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Kevin Winter/Getty Images for The Recording Academy

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Uns dias baladeiro que derrete corações, outros o rei da festa: Harry Styles está entre nós

Este domingo, Harry Styles dá o seu primeiro concerto (esgotadíssimo) em nome próprio em Portugal. Aos 28 anos, é uma das maiores estrelas pop do planeta. O que motiva a devoção dos fãs?

Há quem chegue aos 28 anos sem casa própria, ainda sem saber exatamente o que há-de fazer da vida. E depois há Harry Edward Styles: 28 anos feitos a 1 de fevereiro, Jaguars e Teslas na garagem e não uma, mas duas carreiras de sucesso planetário.

Há músicos que procuram o golpe de sorte e o êxito mundial uma vida inteira, canção atrás de canção, disco após disco. E depois há Styles, aos 28 anos já uma estrela pop dividida em duas, uma vida de estádios com a boy band One Direction, outra de arenas lotadas como artista a solo, fazedor das suas próprias canções, já autor de três discos em nome próprio. É a segunda versão que veremos este domingo em Portugal, num lotadíssimo primeiro concerto a solo que terá lugar na Altice Arena, em Lisboa.

Foi com 17 anos, antes sequer de poder legalmente beber uma cerveja ou conduzir, que o rapaz nascido em Redditch — pequena cidade (menos de 100 mil habitantes) do condado de Worcestershire, situada a 200 quilómetros a noroeste de Londres — tornou-se uma estrela pop, graças a um primeiro single que transformou cinco miúdos em figuras públicas.

A canção chamava-se “What Makes You Beautiful”, ninguém estranharia se tivesse sido feita para um “High School Musical” (filme que, cinco anos antes, arrebatou corações adolescentes) e o refrão propagou-se como um vírus sónico, tocado em rádios do mundo inteiro. Nem o ouvinte de música mais alternativa conseguiu escapar, até esse reconhecerá de ouvido aquele refrão e aqueles versos:

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“you don’t knooooow
oh, oh
you don’t know you’re beautiful”

[“What Makes You Beautiful”, dos One Direction:]

Aquela era uma canção de cinco pinga-amores de coração derretido, à procura de derreter muitos outros por contágio — a começar na palavra “baby” a quem se dirigiam na letra, mas também, por arrasto, as pessoas aos milhões que se entregaram à cantiga. Cinco rapazes que Nicole Scherzinger, cantora das Pussycat Dolls e jurada do “Factor X” britânico, imaginou juntos depois de os ver serem individualmente eliminados no concurso. Simon Cowell, também jurado e criador do programa, deu o empurrão final, contratando a banda para a sua editora Syro Records.

Harry Styles terá sido até o inventor do nome da boy band, que correu mundo em digressões milionárias, editou cinco álbuns (ao ritmo de um por ano, entre 2011 e 2015), lançou canções como “Story of My Life” e “One Thing” e entrou num “hiato” há sete anos. Uma pausa que, até ver, parece bastante definitiva.

Porque haveria, afinal, Harry Styles de querer regressar à sua vida anterior quando esta está a correr como está? Numa mão cheia de anos, os últimos cinco, o cantor e compositor inglês editou três discos — um álbum homónimo (2017), Fine Line (2019) e o recente Harry’s House (2022) —, tornou-se um ícone de moda, colaborando com estilistas e marcas de renome, e começou a trilhar um percurso sólido no cinema, entrando em “Dunkirk” (2017), de Cristopher Nolan, e tendo já duas interpretações como ator em filmes que vão estrear este ano, “Não Te Preocupes Querida”, de Olivia Wilde, e “My Policeman”, de Michael Gandrage. Em ambos os filmes tem papéis de relevo.

É verdade que no centro de tudo está a música. Foram sobretudo as canções, desde as mais sóbrias e solenes do arranque às mais synthpop do recente Harry’s House, que o levaram à digressão Love On Tour, inicialmente prevista para apresentar o segundo álbum Fine Line (2019), mas que devido à pandemia só começou no ano passado e já o levou a percorrer Estados Unidos da América e a Europa.

A última paragem no Velho Continente acontece mesmo este domingo, em Lisboa, seguindo Harry Styles daí para a América do Norte — onde fará mais de 40 concertos em três meses, 15 dos quais no imponente Madison Square Garden, em Nova Iorque — e, mais tarde, para a América Latina (entre novembro e dezembro de este ano), terminando em fevereiro e março do próximo ano na Austrália e Nova Zelândia.

Radio 1's Big Weekend 2022 - Day 3

Harry Styles num concerto em Coventry, Inglaterra, a 29 de maio de este ano

WireImage

A música, escrevíamos, é certamente o motor do interesse, o principal motivo que faz Harry Styles ter salas esgotadas por todos os cantos do globo. Mas não o único — de certa forma, “ativisticamente”, Styles é uma espécie de porta-voz masculino da geração millenial, o equivalente a Billie Eilish (bem mais nova, é certo) na forma como se vai posicionando sobre causas e direitos, como vai combatendo mediaticamente a masculinidade tóxica e extremada, defensor arreigado e nada silencioso dos direitos gay e trans, alguém que na verdade reivindica reiteradamente nos seus concertos e nas suas aparições públicas o direito à diferença e à possibilidade de se estar nas margens, longe das convenções.

