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Jorge Amaral

Jorge Amaral

Zé Pedro: "A guerra está à nossa porta mas as músicas de hoje são lamechas"

Não sabia que as cidades tinham luzes até ter saído de Timor, diz que pagou a fatura pelo "sexo, drogas e rock n'roll", mas não se importa porque soube lutar. Zé Pedro morreu esta quinta-feira.

Foi a fase do sexo, droga e rock n’ rol. Aproveitei bem este lema e acabei por pagar a fatura da pior maneira. Não sinto rancor com o meu passado. Vivi o que vivi. Mas consegui virar a página, apesar dos momentos bastante difíceis por que passei. O segredo está na nossa própria vontade e no apoio de quem está à nossa volta. 
Em entrevista à SAPO Lifestyle
Não sou radical e acho normal que se “apanhe uma besana” pelo menos uma vez na vida. Quanto à droga, o melhor é fugir. 
Em entrevista à SAPO Lifestyle
Tentei e tento dar sempre o melhor de mim. Amanhã começo um novo tratamento e garanto que é para ganhar. Eu sei lutar e acredito.
Numa publicação no Facebook
O rock"n"roll é um estado de espírito, e uma pessoa ou sente ou não sente. Não é preciso ser músico para se sentir, tem que ver com aventura. Pode ter que ver com uns certos limites na vida, mas tem, acima de tudo, que ver com a realização pessoal de uma vida mexida.
Em entrevista ao Diário de Notícias
O primeiro músico que vi em cima de um palco foi o Miles Davis. Deixei de ter aquele apetite de ser músico depois de vê-lo: "Eh pá! Isto dá muito trabalho, chegar aos calcanhares de uma coisa como esta".
Em entrevista ao Diário de Notícias
O sentimento do rock"n"roll tem que ver com a tua atitude perante a vida. Eu considero, por exemplo, o Cristiano Ronaldo um rock"n"roll. Pode nem ouvir rock"n"roll, mas corre-lhe na veia. Quando o conhecer, hei de lhe dizer isto... 
Em entrevista ao Diário de Notícias
As editoras e os media acham, pela milésima vez, que o rock"n" roll morreu, mas ele volta sempre e tem um papel de porta-voz da juventude. 
Em entrevista ao Diário de Notícias
A guerra está à nossa porta mas as músicas de hoje são lamechas.
Em entrevista ao Diário de Notícias
Não estive num cenário de guerra nem tive qualquer preocupação, a não ser passar pelos quartéis e ver alguma movimentação. Quase de certeza que os meus pais tentavam mostrar-nos Portugal no mapa, mas entre os escorpiões e os lagartos e o fascínio pela selva... Havia os macacos, os periquitos que andavam lá por casa... Não tenho qualquer memória da importância de ter uma nação.
Em entrevista à Blitz
[O meu pai] gostava muito de jazz. Na vinda para cá, em Hong Kong, comprou uma aparelhagem Akai e muitas vezes chamava-me e perguntava-me: «Onde está cada instrumento?». Foi assim que fui educado a ouvir música e a perceber como é que os instrumentos faziam a melodia entre eles e construíam uma peça musical. Esse foi um legado muito grande.
Eu nunca senti repressão até ao 25 de Abril, e quando chego ao 1º de Maio, para mim era uma festa geral. Adorei, foi incrível.
Em entrevista à Blitz
[O meu primeiro beijo foi] fugaz, atrapalhado! A minha primeira namorada, que não passou de uns apalpões e uns beijos, era colega das minhas irmãs em Odivelas. A minha primeira experiência sexual foi já com uns 18 anos. Chamava-se Lena e andava no [liceu] D. Dinis. O namoro ficou mais sério e decidimos avançar. Tanto eu como ela éramos virgens. 
Em entrevista à Blitz
Pertencíamos a uma elite de iluminados, os gajos que liam, que ouviam, que transmitiam aquilo que acontecia lá fora. Nessas alturas adolescentes, não podemos ter essa noção que estamos a mudar alguma coisa. Tive amigos que me tentaram aliciar para pertencer a movimentos políticos, mas não tinha pachorra. 
Em entrevista à Blitz
Entrámos e saímos, ninguém percebeu nada do que se tinha passado ali. Não tivemos assobiadelas, também não tivemos palmas, mas saímos dali a pensar que éramos a maior banda. «Isto vai estourar!». No dia seguinte, na rádio, disseram: «Apareceu lá uma banda semi-punk, ninguém percebeu o que era».
Não pensava no futuro. Tinha aquele slogan: «o futuro é hoje». Isso ajudou-me a passar os primeiros tempos e a incutir nos outros um espírito de resistência. 
Em entrevista à Blitz
Da primeira vez que o meu avô me deu dinheiro para a carta, comprei uma guitarra. Depois comprei um carro em segunda mão, um Fiat que me custou uns 500 contos. Eu vivia naquela: «O dinheiro há de aparecer». E aparecia! 
Em entrevista à Blitz
Cheguei ao hospital e quase que me deram como morto. Mas tive a certeza de que ia sobreviver. Até disse aos médicos: «Isto já passou». Tanto aí como em 2009, quando chegou o transplante. Estava desesperado, já não aguentava mais. Tanto que quando o Eduardo Barroso me tirou o fígado disse que nem para fazer um patêzinho aquilo servia! Quem está dentro tem uma consciência melhor da sua capacidade de sobrevivência.
Em entrevista à Blitz
O amor é a coisa mais importante da vida. Sem ele, não consegues gerir mais nada. Mesmo naquele pessoal mais focado no trabalho, talvez possamos considerar que há uma paixão pelo dinheiro. Mas, mesmo assim, o amor que se pode ter com um ser humano não tenho dúvidas que é a força onde conseguimos ir buscar tudo.
Em entrevista à Blitz
Sempre fui educado nessa fórmula do dar e receber. Em cima do palco, então, essa maneira de estar é crucial. Recebemos muita energia e, quando não conseguimos dar, eu e os meus colegas ficamos um bocado pírulas. 
Em entrevista à Blitz
Lembro-me perfeitamente do dia em que vi electricidade e uma cidade pela primeira vez. A luz que tínhamos [em Timor] vinha de um gerador. Na vinda para Lisboa parámos em Hong Kong. Chegámos ao fim da tarde e tive um flash enorme ao ver o anoitecer, todos aqueles néons a acenderem-se. Para mim, eram coisas que não existiam, foi quase descobrir a civilização.

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