldas: “Assunção Cristas nunca esteve sozinha desde o primeiro dia. Muita gente apoiou entusiasticamente este caminho”, lembra ao Observador, sublinhando que nas últimas semanas, os membros da direção do CDS multiplicaram-se em entrevistas, mas não ouviu ninguém chamar a si parte da culpa pela derrota (à exceção, nota, de Cecília Meireles).

Sem dizer se é ou não é candidato — “não é um tabu, é uma reflexão que tem de ser feita” –, Lobo d’Ávila garante que vai ouvir mais do que falar. Ou seja, quer ouvir os dirigentes alinhados com a direção centrista a admitirem os erros e pensarem em conjunto como o CDS pode ganhar um novo rumo. “É preciso perceber se o CDS quer mesmo mudar de vida”, diz ao Observador, lembrando que o que correu mal não vem de agora, nem de “há três meses”, vem mais de trás.

Para o futuro, o ex-deputado diz apenas que é “saudável” que haja vários projetos diferentes a candidatarem-se à liderança — “um partido político é isso mesmo” –, mas sublinha que a nova liderança, qualquer que ela seja, terá de saber agregar as diferenças existentes no CDS. “Somos poucos, vamos ter de nos entender”, afirma, garantindo que a reflexão que está a fazer não está dependente de nenhuma outra candidatura. Quanto a uma eventual candidatura de Francisco Rodrigues dos Santos (o líder da JP conhecido por Chicão), Lobo d’Ávila garante que, se Chicão não se candidatar à liderança, “seria bastante bom a qualquer candidatura poder contar com um quadro como ele”. Mais: para Lobo d’Ávila, o facto de o novo líder ser ou não deputado não deve ser condição sine qua non, até porque nenhum dos três líderes anteriores do CDS (Paulo Portas, Manuel Monteiro e Ribeiro e Castro) eram deputados quando foram eleitos líderes.

João Almeida, em ponderação, está a escrever a moção

João Almeida tem a vantagem de estar no Parlamento

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

João Almeida, logo no dia seguinte às eleições, disse à Rádio Observador que, perante um “péssimo resultado”, há “muitas questões que têm de ser ponderadas”. O deputado do CDS destacava que “a questão da liderança é muito relevante mas não é a primeira de todas”. Apesar disso, até agora João Almeida, atual porta-voz do CDS, é o único nome em “ponderação” da atual direção do CDS e o que asseguraria uma linha de continuidade. Sobre o Conselho Nacional desta quinta-feira, João Almeida disse ao Observador que ainda não sabe se irá intervir e que também ainda não sabe se será candidato à liderança. Isto porque agora está “empenhado em trabalhar na moção”, já que mais importante do que a liderança é trabalhar nas “ideias para o futuro do partido”.

Ao contrário do que no acontecia no passado, os atuais estatutos permitem a João Almeida apresentar uma moção de estratégia global sem ter de apresentar, em simultâneo, uma candidatura à liderança do partido. É o que tem acontecido nos últimos congressos do partido, onde só tem havido um candidato único, e onde as moções dos restantes são discutidas no seu conteúdo, mas retiradas no momento da candidatura, deixando apenas ir a votos a moção do candidato a líder. Desta vez, contudo, poderá ser diferente.

Chicão vai pedir renovação no CN, mas só decide candidatura para a semana

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Francisco Rodrigues dos Santos também fará uma intervenção no Conselho Nacional, que dividirá em duas partes: um balanço daquilo que foi a estratégia do partido nos últimos quatro anos e uma outra parte sobre o futuro do CDS, em que falará sobre a necessidade de renovação e sobre o posicionamento que considera que o CDS deve ter. Sobre o balanço, o líder da Juventude Popular deverá deixar claro que a responsabilidade da derrota eleitoral não é apenas de Assunção Cristas, mas de toda a direção. Aí há um objetivo claro: colar João Almeida (e também Adolfo Mesquita Nunes) à derrota.

Já quanto à parte mais ideológica, ‘Chicão’ — que se posiciona à direita de Cristas —  fará questão de identificar que causas acredita que o partido deve defender nos próximos anos. Foi ele, por exemplo, o rosto do partido no ataque ao despacho do governo sobre as casas de banho para crianças transgénero, que acusava de impor a ideologia de género nas escolas.

Sobre uma eventual candidatura à liderança, Francisco Rodrigues dos Santos tomará uma decisão, no máximo, até ao final da próxima semana. Caso não avance, será mais fácil apoiar a candidatura de um nome como Filipe Lobo D’Ávila (e vir a integrar a sua direção) do que uma candidatura de um atual membro da direção de Cristas, como João Almeida.

A 7 de outubro, numa publicação do Facebook, o líder da JP utilizou a metáfora das maçãs para, de alguma forma, dizer ‘presente’ à chamada. A metáfora das macieiras, é de resto, muito usada entre os democratas-cristãos, que citam uma velha máxima de Adriano Moreira, na despedida do partido: “Vou plantar macieiras”, terá dito. Pedro Mota Soares recorreu a essa mesma metáfora quando se despediu do Parlamento, no final da legislatura passada, e agora é Chicão, 31 anos, que faz o mesmo para dizer que as macieiras do CDS estão a dar fruto e para pedir renovação: “A renovação do partido velho partirá necessariamente dessas maçãs sumarentas”, escreveu.

