Acompanhe o liveblog sobre a queda do helicóptero no Douro

O helicóptero bombardeiro ligeiro de combate a incêndios rurais que caiu no rio Douro esta sexta-feira é de série AS350 Écureuil e está em produção desde 1975. É descrito como um veículo com “provas dadas de muito trabalho e de muita capacidade” por Jorge Silva, vice-presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil (AsproCivil), que indica tratar-se de uma aeronave com uma “tecnologia mais recente do que a do início da produção destes aparelhos, mas com a estrutura base de voo – carroçaria e chassis — a manter-se a mesma quase desde sempre.

Com base nos relatos do momento da queda conhecidos até ao momento, o técnico superior de Proteção Civil, em entrevista ao Observador, considera que, perante o estrondo inicialmente escutado, o piloto terá decidido ir em direção ao rio, antecipando hipóteses mais favoráveis de sobrevivência dos tripulantes naquele meio. No entanto, estas aeronaves “não estão preparadas para aterrar na água“. “Levantam em seco e aterram em seco em zona sólida, não têm flutuadores para passar em cima de água”, acrescenta.

Os helicópteros são utilizados para o combate a incêndios florestais, tarefa que no caso do aparelho que se despenhou tinha acabado de ser cumprida em Baião, com os militares da GNR de regresso à base. Os aparelhos fazem “voo rasante para ir buscar água”, ou seja, “baixam, carregam o saco e vão embora”, descreve o técnico, notando que, embora tenham “facilidade de voar em baixa altitude junto a um plano de água”, não são aparelhos que “dispõe de flutuadores ou que estejam preparados para aterrar na água”.

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No caso, os patins (que não flutuam) terão entrado dentro de água, naquilo que a Proteção Civil descreveu como uma tentativa de amaragem, seguindo-se o embate do restante helicóptero que terá submergido em poucos minutos.

Os elementos do série A350 e a “caixa de registo” que vai deslindar o motivo da queda

O aparelho de série A350, como outros helicópteros, é composto pelo cockpit, “que é toda a zona da frente de pilotagem, com o vidro e a cabine”, descreve Jorge Silva.

Por cima da cabine fica o motor rotativo e, ao alto, “uma hélice de rotação que mantém a estabilidade do aparelho”.

Dentro do helicóptero, há uma separação entre o espaço que o piloto e copiloto (que, no caso, não existia) ocupam e a parte de trás, onde seguiam os cinco militares da GNR que foram dados como desaparecidos às primeiras horas do acidente. O piloto, que sobreviveu ao acidente e se encontra no hospital com ferimentos ligeiros — tem os membros inferiores fraturados — terá, com muita probabilidade, saído do aparelho pelo espaço do vidro da frente, que poderá ter-se partido com o impacto.

Os ocupantes que seguiam na zona traseira, provavelmente com cinto de segurança, teriam, assim, uma maior probabilidade de terem ficado “fechados” dentro do aparelho, segundo o técnico de Proteção Civil. A primeira informação confirmada foi a de que dois dos militares foram encontrados, efetivamente, dentro do helicóptero submerso.

O técnico explica ainda que o helicóptero de combate a incêndios que caiu esta sexta-feira ao início da tarde no Douro “tem caixa de registo”, a chamada caixa negra, que vai ajudar a perceber o que aconteceu para que o desastre aéreo tenha acontecido.

Além disso, “toda a aeronave a operar a partir de um determinado tempo tem um plano de manutenção de voo a seguir“, explica Jorge Silva. “Começa-se por ir à caixa de registos de ocorrências para saber que erros a caixa possa ter registado [num voo anterior]. Verificados todos os registos da caixa, faz-se uma checklist de verificação minuciosa, que segue todos os passos de manutenção e só depois é que leva o certificado de voo”, assegura.

Embora ainda não se conheçam as circunstâncias que provocaram a queda do helicóptero, há pelo menos uma testemunha do momento do acidente. Trata-se de um homem, membro da tripulação de uma embarcação turística (que navegava naquela zona do rio Douro ao mesmo tempo que se o aparelho se despenhou), e que descreveu, em declarações à CNN Portugal, o momento em que o aparelho se aproximou do rio e se afundou.

“Devia trazer uma avaria qualquer. Pelas 12:30 verificámos, inesperadamente, a entrada de um helicóptero, que já vinha de lado… não vinha em boas condições. Apareceu inesperadamente de nariz, caiu à água, bateu com as hélices, desfez-se e rapidamente se afundou”, explicou Joaquim Rocha àquela estação televisiva. E foi precisamente a embarcação turística onde Joaquim Rocha se encontrava que resgatou o piloto do rio, assim que o viu à superfície.

Joaquim Rocha sublinhou que a preocupação dos elementos da embarcação turística foi socorrer o piloto. “Foi o único, não sabíamos se havia mais alguém no helicóptero”, ressalvou o homem, acrescentando que o piloto referiu depois, e por várias vezes, que se encontravam mais pessoas dentro do aparelho.

