Lembra-se da última vez que passou várias horas em frente ao ecrã, numa “maratona de séries”? Conhecido como binge-watching o fenómeno não é novo, mas durante este tempo de pandemia cresceu e tornou-se progressivamente habitual na agenda de muitas famílias confinadas. A conjugação de tempo livre com a permanente disponibilidade de filmes e séries online está a criar novas formas de ver televisão, geralmente por longos períodos, num novo uso que pode provocar consequências.
Como pode este comportamento afetar o nosso padrão de sono e o nosso equilíbrio emocional? O que é que nos motiva a ver uma série completa de episódios, de uma só vez? José d’Assis Cordeiro faz parte da equipa de investigadores que procura dar resposta a estas e outras questões relacionadas com o binge-watching e a tendência crescente para o consumo intensivo de conteúdos audiovisuais.
Ele desenvolveu um software para apoiar os cientistas da Universidade de Friburgo, na Suíça, que estão a estudar o fenómeno e as interações com a Netflix. “Foi interessante poder contribuir para uma área tão diferente da minha, media e entretenimento, e ajudar na pesquisa deste fenómeno atual e crescente que afeta mais os jovens, com causas e consequências ainda um pouco incertas”, conta o investigador. Ao mesmo tempo que se dedicava à tese de Mestrado em Engenharia Informática, trabalhava no CERN , próximo de Genebra.
Candidatou-se a uma vaga de developer no departamento financeiro do CERN, através do protocolo estabelecido com o Instituto Superior Técnico e conseguiu a posição, não só por já ter alguma experiência profissional, mas também por ter realizado um estágio de quatro meses em funções similares, curiosamente, no Santander. “A vida no CERN é bastante estimulante, pela grande quantidade de eventos, grupos, palestras e atividades a decorrer todas as semanas,” explica José Cordeiro, que valoriza sobretudo a oportunidade de conhecer novas pessoas, em diferentes carreiras e projetos.
O investigador recorda que ouviu inúmeros “comentários para parar de estudar e arranjar um bom emprego, mas o apoio da família e dos amigos foi essencial para continuar a arriscar e não desistir.” Filho de um artista plástico e de uma jurista, José é o mais novo de dois irmãos que enveredaram pelos caminhos da engenharia. Com raízes na região costeira alentejana, o jovem investigador costumava passar os três meses do verão na casa do Alentejo, perto de Santo André.
“A Bolsa Santander foi essencial na tomada de decisão de abandonar a carreira profissional mais estável e rotineira, para voltar à vida académica e ter uma nova experiência internacional”, salienta o jovem investigador. Permitiu-lhe o suporte financeiro necessário para se dedicar inteiramente aos estudos e aproveitar a vivência de estudar engenharia na quinta melhor Universidade da América Latina, a Universidad de Los Andes, em Bogotá.
A passagem pela Colômbia viria a ficar marcada por um episódio demonstrativo do paradigma de insegurança que continua a caracterizar os países sul-americanos. Numa praia de Cartagena, importante estância turística, José Cordeiro foi atropelado por uma moto de água enquanto nadava sozinho. Acabaria por ser socorrido por uma colega que o levou para um hospital privado. “Nem os populares, nem as autoridades, ninguém fez nada”, recorda.
Atualmente, depois de ter concluído o Mestrado em Engenharia Informática no IST, está a tirar a Licenciatura em Física na FCUL e a realizar a tese de um segundo Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores no IST, como bolseiro de investigação, em colaboração com a experiência ATLAS do CERN, o IST, o LIP (Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas), INESC-ID e FCT. Com apenas 24 anos, José Cordeiro combina o background de dois cursos de engenharia, informática e eletrotécnica, num quadro de competências único que, em breve, será complementado pela licenciatura em Física.
Além de um portfólio de aprendizagens desenvolvidas ao longo do percurso académico, José d’Assis Cordeiro considera fundamental reconhecer a importância do autoconhecimento e da descoberta do propósito como ingredientes essenciais para o sucesso pessoal e profissional. “Cada indivíduo pode contribuir para apoiar a sua comunidade, mudar mentalidades e o mundo,” salienta o jovem investigador. Neste contexto, serviu como voluntário durante um ano no GASTagus (Grupo de Ação Social do Tagus Park), trabalhando na angariação de fundos e, depois, dando aulas de informática, saúde e cuidados básicos numa comunidade em Inharrime. José explica que, na altura, deixou Moçambique para ir para a Dinamarca, tendo estado apenas dois dias em Lisboa. O contraste perdura na memória até hoje. Em Moçambique “eram tão felizes e faziam tanto, com tão pouco. Na Dinamarca, com muito poder económico, as pessoas são muito reservadas e não criam empatia”.
O percurso de José d’Assis Cordeiro reflete bem os efeitos das suas escolhas, da combinação dos diferentes saberes, das competências técnicas e sociais, que devem ser cada vez mais valorizadas ao longo dos vários níveis de ensino. Foi neste contexto que as questões relacionadas com a avaliação dos alunos no sistema educativo estiveram em análise no terceiro debate da iniciativa “Hoje Conversas. Amanhã és Pro”, promovida pelo Observador com o apoio do Santander, desta vez sob o lema: “A melhor escola do mundo é a que avalia o aluno no seu todo”.