Nuno Melo defendeu que o próximo líder do CDS deve estar no Parlamento para poder confrontar o primeiro-ministro nos debates quinzenais. Apesar disso, disse quatro nomes de militantes — fora da Assembleia da República — com capacidades para ocupar o cargo: Nuno Magalhães, António Lobo Xavier, Adolfo Mesquita Nunes, Diogo Feio e Filipe Lobo D’Ávila. Não disse o de Francisco Rodrigues dos Santos.

Seis maneiras de dizer não ao CDS

O primeiro a colocar-se de fora foi José Ribeiro e Castro, que disse que Paulo Portas tem condições para voltar a liderar o partido. Já Nuno Melo disse que não ia a jogo porque o futuro líder tem de estar no Parlamento, o mesmo argumento dado por Pedro Mota Soares quatro dias antes. Por outro lado, António Pires de Lima rejeitou ser candidato ao mesmo tempo que lembrou que já teve 18 anos de vida política ativa e que é a vez de outros avançarem, desafiando Adolfo Mesquita Nunes a candidatar-se à liderança. Adolfo Mesquita Nunes respondeu no próprio dia porque em março optou pela Galp em detrimento da direção do CDS. Por fim, Telmo Correia deu uma conferência de imprensa para dizer que não será candidato e apelar à união.

José Ribeiro e Castro, a 7 de outubro, em declarações à Rádio Observador:

Já fui presidente do CDS e esse tempo passou (…) Não digo que esteja disponível agora considero que a direção do partido é composta, no geral, por pessoas que são muito próximas do Dr. Paulo Portas, os portistas. Ele tem de continuar a ser uma pessoa muito presente na vida do partido, nas suas campanhas. Foi o último presidente com votações diferentes desta e portanto a sua palavra seria importante e oportuna, ainda que eu parta do princípio que não lhe passa pela cabeça candidatar-se. Se o quiser fazer, poderá fazê-lo.

Pedro Mota Soares, a 7 de outubro, em declarações ao Expresso:

Acho que a afirmação de uma liderança nova deve passar preferencialmente por alguém que esteja no Parlamento, e que terá mais condições objetivas, mais força e mais capacidade de afirmação.”

Nuno Melo, a 11 de outubro, em declarações à Agência Lusa:

[Na atual] conjuntura difícil [o futuro líder] tem de poder enfrentar o primeiro-ministro no Parlamento e medir talentos [com partidos da área do CDS, como Chega e a Iniciativa Liberal]”. 

 António Pires de Lima, a 13 de outubro, em entrevista à Antena 1:

Não sinto obrigação nenhuma (…) Não vou pensar. Estou a dizer-lhe muito claramente que não serei candidato à liderança do CDS. Gosto imenso do CDS, é o meu partido. Sou militante de base hoje. Essa é a minha condição. Acho que já dei um contributo importante. Dei o melhor de mim durante 18 anos na vida política ativa (…)”

Adolfo Mesquita Nunes, a 13 de outubro, na sua página pessoal de Facebook:

Estarei presente na discussão sobre os desafios do CDS e sobre a necessidade de construir uma alternativa mobilizadora ao socialismo; e estarei com toda a certeza presente no Congresso do CDS, dando em liberdade conta das minhas opiniões. Mas não serei candidato à liderança do partido, em coerência aliás com uma escolha que fiz em março deste ano, cuja fundamentação se mantém.”

Telmo Correia, a 14 de outubro, em conferência de imprensa:

Não sou, nem vou ser, candidato. A bancada parlamentar é  a montra de um partido. E o CDS passou de uma montra muito grande para uma montra reduzida, de esquina quase, muito pequena (…) O tempo é para juntar com o bico e não para espalhar com as patas”.

Nos próximos dias algumas “ponderações” também devem passar a desistência.

O único sim em 11 dias

É o único ‘sim’ conhecido. Disse-o logo no rescaldo da noite eleitoral: Abel Matos Santos, da Tendência Esperança em Movimento (TEM), corrente interna reconhecida pelo partido, será candidato à liderança do CDS. Ao Observador, Abel Matos Santos diz que é preciso um “tempo novo” porque o que está em causa é “a sobrevivência do partido”, e reforça a ideia de que a culpa dos maus resultados eleitorais é de toda a direção de Assunção Cristas, e não apenas da líder. “Os que subiram ao palco na noite da derrota são tão responsáveis como ela”, diz, afirmando que deviam “saber afastar-se”. O recado seria para João Almeida, atual porta-voz do partido, que é o único da linha da continuidade que está em fase de “reflexão”.

Para Abel Matos Santos, a reflexão que o partido deve fazer a partir de agora é “maior do que nós”, ou seja, é maior do que as candidaturas à liderança. Para o porta-voz da TEM, o CDS “não deve ter vergonha de se assumir como de direita”, e é esse debate de posicionamento ideológico do partido que também deve ser feito.

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