Quem são os elementos da equipa de emergência e socorro da GNR que seguiam a bordo do helicóptero?

Os militares que seguiam a bordo do helicóptero que se despenhou no Douro esta sexta-feira pertenciam à Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da Guarda Nacional Republicana (GNR). O Expresso avança que os cinco militares estavam integrados no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais. Destes cinco, ao início da noite, quatro corpos já tinham sido localizados e havia ainda um militar desaparecido. O Observador sabe o grupo de militares estava a regressar do combate a um incêndio em Baião para onde tinham sido chamados, mas no qual não chegaram a atuar. Foi nesse regresso à base de Armamar que o aparelho teve um problema técnico — ainda desconhecido — e acabou por se despenhar no rio.

Helicóptero que caiu no rio Douro não chegou a combater incêndio para o qual tinha sido chamado

Nestes cenários de intervenção em incêndios, estes militares transportam consigo equipamento pesado. Segundo o Expresso, citando a Autoridade Marítima Nacional (AMN), cada militar estaria vestido com “um equipamento de proteção a incêndios que pesa 20 quilos”, ao qual acresce um cabo de aço para resgate, o que acrescenta “dificuldades às buscas”, dado que o helicóptero se “afundou numa zona do rio com 40 metros de profundidade, em zona com algum lodo, correntes e fraca visibilidade”. O aparelho foi alugado pela HTA Helicópteros, empresa da qual o Observador ainda não conseguiu obter declarações.

Sobre o sobrevivente, o Correio da Manhã refere que o piloto, que é civil, terá 44 anos e é natural da região de Trás-os-Montes. Foi retirado do helicóptero, transportado para o Hospital de Vila Real e não corre risco de vida.

Equipa faz parte de um grupo especializado

A UEPS substituiu, em 2018, a anterior designação GIPS — Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro, que desde 2006 era um dos vários grupos da orgânica da GNR.

Atualmente, esta unidade da GNR está dividida em três grupos, com diferentes áreas de atuação, desde trabalhos de intervenção em incêndios até operações de busca. As unidades estão presentes nos 18 distritos de Portugal continental.

De acordo com a página da GNR, os militares que seguiam neste helicóptero estariam a fazer uma “intervenção helitransportada de combate a incêndios florestais”. Neste caso, as responsabilidades da equipa são de “primeira intervenção em incêndios nascentes, fazendo-se deslocar de helicóptero (ligeiro ou médio) para ao teatro de operações”.

Helicóptero que caiu no Douro transportava cinco elementos da equipa de emergência e socorro da GNR. O que fazem?

Nestas intervenções, as equipas podem ser compostas por cinco, oito ou doze militares, consoante a dimensão do helicóptero. Neste caso, como era um helicóptero ligeiro, seguia a bordo uma equipa mais pequena.

“É através desta equipa/secção que é estabelecida a ligação terra-ar, ou seja, entre o Comandante das Operações de Socorro (COS) do incêndio e o piloto comandante do meio aéreo. A equipa/secção e o meio aéreo são elementos indissociáveis durante todo o tempo de operação”, é ainda explicado na página da GNR.

Noutros casos, as equipas podem também fazer intervenção terrestre de combate a incêndios florestais, servindo de apoio à equipa do helicóptero.

Quem são as duas vítimas mortais já identificadas?

Já são conhecidas as identidades de duas das quatro vítimas mortais confirmadas no acidente de helicóptero no rio Douro, que aconteceu ao final da manhã desta sexta-feira. Trata-se de Pedro Santos, que, para além de militar da GNR, era treinador de futebol, e de Daniel Pereira, que era instrutor de ginásio na mesma cidade.

Pedro Santos, mais conhecido por Roncha, era treinador no Cracks Clube de Lamego, avança o jornal O Jogo, que cita um comunicado do clube publicado na rede social Facebook. “Estamos sem palavras… Faleceu hoje um dos nossos… é com profunda tristeza que informamos o falecimento do nosso querido treinador Pedro Santos Roncha'”, pode ler-se na publicação.

Já Daniel Pereira, outros dos militares da GNR que morreram no acidente desta sexta-feira, era instrutor de ginásio no Fitness Factory Lamego, avança o Jornal de Notícias. A informação foi avançada pelo próprio ginásio em que Daniel Pereira trabalhava.

“É com o coração apertado que comunicamos que o nosso Daniel foi um dos envolvidos no trágico acidente que vitimou militares da GNR em serviço no helicóptero de combate aos incêndios. Não precisamos de muitas palavras para o descrever porque todos que privaram com ele sabem a sorte que têm. Por ti Daniel, continuaremos unidos e a trabalhar em prol de todos. Obrigado por tudo”, pode ler-se na publicação da rede social Facebook.

Os militares que seguiam no helicóptero acidentado têm idades entre os 29 e os 45 anos e eram todos da zona em que ocorreu o acidente, mais concretamente de Lamego, Moimenta da Beira e Castro Daire, cidades do distrito de Viseu.