8
Rui Patrício
A competição tem sido para ele um longo exercício de pareidolia: olhar o céu durante horas a fio até que o horizonte de cirros e nimboestratos devolva uma solitária anomalia. Um rosto? Uma flor? Um remate do Bale! Quando a ilusão é resolvida, regressa à serena contemplação do nosso negligenciado firmamento.
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7
Cédric
Esteve quase sempre bem sem bola, mas nunca é demais salientar que é o pioneiro de uma nova forma artística: o cruzamento auto-contido. Pequenas jóias, tão tecnicamente imaculadas como um soneto isabelino, sem qualquer função prática a não ser existirem no mundo enquanto cruzamentos. Art for Art’s sake.
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7
Bruno Alves
Foi ultrapassado por Robson-Kanu aos 24 minutos, mas de resto poupou a nação a grandes sustos. Viu um amarelo na 2ª parte por imitar o meme de Boateng na área contrária. Continua a ser a pessoa à face da terra que melhor sabe combinar os pés de Jean-Claude Van Damme e o cabelo de Susan Sontag.
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8
José Fonte
Na ausência de Pepe e William, foi despromovido ao ingrato cargo de “Anderson Polga” e passou os primeiros minutos de jogo a erguer o queixo e a bombardear orgulhosamente as trincheiras galesas com o tipo de bolas longas que no seu país adoptivo costumam ser boas ideias. Impecável a defender.
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8
Raphael Guerreiro
Na primeira parte, os seus arranques foram o principal factor de desequilíbrio nos ataques portugueses. Cruzou para o 1-0. E ainda arranjou tempo para dobrar praticamente todos os colegas (só lhe falta safar uma bola na linha de baliza). Já falhou dois jogos e mesmo assim é o melhor lateral-esquerdo da competição.
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7
Danilo
Pareceu deliberadamente excluído do processo político por quase toda a sociedade em campo, e juntou-se à lista de pessoas que acha boa ideia entrar à queima quando Bale vem a correr, falhando um corte que podia ter dado sarilhos. Melhorou bastante em posse depois do intervalo e chegou a ter o 3-0 nos pés.
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6
João Mário
Depois de 15 minutos iniciais a temporizar e devolver bolas ao remetente, fugiu para o meio, tabelou com o Ronaldo e fez o primeiro remate do jogo. Continua a padecer do mesmo problema: sendo um médio mais legislativo do que executivo, é mais vulnerável a ser reduzido ao anonimato por forças de bloqueio.
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8,5
Adrien Silva
Menos uma entidade unitária do que uma colecção de fragmentos avulsos que reconheceram em simultâneo a utilidade da organização sindical. Não parece um jogador que finta, mas finta. Não parece um jogador que cruze, mas cruza. Não parece um jogador que ganha bolas, mas ganha. Não parece o melhor em campo, mas foi.
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5,5
Renato Sanches
Pedir-lhe mais calma é absurdo. Renato Sanches não tem calma desde que aprendeu a andar (e provavelmente não anda desde que aprendeu a correr), e é assim que deve continuar. A sua função em campo é criar emergências – e aproveitá-las. Saiu depois do seu melhor lance, e no momento em que o jogo o podia favorecer.
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8
Cristiano Ronaldo
O momento não foi captado pelas câmaras, mas depreende-se que começou a saltar ainda antes de o canto ser batido. Depois susteve a respiração ao passar a troposfera, e demorou-se uns segundos lá em cima, entre as luvas perdidas de Neil Armstrong e antigos satélites soviéticos, antes de regressar ao nosso convívio.
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7
Nani
Mais dois momentos para a perplexa antologia que é a sua participação neste Europeu. Perto do intervalo, na quina da área galesa, fintou duas pessoas, sendo que a primeira foi ele próprio. Depois emprestou a Ronaldo o mesmo remate falhado que usara contra a Croácia e marcou um golo à Julio Salinas.
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5,5
André Gomes
Parecia ter entrado apenas para testemunhar de perto as fintas de Bale e para falhar algumas tabelas, mas arrancou um grande momento aos 85 minutos, num galope melancólico, suportando vários dissabores pelo caminho, até conseguir isolar Ronaldo.
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5
João Moutinho
Cumpriu à risca as meticulosas instruções de Fernando Santos: “João, o jogo está insalubre. É um desgosto para mim. Tantas possibilidades. Olha-me aqueles coágulos de testosterona! Acontecem demasiadas coisas. É preciso calma. Não pode haver tantos acontecimentos. Vai fazer com que aconteçam menos coisas. Até já.”
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5,5
Ricardo Quaresma
Apareceu de rompante para solucionar o imbróglio administrativo em que se transformara o pior contra-ataque da história do futebol, já nos descontos. Se toda a gente vai ter esta atitude, eu, Ricardo, salvo erro, Quaresma, vou aqui fazer esta finta, pelo que com licença.
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