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Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa, 09 de setembro de 2024. Cinco reclusos fugiram no dia 07 de setembro do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus. CARLOS BARROSO/LUSA
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CARLOS BARROSO/LUSA

CARLOS BARROSO/LUSA

Vale de Judeus. PJ e PSP avisadas três horas depois: demora pode ter permitido fuga de centenas de quilómetros

Presos fugiram antes das 10h, alerta só chegou à PSP e PJ três horas depois. Guardas prisionais terão demorado uma hora a perceber quem tinha fugido. O que aconteceu, minuto a minuto.

Entre a fuga dos cinco presos de Vale de Judeus e o alerta à Polícia Judiciária e à PSP passaram três horas. O Observador sabe que a PJ só recebeu as informações relacionadas com os cinco presos por volta das 13h e, de acordo com a Direção Nacional da PSP, o alerta chegou às 12h52. A demora em comunicar essa informação às polícias pode ter comprometido uma resposta imediata eficaz nas operações de recaptura: uma hora e meia depois de saltarem o segundo muro da prisão e entrarem no carro que os esperava no exterior, os cinco homens podem ter percorrido cerca de 150km; três horas depois, quando o alerta chegou às forças polícias, já poderiam, em tese, ter cruzado a fronteira.

Logo a seguir ao alerta para as polícias, a informação começou a ser partilhada via cadeia de comando, até aos efetivos que estão mais presentes nas ruas. Detalhe: a informação chegou primeiro às patrulhas por WhatsApp e Telegram, antes de ser transmitida pelas vias oficiais. Problema: esta segunda-feira, a meio do dia, muitos agentes da PSP ainda não tinham sequer recebido qualquer comunicação formal da cadeia de comando.

Este domingo, durante a conferência de imprensa a propósito da fuga dos cinco presos da cadeia de Vale de Judeus, o diretor nacional da Polícia Judiciária, deixou uma dúvida no ar quando disse que a investigação desta polícia durava há cerca de 20 horas. Feitas as contas, e tendo como referência as 9h56 como hora de fuga, os inspetores da PJ liderados por Luís Neves só teriam partido para o terreno largas horas depois.

Os portugueses Fernando Ferreira e Fábio Loureiro, o argentino Rodolf Lohrmann, o inglês Mark Roscaleer e o georgiano Shergili Farjiani, conseguiram fugir ainda antes das 10h da manhã deste sábado, os guardas prisionais só conseguiram perceber quem é que tinha fugido depois das 11h e, a partir daí, teve início uma sequência de contactos que só terminou depois das 13h. Aliás, há esquadras da PSP que só receberam a informação de que cinco presos fugiram da cadeia de Vale de Judeus esta segunda-feira.

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Vale de Judeus. Como funciona o dispositivo de segurança e o que terá falhado para permitir a fuga dos cinco presos

O que aconteceu entre o momento em que os guardas prisionais se aperceberam da fuga dos cinco reclusos e o momento em que deram o alerta às autoridades policiais? Mais: de que forma é que essa demora deu margem aos cinco homens para, eventualmente, se afastarem o máximo possível da prisão de Vale de Judeus e, com isso, tornar ainda mais difícil a operação que se seguiu — a da tentativa de recaptura de homens condenados por crimes graves e violentos?

9h15. Início das visitas

No último sábado, as visitas em Vale de Judeus tiveram início às 9h15. Nesta altura, os guardas prisionais acompanharam os reclusos que tinham visitas à respetiva sala e os restantes terão ficado nos recreios, sem qualquer vigilância presencial. A única vigilância era feita através das câmaras instaladas naquela zona.

9h56. Os cinco reclusos fogem da prisão

As câmaras de vigilância captaram as primeiras imagens da fuga às 9h56. Tal como mostram as fotografias divulgadas este sábado — tiradas a partir das gravações —, os cinco reclusos aparecem a saltar um dos muros da prisão de Vale de Judeus.

Imagens das câmaras de vigilância mostram reclusos a fugir às 9h56

Estas imagens estavam, no entanto, a ser transmitidas em dois ecrãs, que mostram todas as imagens das mais de 150 câmaras espalhadas pela prisão. Mesmo estando a ser transmitido, o momento da fuga não foi detetado de imediato pelo guarda prisional que estava responsável pelo visionamento das câmaras de vigilância.

E a esta hora não estaria nenhum guarda prisional na zona dos recreios, onde se encontrariam os cinco reclusos, uma vez que decorriam as visitas noutro edifício da cadeia, a cerca de 200 metros de distância, e todos os guardas estariam destacados para esse espaço, no extremo oposto do complexo prisional.