Miguel Pina e Cunha, Professor na Nova SBE; Nuno Archer de Carvalho, Professor Coordenador no Colégio Pedro Arrupe; João Pedro Borges, CEO da DreamShaper e Sofia Menezes Frére, Diretora do Santander Universidades foram os convidados desta terceira conversa virtual, moderada pela jornalista Laurinda Alves, que pode ver aqui
Reveja “A melhor escola do Mundo é a que avalia o aluno no seu todo” na íntegra
Avaliação Global
A avaliação é um elemento-chave em qualquer processo educativo. As competências técnicas vão sendo progressivamente asseguradas por tecnologias. Mas as competências sociais e emocionais dificilmente serão. “E são essas as mais importantes para o sucesso pessoal no mercado de trabalho”, afirmou João Pedro Borges, CEO da DreamShaper, que aposta na inovação das formas de ensinar e aprender, com recurso a metodologias ativas e estratégias em que os alunos têm um papel ativo na construção da sua aprendizagem. Quando os alunos têm um papel passivo não entendem a aplicabilidade daquilo que aprendem.
Tem havido mudanças formais, como a lei de autonomia e flexibilidade, a definição de perfil de competências, educação para cidadania que, sendo favoráveis, não são acompanhadas por uma mudança na forma de avaliar. “Não se pode pedir aos professores para mudar o modo como ensinam e depois continuar a avaliar de igual forma,” salientou.
Os métodos ativos, o trabalho de projeto, enfim, o chamado “pôr a mão na massa é um viabilizador de uma série de outras experiências voltadas para o futuro da educação,” que prevê tecnologias de ensino híbrido. João Pedro Borges destacou uma estatística da Unesco que diz que 90% dos trabalhadores são contratados pelas competências técnicas e 90% são despedidos por falta de competências comportamentais.
Atualmente o mercado procura competências como a elevada capacidade de trabalho, adaptabilidade, criatividade, resolução de problemas e o pensamento crítico. Mas, afinal, o que é que eu quero avaliar? Para Nuno Archer de Carvalho é a partir daqui que se deve começar a desenvolver modelos de avaliação. A liderança dentro das escolas deve juntar todos os professores para pensar a avaliação em conjunto e envolver o aluno no processo. “Os professores devem organizar-se porque o aluno é sempre o mesmo, os professores é que não”, sublinhou o professor do colégio Pedro Arrupe.
A relação com o outro, o desenvolvimento psicossocial, a participação na comunidade e a capacidade para resolver problemas são exemplos de competências essenciais. As aprendizagens são muito importantes, mas é necessário mobilizar essas aprendizagens na construção de um projeto de vida. “A avaliação tem de ter uma dimensão de futuro, de caminho, que ainda está por acontecer”, referiu reforçando a ideia de que em educação nada se faz sozinho. As notas devem ser um fator de crescimento e não de marginalização, estigma ou auto conceito. O aluno deve ser capaz de se autorregular e refletir sobre o seu comportamento, pedindo ajuda se precisar.
Nuno Archer de Carvalho
Da Escola da Apelação, que representa uma grande vitória em matéria de cidadania numa comunidade vulnerável, ao projeto pedagógico do colégio Pedro Arrupe onde um novo modelo pedagógico está a ser implementado, passando pelos exemplos da Nova SBE, foram vários os casos de sucesso apontados durante a conversa.
O objetivo da educação deve ser “ajudar a ter pessoas preparadas para tirar partido das capacidades ao longo da vida”. Na economia do conhecimento, a criatividade é um ativo fundamental que é preciso estimular continuamente. “A ideia de que é possível parar de estudar é para esquecer”, alertou Miguel Pina e Cunha.
Na escola, o mais importante são as notas e os rankings. Mas esta obsessão com a avaliação é contrária ao objetivo da educação, que não é apenas avaliar, mas sim ajudar os alunos a melhorar. Para o professor da Nova SBE, “o objetivo da educação e da formação, em geral, não é tanto o que aprendemos, mas sim aquilo em que nos tornamos.”
A escola deve ser um instrumento de criação de melhores cidadãos e de um país melhor. O valor da avaliação é inegável, mas não pode esgotar-se em si mesmo. É crucial medir o mérito, pois não pode haver uma sociedade justa e equilibrada sem meritocracia, mas a composição da nota deve ter em conta as diferentes dimensões de cada aluno. Os alunos da Nova SBE, quando terminam o curso recebem um diploma de cidadania que atesta o desempenho em atividades organizadas pelos alunos, envolvendo iniciativas sociais e projetos de voluntariado.
O Santander Universidades representa o compromisso para a educação. “Acreditamos que o ensino é o fator fundamental para o desenvolvimento sustentável da sociedade”, referiu Sofia Menezes Frére, adiantando por outro lado que “potenciar a educação é algo que nos proporciona solidez na economia e prepara o futuro.”
Já não basta acabar um curso universitário e ser um ótimo aluno. É necessário estar preparado para dar um contributo da melhor forma possível, porque estamos a ser formados e avaliados em todos os momentos. “A vida é uma constante avaliação, é um desafio que todos temos”, afirmou a Diretora do Santander Universidades.
Há um conjunto de ações que podem ser desenvolvidas entre as universidades, as empresas e o Estado de modo a permitir que os alunos desenvolvam as melhores skills para competir. O complemento da parte técnica pode ser feito através de bolsas, programas de estímulo ao empreendedorismo e à criação e startups, projetos que aumentam a empregabilidade. Compete à sociedade e às empresas encontrar formas de ajudar a preparar novas gerações para enfrentar os desafios do futuro.
A próxima conversa que terá lugar no dia 29 de setembro, às 18h30, online num tablet, smartphone ou computador perto de si.
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Esta é uma iniciativa do Observador e do Santander