Mais do que os discos, incomparavelmente mais ouvidos e bem recebidos do que as tentativas a solo dos restante quatro membros dos One Direction (todos com álbuns em nome próprio, nenhum com uma carreira a solo de relevo no campeonato cimeiro da pop), foram os singles que acertaram em cheio no coração dos fãs. Escolhidas a dedo, promovidas e vendidas ao público com pompa, circunstância e as ferramentas à disposição de uma editora multinacional, a baladeira “Sign of the Times” inaugurou as hostes, com os seus falsetes, o seu piano e o canto de uma afinadíssima voz, mas também de uma alma sofrida.

O single do primeiro álbum, revelado a 7 de abril de 2017, foi uma surpresa — como o foi todo o disco de estreia em nome próprio, lançado um mês depois e mostrando um Harry Styles que em algumas canções, como “Two Ghosts”, “Sweet Creature”, “From the Dining” e “Every Since New York”, mostrava uma escrita de canções quase clássica.

[uma versão ao vivo em estúdio de “Two Ghosts”:]

Sem fazer uma rutura total com a pop, continuando a colocar a voz e o canto no centro das canções, permitindo-se apenas alguns desvios mais elétricos e rockeiros pelo meio (em “Kiwi”), Harry Styles parecia um disco de uma antiga estrela pop juvenil acabada de crescer, entretanto amadurecida e à procura de um caminho novo e mais amplo para a sua música. Não foi um álbum aclamado pela crítica, não tornou o britânico um escritor de canções consensual com o coração dos fãs e a caneta dos críticos a seus pés, mas validou a nova vida a solo de um antigo cantor de boy band. E, sobretudo, validou essa vida também comercialmente, graças à popularidade do single com que apresentou o disco.

O registo rítmico mudou, depois, tornando-se gradualmente mais festivo e menos sofrido. Se em Fine Line isso se notava apenas a espaços — é um disco ainda com muitas baladas, dores e algumas letras mais negras, escritas após o fim de uma relação —, tal é bem mais notório no novo Harry’s House. Nenhum dos três é um disco pop revolucionário, que invente novas fórmulas musicais ou que possa ter uma importância musical histórica que coloque Harry Styles como uma figura próxima dos mestres que diz idolatrar, de Paul McCartney (diz-se particularmente fã do álbum Ram, que ouviu muitas vezes ao pôr-do-sol, deitado na relva, por vezes sob o efeito de cogumelos alucinogénios) a Joni Mitchell (tem uma predileção especial por Blue), passando pelo Van Morrison de Astral Weeks e até pelos Pink Floyd.

No campeonato da música popular mainstream, da pop de fórmulas razoavelmente cristalizadas e liricamente simples, Harry Styles conseguiu, porém, aliar algum respeito e reconhecimento — é impossível não lhe elogiar os dotes como cantor, desde logo, ou a sobriedade de algumas das canções dos primeiros dois álbuns — com um sucesso estrondoso, conseguido nos anos recentes à boleia dos singles “Watermelon Sugar” e “Adore You” (do segundo disco) e de “As It Was” (do novo álbum).

[“Watermelon Sugar”, do álbum “Fine Line”:]

Paralelamente à música, Harry Styles foi cultivando uma certa ambiguidade sexual, apresentando-se visualmente de forma andrógina, vestindo muitas vezes peças de roupa tradicionalmente e convencionalmente associadas ao género feminino. Não se trata, explicou já por diversas vezes o músico, de uma afirmação identitária de qualquer orientação sexual — escusa-se aliás a descrever a sua, uma escolha relativamente alinhada com uma proteção absoluta da vida privada que o leva, por exemplo, a não se alongar nas entrevistas sobre as suas relações amorosas.

Do que se trata é de uma rebelião individual contra as convenções de género (a ideia, por exemplo, de que roupa X é de homem e roupa Y é de mulher) e de uma defesa de direitos humanos que é independente da cor de pele, do género e da orientação sexual.

Numa entrevista recente à publicação Rolling Stone, Harry Styles explicava: “Quero fazer com que as pessoas se sintam confortáveis em serem o que quiserem ser. Talvez num concerto meu possas ter um momento em que saibas que não estás sozinho. Estou consciente de que enquanto homem branco, não passo por muitas das coisas que muitas das pessoas que vêm aos meus concertos têm de viver. Não posso alegar que ‘sei como é’, porque não sei. Estou apenas a tentar fazer com que as pessoas se sintam incluídas e vistas”.

[“As it Was”, do mais recente “Harry’s House”:]

Não será portanto surpreendente se este domingo, em Lisboa, forem avistadas na plateia da Altice Arena ou até em placo bandeiras LGBT ou cartazes alusivos a causas, desde a defesa de direitos das minorias ao direito ao aborto que sofreu um retrocesso histórico nos EUA. Praticamente garantido é que o ambiente será eufórico, fruto da devoção da multidão às duas facetas de Harry Styles: a de baladeiro derrete-corações e a de rei da festa dançante.

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