10h40. Guardas prisionais percebem que alguém pode ter fugido

Cerca de 40 minutos depois da fuga dos cinco reclusos, os guardas prisionais terão percebido que, de facto, alguém poderia ter fugido, uma vez que repararam que existia uma escada junto ao muro da prisão. Segundo fonte dos serviços prisionais, “percebeu-se que podia estar a acontecer uma coisa grave e foi mobilizado o dispositivo de segurança para o local”, ou seja, os 33 guardas prisionais que estavam de serviço este sábado deslocaram-se todos para a zona dos recreios, que ficam precisamente ao lado de cada uma das quatro alas onde estão localizadas as celas dos reclusos.

As visitas de Vale de Judeus foram retiradas assim que houve suspeita de fuga e os presos foram encaminhados para as celas, para os guardas prisionais apurarem quem faltava.

As visitas foram avisadas de que teriam de sair de imediato e todos os presos foram encaminhados para as respetivas celas, para que os guardas prisionais pudessem apurar que reclusos, ao certo, não se encontravam no interior das mesmas, descreveu ao Observador um dos guardas prisionais que estava de serviço este sábado.

Enquanto os presos eram encaminhados para as celas, e já sob fortes suspeitas de que “estava em causa uma fuga”, alguns guardas prisionais foram para as imediações da prisão “para ver se era possível ver alguém”.

11h10. Os guardas percebem quem são os cinco presos em fuga

Com todos os presos nas celas, foi por volta das 11h10 que os guardas prisionais perceberam “que cinco celas estavam vazias”, acrescentou o mesmo guarda. Estavam assim identificados os fugitivos: os portugueses Fernando Ferreira e Fábio Loureiro, o argentino Rodolf Lohrmann, o inglês Mark Roscaleer e o georgiano Shergili Farjiani.

11h20. Um dos guardas passa a informação ao diretor que está em substituição

Já com a identificação dos presos que tinham conseguido fugir ao controlo do corpo de guardas e escapar da prisão, terão começado os contactos com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, feitos por quem estava a trabalhar, pelas 11h20. Ainda de acordo com o mesmo guarda prisional que estava de serviço este sábado, “havia um graduado no estabelecimento, que era um dos chefes de equipa, e que entrou em contacto com quem está a substituir o diretor [que saiu há cerca de quatro meses]. E essa substituta, por sua vez, fez os contactos para a Direção-Geral [de Reinserção e Serviços Prisionais]”.

Atualmente, esta prisão está a funcionar com uma diretora em substituição, o comissário de guardas está há largos meses em baixa médica e o chefe principal estava de férias no momento da fuga. De acordo com o protocolo interno, explicou fonte dos serviços prisionais, em caso de fuga, a situação deve ser reportada ao chefe, depois ao comissário e, por fim, ao diretor. Uma vez que as duas figuras intermédias não estavam de serviço, a informação terá passado diretamente do guarda prisional para a direção da prisão.

Vale de Judeus. Os momentos-chave da fuga da prisão vistos de cima

“Assim que conseguimos identificar os reclusos, foi logo transmitido às entidades competentes, à PSP, à GNR e à Polícia Judiciária. O substituto [da diretora que se demitiu] já sabia que existia uma fuga, só não sabia quem eram”, acrescentou. Ou seja, o alerta só terá começado a ser dado às restantes autoridades depois de se saber quem eram os presos em fuga.

11h30. Presos poderiam ter percorrido 150 quilómetros numa hora e meia

Neste momento, já tinha passado uma hora e meia desde que os cinco presos fugiram da prisão de Vale de Judeus e nem a PSP, nem a GNR, nem a Polícia Judiciária tinham ainda recebido o alerta. Os momentos iniciais após a fuga podem ser, no entanto, cruciais neste tipo de situações. Como explicou ao Observador Alexandre Simas, antigo inspetor da Polícia Judiciária, “é muito importante começar logo a trabalhar para a recolha de informação”. “Quanto mais cedo a polícia tivesse começado a trabalhar, mais cedo as notícias iam aparecendo”, acrescentou.

Os primeiros momentos podem ser cruciais neste tipo de situações. Alexandre Simas, antigo inspetor da PJ, explica que "é muito importante começar logo a trabalhar para a recolha de informação. Quanto mais cedo a polícia tivesse começado a trabalhar, mais cedo as notícias iam aparecendo."

A esta hora, os cinco homens poderiam encontrar-se num local já muito distante da prisão — sem que alguma autoridade policial estivesse ainda no terreno à procura do grupo. O inspetor que participou na operação de captura dos seis reclusos que fugiram do estabelecimento prisional de Pinheiro da Cruz, conhecidos como os “Cavacos”, em 1986, explica que numa hora e meia conseguiriam percorrer cerca de 150 quilómetros — e nem precisavam de conduzir em excesso de velocidade. “Além disso, poderiam passar por uma patrulha e eram apanhados se fossem em excesso de velocidade”, alertou, sublinhando que, provavelmente, estes cinco homens não terão escolhido nenhuma autoestrada, fugindo assim às câmaras de vídeo instaladas na zona das portagens.

11h35. Chega à prisão o primeiro reforço: um carro da GNR de Aveiras

Já informado o diretor interino, terá chegado à prisão de Vale de Judeus o primeiro reforço: um carro da GNR de Aveiras. Neste momento, já alguns guardas prisionais estavam no exterior da cadeia, na tentativa de avistar algum dos fugitivos.

12h36. Começam a circular fotos e informações dos reclusos em grupos de WhatsApp da PSP

Ainda antes de receberam a informação pela via oficial — ou pela Direção Nacional ou pelos respetivos comandos —, os agentes da PSP começaram a receber e a partilhar as fotografias e os dados dos reclusos em fuga através de grupos informais do WhatsApp. Às 12h36 são partilhadas as primeiras fotografias de Fernando Ferreira, Fábio Loureiro, Rodolf Lohrmann, Mark Roscaleer e Shergili Farjiani e respetivas fichas de identificação da prisão de Vale de Judeus.

12h52. A PSP recebe o primeiro alerta dos Serviços Prisionais

O alerta só chegou à Direção Nacional da PSP às 12h52 — exatamente três horas depois da fuga dos cinco reclusos —, avançou ao Observador esta polícia já ao final da tarde desta segunda-feira. Neste momento, foram enviadas pelos serviços prisionais as informações dos homens que conseguiram fugir da prisão de Vale de Judeus, sendo que os dados incluíam as fotografias de cada um deles, os crimes pelos quais foram condenados, naturalidade e moradas dos familiares.

O alerta só chegou à Direção Nacional da PSP às 12h52 — exatamente três horas depois da fuga dos cinco reclusos —, avançou ao Observador esta polícia já ao final da tarde desta segunda-feira.

O Observador questionou a GNR para saber a que horas foi recebido o alerta, mas não foi dada qualquer informação, uma vez que, segundo o gabinete de comunicação, os dados pedidos “fazem parte da investigação e do inquérito” e “nesta fase não será prestada qualquer informação”.

13h00. PJ recebe informação da fuga

Praticamente ao mesmo tempo, apurou o Observador, a Polícia Judiciária é também informada da fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus.

13h06. Direção Nacional da PSP envia as informações para todos os comandos da PSP

De acordo com a informação avançada ao Observador pela Direção Nacional da PSP, 14 minutos depois de recebido o alerta por parte dos serviços prisionais — às 13h06 —, esta polícia reencaminhou os dados para “todo o dispositivo a nível nacional, no sentido de garantir que seriam, desde logo, levadas a cabo todas as diligências necessárias”.

Vale de Judeus. Fuga teve “precisão militar”, diz Alexandre Simas. Ex-PJ perseguiu os “Cavacos” durante 28 dias (e deteve-os)

Os comandos têm depois a responsabilidade de reencaminhar o alerta para as respetivas esquadras, mas essa distribuição, segundo apurou o Observador, não foi feita de imediato. Aliás, algumas esquadras do Comando Metropolitano de Lisboa só receberam a informação um dia depois da fuga dos cinco reclusos e outras só receberam os dados esta segunda-feira. O mesmo aconteceu no Porto, onde uma esquadra desta cidade só recebeu a comunicação oficial da fuga esta segunda-feira às 15h42.

Uma vez que a PSP é a entidade responsável pelo controlo das fronteiras aéreas, foi também enviada às 13h06 a mesma informação para os aeroportos, para que fosse feito o devido controlo, garantiu a Direção Nacional da PSP.

Na conferência de imprensa de domingo no Sistema de Segurança Interna, alguns dos responsáveis das várias autoridades com assento naquele organismo — PJ, GNR e PSP — alertaram para as dificuldades que já se anteviam na operação de recaptura dos cinco homens que fugiram de Vale de Judeus. “Ninguém espere resultados imediatos”, avisou de imediato o diretor nacional da Polícia Judiciária, recordando que os inspetores têm vindo “a proceder a um conjunto de capturas, às vezes evasões com três, quatro ou cinco anos e a um ou outro nunca lá chegamos”.

 
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